La verdad es que no soy tan fuerte como lo pensaba

Here we go again. Seguindo na tradição de fazer a retrospectiva do mês BEM depois que ele acaba.

Mas a realidade é que o atraso, dessa vez pelo menos, não se deve apenas à soma da minha indolência natural com a falta de tempo de quem precisa cuidar sozinha de uma casa grande e ainda inserir algumas horas diárias de home office pra fazer uma grana extra. Eu quase decidi juntar fevereiro com março porque foram dois meses tão… nada que não acreditei que tivessem rendido conteúdo para dois posts separados. Fiz pouco, e o pouco que fiz não fotografei. Resisti à preguiça para não atrapalhar o meu flow, mas esses foram dias difíceis onde a delicada situação familiar no Brasil veio a 120km/h em minha direção e me derrubou na pista.

Eu sempre soube que a coisa mais preciosa que eu tinha na vida era a minha saúde mental. Fora raros episódios de ansiedade eu era uma daquelas pessoas irritantes que se declaram felizes em enquetes. Só que vim de uma família e um círculo social onde sou um ovo de codorna num ninho de urubus. E essas diferenças, que eu podia ignorar na juventude limitando o contato, se tornaram um grande problema agora que preciso da ajuda alheia para ter notícias da minha mãe – que aos 85 anos começa a perder autonomia. Já eu perdi o costume de ser tratada com rudeza. Não tem sido agradável lidar com quem não sabe se comunicar sem agredir e ofender, e que se convenceu de que quem vive no exterior é obviamente rico e pode pagar por soluções milionárias. Eu adoraria que eles estivessem certos, porque a real finalidade do dinheiro não é gastar com tralha de grife e sim neutralizar problemas e comprar paz. E se pudesse, eu pagaria caro para ter a minha de volta assegurando que minha mãe está bem cuidada.

E o timing das bombas que explodem em chats do Whatsapp é impecável. Até uma simples encomenda que recebo aqui traz junto uma notícia ruim ou agressão gratuita vinda de lá, neutralizando qualquer pequena alegria que eu possa ter. É como um encosto debochado: “JURA que você pensou que fosse ter um dia bom lendo um livro?” O resultado foi o agravamento de uma condição de saúde e também a minha primeira caixinha de clonazepam para tentar regularizar meu sono. A caixa tinha NOVE comprimidos, porque eu vivo num país que tem pavor de medicar pessoas.

Eu não vou entrar em detalhes sobre a situação em si e nem discorrer sobre as medidas desesperadoras que tomei no caminho de encontrar uma solução, ainda que temporária. Mas tenho esperança de que em abril eu conseguirei ao menos respirar e dormir. Na atual conjuntura já é muito.

Logo no começo de Fevereiro (antes do desgraçamento familiar) visitamos Tunbridge Wells, uma pequena cidade turística no condado de Kent. Durante o período de Restauração da monarquia inglesa Tunbridge era considerada uma “cidade spa” por conta de suas fontes de água ferrosa, à época consideradas medicinais. Depois que essa moda passou e banho de mar virou a nova tendência os “wells” de Tunbridge perderam um tanto da relevância, mas a herança arquitetônica do seu apogeu foi preservada e atrai turistas até hoje.

Aqui registrada a primeira tarte tatin da minha vida no “menu alpino” do Côte. Review: comeria facilmente de novo, mas nada revolucionário. A tartiflette também estava muito boa.

Esse calçadão elevado com belas varandas sobre colunas define a área conhecida como Pantiles, e no fim dele está a fonte que deu nome à cidade. Uma variedade de cafés, restaurantes, bares, galerias de arte e boutiques de rico serve de entretenimento, e aos sábados há uma feirinha onde se pode comprar frutas, verduras, queijos, pães e afins direto dos produtores locais. Durante o verão há apresentações de bandas e peças de teatro em um palco coberto no calçadão.

Palco esse que fica exatamente em frente ao hotel em que nos hospedamos quando chegamos à Inglaterra vindos de Jersey para a nossa simples lua de mel – pois é, a rica não foi pras Maldivas… Mas como presente de casamento estava acontecendo uma apresentação de A Midsummer Night’s Dream bem embaixo da nossa janela; aqui temos alguns registros dessa noite clara de verão.

Mas não foi um dia sem percalços. Chegamos em Londres (eu, recém marido e dois amigos que vieram para Jersey participar do casório) cerca de duas horas depois do atentado terrorista de 7 de Julho. Demoraram a nos deixar sair da aeronave e sem nenhuma informação, e no banheiro do aeroporto uma louca entrou gritando que ninguém devia sair dali porque alguém tinha detonado uma bomba no centro de Londres e havia “centenas de corpos e sangue espalhados pelas ruas”. Não foi bem assim, mas foram mais de 50 vítimas fatais e o transporte público estava paralisado. Um dia terrível que ficou dolorosamente marcado na memória desta cidade. Nunca vou esquecer os letreiros na estrada alertando os motoristas para evitar Londres enquanto o rádio trazia notícias cada vez mais sombrias. Usamos o carro que alugamos para a viagem para deixar uma pessoa em casa e levar a outra para pernoitar com amigos em Kent – já que ela morava no centro, que estava inacessível. E foi assim que viemos parar nesse hotel:

Tomando um refri com Wandinha no shopping:

E foi no shopping Westfield que abriram uma lojinha da Kenji – as doidas da papelaria piram. É tudo tão bonitinho e barato que é impossível resistir. Além de adesivos, canetas, caderninhos e post its eles têm artigos para a casa, camisetas, mochilas, acessórios e guloseimas. Essas balinhas japonesas de fruta (acho que também são vendidas na Daiso) têm mais gosto de fruta do que a própria fruta. Recomendo fortemente a de uva moscatel; o risco é você nunca mais querer comer uma uva…

Também visitei Chesham, no condado de Buckinghamshire – pelo único motivo de que existe uma estação de metrô ali e POR QUE NÃO ir, né. Acabei achando uma W Brazil english version e fiquei o resto do dia com a voz do Jorge Ben Jor na minha cabeça cantando “alô alô dábliu brasil

Descobri que é um bom lugar para quem coleciona Meu Querido Pônei ou hominho de plástico encontrar raridades pela barganha de 2 libras cada. Eu quase levei o pônei loiro azul royal, mas tomei vergonha na cara e deixei pra quem realmente entende o valor e aprecia (me arrependi assim que entrei no trem de volta, but we move).

Também achei uma livraria de usados que vendia café e bolo. Não levei nada mas destaco essa coleção da Enid Blyton, a edição antiga de Robinson Crusoe, a biografia do Bowie e esse merchandise da turnê Blond Ambition da Madonna – muito bem conservado para os seus… 34 anos. Essa tour é de 1990. Sim, você está velho.

Kes é um dos filmes mais tristes da filmografia do Ken Loach, quiçá do mundo.

Também estivemos em Great Missenden, para visitar o museu do Roald Dahl. Ok, mentira, estávamos apenas passando e eu precisava de um banheiro, então paramos para um café e demos um rolê pela village. Mas como a única coisa que tem ali, além do café, é um museu do Roald Dahl (autor de Charlie e a Fábrica de Chocolate e Matilda, entre muitos outros) eu pensei em começar o post com uma lorota a fim de tirar onda de culta. A real é que eu nem gosto muito do Roald Dahl, mas olha que graça esse posto de gasolina vintage:

Teve também esse restaurante instagramável. Agora que já fiz a foto eu felizmente não preciso mais voltar lá porque a comida é péssima. Mas bonito as glicínias falsas coloridas no teto.

Rolês aleatórios em London Town (e o maior croissante da cidade):

E agora alguns dos “recebidinhos pagos” de fevereiro. Eu ganhei uma pulseira da Pandora mas nunca gostei dos charms dessa marca, e buscando uma alternativa encontrei a Gnoce – uma e-shop chinesa que faz os penduricalhos mais bonitinhos do univerno. Assim como os da Pandora eles também são de prata maciça, mas muito menos fubangos. Lhes apresento o gatinho sphinx, a caveira romântica com uma rosa na boca, a mãozinha esquelética e o crânio da Rainha Elisabeth (cuja coroa enrosca nos pêlos das minhas blusas).

Entre os perfumes resolvi experimentar o viral da Sol de Janeiro (nº 62), que de fato tem um cheirinho delicioso de bala mas não sei se compraria de novo porque a fixação é fraca. Em termos de custo/benefício fico com o Pink Pepper da coleção nova da Marks & Spencer; em mim dura várias horas e o vidro pequeno custa a merreca de 6 charlinhos.

Já esse aqui eu reponho sempre porque é um dos meus preferidos. O preço dos perfumes e cosméticos de modo geral subiu bastante nos últimos anos, mas essa marca é acessível e produz essências de alta qualidade. Esse vidro de 100ml de eau de toilette tem excelente fixação e rastro, além de ser lindo. Borrifa na roupa e vai durar até lavar.

Cansei de experimentar com skincare e no momento estou apenas com esse hidratante e o serum de vitamina C da Ordinary, além do demaquilante Cerave e um filtro solar da Boots. O filtro continua sendo a parte mais importante – todos os dias, mesmo se for ficar em casa, mesmo se nem abrir a porta da frente, mesmo se estiver querendo estar morta. Se você ainda é jovem e acha que não precisa, por favor não se iluda; use filtro solar (corretamente) todos os dias. Daqui a 20 anos você vai agradecer muito ter tido esse trabalhinho extra.

Fevereiro ainda é muito cedo para plantar coisas, mas não resisti a essas bandejas de primroses na B&Q por 50 centavos cada. Foram plantadas no canteiro da frente e algumas estão em flor até agora.

E foi isso o que deu pra salvar do segundo mês do ano. Estamos agora no comecinho de abril, o horário de verão já em vigência e os dias mais floridos e longos. E eu só espero que as cores que desabrocham nas calçadas me façam voltar a ter prazer em caminhar por elas e a luz que permanece cada dia mais tempo na minha janela me ajude a enxergar a que está no fim desse túnel. Vai dar certo. ♡♡♡

Gibraltar, Part II

E eis que resurjo com a parte final das mini aventuras em Gibraltar (antes tarde do que nunca).
O farol aí em cima fica numa área elevada e cercada de mirantes, chamada Europa Point; os locais dizem que é o extremo sul do continente ( na verdade é Tarifa, na Espanha, mas vamos deixar pra lá). Daqui você pode ver o oceano Atlântico encontrar o Mediterrâneo. Esse é o único farol britânico fora do Reino Unido.

Do farol do Europa Point se pode também ver a África (foto acima, à direita), que fica a apenas 25km de distância. Há uma rota de ônibus que leva até Europa Point, caso você não esteja de carro. Também há uma igreja católica e a mesquita Ibrahim-Al-Ibrahim (foto à esquerda), doação de um rei saudita.

Depois voltamos para o centro da cidade e, como o dia estava bonito, fomos dar um passeio a fim de apreciar mais um pouco da arquitetura colonial, vielas coloridas e flores nas janelas:

Depois foi hora de voltar pro hotel e nos preparar para a última noite de 2023. O staff estava ocupadíssimo acertando os últimos detalhes da festa e fomos para o bar. É inacreditável o quanto os drinks em Gibraltar são mais baratos e melhores do que os similares na Inglaterra. Eles também estão livres do imposto extra sobre álcool cobrado no Reino Unido, e não economizam na quantidade. Na terceira margarita você já está falando em línguas e considerando subir em cima da mesa (felizmente isso não acontece pois você também já não consegue levantar da cadeira).

Que beleza esse último pôr do sol. Me arrependi de não estar no topo da pedra de Gibraltar nesse momento para admirá-lo em toda a sua plenitude dourada, mas a varanda do bar do hotel também estava uma delícia (e na varanda do bar hotel tinha margaritas…).

Não fiz muitas fotos do evento mas ele incluiu cocktail de boas vindas, um jantar, entretenimento musical, canapés e mais drinks depois da meia noite; fora este maravilhoso kit com chapeuzinho, máscara, bigode, corneta, confete, serpentina, colares havaianos e christmas crackers – esses cilindros de papelão na foto abaixo à esquerda, que estouram quando você puxa as extremidades e têm brindes e piadas dentro; são bem tradicionais nas festividades britânicas.

Essa diva aceitou o desafio de cantar Adele e tinha uma voz simplesmente maravilhosa. Pena que os convidados não estava dando muita bola (esse é o destino de quem canta em restaurante, né? ter que disputar atenção com o churrasco), mas eu cantei junto e ela me notou:

Outra coisa chata é que logo depois da meia noite o DJ simplesmente meteu uma seleção de eurodance flopada. Eu teria ficado ali assim mesmo, não pela música mas pelos CANAPÉS – mas respectivo é ainda mais chato do que eu e preferiu ir fumar na varanda assistindo aos fogos iluminando o céu. As senhorinhas de 65 anos se equilibrando em cima de saltos 12 pulando feito cabritas ao som do bate-estaca me entreteram por mais uma meia hora até que meu marido mostrou o crachá da terceira idade e resolveu ir dormir. Poxa, mas e os CANAPÉS, sabe? (cries in hunger)

Primeiro dia de 2024. Solzinho de rachar, apesar da temperatura ainda amena. Resolvemos dar um rolê na Espanha – que fica logo ali depois da fronteira – mas qual não foi nossa surpresa ao chegar no setor de imigração e ouvir do funcionário espanhol (bastante debochado e fingindo não saber falar inglês) que por não termos reserva de hotel do outro lado da fronteira não podíamos visitar. “Ou férias em Gibraltar, ou férias na Espanha”, disse ele, nos empurrando os passaportes de volta. Beleza Diego, mas isso não vai fazer a Inglaterra devolver Gibraltar pra vocês, tá?. Reclama com o tratado de Utrecht.

Demos meia volta e fomos para a praia:

Essa aí se chama Sandy Bay, acessível por uma rampa que leva da pista à areia. Não fica muito lotada porque é difícil encontrar estacionamento (fomos de ônibus) e à tarde fica parcialmente na sombra por causa da Pedra. Achei uma graça essas casinhas geminadas com telhados vermelhos e pensei que (numa outra vida, em que eu fosse herdeira do Jeff Bezos) seria legal ter uma dessas como casa de veraneio para curtir o mediterrâneo no inverno europeu. Mas o que realmente me deixou encantada foi a pedra belíssima ao fundo, dominando a paisagem e cortando as nuvens com seus contornos. Poucas coisas são mais bonitas pra mim que montanhas, rochedos e toda a sorte de elevações ancestrais. Eu devo ter sido montanhesa em outra vida (ou, mais provável, um bode).

Respectivo: I BELIEVE I CAN FLYYYYY
Gaivota ali atrás: lol bitch I bet

Essa ao fundo é a praia ao lado, Catalan bay. Achei as casinhas coloridas ainda mais bonitas e lá tem um restaurante, uma loja e um pequeno estacionamento. Infelizmente não tivemos tempo de visitar dessa vez (essa foto foi feita da janela do ônibus quando estávamos saindo de Sandy bay), mas ficou marcada para a nossa próxima visita.

Essas flores amarelas/laranja me lançaram num deja vu nostálgico. O jardim da casa onde passei a infância era pontilhado de lantanas cor de rosa e eu usava as flores e os pequenos frutos como comidinha de boneca. As flores tinham o tamanho perfeito para fazer buquês de noiva ou arranjos de flores para a casa das Barbies. Infelizmente elas preferem climas quentes, mas da próxima vez que encontrar uma no garden centre vou plantar num vaso e deixar no conservatório durante o inverno.

Depois dessa trip finalmente subimos a pedra de bondinho para ver os macacos, mas não tenho registros dessa parte porque meu celular ficou sem bateria. Consegui fazer apenas alguns vídeos, que postei no instagram. A subida pelo bondinho é mais barata e uma experiência diferente, mas as vans são práticas e também oferecem belas paisagens. Lá em cima você pode fazer outras excursões, como a reserva natural, o Skywalk (se não tiver vertigem…), a caverna de Saint Michaels (coberta de estalactites e estalagmites, e às vezes eles promovem concertos de música clássica com orquestra – imagine a acústica!) e os Túneis do Cerco – cavados pelos britânicos durante os ataques dos espanhóis e franceses no século 18.

E quanto aos macacos, apesar dos *inúmeros* avisos para não alimentar ou tentar tocá-los as pessoas continuam desobedecendo. Dessa vez vimos um macaco levar a bolsa de uma turista, tirar uma caixa de remédios de dentro e tentar comê-los – isso poderia facilmente matar o animal. Fora que eles podem furtar comida que lhes faça mal e levar embora chapéus, jóias, câmeras e celulares. Em resumo: segure os seus pertences, não encare ou faça caretas para os bichinhos (isso é visto por eles como ameaça e podem se tornar agressivos a fim de se defender) e não os alimente porque a multa é salgada. Fora isso os macacos são lindos, brincalhões e observá-los é muito divertido. Alguns podem até tentar se aproximar; um deles puxou a barra da calça do respectivo e ganhou amendoim (seguro para eles se fornecido pelos funcionários), mas a regra é apreciar sem se esquecer de que são animais selvagens. E para o bem estar deles é bom que permaneçam assim.

E no dia seguinte, depois de almoçar um dos PIORES sushis da existência, chegou a hora de voltar pra casa. O aeroporto de Gibraltar é pequeno e a pista faz cruzamento com a estrada principal; eles precisam parar o trânsito para os aviões decolarem ou pousarem. Enquanto eu aguardava fomos informados de que havia uma falha técnica com o avião e que eles estavam esperando um engenheiro para resolver. O vôo saiu com quase quatro horas de atraso, mas esse não foi de longe o maior dos problemas…

Por muito pouco esse não foi o meu último pôr do sol. A uns 40 minutos de pousar em Londres fomos informados via tannoy pelos pilotos com uma voz meio esquisita que o vôo teria que fazer um pouso de emergência, mas eles não sabiam ainda ONDE. E que devíamos nos preparar para uma aterrisagem “difícil”. Hahahaha, só isso amores? Beleza, então. Imaginei que aquele “probleminha técnico” na verdade tinha sido um problemão e que talvez aquele vôo nem devesse ter decolado. Acabamos descendo em Nantes (não sem antes eu ter me arrependido por não ter feito um testamento) e o avião foi recepcionado na pista por… equipes de bombeiros. Sim, amigos, a cabine literalmente PEGOU FOGO. Os pilotos estavam falando esquisito por causa da FUMAÇA.

*insira gif da Xuxa falando PuTaQuEpArIu*

Enfim, sobrevivemos. E eu espero sinceramente passar uns seis meses sem ter que entrar noutro avião.

January Blues

Eu sei que janeiro acabou faz tempo. Na verdade até fevereiro já está caindo pelas tabelas, mas a retrospectiva mensal só conseguiu sair agora; talvez porque nada muito digno de nota tenha acontecido por essas bandas. Depois de um fim de ano conturbado eu consegui resolver alguns probleminhas (ainda que temporariamente), então resolvi que ia hibernar o cérebro, curtir minha casa e voltar a cuidar de alguns hobbies que tinham sido abandonados por falta de foco.

Janeiro é um mês meio que “demonizado” nesse país. Uma coletânea de tudo que é “ruim”: o bode pós festas de fim de ano, falta de dinheiro depois dos gastos natalinos, o frio e a escuridão do inverno, a distância da primavera, a dureza de voltar para a dieta ou a modinha de fazer o “dry january” (passar o mês sem beber para descansar o fígado). Felizmente nada disso pra mim é problema. Não passo dezembro socializando, não faço gastos natalinos, curto tempo frio, gosto da primavera mas sem pressa, uma hora ela chega, não faço dietas e meu fígado passa bem, obrigada. E o mais importante: janeiro é também o mês do meu aniversário. Ou seja, pelo menos aqui a festa continua.

Celebrei a data num restaurante hypado da cidade. Apesar de eu gostar do Carlotta preciso dizer que se tem uma coisa que passou da hora de acabar aqui em Londres é a instituição “restaurant group”. Não me refiro a restaurantes de rede (aqueles que têm várias filiais idênticas com o mesmo menu – como o Outback, por exemplo) e sim de grupos de restaurantes mantidos pelos mesmos donos e que mesmo tendo menus, nomes e decorações diferentes você sempre fica com a impressão de que todos são iguais. O foco desses lugares é no visual, não na comida – que nunca é muito ruim, mas nunca é muito boa. Tudo é milimetricamente pensado para ser instagramável, a decoração costuma ser exagerada e temática, os endereços sofisticados, os preços não muito amigáveis, os frequentadores interessados em ver e serem vistos e, quanto mais popular nas redes sociais, mais gente tentando fazer reserva e mais difícil é conseguir uma mesa. Tudo isso colabora para criar uma aura de exclusividade em torno do estabelecimento, os pratos mais vistosos viram trend nas redes sociais e pronto: temos um “lugar da moda” onde você precisa ir pelo menos uma vez, postar uma foto e dizer que esteve lá. Minha opinião? Cafona.

O Carlotta faz parte do Big Mamma Group. Eles são menos formais que certos grupos e graças a isso não preciso dividir espaço com milionários berrando no celular e suas sugar babies fingindo admiração porém evitando que eles apareçam nas fotos que elas vão postar no insta. Admito sem o me-nor problema que só venho aqui por causa desse bolo, chamado de wedding cake. Não faço idéia se isso aí embaixo realmente se parece com um autêntico bolo de casamento italiano, mas quem liga? Camadas generosas de génoise (cuja massa delicada leva apenas três ingredientes: ovos, farinha e açúcar) recheadas de creme de tangerina, cobertas de coulis de limão e pedacinhos crocantes de suspiro. É de suspirar sim.

Depois de pagar a conta você sobe a escada enquanto aprecia na parede os retratos (reais) de casamentos italianos dos anos 50/60 e adentra um imenso lavabo com decór industrial, paredes espelhadas, spots de luz vermelha em meio à escuridão e música no último volume. No fim você não sabe se vai fazer xixi ou curtir uma rave; na dúvida faça os dois.

Uma atividade que ocupou algumas tardes de domingo em janeiro: pub + rolê. Primeiro passo é escolher um pub da minha lista de favoritos; os critérios envolvem não ser muito longe de casa, ter cadeiras ou poltronas confortáveis, dispôr de cerveja ale fresca, ausência de qualquer tipo de telão exibindo programas esportivos, ser dog friendly (não porque eu tenha cachorros, mas porque quem não gosta de beber cerveja na companhia de doguinhos?) e estar cercado de verde. Recentemente descobri o The Forest Gate e foi muito gostoso explorar as trilhas da floresta de Epping numa tarde ensolarada e fria de inverno. Levei minha little sidekick (a bonequinha retrô é uma Molinta da Finding Unicorn) para abrilhantar as fotos, que acabaram não sendo muitas.

Já que falamos de restaurantes de rede, eis que chegamos ao preferido do Mr. Respectivo: Flat Iron. Já falei dele várias vezes aqui, é um queridinho local, bastante popular e sempre lotado mas você ainda consegue uma mesa sem reserva. Os preços são acessíveis, o menu super simples e enxuto (a canequinha de pipoca grátis como entrada é um detalhe simpático) e a qualidade da carne sempre impecável. Eu nem sou a maior fã da iguaria mas amigos, digo sem medo de errar que este é um dos melhores bifinhos da cidade.

A batata, cortada fina e frita na gordura do bife, é uma das melhores que já provei. Esse creme de espinafre também é imperdível. O macarroni cheese eu não lembro se é novidade no menu, resolvi experimentar dessa vez e meio que me arrependi – gostoso, mas nada especial e eu preferia ter pedido (como sempre faço) outra porção de batata frita. :)

Ah, outra gracinha clássica do restaurante é trazer junto com a conta um mini cutelo que o cliente pode trocar na saída por um sorvete de casquinha de salted caramel coberto por uma farofinha de chocolate ralada na hora. Simple joys.

Buchinho cheio, fomos pra Gudrun Sjoden trocar um gift card que ganhei de presente de aniversário por algumas roupinhas para o verão. Cheguei no fim da liquidação e alguns tamanhos estavam esgotados, mas consegui aproveitar vários descontos e até me surpreender com algumas escolhas que fiz. Confesso que gosto da IDÉIA das roupas dessa loja mas não achava que combinavam comigo – afinal de contas não é à toa que o apelido do meu guarda roupas é 50 Tons de Cinza. Mas bastou entrar nesse vestido AMARELO (uma cor que eu jamais consideraria e que não existe dentro do meu armário) para ficar impressionada com a diferença que fez na minha compleição; me senti iluminada. Espero ter coragem de usá-lo quando o verão chegar. O segundo look me passou uma forte energia Velma do Scooby Doo, but we move.

Fui com uma amiga no cemitério de Kensal Rise ajudá-la a limpar a sepultura da sogra. Nesse dia compramos biscoito Passatempo numa lojinha brasileira e fiquei surpresa com o quanto achei RUIM. Postei no instagram e as dms foram quase unânimes em dizer que não foi o meu paladar que mudou e sim a fórmula que foi alterada a fim de baratear o produto – para quem produz, não pra quem compra. Detesto desperdiçar comida, mas foi inevitável enlixar.

Vimos este moço dando um trato nessa carruagem, uma coisa bem disney princess; mas perceba que a função daquele compartimento de vidro é transportar um caixão. Se você não conseguiu ter uma vida de cinderela pode pelo menos se despedir dela como uma.

Mas esse memorial aqui foi o que mais nos chamou atenção. À primeira vista pelo tamanho:

Aparentemente é o maior mausoléu já construído no Reino Unido. Ali descansa Medi Oliver Mehra, um menino de 11 anos que sofreu um acidente fatal ao cair de um cavalo em 2014. Em memória do único filho seus pais mandaram erguer esse impressionante memorial. A família comprou o espaço em perpetuidade, o que certamente não saiu barato pois Kensal Rise é um cemitério caro.

Tudo o que você vê nas imagens foi feito à mão no Irã e transportado para a Inglaterra: colunas gregas, jardins, bancos… Foram usadas 350 toneladas de granito, 150 de aço e 200 de concreto. E no meio do memorial uma estátua de Medi, sorridente com sua bola de futebol como se esperasse um amigo para brincar.

As três fotos acima são da internet; preferi usá-las porque no dia da nossa visita não estava tão florido. Não achei o crédito original, mas acredito terem sido usadas no site da fundação que leva o nome do menino.

E maaaais uma franquia de bubble tea. É meio doido pensar em como esse negócio surgiu do nada e se popularizou TANTO de uns anos pra cá. Tempos atrás era a febre do frozen yoghurt mas agora a cada esquina você tropeça numa loja de bubble tea – ou “bobba” como a garotada do Tumblr chamava lá pelos idos de 2015. A Mowchi abriu num shopping aqui perto e apesar da pouca variedade de sabores achei bem gostoso. Na parte de comida eles têm bao buns e batatas fritas com coberturas variadas.

Alguns registros de rolês urbanos:

Olha outro Flat Iron aí; esse fica em Kensington. Curto muito essa vibe urban jungle que eles adotaram para o decor, que continuem assim.

Visita rápida a trabalho no “gueto brasileiro” (Willesden) onde resolvi arriscar essa coxinha.
Minha opinião? Devia ter pedido um pastel…

E mais alguns rolês pré-primaveris, incluindo os primeiros narcisos (as flores amarelas) que vi esse ano:

Sempre que faço caminhadas pela vizinhança nessa época do ano eu sinto cheiro de lareira; é um dos meus cheiros preferidos e me leva direto para os invernos da minha infância, queimando lenha na rua com as outras crianças pra fazer fogueira de festa junina e assar linguiças espetadas num garfo. Fico extasiada, fungando o ar num surto nostálgico. A primeira e última vez que tive lareira em casa foi em Jersey; gostaria muito de voltar a ter, mas segundo consta é proibido no meu bairro – áreas urbanas já são tão poluídas que não precisam de mais fumaça. Só que se eu sinto cheiro é porque tem, né? Ou os vizinhos estão burlando a lei ou aprenderam a usar algum tipo de combustível menos poluente. Vou me informar melhor e quem sabe no próximo natal eu já tenha novamente a minha fogueirinha doméstica particular?

(a bonequinha mal encarada é uma Vita da Pop Mart)

Lembro de estar sentada na varanda do hotel em Gibraltar com um drink na mão no último dia do ano como se fosse ontem; e no entanto já é quase primavera. 2024 começou há dois minutos e já está 2 of 12? A vida passa, o tempo urge, os meus planos de fazer pequenas reformas na casa durante o inverno foram sendo deixados de lado e agora que eu “acordei” da hibernação mental e física que usei pra tentar lidar com o stress estou correndo pra conseguir terminar alguns pelo menos antes do fim de março. Vamos lá que daqui a duas piscadas o ano acaba de novo e se eu não quiser deixar meu livro quase em branco como em 2023 I need to get a move on. BORA.

I’ll be your Rock of Gibraltar

Hey lovelies, Feliz 2024!
Ok, já estamos nos últimos respiros de janeiro mas o que vale é a sinceridade. :)

Espero que vocês tenham tido um fim de dezembro maravilhoso, celebrando o natal e a chegada do novo ano junto das pessoas mais queridas. Aqui eu tive um mês conturbado com dramas from Brazil e só consegui relaxar um pouco na reta final. A família do respectivo cogitou enviar a sogra para passar a data conosco, mas por causa da distância ela acabou desistindo. Infelizmente eu só fui informada disso de última hora, e sem saber se iria ou não recebê-la meu planejamento foi pras cucuias. Enfim, as luzinhas da árvore de natal não deram nó dentro da caixa, minha farofa de bacon estava perfeita e isso é tudo o que importa.

Costumo passar o natal em casa porque acho uma festa mais “cosy”. Porém logo depois veio chegando aquela crise existencial de fim de ano, que somada ao frio e a escuridão do inverno me obrigou a buscar uma nesga de sol. Não me entendam mal, eu curto demais a vibe acolhedora dessa época, acho muito gostoso me enrolar no conforto das texturas macias das roupas de inverno, sentir o calorzinho de uma lareira (outro plano para 2024) e os dias curtos com cara de chocolate quente maratonando minha lista de filmes no Prime Video. Mas como eu disse dezembro não foi um mês muito legal, a saúde mental sofreu e eu achei que um vôo curto trazendo céu azul, clima ameno e drinks baratos do outro lado iria me animar.

Ou seja, Gibraltar here we go again.

Primeiramente peço desculpas a todos que sem querer enganei no Instagram colocando a geolocation RIO DE JANEIRO de zuera na foto que abre esse post. :) Em minha defesa eu nunca pensei que alguém fosse realmente confundir a Pedra de Gibraltar com o Pão de Açúcar ou Corcovado; não-cariocas estão desculpados, mas os nativos do Hell De JaNeura? Are you ok? Enfim, ESSA pedra fica numa pontinha da península ibérica entre a Espanha e o Marrocos, banhada pelo mar mediterrâneo e pelo oceano atlântico. Gibraltar (Gibs, para os íntimos) é um território britânico ultramarino, ou seja, fala-se inglês, a moeda é a libra e seus habitantes são chamados gibraltinos – pessoas de ascendência inglesa que nasceram por lá. Também há os ingleses que escolheram se aposentar num país com o clima da Espanha mas sem ter que aprender a falar espanhol (inclusive apóio).

Fim do papo National Geographic, vamos aos finalmentes: hotel bom é hotel que já te recebe com champanhe no check in:

O Sunborn é um hotel que parece um iate (ou é um iate usado como hotel? Sinceramente não faço idéia) que fica “ancorado” em uma marina. Eu não costumo ficar em hotéis luxuosos; qualquer airbnb ou bed & breakfast já é suficiente. Porém conseguimos um pacote bastante razoável de última hora no Booking ponto com, e como meu marido não sabe o que são 30 dias seguidos de férias desde 2005 eu acho que ele merecia esse little treat.

Demos um passeio rápido pelas imediações, tomamos uma cerveja gelada no Bianca’s (um dos bares da marina, e que inesperado foi poder sentar numa mesa na calçada em DEZEMBRO sem passar frio, gente) e resolvemos jantar no próprio hotel, já que era a primeira noite estávamos meio cansados pra procurar restaurante na cidade. Isso se revelou um erro porque a comida era apenas mediana (e por outras razões que explico em breve). Enfim, o vinho estava ótimo, mas nunca entenderei pratos que levam arroz al dente. Posso estar demonstrando ignorância culinária aqui, mas arroz crocante não rola, desculpe.

Vista do bar do hotel à noite:

Vista do quarto. A área da marina é bem animada; no inverno não costuma lotar, mas os bares e pubs ficam abertos com música até bem tarde.

O último dia do ano amanheceu belíssimo:

O Hotel fica no coração da Ocean Village – um complexo residencial e de lazer ao redor de uma das três marinas de Gibraltar. A área, toda calçada em pedrinhas portuguesas, tem lojas, bares, restaurantes, dois cassinos e é pontilhado desses enormes blocos residenciais de varandas envidraçadas com vista para o mar. Não fosse o fato de que não é preciso usar carro para nada, a área me lembraria um pouco a Barra da Tijuca – porém com clima agradável e sem milicianos.

E fomos aproveitar o dia bonito (temperatura de 14 graus pela manhã com sol, chegando por volta dos 18 graus lá pelo meio dia) para dar nosso rolê. O centro de Gibraltar é formado por várias ruazinhas que desembocam numa longa rua comercial pedestrianizada. O comércio nessa área é quase todo voltado para os turistas: lojas de cosméticos, perfumes, jóias, eletrônicos, brinquedos e tralhas – não há cobrança de imposto, logo tudo é pelo menos 20% mais barato do que no UK.

A maioria dos comerciantes é de origem indiana mas o ritmo onipresente nos alto falantes é o reggaeton espanhol mais chinfrim que você possa imaginar (sabe a batida do refrão de “Envolver” da Anitta? Pois é aquela mesma batida em toda música, em todo lugar, o tempo inteiro). “Charmoso” não é uma palavra que eu usaria para definir o centro, mas isso pouco importa no verão quando os navios de cruzeiro despejam gente de todo o mundo atrás de encher a mala de barganhas. Porém basta erguer o olhar acima das lojas para descobrir algumas belezinhas arquitetônicas.

A sede editorial do Gibraltar Chronicle, o jornal local desde 1801. É o jornal diário mais antigo de Gibraltar e o segundo jornal de língua inglesa mais antigo do mundo a ser impresso continuamente. Eu gosto muito dessa área do centro; silenciosa, os imóveis são mais antigos e tem uma pracinha gostosa de sentar e ouvir o som do vento nas folhas das árvores.

Fiquei apaixonada por essa escultura na parede de um centro cultural. Os cabelos são formados pelas raízes de uma árvore, e o rosto foi esculpido onde ficava a base do tronco.

Nos encaminhamos para a estação do teleférico a fim de subir no topo da Pedra e dar amendoim para os macacos, mas por algum motivo ele não estava funcionando nesse dia. Sempre é possível usar o serviço das vans, mas eu não estava a fim e acabamos sentando num bar nas imediações para tomar uma cerveja e comer um croquete. Na verdade eu queria presunto ibérico, porém o garçom espanhol mandou um “tem, mas acabou” e depois do NADA “mas nós temos frango!” como se fosse um substituto válido (eu ri). Acabei pedindo uns croquetes e essa foi a porção “pequena” (quero nem saber o tamanho da grande).

Ao lado da estação do teleférico fica o jardim botânico de Gibraltar. Ele fica na subida de uma encosta e se estende em vários níveis; não é muito grande, mas é bastante pitoresco e você vai encontrar cascatas, cactos e suculentas enormes e árvores que parecem alienígenas. Não fiz muitas fotos dessa vez porque já visitamos em outra ocasião, respectivo não estava muito disposto e estava começando a “esquentar” para os meus padrões (uns 20 graus, hahaha) e o apelo da cerveja foi mais forte. Mas recomendo fortemente para quem gosta de plantas. Olha o tamanho desses bebês:

Depois disso voltamos para o hotel a fim de nos preparar para a festa de reveillon do hotel.

Pra não pesar demais o post o resto fica para o próximo capítulo. :)
Mas NÃO DESISTAM DE MIM, eu vou tentar (de novo) ser mais presente em 2024. <3

We won’t eat our words, they don’t taste good.

Mini alegrias negadas ao imigrante: o motorista parar o ônibus um pouco fora do ponto pra que você possa descer mais perto do destino. Aquele “pode parar aqui, motorista?” que às vezes é ignorado, outras não. Mas sempre muito agradecido.

A última vez que recebi simpatia de motorista depois que mudei de país foi em Jersey. Meu bairro contava somente com uma linha de ônibus (que passava de hora em hora no verão e menos ainda no inverno) e eu estava aguardando no ponto – sem cobertura, exposta aos elementos, passando frio na chuva. O senhorzinho, que tinha uma barba de papai noel e um dos sorrisos mais benignos que eu encontrei naquela ilha, estava se dirigindo para o ponto final. O ônibus ficaria uns minutos ali parado, aguardando passageiros que provavelmente não viriam, e depois tomaria o caminho inverso para o centro da cidade passando novamente pelo ponto onde eu estava. Eu teria que esperar pelo menos mais 10 minutos.

Ele parou o carro do outro lado da rua, fez contato visual e me perguntou o que eu estava fazendo ali. “Waiting for the bus”, respondi. Ele deu de ombros e me chamou com a mão. “Come on in”. Ele não tinha obrigação de oferecer, mas ofereceu e a atitude me agraciou com dez minutos me sentindo confortável e quentinha ao invés de parada em pé naquele tempo gelado e úmido. Nunca esqueci.

Mas Jersey é uma roça próspera. Onde os vizinhos conhecem o motorista do bairro pelo nome, ele pára fora do ponto para facilitar a vida das senhorinhas e recebe delas tupperwares com fatias de bolo. Aqui na cidade grande? Eu que lute.

Bright Lights Nights.

Gostei um tanto dessas fotos aleatórias que fiz em Colônia.
A arquitetura angulosa, as cores fortes, as luzes refletidas no chão molhado, os globos gigantes no bar, as torres da catedral ao fundo. Eu gosto de como essa igreja consegue ser vista de vários pontos da cidade; até mesmo da estrada, a quilômetros de distância, ela já surge no horizonte apontando para o céu e anunciando a chegada.

Desde que o trabalho do Respectivo saiu de Hanover eu fiquei triste pois aprendi a gostar muito da capital da Baixa Saxônia. E ainda gosto, e tenho saudades do meu ex-bairro tranquilo mas bem localizado e cercado pelo verde interminável do Eilenriede que me proporcionou belíssimos outonos.

Mas Koln está aos poucos growing on me.

Why can’t you just let me eat my weight in glee?

Fazer faxina antes de viajar é chato mas nada se compara à PAZ de chegar em casa e encontrar tudo limpo. Bless.

P.S.: Cat is still needy. Bless him too.

Fiquei chateada vendo trechos da tour da Madonna aqui em Londres (Estere dançando vogue me matou), mas pelo andar da carruagem acho que nunca mais vou conseguir ir a show de artista grande na vida. Cambistas raspam o tacho em 20 segundos e depois pra conseguir um lugar de onde seja possível ver alguma coisa é preciso leiloar um órgão vital.

Eu fui adolescente nos anos 90. Eu ia comprar ingresso de busão, em alguma lojinha de conveniência de posto de gasolina literalmente dois ou três dias antes do show. Já cheguei a comprar na véspera. Já cheguei a comprar na hora da mão de alguém desesperado pra se livrar do que não ia usar. Me acostumei à certeza de que eu estaria lá desde que quisesse e tivesse o dinheiro do ingresso, e isso fazia o anúncio do show ser muito mais empolgante. Hoje em dia um artista anuncia turnê na minha cidade e eu só consigo pensar como vai ser frustrante não estar lá mesmo depois de mofar em fila virtual horas antes de abrirem as vendas. Eu não devia ser obrigada a pagar o preço de um fucking iPhone e dar lucro pra um criminoso safado a fim de conseguir assistir um show na minha própria cidade.

Eu não preciso desse stress na minha vida.
Show agora só de bandinha que ninguém conhece tocando em pub. O ingresso é uma pint de Stella. C’esta la fucking vie.

Leave now before the sun rises above the skyscrapers.

Acordei num dia bonito e pulei num ônibus para ir vê-lo.
Infelizmente as vespas também estavam em modo passeio; é o fim do verão, quando elas ficam nervosas e agressivas, como se soubessem que em breve vão começar a morrer.

Fiz uma longa caminhada em volta do parque, tomei um “sorvete com slushie” (meu primeiro, e digamos que é o melhor de dois mundos), sentei no gramado à beira do lago assistindo ao balé aéreo das libélulas, admirei os grafites pela vizinhança, anotei a localização de algumas placas de “vende-se” nos imóveis para xeretar mais tarde pelos sites das imobiliárias e observei de longe as tendas para o All Points East, festival de música que acontece todos os anos no parque. Lamentei o fato de que praticamente não frequento mais festivais. Porque são sempre no verão, quando está quente demais para ficar em pé no sol durante horas no meio de uma multidão de adolescentes suados. Resumindo: estou muito velha e com muita preguiça e com pavor de gastar uma pilha de dinheiro em ingressos para uma experiência que eu talvez deteste. Mesmo assim é triste concluir que talvez mais esse capítulo da minha vida tenha ficado para trás.

E então voltei pelo mesmo caminho que tinha feito, colhi algumas micro flores secas que brotavam de rachaduras na calçada para usar nos meus arranjos, peguei um iced latte na Gail’s, dei tchau para as vespas e peguei o ônibus para casa.

Could do with a drop of rain.

Almoço no Noble Rot e uma tarde chuvosa pela cidade.
Essa área perto de Lamb’s Conduit Street é muito bonitinha, parece uma rua de cidade pequena e todo mundo que circula por ela parece se conhecer. Cheia de árvores, prédios charmosos, cafés, adegas, queijarias e é perfeita para bater perna em manhãs de outono ou dias de chuva fina no verão.

Learn to be a rock and not to roll.

There comes a time again when all your legs are crossed
And a whistling voice will tell you what you’ve lost
When the day has come, when all my bells will toll
Maybe you’ll learn to be a rock and not to roll

Fazia tempo que eu não postava um street art aqui.

A parte mais legal do east end (Brick Lane em particular) é que por mais que você ande por aquelas ruas você nunca vai ver tudo. E, mesmo que conseguisse, na semana seguinte já estaria diferente. Registro pela memória, porque muitas dessas artes não estão mais lá. Mas em breve haverá novas. Que logo vão desaparecer por baixo de outras. A criatividade de multiplica, o espaço é precioso, as coisas que se querem dizer precisam ser ditas. Ali quase nada é tão perfeito que mereça durar para sempre. As ruas do east end são uma ode à efemeridade. And I’m here for it. While it lasts.

That coffee shop we used to go on rainy days.

Seguimos tentando não desistir de ter um blog, mas está difícil.
Aparentemente não existe nenhuma plataforma preparada para lidar com blogging old style. O WordPress desconfigurou meus posts antigos (eles continuam lá mas não há espaço entre as imagens, o que deixa tudo esquisito e confuso) mas não há nada que o suporte possa (ou queira) fazer para ajudar. Ficarei por aqui até encontrar uma outra solução “definitiva” – até dar errado depois de algum tempo. Eu cada vez mais detesto redes sociais, mas atualmente (equívocos do Elon à parte) elas são o único lugar onde é possível contar com algum tipo de consistência. Triste.

Essas fotos são de uma visita a Richmond algumas semanas atrás. Fui fazer um trabalhinho em Putney e investigar uma loja nova no shopping de Wandsworth, e acabei almoçando num restaurante malaio barato e gostoso (que me serviu uma porção tão generosa de nasi goreng que passei 3 dias sem fome) e indo beber uma dirty coke (coca zero + leite de coco + limão) sentada no gramado de Richmond lendo a New Yorker do mês.

Estamos entrando no terceiro dia de temperaturas desagradáveis (30 graus) e eu entrei oficialmente na minha fase anual de sofrimento. E olha que o verão ainda nem começou. Meu ar condicionado já está instalado para 2023, mas ontem os 22 graus que programei não foram suficientes; vou baixar pra 18 hoje. Não existem palavras para explicar o quanto eu odeio sentir qualquer grau de calor, e enquanto os sun lovers estão animados programando curtir a cidade eu só consigo querer me enfiar numa floresta onde há sombra e as temperaturas costumam ser mais baixas. Considerando seriamente a hipótese de passar os três próximos meses exilada nos alpes suícos, mas infelizmente a minha conta bancária não concordou com a idéia. Passo de ônibus por parques na cidade e a visão de seres humanos brancos feito cêra de shortinho e cropped espalhados feito uma estrela do mar num gramado sem árvores sob o sol escaldante de MEIO DIA me faz duvidar de que pertencemos à mesma espécie. This bitch could NEVER.

Setembro, te amo e mal posso esperar pra te ver de novo.
Até lá andarei pela sombra, e carregando no filtro solar.

You say you’re a winter bitch, but summer’s in your blood.

Uma das vantagens dos meus frilas (talvez a única) é que eles me proporcionam conhecer lugares novos. Nesse caso a tarefa do dia era buscar informações sobre a Catedral Católica Ucraniana da Sagrada Família no Exílio (em Mayfair, no centro da cidade) e fazer algumas fotos. Ela é mesmo muito bonita, construída em tijolinhos e terracota em estilo romanesco. Durante esse período tenebroso de invasão e guerra ela tem servido como local de reunião e acolhimento para a comunidade ucraniana na cidade e todos os refugiados que ela tem recebido.

Em frente à igreja existe um terraço, uma espécie de “jardim suspenso” muito tranquilo com bancos, plantas, fontes de água e um gazebo. Tinha também um café, mas parecia fechado. Curioso é que essa vizinhança, hoje em dia bastante exclusiva (leia-se “cara”), já foi anteriormente ocupada pela classe trabalhadora. Essas mudanças demográficas estão por toda a parte e eu acho super interessante estudar a história dos lugares e descobrir as diferentes etnias, nacionalidades ou grupos socioeconômicos que passaram por ali.

Depois de cumprir com meus deveres fui caminhar pela área; o dia acordou frio e nublado, mas o sol veio abrindo espaço no céu durante a manhã e uma luz belíssima surgiu por entre as nuvens cor de chumbo, refletindo nos prédios um brilho dourado. Ela me lembrou de uma luz bastante específica quando o sol se abria nos fins de tarde pós chuva da minha infância; no Brasil os antigos chamavam de “sol das almas”.

Lamento agora não ter feito mais fotos, mas o meu “blogging muscle” se encontra atrofiado e eu nem pensei que o mini rolê poderia render um post. Como de fato não rende, mas doravante pretendo aproveitar as fotos que vão pros stories ou que ficam mofando no rolo da câmera já que não quero deixar esse site morrer.

Passei por este café chamado FEYA e bom, impossível não entrar. :D Tomei um turmeric latte caríssimo, um bolo que tinha uma cara ótima na vitrine porém a massa era quebradiça e estava encharcada de xarope. Mas muito bonitinho o lugar – daquele jeito “instagramável” cheio de clichês visuais e que vai fechar daqui a pouco quando aparecer outra novidade – apesar de que ter sido chamada de FEYA até no pratinho eu achei um pouco demais.

Cores do dia (a vontade de comprar um ukulele verde limão foi CONSIDERÁVEL, mas resisti pois não sei tocar e sei que não vou ter disciplina pra aprender).

Outra coisa que quase veio pra casa comigo foi esse chapéu da Uniqlo. Me imaginei fazendo a madame com ele no Rio de Janeiro, passeando pelo calçadão de Copacabana com um vestido bem esvoaçante, o celular escondido no sutiã e o olho atento buscando prever assaltos. Mas decidi ser financeiramente prudente, economizar o equívoco e planejar melhor o meu guarda roupas de verão.

Ou seja, devo ir buscá-lo amanhã. ;)

And these lights in our hearts, they tell no lies.

Fashion world se unindo em torno de colaborações que pretendem me levar à ruína financeira: Louis Vuitton + Yayoi Kusama, Loewe + Ghibli e agora Mulberry + Miffy. Ainda bem que bolsas de grife há muito tempo saíram da categoria “luxos possíveis desde que ocasionais” e viraram “mimos pós quina da loto OU assalto ao trem pagador” então fico com as fotos e o consolo de que peças de edição limitada acabam ficando datadas e o melhor é investir nos clássicos – ok, eu provavelmente também não posso mais pagar os clássicos, mas vocês entenderam.

Yayoi Kusama é uma das minhas artistas modernas preferidas; suas obras são coloridas, lúdicas e brincam com perspectiva, repetições, formas e cores. Há alguns anos passei quase uma hora na fila debaixo de chuva em Islington para ver uma exposição da velhinha; como as instalações dela são altamente instagramáveis (e o mundo foi mesmo engolido pelas redes sociais) a procura por ingressos é grande. Esse ano a exposição está sendo no Tate Modern, mas eu dei mole e esgotou. Então fui dar um rolê pela Harrods e apreciar a fachada decorada com os famosos “infinity dots”.

Essa é a robozinha da Yayoi Kusama que pinta a vitrine, acena e interage com os passantes – mas que nesse dia por algum motivo estava desligada. Fiquei meio borocoxô, mas felizmente dias depois eu passei pela loja da Louis Vuitton em Bond Street e eles tinham outra em pleno funcionamento, e que sorriu e deu tchauzinho quando me “viu”. O Uncanny Valley nunca foi tão fofo.

Porém mal sabia eu que algo especial me esperava ao virar a esquina:

Imediatamente apelidei de KUSAMÃO porque why not.

E dentro da loja da LV na Harrods havia mais alguns treats to be discovered:

Eu até tentei adquirir um óculos de polka dots, mas estava esgotado no momento. Minha carteira agradeceu e fui então gastar dinheiro com comida. Segui na estética japonesa almoçando um chicken katsu sando no Café Kitsuné. Veredito: o do Wa Café é melhor. No Kitsuné eu fico com o egg sando.

Depois passei por uma Paul Bakery e é impossível não comer uma (ou cinco) canelés.

E eu nunca vou me conformar que “depuis” em francês não é “depois” e sim “desde”.