That coffee shop we used to go on rainy days.

Seguimos tentando não desistir de ter um blog, mas está difícil.
Aparentemente não existe nenhuma plataforma preparada para lidar com blogging old style. O WordPress desconfigurou meus posts antigos (eles continuam lá mas não há espaço entre as imagens, o que deixa tudo esquisito e confuso) mas não há nada que o suporte possa (ou queira) fazer para ajudar. Ficarei por aqui até encontrar uma outra solução “definitiva” – até dar errado depois de algum tempo. Eu cada vez mais detesto redes sociais, mas atualmente (equívocos do Elon à parte) elas são o único lugar onde é possível contar com algum tipo de consistência. Triste.

Essas fotos são de uma visita a Richmond algumas semanas atrás. Fui fazer um trabalhinho em Putney e investigar uma loja nova no shopping de Wandsworth, e acabei almoçando num restaurante malaio barato e gostoso (que me serviu uma porção tão generosa de nasi goreng que passei 3 dias sem fome) e indo beber uma dirty coke (coca zero + leite de coco + limão) sentada no gramado de Richmond lendo a New Yorker do mês.

Estamos entrando no terceiro dia de temperaturas desagradáveis (30 graus) e eu entrei oficialmente na minha fase anual de sofrimento. E olha que o verão ainda nem começou. Meu ar condicionado já está instalado para 2023, mas ontem os 22 graus que programei não foram suficientes; vou baixar pra 18 hoje. Não existem palavras para explicar o quanto eu odeio sentir qualquer grau de calor, e enquanto os sun lovers estão animados programando curtir a cidade eu só consigo querer me enfiar numa floresta onde há sombra e as temperaturas costumam ser mais baixas. Considerando seriamente a hipótese de passar os três próximos meses exilada nos alpes suícos, mas infelizmente a minha conta bancária não concordou com a idéia. Passo de ônibus por parques na cidade e a visão de seres humanos brancos feito cêra de shortinho e cropped espalhados feito uma estrela do mar num gramado sem árvores sob o sol escaldante de MEIO DIA me faz duvidar de que pertencemos à mesma espécie. This bitch could NEVER.

Setembro, te amo e mal posso esperar pra te ver de novo.
Até lá andarei pela sombra, e carregando no filtro solar.

A room without a view.

Você sabe por que tantas casas na Inglaterra têm janelas fechadas com tijolos como essa da foto acima (e abaixo)? Elas foram todas fechadas na mesma época e não, não houve nenhum “surto de privacidade” assolando o Reino; isso aconteceu logo depois da implantação da “window tax”, um imposto sobre o número de janelas. Não havia ainda imposto sobre renda (considerada uma informação confidencial), mas quanto maior a casa mais janelas ela teria, então era óbvio que os moradores deviam ser abastados – taca imposto neles! Foi quando muitas famílias decidiram se livrar de “janelas supérfluas”, especialmente as laterais e aquelas cuja vista não era assim tão deslumbrante.

Depois que saímos do parque em Richmond fomos tomar um sorvete e fazer fotos, mas quando chegamos ao green já estava escurecendo. Compramos tortinhas no Maids of Honour café e dirigimos de volta para casa, admirando pelo caminho as cenas finais dessa estação que começa a dizer adeus.

Le monde riche

Ruas de Richmond, sua high street cheia de lojas chiques e seres humanos cor de rosa usando trench coats Burberry. Cheguei quando o sol ainda estava bonito em Kew, mas no desespero pra fazer xixi segui direto e acabei na fila de um banheiro do Starfucks. Aproveitei a oportunidade pra tomar meu primeiro “copo vermelho” da estação, um eggnog latte (ok, mas enjoativo e NÃO VEIO NO COPO VERMELHO, what a sham) e um cinnamon bun (o da ikea é menor, porém mais gostoso pois mais açucarado e molhadinho). Fiquei admirando um grupo de crianças (dois meninos e uma menina) de uns 9 ou 10 anos sentados numa mesa sem adultos, bebendo calmamente seus cafés limited edition. A menina parecia uma princesa passando um dia em meio à plebe, o cabelo preso num rabo de cavalo e os sapatinhos de fivela de couro envernizado sem um arranhão. O menino mais alto parecia um filho perdido do Zac Goldsmith e o menor usava um uniforme de escolinha de futebol. Os três conversavam entre si animadamente, porém com tamanha educação e poise que por um momento pensei serem adultos com nanismo.

Por algum motivo isso me lembrou dos meus 20 e poucos anos, onde por acaso ou circunstância eu fazia coleguinhas mais novas e as mães das meninas logo tratavam de nos afastar. Eu nunca fui uma pessoa muito madura, e enquanto as moças da minha idade sofriam de ansiedade já antecipando complicações concretas/imediatas como pós-graduação, carreira, casamento, filhos e pagar as próprias contas, eu sofria de ansiedade esperando pela manhã de sábado quando ia finalmente comprar as canetas gel perfumadas com tampa de bichinhos na rua da Alfândega. Tínhamos pouco em comum e nada pra conversar. Eu preferia bater papo com as meninas que curtiam boy bands, roupas novas e coisas de papelaria.

Hoje em dia as ruas do centro antigo do Rio ficam um pouco longe pra uma weekend trip e eu compro as minhas canetas na Amazon. O resto continua praticamente igual.

Quase sentei na mesa das crianças e perguntei qual era a boa, qual era o time do esportista, qual a matéria favorita da princesa na escola e se o mini mauricinho tinha um trust fund. Tomei o gole final do meu eggnog já frio, vesti meu casaco de brechó e saí porta afora atrás do sol que, derrotado, já entregava os pontos para as nuvens. The radio silence continues.