Rio 22 (álbum de figurinhas)

Quase 30 dias, umas 300 fotos ruins de celular (o tijolão antiquado que eu tive coragem de levar pra rua pois não ia chorar muito se alguém levasse), muitas garrafas de cerveja cercada de amizades que resistem ao tempo, o cinza-concreto/verde-espelhado dos prédios da barra, humildes igrejinhas barrocas de cidade pequena, plantas que custam um rim na europa crescendo de rachaduras nas calçadas, pôres do sol supersaturados, viralatas caramelo e gatos de infindáveis tons, olhar para o céu e buscar nesgas azuis por entre as verdes copas da árvores, estações de metrô inéditas, linhas de ônibus que não existem mais, a alegre paleta de cores do casario colonial do centro antigo, hamburguer por toda a parte tomando lugar das comidas tradicionais de boteco, lojinhas que despejam a china pelas esquinas do saara, inúmeras fatias de red velvet (um sabor que por algum motivo se tornou popular num país que raramente consegue fazê-lo bem, mas seguimos na busca), a umidade da floresta grudando o suor na pele, a arte de rua tomando conta dos muros da zona portuária, a mata atlântica (ah, a mata atlântica), lugares que não visitei, lugares que abriram suas portas, lugares que agora só posso rever pelas ruas da memória. O amor existe e resiste em cada peça desse quebra-cabeças que é a minha cidade. Até nas peças que faltam.

Some cats grow by the laws of the wild.

Eis que meu cafofo está um caos.
Até ontem a mesa de jantar estava coberta de ferramentas, incluindo uma serra circular com uma lâmina do tamanho da minha cabeça. Mas agora é oficial: esta casa que vos fala não tem mais carpete! *salva de palmas* Isso mesmo, depois de quase dez anos (!) vivendo com o espécime mofado que veio com esse imóvel finalmente vencemos a inércia e deixamos no lixão municipal aquilo que só servia pra acumular poeira, ácaros e alimentar traças.

Infelizmente como essa casa é nova (foi construída nos anos 90, eu acho) o que eu achei embaixo do carpete não era o belíssimo piso de madeira maciça que se costuma encontrar nas residências mais antigas, e sim um compensado verde horrorendo. Compramos um piso de madeira moderno (não tão bonito quanto os vintage, mas pelo menos é novo) e instalamos nós mesmos; o trabalho levou dois fins de semana pra ser concluído e ENCHEU a casa de pó de serra num nível que eu não vou conseguir explicar sem espirrar ou chorar; mas a sensação de andar num piso LIMPO não tem preço. Dei adeus à minha estimada mancha de vômito da Chantilly (lembranças de quando trocamos a ração dela por uma vermelha sem nos dar conta de que o output também seria da mesma cor, rs) e desde então não vi mais UMA traça voando pela casa. Obrigada Mun-rá pela graça alcançada.

(Ok, ainda tem carpete na biblioteca, mas ele está em “bom” estado e não é um cômodo que usamos com frequência então por enquanto vou deixar como está.)

Algo que aliviou um pouco essa situação desagradável de bagunça foi ter aberto umas gavetas disposta a jogar metade do conteúdo fora e deixar Marie Kondo orgulhosa. Enchi uns três sacos pretos de coisas que estava guardando para alguma eventualidade, mas se em vários anos essas eventualidades não deram as caras eu decidi que era hora de dizer tchau. Pelas semanas seguintes fiquei bastante feliz com o desapego – até precisar de uma das coisas que tinha jogado fora. Isn’t that ironic, Alanis Morrissette?

Também comecei a assistir Hilda Furacão no Globoplay – sim, descobri que agora funciona aqui e desde então sou uma pessoa mais feliz e menos presente em redes sociais pois nada melhor que uma bacia de pipoca e cinco capítulos seguidos de novelas que eu assisti pela primeira vez quando ainda nem sabia ler o nome do elenco na chamada. Joy, joy, joy. Na época em que Hilda foi exibida eu até tive interesse, mas a vida estava um turbilhão de acontecimentos e sentimentos e durante esse horário eu ou estava dormindo ou passando a noite em claro. Agora temos pipoca e uma variedade de superfícies confortáveis onde me acomodar para assistir. Até porque agora eu realmente preciso do conforto, caso não queira ganhar um torcicolo. A velhice é uma maravilha. Eu lembro da Ana Paula Arósio quando ela era uma pirralha de treze anos na capa da Capricho.

O jardim está se preparando pra hibernar. Eu já disse que tivemos um verão terrível? Porque tivemos um verão terrível. Pela primeira vez vi os termômetros do reino marcando 40 graus, e com esse clima seco isso não foi nada agradável. A maioria das minhas plantas ainda está em processo de recuperação – exceto os gerânios, claro, que tiveram o seu Hot Girl Summer e estão belíssimos. Dizem que as rosas também gostam de calor e secura; então as minhas devem ser um bando de frouxas impostoras pois produziram meia dúzia de rosinhas mixurucas e NENHUMA repetiu a floração. Decepcionadíssima. Mas as suculentas brilharam em 2022 – e as fúcsias que eu lembrei de colocar na sombra também.

Esse livro foi a melhor coisa que eu li em setembro. Ok, foi a única coisa que eu li em setembro, mas foi uma baita trip nostálgica para um tempo que eu sequer vivi mas que teve a trilha sonora da minha adolescência. Comprei há muitos anos numa promoção de livraria, e só porque meu amigo comprou também e eu invejei. Sofri pra trazer pra casa pois pesa umas quinze toneladas e nem é capa dura – o que eu achei um pecado. Passou a década juntando pó em alguma prateleira, até que esbarrei nele quando fui organizar e resolvi dar uma folheada pra ver as figuras. Meu dedo abriu justamente a página com uma entrevista do Johnny Marr falando sobre a época em que formou a banda, a cena de rock em Manchester nos anos 70/80, os pais viciados em música, a primeira visita à casa do Morrissey onde ele ficou encantado com a “pequena, porém absolutamente impecável” coleção de álbuns que o rapaz lhe mostrou. Foi mais ou menos com sentar num boteco e ouvir essas histórias dele. E aí não parei até a última página.

(Ah! E se eu quisesse apenas “ver figuras” estaria igualmente bem servida; me dei conta que o livro foi escrito pelo Kevin Cummins, simplesmente o fotógrafo da New Musical Express responsável pelas fotos mais icônicas do Joy Division – uma das minhas bandas preferidas.)

E o que mais… Outubro, né? This is my happy place/month/season.
O primeiro dia do mês amanheceu nublado e me encontrou de pulôver cheirando a amaciante, Aztec Camera no player, sentada no Starbucks com um toffee apple muffin e o primeiro pumpkin spiced latte da estação – e também o último, já que não é meu preferido e eu só compro pelo ritual. O rapaz que veio me entregar o muffin sorriu e disse “you look happy today”.

Happy? Your girl was GLOWING, friends.
O outono chegou. Seja bem vindo.

(O que, dois posts em dois dias? She must be happy indeed.)

Been Eating.

Há tempos não faço um post sobre comida por aqui. Não tenho atualizado o blog com frequência e perdi o entusiasmo pelo instagram, e com isso aquela motivação de parar tudo pra fotografar o almoço não tem sido a mesma. Sequer consigo lembrar a última vez que tirei uma câmera da bolsa um restaurante. A maioria das fotos de comida fica exilada no celular ou sobrevive por meras 24 horas nos cada vez mais raros stories até cair no éter. Então, já que eu estou pagando esse domínio vamos lá deixar registrado alguns rangos e rolês aleatórios das últimas semanas que eu por acaso não esqueci de fotografar.

O Manteca é um restaurante italiano que abriu há pouco tempo em Shoreditch, não muito longe do mercado de Spitalfields. O conceito é “nose to tail“, ou seja, eles utilizam todas as partes do animal – e não apenas os cortes nobres, como o peito do frango ou o filé do boi. O menu também vai incluir como ingredientes a pele, órgãos, gordura… É uma maneira de aproximar a culinária de hoje à dos nossos antepassados – antes de ter acesso a supermercados com a carne limpa, cortadinha e separada em bandejas o animal era adquirido (ou caçado/abatido) inteiro e todas as suas partes aproveitadas. Quando em prática essa filosofia nos permite alimentar com mais variedade, consumir mais e melhores nutrientes, evitar o desperdício e honrar a vida do animal que foi parar em nosso prato aproveitando cada pedacinho dele. Ah, e todos os embutidos e massas servidos no restaurante são de fabricação própria.

O croquetão ali em cima foi feito com carne das bochechas do porco. O patê de pato estava perfeito em sabor e textura (o pãozinho grelhado no azeite e o molho de tâmaras ❤) e essa pasta cacio e pepe tinha um diferencial no molho: caranguejo. uma carne que eu normalmente acho meio sem graça, mas que aqui foi o complemento perfeito pra elevar um prato básico e torná-lo especial. Uma delícia.

Achei que o molho pesto dessa barriga de porco estava meio excessivo e pesou o prato; desnecessário. A sobremesa era um bolinho de amêndoas com sorvete cremoso e molho de cerejas. As batatas assadas em pig fat não aparecem nas fotos porque foram devoradas instantaneamente.

■ Drinks no Pasta Remoli + arancinis + tagliatelle com pancetta e cogumelos ao molho branco durante visita à nova arena de Wembley e o bairro que foi construído em volta dela. Eu ainda não conhecia a área (já assisti shows em Wembley, mas não na arena) e fiquei boquiaberta. Bares, lojas, restaurantes, lazer… Porém a alta densidade demográfica e os milhares de apartamentinhos uns iguais aos outros me causou uma certa claustrofobia.

Donuts de salted caramel da Bread Ahead (uma padaria artesanal que começou pequenina em Borough Market e agora tem várias filiais com decor industrial-chic servindo pizzas, french toasts, bolos, sanduíches, hamburgers, donuts e saladas).

■ Egg sando do Café Kitsuné. (kitsuné significa raposa em japonês; o cookie em forma de raposinha que eu não comprei dessa vez é uma graça e me lembra a Frankie) enquanto esperava minha sogra renovar seu passaporte no consulado finlandês. Quero provar o chicken katsu sando que eles servem na hora do almoço; preciso saber se é tão bom quanto ou melhor que o do Wa Café.

■ O famoso cinnamon social do Ole & Steen, uma rede de padarias dinamarquesa. É pra comer fresquinho; já cometi o erro de levar pra casa e no dia seguinte ele perde 80% da graça. Eu tenho o hábito de chegar para um encontro antes da hora marcada e pedir alguma coisa enquanto leio um livro ou observo o movimento. Provavelmente coisa de quem tem ansiedade social, mas eu também faço o mesmo com amigos próximos; quem me conhece sabe que é comum já me encontrar com um pratinho vazio na mesa. Mas ter começado os trabalhos antes não significa que vou deixar minha companhia comer sozinha. Round two is ON.

■ Snacks na pizzaria Zizzi, uma das redes mais populares do país. A pizza é gostosa (para quem curte pizza old school, cheia de toppings ao invés das pizzas hipsters de hoje em dia que são praticamente um disco de sourdough com meia dúzia de alcaparras polvilhadas em cima – soooo not my thing) mas eles também brilham nos croquetes e tira-gostos. Às vezes vou lá só pelo aperol e uma porção de arancinis.

■ Almoço de aniversário da R. no Felix de Warley. A la carte caro e metido a besta, mas achei a comida mediana (as batatinhas dauphinoise valeram o ingresso, porém).

■ Country pub extremamente bem servido cujo nome esqueci; esse cheesecake “desconstruído” estava perfeito, apesar de visualmente ridículo.

Legumes prontos para ir ao forno. Eu gosto da minha air fryer e uso com frequência, mas sinceramente acho mais difícil acertar ponto, tempo e temperatura. Dicas?

Nesse verão verdadeiramente senegalês que tivemos em 2022 (rest in peace as plantas no meu jardim) fiquei viciada em fazer iced latte. O método tradicional caseiro envolve deixar grãos moídos em molho por algumas horas (proporção recomendada: 80g de pó para 1 litro de água) mas sinceramente? Eu tenho feito com instantâneo resfriado e não vi tanta diferença no sabor. Leite integral (ou plant based, como preferir), gelinho e pronto.

E você, o que anda comendo de interessante? :)

Mersea Island, Essex

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Mostre que você está numa praia britânica sem dizer que você está numa praia britânica: onde mais encontrar um trêiler vendendo CHÁ (e não falo da variedade “gelado”) na praia em pleno verão?

Resolvi voltar a Mersea Island porque já tinha estado lá no começo da primavera, quando a temperatura ainda estava mais para fria do que amena e eu almocei na varada do terraço deste mesmo pub das fotos apreciando a vista panorâmica para o mar e – imaginem – até o solzinho, que batia muuuuito de leve no meu braço esquerdo. Andei pela praia, catei conchinhas, tomei sorvete e prometi voltar no verão para sentir a vibe da ilha no seu apogeu. Ocorre que o que estava brilhando agora era um sol senegalês, daqueles de fritar ovo no asfalto, e que produzia um efeito estufa que talvez assasse um bolo.

Pior: estava rolando uma festa de rua. Ou uma fête. Ou um rendez vouz, um furdunço, uma quermesse, um balacobaco, uma aglomeração de verão. Se encontrar estacionamento em condicões normais já era difícil, naquele dia ia beirar o impossível. Tivemos que deixar o carro numa rua afastada no topo da cidade e descer a ladeira rumo ao mar. Sob o sol. Nem uma árvore à vista. Meu melasma chorou lágrimas de retinol.

O pub estava lotado. Ok, vou confessar que enquanto ainda estava lááá em cima eu totalmente pensei em desistir e entramos no primeiro restaurante que vimos pela frente. O menu parecia interessante e o mais importante: tinha ar condicionado! E até estacionamento!! Damn. Enfim, entramos e fomos interceptados e quase que imediatamente enxotados por um rapazinho que mandou um SORRY FULLY BOOKED! quando informamos que não tínhamos reserva. Mais da metade das mesas estava vazia. Esse pessoal vai chegar todo na mesma hora? Quase duas da tarde? Achei esquisito, mas porta na cara é porta na cara. Enfiei meu rabinho latinoamericano entre as pernas, desejei uma boa falência ao estabelecimento e muito a contragosto comecei a descer a ladeira até o pub – que, como eu disse, estava lotado. Porém daquele jeito “acabou de abrir uma mesa ali, é de quem chegar primeiro CORRE” e foi assim que nos vimos aboletados na varanda do térreo, cercados de gente se abanando. A vista para o mar era mais bonita do terraço? Sim, mas o terraço estava todo ocupado – e lá não tinha sombra. O sol que bateu muito de leve no braço esquerdo em março teria CREMADO ele agora. Obrigada Jesus pelo térreo. Vamos pedir comida.

Pedimos comida. Mas antes pedimos bebida, que veio em copos de plástico por motivos de pub lotado. Mas, como fomos literalmente REVISTADOS por SEGURANÇAS na entrada, desconfio que também por motivos de “inglês bêbado, povo animado” (leia-se: “se eu não for com a sua cara enfio uma pint no seu olho”). Fiquei admirada por não terem fornecido talheres de plástico. Enfim, a comida chegou. A porção de moules à la creme de entrada era enorme. Mas não veio pão. No menu, assim como no céu, tinha pão. Reclamamos que não veio pão. A mocinha fez uma cara meio de bunda e perguntou “pão?” e a gente “Sim, pão. Tá no menu”. Lá foi a mocinha de volta pra cozinha e voltou com a cara ainda em situação de bunda e uma BANDEJA de pão. Ok, melhor muito do que nada, não é mesmo?

Dez minutos depois chega outra mocinha, segurando uma bandeja com duas tigelas BEM MENORES de moules. Acompanhadas de pão. “Foram vocês que pediram moules de ENTRADA?”

Uh-oh. Foi assim que descobrimos que as moules que recebemos eram versão prato principal. E como não dava pra descomer o que já havíamos comido (e também não íamos pagar pelo erro alheio), ficou o dito pelo não dito. Comi moules até não mais poder e usei o pão para molhar no excelente caldinho de vinho branco, cebolas e creme de leite. Nem consegui terminar o hambúrguer que era, de fato, o meu prato principal. A sobremesa foi numa barraquinha da quermesse, um daqueles “sorvetes de açúcar” super populares por aqui.

Mas o pior estava por vir. Tínhamos que subir o morro de volta. Sendo verão, o sol ainda estava a pino. E meus níveis de energia depois de 900 moules, um cesto de pão, meio hambúrguer, uma mãozada de batata frita, duas pints de plástico de cerveja, uma pint de plástico de vinho (calma, não estava cheio) e um sorvete de açúcar… O marcador estava no zero. Então comprei uma coca, me sentei na sombra do único arbusto alto da rua e fiquei lá feito uma porca dormindo na lama, esperando voltar a ter vontade de viver.

Foi quando ouvi barulho de água batendo no meu sapato. E me dei conta de que alguém tinha resolvido dar uma mijadinha fortuita atrás do arbusto. E que o subproduto de cerveja estava formando uma poça no meu nike air e respingando na minha perna. Gritei. Gritaram também. Pânico, nojo, constrangimento. Por sorte não vi nenhuma parte X-rated do calvo barrigudo com uma camisa do Manchester United (amarrada em volta da cabeça para protegê-la do sol porque o filtro solar ainda não foi inventado no Reino Unido) mas isso mal serviu de consolo.

Me dei conta de que estava tomando coca cola num banheiro. Enfiei meu rabinho latinoamericano entre as pernas, desejei um bom falecimento a todos os envolvidos e muito a contragosto comecei a comecei a subir a ladeira até o carro. Onde liguei o ar condicionado, joguei o Nike mijado no banco traseiro, tomei um banho de álcool gel e voltei pra casa.

Mersea, te amo mas só volto no inverno ok? Bjos don’t call me.

Thinking about life while my coffee cools.

Desde que me mudei para esse bairro há quase uma década a loja de eletrônicos local tinha uma placa na vitrine: “nossos especialistas têm uma experiência combinada de 118 anos!”. A placa ficou lá até semana passada, quando misteriosamente desapareceu. Fiquei pensando se talvez o colaborador mais experiente tenha morrido e abaixado tanto o número de anos de experiência da equipe que não dá mais pra contar vantagem.

Esse país está derretendo e secando ao mesmo tempo. Há semanas não chove, os gramados viraram palha, a companhia de água local já avisou que está prestes a decretar um hosepipe ban (o cidadão fica proibido de usar a mangueira para regar as plantas, lavar o carro ou o quintal) e em verdade vos digo: já tem vegetação de caatinga crescendo em Londres. Outro dia eu caminhava distraída cantarolando Asa Branca pelas esquinas do Grande Sertão: Subúrbio e tropecei num calango. O aquecimento global está querendo provar um ponto, mas eu não saí do Rio de Janeiro pra ver termômetro marcando 40 graus num país de clima temperado. Refresca aí, ô.

Estou cogitando a idéia de comprar um Macbook – refurbished, porque minha pão-durice não me permite pagar o preço de um novo. Depois de sei lá quantos anos sofrendo com tecnologia sem entender a razão eu me senti tentada a dar uma chance – gosto muito dos meus produtos da Apple, que sempre funcionaram bem apesar do uso diário. No momento tenho um Dell e lembro que na minha época de Brasil era considerado a “Ferrari dos computadores”, mas o meu congela mais do que o inverno na Sibéria. Deve estar cheio de malware, mas já passou por técnicos e sempre volta a ficar ruim. Fico chateada porque acho um absurdo sentir que preciso comprar um laptop de uma marca X pra que ele cumpra a função básica de funcionar. Fora o medo de investir num eletrônico caro e ele também dar defeito porque o problema sou EU. Penso que se não comprar um bem durável vou acabar gastando o dinheiro em bobagens anyway, mas por outro lado me pergunto “será que vai ser durável mesmo ou outra geringonça pra dar defeito e causar stress?” Usuários de computadores by Mr. Jobs, me dêem sua opinião sincera.

Há tempos decidi que não ia mais comprar bijouterias feitas de cobre e níquel. Investir em materiais mais duradouros (prata, ouro ou aço inox) sai um pouco mais caro, mas é frustrante ter que se desfazer de peças a que você se afeiçoou porque elas viraram um trambolho sem cor definida que só serve pra manchar a pele de verde. Já tentei a técnica de passar esmalte incolor por cima mas não adiantou muito. Aos poucos o verniz se gasta e, como é transparente, você não percebe. E quando menos espera o anel está oxidando, perdendo o brilho e esverdeando seus dedos – yuck. Estou aos poucos adquirindo peças simples porém de boa qualidade. Essas mini argolinhas de ouro e a mão de Fátima de prata são de uma pequena joalheria de bairro:

Mas infelizmente não consegui resistir a esses brinquinhos vagabundos de lua & estrela. Vamos ver quanto tempo vão levar pra virar guacamole na minha orelha.

Estou numa fase meio vintage (pra não dizer brega) em termos de manicure: se não for cintilante nem tiver glitter nem me apresente.

As velas da Diptyque são tão perfumadas que eu nem preciso acender para sentir o cheiro. E é tão gostoso sair da loja sacudindo uma sacolinha de madame cheia dos freebies que eles sempre incluem (e borrifam perfume no papel de seda que embala os produtos).

Estou tentando voltar a fazer um bullet journal (ou algo do tipo) decoradinho como fazia anos atrás, mas a verdade é que mesmo sendo um hobby gostoso e bastante eficaz para “limpar a mente” eu não tenho mais o tempo livre de antes. Enfim, fazemos o que podemos; tem dia que a página fica bacana, tem dia que fica quase em branco. A única resolução para este ano que está sendo mantida é não fazer nada por obrigação se puder evitar.

As mini plantinhas que eu trouxe do The Nunhead Gardener e que continuam vivas (porém agora em potes maiores):

Acho que já tenho um número suficiente de plantas dentro de casa, e como não quero dificultar a vida em caso de viagens ou quando estiver no Brasil, vou tentar não transformar os cômodos numa selva impossível de manter sem a minha presença.

Num domingo à noite desses eu mandei um whatsapp pra um amigo dizendo que “ia fazer meu skincare e ir dormir” e quando ele riu eu expliquei: “abrir uma cerveja, abrir e fechar os mesmos três apps sem conseguir me concentrar em nada e ter uma crise existencial porque o fim de semana acabou e eu não fiz nada do que pretendia”.

Depois que encerramos o papo eu fiquei pensando nisso. E concluí que domingo à noite já é um momento tão “vibração baixa” que seria mais saudável buscar estabelecer hábitos menos deprimentes pra tentar começar a semana num astral melhor. E doravante tenho dedicado essas duas horinhas antes de encerrar o dia a fazer coisas que me dão prazer e não frustração/raiva – não necessariamente offline, mas certamente evitando redes sociais ou trabalho. Assinei o Globoplay agora que finalmente funciona aqui (antes era preciso instalar uma antena e só podíamos assistir a programação da emissora em tempo real) e agora sou uma pessoa mais feliz pois nada melhor que uma bacia de pipoca e cinco capítulos seguidos de novelas da minha infância.

E esse foi meu skincare de ontem; só dispensei a pipoca porque sódio e substituí por um iced latte descafeinado feito em casa. Fui dormir sem aquele terrível sense of dread e cantarolando trilhas sonoras dos anos 80. Joy, joy, joy.

Into the greenery.

Hello, readers. Faz tempo, não? Mas jurei que voltava e cá estou, tentando fazer minha presença virtual renascer das cinzas, feito uma fênix tão insistente quanto preguiçosa. O post de retorno deveria ser sobre o Brasil, mas não me sinto capaz de escrever nada tão denso quanto gostaria agora (ou talvez nunca) então as impressões (ambíguas) e fotos (ruins) de maio ficam pra outro dia. Porque hoje eu só vou falar de flores – literalmente.

Dois anos depois dessa visita eu fui passear em Little Venice de novo e tentar gastar dinheiro em plantas; voltei de mãos quase vazias exceto por uma aglaonema pink e uma suculenta, mas sempre um prazer passear por aquele conservatório (que tem cheiro de floresta tropical), admirar os arranjos florais, a lojinha de produtos para jardim, o bazar de tralhas domésticas, esquentar as mãos ao redor de um latte no café e depois ir caminhar às margens do canal, curtir a fauna aquática e jantar num restaurante que faz a gente se sentir como se estivesse num barco – e como se pode ver pelas fotos, nós encerramos o expediente da casa.

A lovely day was had by all.

I wish the world was flat like the old days.

E aqui estamos. “Consertou o PC, Lolla?” Errr, ainda não. Mas entre erros e acertos, aos chutes e pontapés, trancos & barrancos, here we are. Hoje é sexta, o piso de madeira que compramos mês passado acaba de chegar e o programa dos próximos fins de semana vai ser a reforma do andar de cima. Mal posso esperar para me ver livre do carpete imundo e manchado que herdamos com essa casa há quase nove anos e que ultimamente virou berçário das traças que devoram as lãs e cashmeres do respectivo (os meus pulôveres vagabundos 100% acrílico seguem intactos, haha – as vantagens de ser mão-de-vaca).

Fevereiro na reta finalíssima e essas fotos, que parecem ter sido feitas ontem, foram do Boxing Day – o feriado pós-natalino. 26 de Dezembro de 2021. Todo mundo feliz por ter conseguido celebrar com a família depois do fiasco de 2020 e ao mesmo tempo apavorado com a possibilidade de ter infectado a vovó. A ansiedade certamente não ajudou a digerir o peru, mas como é de costume todo mundo pôs o bloco na rua depois de almoçar as sobras do Natal para fazer A Caminhada. E a gente estava lá fazendo o mesmo e fotografando patinhos no lago. Que também deviam estar felizes por não terem virado o prato principal da ceia de alguém.

Passamos por essa concessionária muito chique que comercializa apenas Bentleys e Rolls Royces e onde gostamos de fazer compras imaginárias. Ok, os carros são legais, mas a minha aquisição seria o imóvel em si; acho lindíssimo e daria uma casa fabulosa, não acham?

A cabine telefônica vermelhinha com a árvore de natal iluminada dentro. I die. ♥
Já estou com saudade do inverno.

Março chegando, preciso me mexer e finalmente comprar as passagens pro Brasil. Não estou animada, não há como estar. Fico feliz por todo mundo que ama voltar pra casa e rever família e amigos, curtir praia, cervejinha, mesa de bar, mil passeios e comida de mãe. Essas pessoas não entendem muito bem por que eu tenho crises de ansiedade e tristeza sempre que preciso ir, mas a realidade de quem vai ficar numa casa confortável, bem localizada, andando de Uber pra todo lugar e colecionando experiências é bem diferente da minha.

A menos que eu decida gastar alguns mil reais reservando um AirBnB, a minha base no Rio é um apartamento pequeno, barulhento (o posto de gasolina em frente vira uma rave às 3 da manhã), quente, sem ar condicionado ou wi-fi e localizado na periferia da cidade. Uber pro centro não sai nada barato, andar de ônibus é problemático por conta de assaltos frequentes e porque as linhas para o centro terminam na Central do Brasil – uma área que nunca foi super tranquila mas agora também é um dormitório/banheiro/cracolândia a céu aberto. Várias linhas de ônibus foram alteradas, extintas ou substituídas por BRTs ou VLTs e eu sinto que não sei mais me locomover na cidade.

Considerando que eu não desejo contato com parentes e a maioria dos meus amigos saiu do Rio (ou do país), o meu único propósito além de visitar minha mãe é resolver burocracias chatas, andar com medo de assalto num calor de 40 graus sem conseguir dormir e sendo hostilizada ao vivo por desafetos. Não é uma perspectiva muito agradável, nem o tipo de recompensa que eu espero depois de passar 12 horas espremida na classe econômica com dois rivotril no sistema (eu tenho claustrofobia). Eu sei que isso não seria um problema para pessoas “normais”, mas sendo extremamente introvertida eu preciso demais dos meus sistemas de apoio para me sentir bem. E eu perco todos eles quando não estou aqui.

Deixar minha casa, meu marido, meu gato, meus hobbies, meus livros e filmes, minhas plantas, minha segurança nas ruas e todas as coisas que me cercam de conforto todos os dias já é chato quando estou indo passar 5 dias saboreando pasta na Itália (e lá pelo terceiro já estou com saudade da minha cama). Imagine um mês inteiro num país que nunca me tratou bem, sempre me fez sentir como se eu não pertencesse e onde eu me sinto cada vez mais deslocada?

E talvez seja essa a diferença. Todo mundo ama voltar pra casa, mas entre erros e acertos, aos chutes e pontapés e trancos & barrancos eu sinto que finalmente consegui construir a minha casa. E agora ela está aqui.

Emerging from a winter slumber.

Não que alguém tenha notado, mas… não foi minha intenção terminar dezembro sem um post de fim de ano e passar todo o mês de janeiro sem aparecer aqui. Estive até considerando dar uma desistida temporária e deixar um post de HIATUS como a gente fazia em blogs e livejournals lá pelo começo do milênio (quem lembra? Era o cúmulo da presunção achar que alguém realmente ligava se a gente sumisse no éter da internet ou não), mas achei que isso seria, bem, presunçoso. Preferi deixar acontecer naturalmente e apenas não-estar.

Porque aqui desse lado da tela a situação é essa: quem de fato está em HIATUS é o meu computer – funciona quando quer, e ultimamente vem querendo cada vez menos. Desliga sozinho no meio do trabalho (eu que lute salvando tudo a cada 5 minutos para evitar lágrimas), o wi-fi outro dia resolveu que não ia mais conectar ($ tive que comprar um adaptador externo $) e o único browser que não trava no mesmo instante em que abre agora simplesmente resolveu que vai fechar quando der na telha. E como paciência pra lidar com eletrônico temperamental não é o meu forte (e já quebrei alguns tentando) eu acabo me esforçando cada vez menos, passando cada vez menos tempo diante dessa tela. O tablet e o celular agora são meus principais meios de acesso à internet; pena que eles não têm photoshop e o aplicativo do WordPress é um lixo. Ou seja, blogar só no desktop. E enquanto eu não decido se chamo o técnico outra vez (talvez pelo preço de um PC novo) ou se jogo tudo pela janela, este é o impasse.

(Por favor não digam que meus eternos problemas com computadores se resolveriam se eu tomasse vergonha na cara, tirasse o escorpião do bolso e comprasse um Macbook. Milhões de pessoas usam produtos de outras marcas sem problemas e eu me recuso a aceitar que não posso ser uma delas e terei que gastar cinco vezes mais num produto sem a menor garantia de que ele vai dar certo pra mim como deu pra vocês. O meu computador atual é um Dell relativamente novo e com boas especificações; não é culpa da marca, e sim da PRAGA DO EGITO que algum desaplaudido desbrilhoso jogou sobre mim há 15 anos e desde então não tenho tido sorte com absolutamente nenhum laptop ou desktop).

Bom, então é isso. E é outra coisa também: ando fazendo cada vez menos fotos quando estou na rua. É raro levar a câmera e tem sido raro até lembrar de usar a do celular. Não sei o porquê, talvez eu tenha perdido o hábito; mas resolvi que não vou fazer nenhuma promessa com cara de resolução de fim de ano “tenho que voltar a fotografar, yada yada” porque a velhice me ensinou isso: entusiasmo não se força. Se a vontade não aparece é porque há um motivo para tal. Não adianta se obrigar e transformar o que já foi prazer em tarefa, que isso é pra enterrar de vez o tesão pela atividade. Se um dia eu voltar a sentir o chamado, bem, estamos aí nesses pixels, mas por enquanto sigo escrevendo com caneta falhada, o texto faltando pedaços como um hard drive cheio de arquivos corrompidos e esperando conseguir ter algo do meu presente pra ler no futuro.

(Vou tentar fazer uns posts retroativos assim que o técnico me garantir que a situação tem conserto, só pra não deixar os arquivos de dezembro e janeiro desfalcados; mas até lá #PrayForLolla amigos)

It’s my party and I’ll eat what I want to.

Alguns quadradinhos do meu aniversário desse ano. Ganhei de presente do universo uma linda manhã ensolarada de inverno e fomos almoçar no La Goscia de Covent Garden; o lugar estava surpreendentemente vazio (quem conhece a área sabe o quanto isso é raro) e ainda enfeitado com as decorações de natal.

Sempre que sou convidada para algum evento de aniversário percebo que quase nunca convido as pessoas de volta. Eu não costumo fazer festas nem reunir gente, pelo simples fato de que tenho poucos contatos na cidade – e menos ainda pessoas de quem sou íntima o suficiente para convidar. Consigo lembrar de um aniversário em Jersey onde três moças (duas brasileiras, uma cubana) vieram à minha casa e outros dois aqui em Londres com dois amigos de infância (um deles não mora na cidade mas veio especialmente para a ocasião). Fora isso costumo passar um dia tranquilo com Respectivo visitando restaurantes favoritos, passeando por lugares queridos ou fazendo pequenas viagens. Funciona para mim porque não sou muito apegada a aniversários, não gosto de ser o centro das atenções e prefiro passar o dia sem o stress de ter que administrar um evento.

O almoço foi perfeito, apesar de eu ter achando as cadeiras meio desconfortáveis. Mas voltaria fácil pelo coccoli (pãezinhos de massa frita de pizza) de entrada com prosciutto finíssimo e gorgonzola dolce e essas batatinhas assadas no alho e alecrim. Incríveis. Depois fomos passear, olhar as vitrines e tomar sorvete La Gelatiera sentados no solzinho – que logo se pôs e então era Pub Time. Um amigo ligou pra desejar feliz aniversário, descobri que ele estava a menos de 20 minutos de caminhada de Covent Garden e então o convidei pra um drink. Escolhemos o histórico Lamb and Flag (onde Charles Dickens costumava beber) e duas pints + 1 pina colada + 1 Tia Maria depois eu finalmente cambaleei para dentro de uma estação de metrô.

Mais uma voltinha ao redor do sol. Eu realmente não sou apegada a aniversários, mas depois que a juventude vai embora a gente começa a encarar tempo extra – e com saúde – nesse plano com mais gratidão. Não preciso de festa, bens materiais, demonstrações, nem mesmo que as pessoas se lembrem do dia (eu esqueço o de todo mundo). Meu maior presente é este privilégio: a simples alegria de viver, que me permite ser grata por ainda estar aqui.
Happy birthday to me, and bring on the cake.

Whitstable, Kent.

Você tem algum ritual no primeiro dia do ano? Eu não tenho nada particularmente necessário, exceto esse: estar perto do mar e, se possível, trazer uma lembrança dele pra casa. Uma conchinha, ou estrela do mar, vidro marinho ou qualquer cacareco que encontre dando sopa. Nos últimos anos essas lembranças quase sempre foram pedrinhas (pois que as praias dessa ilha costumam oferecê-las em abundância) e a praia escolhida foi a de Whitstable em Kent (já estivemos lá antes).

A cidade vive atulhada de gente e eu, ingênua, acreditei que no dia primeiro de janeiro as pessoas estariam em casa curtindo ressaca e dormindo até tarde. Só que isso aqui não é o Brasil, ninguém dá muita bola pro reveillon (faz frio em dezembro, pra início de conversa) e a praia estava atravancada. Oh well. Mas pelo menos tive escolha: pedrinhas à vontade e uma MONTANHA de conchinhas disponíveis para coleta – desde que estejam vazias é permitido levar algumas para casa.

E assim começou 2022. E que venha leve, pretty please, porque ninguém aguenta mais.

Treat me right, I’m still a good man’s daughter.

Eu comecei o último post dizendo que não tinha planejado sumir durante o mês de outubro e, depois de ter sumido quase todo o mês de novembro, preciso informar que a intenção não era ter desaparecido da face da blogosfera porém: adversidades e atribulações, amigos. 2021 está sendo um ano particularmente delicioso – not.

Uma parte legal dele é que eu resolvi mudar o meu escritório-atelier-seiláoquê para o antigo quarto de hóspedes. Porque ele tem vista pro jardim e eu achei que minha saúde mental agradeceria o simples prazer de presenciar o dia virando pôr do sol, as clematis do vizinho florescendo por cima do muro, o sol mudando de lugar e arrastando as sombras do carvalho pelo quintal, as estações se alternando, os esquilos saindo no tapa em cima da cerca, a chuva da madrugada, os pombos devorando sem a menor timidez os frutos da minha piracanta e a Frankie cochilando numa pilha de folhas no fundo do jardim – tudo isso sem dúvida muito mais agradável do que encarar uma parede, ouvir os gritos da filha do vizinho e o barulho do caminhão de lixo.

E de fato, os dias se tornaram muito mais agradáveis. O quarto “novo” é mais escuro, tem uma qualidade acolhedora e relaxante. Eu troquei o carpete velho e sujo por um piso de madeira quentinho, comprei um armário lindo de madeira maciça no marketplace do Facebook (que em breve será pintado e eu mostro aqui), incenso com cheiro de floresta, pus minha cadeira de veludo azul chamada… Blue Velvet (também num oferecimento da vendinha virtual do Zuckerberg) num canto com vista para as árvores, acendi minhas velas e me senti no paraíso.

A parte chata é que a internet não funcionava mais nesse quarto.

Por algum motivo o wi-fi simplesmente não chegava aqui – mas só no desktop, porque os celulares funcionavam perfeitamente. Risos. Levei algumas semanas para entender o problema: o meu transceiver (a parte do computador responsável por enviar/receber o sinal de internet) não estava dando conta do recado. Solução: comprei um transceiver externo e boom. Internet up and running again. Ok, o PC continua lento (o que também não ajuda a atualizar blog), mas aí a culpa é do Windows ou do hard drive. E como eu vou ter que pagar pra descobrir e resolver, deixei essa bomba para 2022.

Ufa. Deixa eu respirar.

Então, vamos lá tentar de novo. Não tenho nada de muito interessante para o “show-and-tell” de hoje além dessas pequenas vignettes do quarto novo e fotos de celular de um rainy saturday particularmente gostoso em Shoreditch – que junto com o Soho é um dos meus pedaços favoritos da cidade. Boa companhia, comfort food, fachadas coloridas, os muros cobertos de street art, as luzes dos letreiros refletidas em poças d’água… A alegria dos pluviófilos que acham que a chuva tem um efeito pacificador e deixa o mundo mais bonito.

Estamos no último mês desse ano estranho. As notícias por aqui não são muito animadoras: outra sombra de apreensão às vésperas de um Natal que estava sendo tão esperado, já que no último estávamos em pleno lockdown. Dessa vez estamos mais equipados, é verdade; mas ainda assim a decepção das pessoas é palpável. Fora o cancelamento dos nossos modestos planos de viagem no ano novo a minha rotina será quase a mesma, mas para muitas famílias o Natal é uma das raras oportunidades do ano em que podem se reunir. Sinto tanto por elas. E por todos os profissionais de saúde que podem estar se preparando para outra temporada difícil.

Essa incógnita sobre o futuro é quase tão ruim quanto a certeza de que tudo vai dar errado. Mas a vantagem da incerteza é que ela deixa espaço para a esperança. E nesse fim de ano eu escolhi cultivá-la. Ler menos notícias ruins, ler mais livros, manter contato com amigos, escrever cartas, reforçar a convicção de que estamos fazendo o melhor que podemos. Vai dar certo. ♥

Coping Mechanisms

Eu não planejei sumir durante todo o mês de Outubro – but well, life happened. Ou melhor, didn’t. Estive e estou envolvida com um monte de modificações na casa, só que nenhuma delas foi concluída e por isso fiquei sem ter como fazer um post demonstrativo. Também estive triste e borocoxô, o que é raro. Como boa introvertida, capricorniana e INTJ eu nunca estou ligada no 220v da efusividade – mas em compensação racionalizo tudo e nunca estou infeliz sem que haja um motivo bastante claro e específico, que logo tratarei de resolver pra ficar zen novamente. Esse estado de contentamento tranquilo é o meu default. É nele que eu sei existir no piloto automático.

Ocorre que os motivos claros e específicos do momento não são de fácil resolução. Alguns eu nem mesmo estou certa de que sei o que são. Isso é inédito pra mim. E eu não gosto de ineditismos. Já estou velha demais pra lidar com a vida tentando ser original.

O ritual de “trocar de guarda roupa” (guardar os trapos de verão no sótão e descer de lá os casacos de inverno) marca a mudança das estações. Fiquei olhando meio entristecida para todos os vestidinhos de verão que não viram a cara do sol em 2021 – ok, a maioria deles também não saiu do cabide em 2020. Eu não sou uma pessoa solar. Eu não fico contando os meses até chegar junho para poder desnudar pernas e braços e receber toda a vitamina D, bronzeado e alegria de viver que o verão me ofereça; até porque na verdade o que eu recebo é suor, melasma e irritação. Mas essa constatação de vida indo pra gaveta sem ser vivida fez com que eu me sentisse mal. Eu não sei, mas talvez esses dois anos tenham sido preciosos demais para terem sido jogados numa caixa plástica junto com vestidos que ainda cheiram a amaciante. Qualquer percalço de saúde me lembra de que talvez eu não esteja aqui para ver o próximo outono, e esse sentimento de melancolia e ansiedade não está me fazendo bem.

É, parece que a conta do lockdown chegou. E tá caro pra cacete esse boleto.

Então o que a gente faz pra distrair? Boletos de verdade.

Roupas de outono/inverno. Estando bem ou estando mal, não existe nada mais pacificador do que se enrolar em coisas macias e felpudas. Meias novas, camisolas de flanela e pulôveres de lã. E umas velas bonitas que eu obviamente jamais terei coragem de acender – queimo as genéricas da ikea, já que a luz é exatamente a mesma.

Presente pra mim mesma do dia das crianças, rs. Eu não tenho mais impressora em casa – ocupa espaço demais, é feio, a tinta é cara e sempre aparece algum problema de conexão quando você mais precisa. Respectivo tem uma impressora a laser colorida no escritório, e quando preciso imprimir algum arquivo de trabalho mando pra ele. Mas para bobagens de journaling eu resolvi que uma mini printer daria conta do serviço sem que eu precisasse ficar ocupando o tempo dos outros. E assim materializou-se o meu Phomemo. É um dos modelos mais simples, mas eu não precisava de nada além disso. O aparelhinho não usa tinta, funciona exatamente como impressoras de notinha de lojas. A impressão aparentemente dura mais de dez anos até começar a desbotar. E como o futuro é uma incógnita eu topei o desafio, rs. O papel é adesivo e existem versões coloridas, douradas, transparentes, etc. Vamos ver se isso traz de volta o meu ânimo para fazer journals em 2022.

Minha coleção de pins idiotas segue aumentando. As últimas aquisições foram esse redondo do Bowie em sua encarnação Ziggy Stardust na primeira foto e o “everyday is halloween” da segunda. Tenho muitas sacolas de pano, e como mentalmente não saí da adolescência a maioria delas vive coberta de pins. Ou “bottoms” como a gente falava nos anos 80/90 e saía espetando os redondinhos com estampa de maconha, A de anarquista e o prisma do Pink Floyd em todas as mochilas e jaquetas (as mães revoltadas porque estávamos “furando as roupas”). E quando o alfinete enferrujava e manchava tudo? Delícia. You’re only 14 once. Ou, no meu caso, forever – ha.

Eu sempre gostei de comprar perfumes (uso todos os dias, mesmo em casa), mas com os preços atuais eu tive que puxar o freio. Em Jersey tinha desconto de 17% (eles não coletam alguns impostos sobre mercadorias) e de modo geral os preços eram mais amigáveis dez anos atrás. Hoje em dia os perfumes que eu comprava por 30, 50 libras não saem por menos de 100/150. Então não tem mais essa de “comprar pra experimentar”; eu invisto nos perfumes que uso sempre, mas as minhas experimentações ficam restritas a perfume da Zara, Marks & Spencer e no máximo um L’Occitane.

Mas outro dia eu estava na Primark e por curiosidade borrifei esse aí no pulso. E mesmo tendo achado o cheiro esquisito a princípio, ele foi se modificando durante o dia na minha pele e ficando cada vez melhor. À noite eu já tinha sido influenciada e tive que voltar pra comprar. E a fixação é inacreditavelmente boa para um perfume tão barato. É claro que perfume não se recomenda; cheiro é uma coisa pessoalíssima e que reage diferentemente em cada pessoa. Mas eles têm outras opções na mesma linha e vale a pena dar uma chance. O frasco também é luxe – amei essa tampinha de metal escovado.

Não é nenhum Chanel n°5, mas a esse preço não estarei reclamando pois não tenho budget de Marilyn Monroe.

E tem mais Primark. But of course. Essa água micelar é super barata (duas libras por MEIO LITRO de produto) e embora eu evite usar na minha cara (prefiro a da Garnier) ela é ideal para limpar pincéis de maquiagem e remover manchas de base que possam vir parar nas minhas roupas – e quase sempre podem. Esse frasco vai durar uns dois anos.

Já a touca de banho veio substituir uma anterior da Boots, que finalmente rasgou depois de anos de uso. E veio substituir em estilo, amigos; essa é literalmente a drag queen das toucas de banho. Foca nessa simplicidade:

E como eles estão investindo nessa vibe “wellness” eu trouxe esse incenso. Que tem um cheiro ok, nada especial, mas pelo preço está excelente (o mesmo vale para o esmalte, que na verdade é muito bom).

O jardim ainda está desorganizado e eu não consegui plantar os canteiros (isso deveria ter sido feito em setembro/outubro; de agora até a primavera vai estar frio demais para que as plantinhas se estabeleçam a contento). Mas não precisar cortar a grama, nem ser picada por insetos, ou trazer lama pra dentro da casa já é uma vitória.

Ano que vem a gente recomeça os trabalhos. E ano que vem já está logo ali.

My favourite song becomes a healing sign.

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E como segunda parte deste post trago-vos mais fotos de flor – haha, não desistam de mim. Em maio deste ano resolvemos fazer uma visita aos jardins da Beth Chatto, um dos que me inspiraram a fazer um gravel garden (ou “jardim de pedrinhas”) aqui em casa. Estou devendo um post sobre isso, mas por causa das chuvas ainda não foi possível deixar tudo pronto; se bem que terminar de plantar os canteiros só no ano que vem mesmo, pois já estamos no outono. Mas foi uma mudança considerável e que me deixou muito feliz. Digamos que a frequência de uso do jardim aumentou uns 50% ou mais.

Os jardins da Beth, assim como diversos outros jardins públicos na Inglaterra, têm em anexo uma lojinha de plantas e um café simpático. Comprei mini margaridas mexicanas (que estão sobrevivendo desde maio) e adicionei diversos tipos de plantas à minha wishlist – suculentas, gerânios, agapantos, miosótis, clematis, alpinas… Mal posso esperar pela próxima primavera.

Hoje compramos um incinerador de folhas, amanhã chega o depósito de ferramentas e semana que vem o resto dos itens para definir áreas – inclusive meu fire pit, onde se tudo der certo pretendo assar uns marshmallows no inverno.

2021 tem sido um ano tão… decepcionante. De certa maneira pior do que 2020, onde pelo menos o caos reinante era novidade e havia um certo grau de expectativa em relação ao futuro incerto. Mesmo os mais pessimistas apostavam que o verão de 2021 seria de parques lotados, viagens, pessoas sentadas em cafés tomando aperol apritz, amigos e famílias se abraçando e tentanto recuperar os 12 meses perdidos numa clausura aflitiva. Mas choveu o verão quase inteiro. A redenção que esperávamos não veio, o vírus segue nesse chove-não-molha sem desaparecer totalmente, muita gente sem dinheiro, a política cada vez mais intolerável, os meses passam voando e irrelevantes, é quase natal novamente, eu fico encarando telas e paredes sem entusiasmo algum e a sensação de anticlímax é palpável.

2021 prometeu tanto e entregou tão pouco, tão mal. Todo e qualquer motivo para experimentar um instante de alegria e realização deverá ser agarrado com unhas e dentes. Nem que seja um marshmallow torrado com chocolate quente do Tesco nos fundos de um quintal de subúrbio. Talvez seja tarde demais pra salvar esse ano, mas nunca será pouca coisa respirar o ar gelado de uma noite de outono ao lado dos seus companheiros de vida, reconhecer o privilégio em fazer planos e agradecer por ainda estarmos aqui.

The Pergola at Hampstead Heath

Em julho – que foi ontem, mas foi há dois meses, mas também parece ter sido há três decadas ou cinco minutos atrás – fui fazer um piquenique em Hampstead Heath, o famoso parque do bairro de Hampstead. Eu já estive lá diversas vezes, principalmente pra lanchar no café da Kenwood House, uma casa senhorial construída no século 17 e antiga moradia dos condes de Mansfield – um deles sendo o tutor da Dido Belle, a primeira herdeira negra da Inglaterra (interessantíssima história que foi transformada em filme estrelando a maravilhosa Gugu Mbatha-Raw). A casa, mantida pela English Heritage, é aberta a visitação pública; a biblioteca é tão bonita que por si só vale a viagem.

Uma parte de Hampstead Heath que eu ainda não tinha visitado era a pérgola, e por isso resolvemos nos reunir lá. Não estava esperando nada além de uma área coberta com algumas plantas, mas assim que chegamos meu queixo caiu. A estrutura em si é enorme, dividida em várias áreas com moods bem diferentes umas das outras: arcos, cúpulas, lagos artificiais, campos abertos com áreas para piquenique, áreas de sombra cobertas de musgo e hera, jardins de inspiração mediterrânea e outros tipicamente ingleses. O plantio foi feito para realçar o melhor de cada época do ano, como as glicínias e campânulas na primavera, rosas e petúnias no verão, heras e fúcsias no outono. Chegamos no fim de julho, aquela fase de transição entre estações; mas ainda havia ecos das anteriores enquanto o outono já começava a se anunciar (preciso voltar no fim de outubro).

Chegamos na hora do almoço de um dia bonito de semana, e como dá pra ver pelas fotos tivemos o lugar quase que inteirinho só pra nós (fora umas 3 ou 4 pessoas perambulando e um casal fazendo fotos de casamento). Infelizmente planejamos mal e ignoramos a previsão de chuva – ok, a bem da verdade essas previsões não são sempre muito confiáveis, mas nesse dia a natureza não estava a fim de surpreender e correspondeu à risca. Cerca de meia hora depois que chegamos a chuva desabou BONITO e tivemos que nos esconder debaixo dos arcos, sentados no chão de terra. A chuva não passou, mas deu uma aliviada que nos permitiu correr até o uber sem medo de tomar um raio pela cara, ir pra casa de um dos amigos para enfim comer nossos petiscos comprados no mercadinho asiático de Golders Green sentados na sala, assistindo Netflix e fazendo planos de voltar.

Building shrines for the ashes of dead hopes.

Ficou mundialmente combinado nos últimos 18 meses que romantizar a pandemia e usá-la como suposto trampolim para “auto conhecimento”, “revolução pessoal” e “volta às raízes” é de extremo mau gosto. Mas vou humildemente pedindo desculpas e licença para dizer que pelo menos uma coisa positiva esse período fez por mim: eliminar de vez o FOMO – Fear of Missing Out, o famoso “medo de estar perdendo alguma coisa”, de não ter sido convidado para o evento onde todo mundo está. Depois de um ano e meio vivendo com tantas restrições, aquela ansiedade de “planejar o fim de semana” enchendo a agenda de atividades me abandonou. Sábado passado, por exemplo, eu cancelei uma festa de rua no sul da cidade (com direito a barraquinha de pão de queijo e presença da amiga que eu não vejo desde janeiro de 2020) porque tinha planos muito importantes para aquele dia: resolvi que eu iria me MIMAR.

O mimo? Comprar uma lata de Farrow & Ball Pink Ground na B&Q e passar dois dias pintando a sala de rosa, bebendo Koppaberg e ouvindo a trilha sonora de Dirty Dancing.

Ela faz o evento dela.

Mas às vezes a gente precisa tirar as pantufas, calçar sapatos e ir resolver a vida.

E numa dessas passei em frente à loja da Versace, me deparei com essas ofertas e fui obrigada a pagar o mico de tirar foto de vitrine de grife. Porque a pegada 90s/00s das bolsinhas de piriguete suburbana com os tamanquinhos combinando (tanto nos tons pastel quanto na vibe “sábado no Mercadão de Madureira“) me deixou encantada. Não, não é meu estilo, mas isso foi o figurino de uma época. Quem viveu sabe, e completou mentalmente esse lookinho com uma camiseta baby look, calça de cintura baixa e quem sabe uma boina de veludo se a ocasião merecer.

Já se eu fosse madame, rica e usasse salto acho que só teria sapatos Roger Vivier. Acho finos, delicados e bem old-fashioned – especialmente os modelos forrados de seda. Ok, também tem uma certa vibe “festa de 15 anos da filha da vizinha” mas eu sou cria dos anos 80/90 e compartilhar cafonices retrô é a minha love language.

Foi mais ou menos por ali que eu me dei conta de que não estava longe do Pantechnicon, um mercado nórdico/japonês (i know…) que abriga entre outras hipsterices o Café Kitsune. Que faz um puta egg sandwich e um iced latte bastante razoável. E estava na hora do almoço. Fiz o que tinha vindo fazer na área e depois trotei alegremente em direção à felicidade:

“Kitsune” significa raposa em japonês. O cookie é uma gracinha, mas meio caro pelo tamanho. O sanduíche foi uma reincidência e continua irretocável – eu não sei qual o truque dos japoneses, mas ninguém faz pão de forma gostoso como eles.

“Expect Magic and Miracles” – nada mais mágico e milagroso que encontrar lugar para sentar na Linha Central metrô às quatro e meia da tarde de uma quarta feira. Por outro lado nesse mesmo dia, segundo o aplicativo do NHS, eu estive próxima de uma pessoa aleatória que depois testou positivo para Covid. Na semana seguinte recebi uma mensagem de que, por precaução, teria que fazer auto isolamento em casa por alguns dias. Imediatamente cancelei compromissos, baixei revistas no Readly e me preparei para o pior – meu maior pânico sendo infectar o Repectivo. Porém cumpri a mini quarentena sem nenhum sintoma, yay! Miracles do happen indeed. ♥

P.S.: Fiz um banner novo pro blog. O anterior estava meio infantil, e então eu troquei para esse… que não está muito maduro também. Mas eu gosto dessa cor e não sei mais brincar com tipografia, então por enquanto fica assim.

P.S.2: Estou arrumando a página de links. Percebi que muitos blogs do meu blogroll já tinham sido deletados, infelizmente. Fiz a Marie Kondo na lista, removi os links quebrados e adicionei alguns, animadíssima na missão de ressuscitar a blogosfera. Let’s do this.