E eu hoje toda encantada com o brasileiro de 23 anos, recém chegado de Goiânia, que conheci graças à colombiana maluca. Um amor de menino, um balde de educação transbordando de “please” e “thank you”, coisa tão rara em hoje em dia. Levei uns 20 minutos para perceber que ele usava essas duas expressões com tanta frequência porque eram praticamente as únicas que ele sabia falar em inglês.
Me propus a ensinar uma terceira (“you’re welcome”), mas ele não pareceu entender qual a aplicação. “Mas welcome não é o que falam pra gente quando chegamos num lugar?”.
Dei de ombros. A prática fará a perfeição (ou não).
Por falar na colombiana maluca. Que lê meu blog e vai já, já descobrir esse link, mas não me importo porque eu disse à própria que a achava maluca. Não entrarei em detalhes. Mas o fato é que me ocorreu hoje que eu devo ser uma espécie de pára raio de mulher louca. O que não deixa de ser intrigante, visto que eu sou a pessoa menos “louca” do universo. Opostos se atraem e eu pego carona temporária nos desvarios das meninas, living vicariously porque me falta coragem para fazer o que elas fazem e falar o que elas falam. É uma relação meio bulímica com a extroversão; experimento o gosto, mas não sofro as consequências (mais alguém aí ficou enjoado com essa minha metáfora porca?). Ser voyeur de doida é o meu passatempo predileto em tempos de recessão emocional, ou seja, quando eu estou me sentindo mais pra baixo que a sola das minhas sapatilhas.
Segundo e último dia da greve dos metroviários em Londres. Opiniões se dividem entre os que acreditam que eles têm direito a protestar e os que se revoltam pelo fato da classe (que já recebe um salário razoável – cerca de 40 mil libras anuais – além de benefícios e férias longas) querer um aumento de 5 por cento quando o país se encontra em crise. Meu conhecimento sobre o assunto não é suficiente para que eu emita uma opinião, portanto mantenho-me quieta e desbravo a cidade munida de mapas de ônibus para Central e South East London.
Por falar em ônibus. Estava eu na estação de Victoria aguardando o meu quando ouço os berros. Emitidos por uma loirinha de uns 5 ou 6 anos, esperneando por não querer entrar no coletivo. A mãe tenta consolar: “calma querida, o metrô volta a funcionar amanhã… Olha, o ônibus não é tão ruim assim, está vendo?”. HAHA. As duas desceram devidamente em Pimlico, que é a parte mais posh do trajeto do ônibus.
Comecei o dia sentada no Wetherspoon’s de Victoria, comendo cottage pie e bebendo cerveja. No café da manhã. Teria sido very british indeed se não fosse pela colombiana maluca falando em espanhol no Skype Phone. Porque tudo bem ser riquinha e morar na zona 1, mas não é por isso que ela precisa ser besta e pagar uma fortuna em ligação internacional. Garota esperta; me ufano das minhas amiguinhas, mesmo as malucas.
Depois entramos no 52 pra ir a Notting Hill. Uma brasileira grita no celular, detalhando sua vida sexual para a amiga do outro lado da linha. Já é errado conversar intimidades em português em Londres, porque a cidade está cheia de brasileiros. Considerando que o 52 faz ponto final em Willesden, tradicional reduto de conterrâneos, a atitude da menina cruza o limite da displicência e atinge o patamar da burrice. Too much information.
A intenção da colombiana (fotografar a portinha azul do Hugh Grant no filme A Place Called Notting Hill) foi frustrada por algum espírito de porco que pintou a porta de preto. Fabulous. Sentamos num café charmosinho para fugir do vento frio, e acabamos traçando um latte duplo + cupcake de chocolate branco com recheio de limão. O tipo de iguaria cujo nome eu nem devia estar digitando, nem mesmo pensando sobre. Não só pensei, como digitei e COMI. E era bom. E foi a última coisa que comi hoje. A dieta que inventei (comer pouco, mas só o que é bom), segue de vento em popa.
Já perdi dois quilos, mas mantive a vontade de viver, que é o que eu costumo perder primeiro quando começo a fazer uma dieta convencional. Por enquanto, sucesso.