We won’t eat our words, they don’t taste good.

Mini alegrias negadas ao imigrante: o motorista parar o ônibus um pouco fora do ponto pra que você possa descer mais perto do destino. Aquele “pode parar aqui, motorista?” que às vezes é ignorado, outras não. Mas sempre muito agradecido.

A última vez que recebi simpatia de motorista depois que mudei de país foi em Jersey. Meu bairro contava somente com uma linha de ônibus (que passava de hora em hora no verão e menos ainda no inverno) e eu estava aguardando no ponto – sem cobertura, exposta aos elementos, passando frio na chuva. O senhorzinho, que tinha uma barba de papai noel e um dos sorrisos mais benignos que eu encontrei naquela ilha, estava se dirigindo para o ponto final. O ônibus ficaria uns minutos ali parado, aguardando passageiros que provavelmente não viriam, e depois tomaria o caminho inverso para o centro da cidade passando novamente pelo ponto onde eu estava. Eu teria que esperar pelo menos mais 10 minutos.

Ele parou o carro do outro lado da rua, fez contato visual e me perguntou o que eu estava fazendo ali. “Waiting for the bus”, respondi. Ele deu de ombros e me chamou com a mão. “Come on in”. Ele não tinha obrigação de oferecer, mas ofereceu e a atitude me agraciou com dez minutos me sentindo confortável e quentinha ao invés de parada em pé naquele tempo gelado e úmido. Nunca esqueci.

Mas Jersey é uma roça próspera. Onde os vizinhos conhecem o motorista do bairro pelo nome, ele pára fora do ponto para facilitar a vida das senhorinhas e recebe delas tupperwares com fatias de bolo. Aqui na cidade grande? Eu que lute.

8 thoughts on “We won’t eat our words, they don’t taste good.

  1. Seria este relato mais um da série “coisas que a gente nem imagina que vai sentir falta, mas sente”? Nunca saí do país, mas morei 5 anos no interior raiz pra cursar a faculdade e, ao mesmo tempo que tinha muita coisa que eu sentia falta lá (afinal, nascida e criada em SP), às vezes me pego sentindo falta de coisas do interior aqui na cidade grande. É bem louco porque são coisas que a gente nem pensa quando se muda, mas se pega pensando “putz, podia ter né”? Hahaha!

    Espero que a cidade grande seja mais gentil contigo em 2024, mesmo que seu relato indique o contrário. Beijinhos! :*

    1. não, essa é só uma historinha pitoresca. eu jamais sentirei falta de morar em cidade pequena, não é o meu perfil. foi muito legar viver em jersey que é um lugar lindíssimo, mas só volto pra passear. eu amo as vantagens e opções da cidade grande, não desistiria delas só pra poder ganhar oi do motorista. 🙂

  2. Que saudade do seu olhar fotográfico :)
    Uma vez um motorista me deixou andar de graça porque eu não tinha nem passe e nem o dinheiro trocado da passagem. Outra coisa que provavelmente nunca vou esquecer. Será que motorista de ônibus sabe quantas emoções (as vezes da pior estirpe) eles provocam nos passageiros???

    1. uma vez eu gastei sem perceber o dinheiro da passagem, e pra voltar disse pro motorista lá no rio que tinha sido assaltada. funcionou e ele me deixou entrar pela frente (naquela época o ônibus só tinha roleta atrás).

  3. Essa é a vantagem de morar em cidade pequena. Todo mundo parece ser mais amigável e se ajudar. Na cidade grande a gente tem Starbucks e shoppings, mas você que se vire pra chegar até eles :/

    1. ah, eu prefiro cidade grande. tem mais opções de lazer, lojas e serviços, eu gosto de ser anônima e não lido bem com fofoca. e aqui é mais fácil chegar nos lugares se você mora na cidade grande; no interior quase não tem transporte público e se você não tem carro ou não dirige não chega a lugar algum. a linha de ônibus que citei no post passava de 2 em 2h (no verão) e não funcionava aos domingos… 😭

  4. que fofa a atitude do motorista <3 é interessante como esses pequenos gestos ficam gravados na memória. dia desses me deparei com uma atendente tão simpática e sorridente (coisa incomum por aqui) que me chamou atenção. fiquei pensando se ela é assim sempre ou se algo muito bom tinha acontecido com ela.

    1. aqui eu sinto que o pessoal é mais simpático que o de jersey. creio ter a ver com certas nacionalidades serem naturalmente menos sorridentes ou quem tem inglês limitado ter receio de conversar com clientes; tento levar o aspecto cultural em conta pra não ficar noiada achando que foram ríspidos comigo à toa. claro que tem outros fatores aí (incluindo racismo e xenofobia) mas meu lema é sempre ser gentil, e se não forem de volta pelo menos fiz minha parte.

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