I’ll see you in Heaven if you make the list

Me preparando para um reveillon anti-climático e boring.
Esse ano o cinza que vejo pela janela é tão desconsoladamente cinza… Não um cinza pesado, fúnereo, cor de chumbo. É um cinza mais ou menos, que já perdeu a vontade de ser cinza, de ser qualquer cor, de ser qualquer coisa. Se eu pudesse nomear esse tom particular de cinza, chamaria de “depression grey”.

That ain’t helping. A programação da TV ain’t helping.
O dia está com cara de segunda feira, e quando penso nisso acho graça porque né, hoje é terça. É praticamente segunda feira mesmo, o que acaba com as chances dessa minha observação soar pelo menos irônica.

Maioria dos meus amigos está igualmente desanimadae planejando dormir cedo. Parece que todo o resto do facebook está planejando acontecimentos e comidas. Eu acabei de terminar uma latinha de Pringle’s.

Estar no Brasil também não seria confortável em termos de calor. Passei dois reveillons com Respectivo lá; o primeiro foi aceitável, num bar em Copacabana, mas foi também o ano em que os fogos foram prejudicados por uma nuvem de fumaça. Não que eu tenha me importado. Mas ainda assim um rápido olhar à volta e era só um bando de gringos jantando churrasco e bebendo demais, sem ter assunto com as “acompanhantes”. Cometemos o erro de voltar pra casa no dia 01 e é óbvio que não tinha condução. Imagine começar o ano tendo o prazer de suar esperando ônibus na Central do Brasil?

O segundo foi em Búzios e falhou ainda mais. Calor (a gente mal aguentava deixar o ar condicionado do hotel) e na noite de ano novo fomos parar numa festa que REALMENTE não funcionou. Improvisada, (des)organizada por gente desonesta, acabou a comida e a bebida antes da hora, música ruim (ou música nenhuma) e a única parte levemente aceitável foi ter visto os fogos na praia – mas tive a impressão de que teríamos visto melhor de outros lugares. Fiquei feliz quando chegou a hora de ir pra casa, mesmo que tenha custado caro estar ali.

Gostei do ano que passei em Dinan. Foi uma solução de última hora, porque as passagens para o destino preferido (Praga) estavam escassas e havia sério risco de não ter nada pra fazer lá. Na França fazia um frio tolerável, a cidade era uma graça, tínhamos mesa reservada para uma recepção num hotel onde a comida estava abundante e ótima. Para melhorar, horas antes resolvemos ir passear numa Ikea (don’t ask) e bateu a fome;  já era fim da tarde e, como não queríamos estragar o apetite para a noite, compramos o famoso cachorro quente de cinquenta centavos + uma coca cola. Sabe quando um lanche é a medida CERTA para sossegar o seu estômago e esquentar a sua alma?

Na infância/adolescência o ano novo variava entre passar comendo em casa (às vezes subindo na laje pra tentar ver os fogos mixurucas de subúrbio), passar com algum namorado me sentindo até feliz ou totalmente deslocada, passar esquecida para trás pelos amigos que DEVERIAM ter vindo me buscar, passar sozinha com uma bacia de pipoca no colo espremendo o controle remoto até achar algo assistível na TV aberta, passar dormindo… Houve noites OK, mas acho que nunca houve uma realmente fabulosa. Talvez somente aquelas onde eu, pequenina demais para a volumosa saia amarela que minha mãe tinha costurado especialmente para a ocasião, sentava no quintal bebendo Keep Cooler de morango, ouvindo o barulho dos rojões e dos vizinhos passando na rua e gritando FELIZ ANO NOVO BOAS ENTRADAS PRA SUA FAMÍLIA uns para os outros e eu pensando que tudo era exatamente como devia ser e como sempre seria.

Tenho mixed feelings quanto a essa data.
Na infância eu dizia preferir ano novo ao de natal, por ser “mais animado”. Realmente não sei o que eu estava pensando. Hoje eu definitivamente prefiro o Natal. Que pelo menos tem uma back story, umas desculpas para existir, umas luzinhas coloridas, árvores cheias de bolinhas, comidas típicas, músicas tradicionais, filmes que a gente curte assistir… Você se distrai com os periféricos e pode esquecer do hardware: toda aquela lenga lenga de família reunida + nascimento de cristo. Ano Novo? Se você não tem uma(s) garrafa(s) de champanhe na mão e nem está rodeado de gente, é uma noite como qualquer outra.

Estou com uma vontade estranha de entrar num ônibus para o norte, mas sem intenção de participar do Hogmanay. Eu sei que viradas não existem, que “anos” não existem e são apenas maneiras didáticas de cronometrar a passagem do tempo (e dependem do calendário que você estiver usando… o ano novo dos chineses, por exemplo, não começa amanhã), mas acho que a única forma de efetivamente ficar alheio a essa expectativa por celebrar é estar cercada de estranhos solitários e adormecidos dentro de um ônibus interestadual, torcendo pra que nenhum deles acorde com o barulho de eventuais fogos ao longe e tenha a infeliz idéia de levantar a voz para desejar a todo mundo um feliz ano novo.

This is England. Would that be unlikely?

E quando penso que pelo menos isso acaba logo, me lembro que ainda tenho o feriado do dia primeiro pra aturar. Haja comida.

Mas podia ser pior. Muito pior. Terminando 2013 viva, todos os pedaços no lugar, todos os queridos vivos e com todos os seus pedaços no lugar. Vou ali tomar o último banho do ano e descer pra comer coxinha com catupiry e estourar a minha Moet. Porque hoje é dia de resignação, bebê. ♥

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