Cold wind blows through your bones.

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busy week! trabalho atrasado, diy, bagunça saindo e entrando em gavetas, mais diy… fui duas vezes à floresta: a primeira para tentar fotografar um pôr-do-sol incrível (mas encoberto por nuvens quando chegamos) e outra só de passagem levando J. pra comer cheesecake de pêra e caramelo no belgique (eu fiquei só no café).

trouxe os potes de gerânios para a varanda, arrumados nessa estantezinha que comprei, montei e pintei (salva de palmas) para abrigá-los do inverno. “winter is coming” and is coming pra cacete; dois graus em novembro, really? fim de outono com cara de meados de fevereiro? (estou adorando, lógico; só não pretendo sair de casa até março, heh).

terminei de pintar a mesa e as cadeiras; tive que desistir da tinta casca de ovo e meti um semi-gloss, que não funcionou muito bem mas é o que tem pra hoje. comprei essa mesa há muitos e muitos anos na ikea quando ainda morava em jersey. pintei a infeliz de um vermelho cereja fosco horroroso e usei durante um tempo no meu quartinho de costura. depois desmontei, guardei na garagem e esqueci dela. veio para londres na mudança, na categoria “tralhas que meu marido não teve coragem de jogar fora”. recentemente decidi que não queria mais mesa redonda e lembrei que essa retangular existia – em algum buraco, coberta de poeira, cocô de mosca e aranhas mortas. ♥

outra vitória da semana: adivinha quem se livrei do sofá horroroso? ok, grande e confortável, mas também manchado, murcho, cheirando a xixi de gato e cuja cor reside em algum ponto da escala pantone entre “cocô de bebê desmamado” e “desespero existencial”. uma noite convenci respectivo a fazer uma dança das cadeiras e mudar coisas de lugar. o sofá da biblioteca veio para a sala e o irmão maior dele agora ocupa o lugar do monstro – que no momento está tomando 80% do espaço da biblioteca, mas já pedi para papai noel que me conceda a graça de vê-lo no lixão municipal antes da missa do galo; OREMOS.

o sofá atual não é lá essas coisas, mas tem um shape e uma cor menos horripilantes e – best of all – não fede à urina nostálgica de uma gata que eu não tenho mais.

fiz várias receitinhas atkins, incluindo purê de couve flor (antes de rir: tempera direito, mistura com ovo, queijo parmesão e frita) e esse bacon & eggs & ABACATE porque vamos ver se os hipsters sabem de algo que eu não sei… ganhei livrinhos imbecis, velas perfumadas e um convite pra ir comer frutos do mar no loch fyne.

a casa começou a passar pelo processo anual de tralhificação natalina. tenho tanta porcaria que não precisei comprar quase nada esse ano, bem, nada além de um pisca colorido e algumas bolas para a árvore de natal pequena (tenho três, mas 2017 tem sido meu ano “marie kondo declutter spark joy” na vida e decidi que só vou montar duas, risos). porém daqui a poucas semanas estarei embarcando pra hannover e aqueles mercados de natal, aqueles bibelôs com pegada scandi e já viu: eu voltarei com o porta-malas entupido de lixo. sorry, marie. this girl can’t help it.

Peace is a fickle bird.

ontem foi o dia mais curto do ano. a luz chegou tarde, preguiçosa e relutante, e se retirou cedo. a partir de hoje a contagem regressiva para o verão se instala. as pessoas falam nas redes sociais sobre o começo da estação e é verdade que ainda temos dois meses de clima frio e noites longas pela frente; mas pra mim, a partir desse momento, o inverno já começou a morrer.

yup, you got it. eu sou a alegria da festa.

eu gosto do inverno, mesmo com essa vontade de hibernar. no momento só estou aceitando trabalhos que possa fazer em casa e mal saí porta afora desde que dezembro começou. as ruas de dezembro são cruéis, tomadas por uma horda de pessoas apressadas e nervosas carregando o natal em caixas. elas se irritam com vendedores lentos e com casais de idosos que caminham devagar, arrastando o peso de dezenas de natais passados e seus fantasmas. eles já viram essa correria antes, eles sabem que não pertencem mais. e assim como eu, talvez também pensem: “por que todo mundo espera dezembro chegar pra comprar presentes que estão nas lojas o ano inteiro?” o fato de que as pessoas optam por ir às compras exatamente quando os preços aumentam, tudo esgota logo e as lojas estão lotadas eu jamais vou entender.

resolvi não ir para o centro, cancelei com o amigo com quem ia tomar café e acabei dentro da H&M local comprando o pijama de natal 2016: um suéter creme + um legging cinza de tecido mais encorpado e costura frontal, que lembra calças de montaria. ok, então não é realmente um pijama, mas achei mais prático passar o natal vestindo algo quentinho, confortável porém arrumado e que eu possa vestir no dia a dia depois. eu não uso pijamas para dormir anyway (eles esquentam e sobem pelas pernas) e esse ano teremos companhia em casa no dia 25, então é melhor eu fazer um esforço pra não receber de camisola.

agora estou questionando a idéia de comprar um suéter CREME para usar no dia de maior comilança do ano. oh well: removedores de manchas na lista de presentes de natal.

enfim, chega o momento em que você (ok, no caso eu) coloca a escada no meio do corredor, abre a portinhola do sótão e começa a descer o natal. aos poucos, dentro de caixas empoeiradas, de onde você esperar tirar apenas coisas bonitas e brilhosas mas NENHUMA ARANHA (por favor). as últimas semanas de dezembro merecem ser só boas surpresas e celebração, afinal tanta gente teve um ano tão difícil. a nível pessoal esse foi o ano em que perdi minha amiguinha de 16 natais, e foi para ela que comprei uma das poucas novidades na árvore:

esse é o momento em que as pessoas fazem balanços, começam a redigir listas de resoluções, ruminam o que foi vivido e planejam o futuro. quase sempre tem uma dieta na to-do list de janeiro, porque em dezembro ela não cabe. em janeiro somos nós que não caberemos em nenhuma calça, mas até lá tem você (ok, no caso eu) abrindo o pote de creme de leite com sherry às nove horas da manhã pra fazer “sherry coffee” e só rodolfo a rena de nariz vermelho (possivelmente também bêbado) pode julgar.

minha árvore de natal é um work-in-progress durante dezembro. gosto de montá-la um mês antes da data, o que pra muita gente aqui é o cúmulo do afobamento. os mais blasé só montam na semana do natal. mas qual a graça de ter todo aquele trabalho pra ficar tão pouco tempo admirando a obra de arte? eu não seria capaz de fazer um FILHO tão bonito quanto a minha árvore (a genética também não colabora), cheia de penduricalhos aleatórios que resgatam a lembrança de momentos e lugares e pessoas. por mim a árvore já estaria dando as caras no instagram em meados de novembro e fuck the pinheirinho police.

acho que esse enfeite é o mais caro que eu tenho. custou 9 euros numa barraquinha do mercado de natal de hannover:

e o mais barato custou zero brexits e ganhei na pizza express (era só o traçado, mas eu pintei com canetinha #crafty):

eles estavam dando “só para crianças”. RISOS. minha mão continuou estendida. criança tem cartão de crédito pra pagar pizza e decide onde a família vai jantar? didn’t think so. passa esse bagulho pra cá, amigo. merry f*cking christmas to you, too.

eu comprei essa pequena árvore de natal aí embaixo pra me consolar em 2011 quando metade de minha vida estava socada dentro de contâiners de mudança e eu não tinha uma christmas tree pra chamar de minha. eis a number #2, meio desconjuntada e com essa coloração estranha porque usei tinta esmalte para fazer neve fake.

e a number #3, que eu nem ia decorar esse ano, mas como antropomorfizo objetos achei que ela ia se sentir rejeitada. pus essas bolinhas vintage que são pequenas demais para as outras árvores, uns piscas que mudam de cor, amanhã entram mais penduricalhos que eu resgatei da garagem e pronto; salvei uma árvere da depressão de fim de ano #AsArveresSomosNozes

dezembro é o mês de apreciar coisas simples. esperar pelo comercial da coca cola, receber um cartãozinho no correio com uma mensagem querida escrita à mão, pôr roupa de cama nova que você (ok, no caso eu) comprou para o natal mas colocou pra jogo em novembro mesmo porque as outras estavam sujas e ninguém liga, os filmes que você assiste todo fim de  ano porque as emissoras de tv sabem que há conforto na tradição (e porque eles são antigos e baratos), aquela tradição nada confortável do “amigo oculto da firma” mas tudo bem porque depois vai ter bebida e quem sabe você termina o ano beijando o crush, ter que ouvir a Simone no rádio questionando “então é natal e O QUE RAIOS VOCÊ FEZ SEU FRACASSADO” e isso desencadear uma bad que durará dias pra passar, a mãe se perguntando pela enésima vez “faço peru de novo? mas ninguém gosta de peru, é muito seco, que tal um tender?” quando deus e o mundo sabem que no dia 24 vai estar lá o bendito peru no forno de novo, a prima chata e seus papos chatos de “calcinha da virada” e “será que eu uso vestido branco, dourado ou prateado?” e você “darling go naked no one cares” mode on.

acho isso aliás de vital importância nas festividades dezembrinas. lembre-se que ninguém liga pra você (e pra sua roupa, pra sua opinião política, pra sua homofobia= de estimação, pro seu voto, pro seu discurso chato de dce, pra cor da sua calcinha). as pessoas ligam para o peru. mentalize peru. pense peru. THINK TURKEY.

eu passo o ano todo esperando dezembro chegar pra tirar essas meninas da caixa. aren’t they the sweetest? my little angels.

esse ano resolvi construir uma macumbinha pra elas. taquei umas pinhas, bolas e berries ancestrais em volta e espero que o calor das velas não derreta as bolas (que são de plástico), oremos.

esse ano também fiz uma winter scene usando casinhas que eu já tinha + outras que comprei para a ocasião. algumas têm luzes que funcionam à bateria, outras precisam de velas. a idéia era colocar algodão pra fazer as vezes de neve, mas me entediei no meio do projeto.

just THINK SNOW.

acabo de começar uma tradição: canecas dos mercados de natal de hannover. outra desculpa para bater ponto lá todo ano, como se eu precisasse de mais uma (desculpa OU caneca):

de hannover também veio esse enfeite. tinha “love”, “peace” e outra coisa obviamente menos importante pra mim porque não lembro (ou seja, não era “food”). trouxe a paz porque gostei da pombinha; mas infelizmente quando cheguei em casa, e logo depois de receber as notícias do atentado ao mercado de natal de berlim, me deparei com isso. peace had been broken. não apenas na alemanha, mas no mundo inteiro. e nas redes sociais, nas relações pessoais, no oriente médio e no nosso quintal.

ou, se você prefere uma interpretação menos pessimista, ela está simplesmente deixando a pomba livre para voar. sabendo que ela sempre volta.

é verdade que no inverno os pássaros buscam outros destinos e mais calor. but the inner compass is always pointing back home. they will be back.

paz para o próximo ano. have a merry and peaceful christmas. ♥

Fog and cake.

Último fim de semana de outubro, véspera de halloween, acordei ouvindo Bolshoi; puta bandinha 80s underrated; eles eram bons. Também acordei me decepcionando com comida; o biscoito de bruxa lindinho que eu comprei era de gengibre (portanto horrível) e duro feito cimento. Raspei a cobertura (também já meio dura) e descartei o resto. Minha caneca de calavera no entanto é top. Dia também de celebrar o fim do horário de verão. Minha gótica interior regozija: darkness, come to mamma.

Tempo escuro e cheio de neblina, fomos passear na floresta de Epping onde catei muitos galhos de carvalho cheios de folhas amarelinhas. Epping fica LINDA nessa época do ano, tanto a floresta quanto a high street. As árvores que eu vi amarelinhas na semana anterior já estavam com os galhos quase nus, mas todo o resto parecia ter explodido em cor nos últimos dias. Parece que você está no meio do interior e no entanto tem uma estação de metrô ali perto – ok, zona 6, mas anyway, incredible. Quero me mudar pra lá – haha, i wish.

Alguém aprendeu a fotografar com foco manual, né? Desculpem as 300 mil fotos de teias de aranha cobertas de orvalho. Passou.

Comemos bolo no Belgique perto do green (a pracinha gramada que você quase sempre encontra no centro de uma village interiorana). Esse cheesecake de pêra e caramelo é muito bom e o grenoble do respectivo também. Eu geralmente não curto patisseries francesa (muito creme, pouca massa), mas essa é uma exceção.

Passamos na M&S pra comprar ingredientes para o jantar: pig, bacon, carrots, leek, wine… comprei flores pra casa, enchi a banheira de sais e nela fiquei até a hora do jantar, acompanhado de garlic bread e vinho valpolicella.

October is sadly gone, but november trudges on and it’s almost that time of the year again. We’re gearing up already. ♥

2000 + 16

Então, esse vai estar sendo esse o Meme 2015. Também conhecido como o “Meme para tirar o blog do limbo”. Sim, ela finalmente chegou: a rendição. Me rendo ao fato de que não tenho mais saco pra blogar regularmente, perdi o ímpeto de escrever longos textão (e a capacidade foi junto, pra ser honesta), a paciência pra editar 70 fotos + selecionar dez ou quinze (que vão estar ruins de qualquer modo porque não limpo o sensor da minha câmera desde… 2006?) e o sentido de propósito nisso tudo.

Entretanto não consigo me imaginar não tendo um blog – minha identidade como “internauta” (o uso irônico do termo retrô na real entregando a idade) se formou dentro de uma caixinha de formatação de texto onde eu recontava histórias da minha vida para mim mesma, sem perceber que havia uma mini platéia se formando em volta. Mais ou menos como aconteceu com todo mundo que fez conta no Blogger nessa época. O tal do “weblog” foi uma das primeiras coisas que fiz na internet; deixar de ter um seria, de certa forma, como não estar mais aqui. So hey ho, let’s go

A idéia inicial do meme era distribuir as tarefas por cinco dias, mas hahahaha, né. Vamos ser realistas.

1. Toque as cinco melhores músicas do ano. Bem, não serão “músicas DO ano” até porque a maioria delas não foi lançada esse ano. O que importa não é a data de lançamento e sim o que eu ouvi em 2015, certo? Não tem muita novidade porque nesses 12 meses eu quase não ouvi rádio. Isso não ajuda a manter o dedo no pulso das tendencinhas musicais.

♥. Psychotherapy – Jezabels (uma das minhas bandas preferidas de 2015, uma riqueza melódica incrível, essa vozinha meio saída dos anos 80 evocando Cocteau Twins. “love you babe, you’re hotter than Peru” – sim)
♥. Lifespan – Vaults (foi até trilha de comercial de tv, mas não tenho preconceito; esse beat etéreo é puro catnip musical. “you took what you wanted to take and yet you never wanted nothing from me” – ouch)
♥. Baby Love – Petite Meller (ela é uma espécie de Lady Gaga fofinha e esse é o melhor vídeo também ♥ Como resistir às dancinhas, ao figurino da Petite? Dá até vontade de copiar esse make “blush hematoma” )
♥. Sights – London Grammar (me apaixonei pela voz dessa menina linda em 2014 – uma espécie de Florence Welch mais suave, sem a gritaria – e sigo encantada em 2015 e querendo estar no próximo show deles)
♥. Lies – Chvrches (delícia de synthpop, retrô sem soar datado, obra dessa bandinha escocesa; fez parte da trilha sonora da melhor balada de 2015. “i can sell you lies, you can’t get enough, make a true believer of anyone”)

Notou que só tem menina no vocal? Esse foi o ano delas (poderia ter citado mais um monte: Lykke Li, Russian Red, Seinabo Sey, Lola Wolf, Diane Birch, Molly Rankin, Halsey, Lianne La Havas, etc), mas… posso adicionar um bônus masculino aqui?

♥. Naive dream – The Mary Onettes
♥. Wake up call – Nothing but Thieves
♥. Too many hopes for July – Blaudzun
♥. Outsiders – Suede
♥. Under the gun – Electric Guest

E esse ano teve Spotify Premium, cortesia da Vodafone, minha operadora de celular, que só faltou me dar a bunda pra eu ficar quando pedi pra sair; nunca me senti tão amada na vida.

2. Enviar uma mensagem para quatro pessoas com quem eu deveria falar mais.

Eu sou facinha, e geralmente se não falo com alguém é porque falta assunto, afinidade ou vontade. A exceção a essa regra são meus amigos luditas, aqueles que não suportam internet/celular, ou que até suportam mas não sabem muito bem com essa coisa funciona. Recadinho de ano novo para os desconectados:

J – Eu sei que prometi ir em Agosto. E Agosto virou Setembro, que virou Novembro, que virou ‘Natal ou Ano Novo’ e que agora acena como uma possibilidade na primavera. Se eu estiver viva até lá e se você ainda acreditar que eu sou capaz de entrar no site da FlyBe e comprar passagens, prometo despencar de novo na ilhota pra conhecer a sua casa nova, ver o tanto que a sua filha cresceu, aturar de bom humor as indiscrições do seu ex e te resgatar mais uma vez de outra bebedeira – dessa vez de rosé, porque agora você é chique, bem, e garrafas de Sagres não entram mais no seu carrinho de supermercado, nem na comanda do Royal. Love you, see you soon (promise!)”

F – Outro dia vi um rapaz na balada rebolando alegremente ao som da Lady Gaga e algo nele me fez lembrar de você dublando Robocop Gay dos Mamonas Assassinas na sala da casa da V., a mãe dela fazendo xixi de fato nas calças e a P. gritando pra vizinha vir ver. Meu aniversário foi o melhor dos últimos anos e eu já estou triste por pensar que mês que vem não vai ter a gente cantando Farol das Estrelas do Soweto, nem você dando receita de farofa pro dono do restaurante enquanto eu te chutava embaixo da mesa e nem o nosso campeonato de piadas de mau gosto (ou apenas ruins, mesmo). Em 2016 como sempre o mundo vai nos entender ainda menos. Mas dane-se o mundo, porque a gente vai se entender ainda mais.”

M – Você foi a única coisa boa que ficou de um lugar que já foi tão importante pra mim, a única memória bacana que ainda se esconde por trás daquelas esquinas que agora só me servem como cenário de pesadelos. Você nunca está neles, e às vezes a gente demora tanto a se ver que eu começo a esquecer o seu rosto – mas aí basta lembrar que você parece com aquele cara feio do New Kids on The Block. Tô com saudade do bolinho branco da sua mãe, de sentar na soleira da janela do seu quarto com uma garrafa de Antarctica na mão, de folhear sua coleção de selos, de ouvir a sua voz tranquila, doce e triste, que ao contrário do seu rosto nunca sai da minha memória. Põe uma pra gelar que eu tô chegando.”

M – A gente se fala pouco e quase sempre ao fim da conversa eu tenho vontade de dar um block pra cada letra do seu nome. Porque você é rude, inconveniente, mentiroso, agressivo e arrogante. Eu perdôo os seus defeitos porque é como se estivesse perdoando a mim mesma; sei que se um dia eu resolvesse cortar contato seria como reconhecer que eu também não mereço segundas (e terceiras, décimas) chances. É fácil amar o que é amável, mas te tolerar é um exercício de paciência – e às vezes, admito, também um prazer. Obrigada pelas risadas, pela amizade que me fez achar meu chão naquela piscina sem fundo, pelo melhor arroz com salsicha e apesar de tudo eu espero que em 2016 você não mude. Não muito.”

3. Listar três coisas pelas quais você é grata.

2015 não foi um ano de muita gratidão. Começou inclusive muito mal. Perdi coisas importantes, sim, mas eu sou daquelas que vê vantagem em ter quebrado uma perna só ao invés de duas. Os bônus de sempre são: não ter morrido, não ter sido diagnosticada com alguma doença terrível (toc toc, o ano ainda não acabou) e manter meus privilégios (um teto e coisas gostosas pra comer). Mas além do básico e essencial, esse ano eu me vi grata por:

– Ter conhecido mais do interior da Inglaterra e estado tantos lugares diferentes graças à minha carteirinha do National Trust.

– Ter mudado a minha dieta, o que “consertou” o meu metabolismo quebrado e ter começado a fazer exercícios e a caminhar regularmente. Ver músculos surgindo onde antes só tinha pelanca is quite something. ♥

– Ter conhecido pessoas bacanas, interessantes, generosas e que estão me ajudando a caminhar para frente. Depois da legião de oportunistas, malucos e babacas dos últimos anos, amém, eu merecia.

2. Termine duas coisas que você precisa fazer.

– Terminada a lista (a LISTA! hahaha) de coisas para fazer na reforma do banheiro. Zero glamour de tarefa, mas minha sala de banho vai ficar uma graça.
– Todos os frilas de 2015 estão prontos e foram entregues. Estarei em recesso até o meu aniversário.

1. Escolha uma palavra para descrever o ano.

Fico entre “descoberta” e “aceitação”. A primeira soa definitivamente melhor, mas aceitar mudanças foi o que me finalmente me trouxe paz, me forçou a desenferrujar minha capacidade de adaptação e abriu espaço para descobrir – coisas, lugares, pessoas e o meu potencial.

Mais um ciclo encerrado. All in all? Not bad.
Não vou reclamar de um ano em que eu não morri. Estamos inteiros. Thanks, 2015. ♥

A Merry Little Christmas.

Chega essa época e começam a pipocar pelas redes sociais, jornais e revistas aqueles guias sobre “como sobreviver às festividades de fim de ano” e eu me sinto meio excluída da brincadeira porque nunca passei por nenhum perrengue natalino digno de merecer um tutorial de sobrevivência. A minha única preocupação era decidir se valia a pena perder o especial de Natal da Xuxa (sempre uma incerteza, mas o talking point do dia seguinte) para poder assistir alguma reprise de Scrooge (sempre uma garantia de divertimento). Minha única fonte de irritação era a maldita canela que minha mãe insistia em polvilhar sobre as rabanandas. O “chocotone” ainda não tinha sido inventado e, portanto, não corria o risco de chegar à minha mesa – frutas cristalizadas são para os fortes; os losers apelam pro chocolatinho. :)

Por falar em panetone, já tentaram fazer torrada com as fatias? E rabanada de panetone?

Yummo.

Natal = música + comida. ♥ (e ok, televisão)

Nossa família fragmentada (e dividida em facções de idéias violentamente opostas em questões básicas como por exemplo “seria certo roubar dinheiro da gaveta do meu tio?”) quase nunca se reunia nessas ocasiões. E assim sendo eu não tenho no currículo momentos embaraçosos com parentes (cujo nome ou relação sanguínea eu ignorava) me sabatinando quanto ao meu status de relacionamento no facebook (“como assim, ‘it’s complicated’? O Gustavinho, aquele menino tão bom…”) e aquela indireta vaga que eu soltei no twitter em 1989 (“aquilo foi pra mim, né? Você nunca vai admitir, mas tem meu nome inteirinho escrito nas entrelinhas daquela patada!”)

É claro que ajuda bastante o fato de a internete só ter começado a se difundir no Brasil no fim dos anos 90. Eis a minha adolescência (mais ou menos) salva.

Sei lá, não compreendo a dinâmica da coisa. Não entendo o Natal tendo que ser esse eterno “dia da marmota”, populado ano após ano pelo mesmo tio do pavê, pelas mesmas tias indiscretas querendo relatório da vida sexual dos jovens, pelo mesmo pai reaça fazendo discurso contra a pouca vergonha desses travestis, pelo mesmo cunhado bêbado que vai fazer vergonha e vomitar em cima da árvore de natal, pela mesma mãe irritada e estafada por ter organizado tudo sozinha e que vai aproveitar a hora dos brindes para fazer um discurso amargo feito o vinho barato que o pai miserável comprou no Guanabara, pelos mesmos adolescentes que vão passar a noite catando as passas da farofa, dedando violentamente na tela do celular: “ai que saco, todo ano é a mesma coisa”, clicando em “post” e dando reload na página para contar os likes enquanto rezam praquilo tudo acabar logo e sobrar bolinho de bacalhau.

É isso mesmo? Really?

Pra que reunir essa turma? Por que repetir essa tortura anualmente? O conceito de família nuclear (ou seja, só os MAIS CHEGADOS, sabe) é uma coisa tão bonita. Certamente mais bonita do que encher uma sala de pessoas cujos santos não combinam porque a idéia é repetir na vida real aquela mesa para doze pessoas do comercial da Sadia. Mas se você olhar direito, no comercial da Sadia não há dois cunhados que se odeiam trocando farpas cada vez mais afiadas e sangrentas enquanto as respectivas esposas choramingam em cima da salada de batata e põe a culpa numa recém adquirida alergia à cebola.

A vida real não tem roteiro de agência de publicidade premiada.

O Natal não precisa ser assim. War is over if you want it.

Se é tão ruim, por que não se libertar? Se a coisa chegou nesse nível, fugir de casa por uma noite me parece uma saída digna. Ceia coletiva na rua com os amigos, que tal? Cada um traz um McLanche Feliz amanhecido e garrafas de vodka. Qualquer coisa é melhor do que se resignar a aumentar essa coleção de memórias ruins. Pai e mãe depois perdoam e esquecem a rebeldia. Vocês não vão esquecer o trauma.

Criem pelo menos UMA lembrança realmente boa dessa época. Nada mais triste do que ter uma data no calendário destinada a evocar apenas sentimentos ruins. Já basta os inevitáveis, associados à perda de pessoas e bichinhos queridos. Não deixem uma coisa tão desimportante como o Natal se transformar nesse fardo. Ter que comer pelo menos uma fatia do bolo de nozes da tia Ofélia para ela não ficar sem graça já é complicado o bastante.

Há dois anos eu estava no Rio e optei por passar o ano novo sozinha em casa, comendo empadão de frango e tentando achar alguma coisa assistível nos canais da Sky. Na frente do apartamento da minha mãe tem um posto de gasolina Ipiranga e um puteiro. O puteiro estava fechado, é claro. Putas tem família, e seus clientes também. Ou talvez não. À meia noite, enquanto o foguetório amador iluminava os céus da cidade, eu fui para a janela e os frentistas do posto estavam dançando no pátio e se abraçando. Um cliente que havia parado o carro pra abastecer deixou o volume no máximo, fornecendo a trilha sonora da festinha. Até quem não teve folga do trabalho se diverte mais do que quem faz “lista de como sobreviver às festas de fim de ano”. Reflitam, sortudos.

(É eu tenho duas árvores de Natal. Não me julgue. A menor serviu de substituta ano passado quando a grande estava empacotada num galpão esperando a mudança, e não tive coragem de jogá-la fora.)

Tios, tias, avôs, avós, cunhado(a)s: por favor, considerem a possibilidade de serem menos pau no cu em 2013. E nos anos vindouros. Acredite, vocês NÃO precisam saber com quem sua sobrinha está saindo, ou onde seu neto está trabalhando. Não transformem essas conversas de elevador para passar o tempo num relatório de cobranças. Perguntem aos jovens quais seriados eles acharam mais legais em 2013. Perguntem se recomendam algum livro, se têm dicas de aplicativos bacanas para melhorar as fotos. Contem a eles que vocês fizeram conta no Tinder. Elogie o cabelo roxo da afilhada de 15 anos; afinal, essa é a idade perfeita para ter cabelo roxo. Passe receitas para os mais prendados, conte piadas sujas para os mais saidinhos e histórias de quando você conheceu o vovô para os mais românticos. Faça a receita preferida de alguém. Evite dar o seu pitaco sobre atualidades polêmicas se você SABE que não está na mesma onda que os demais. Você não vai mudar a opinião de ninguém e seu discurso raivoso só vai causar indigestão – esse peru seco + farofa não ajudando na causa. Existe tanta coisa melhor para se falar. Que tal, também, aproveitar o dia para mastigar e OUVIR?

Jovens, considerem se aperfeiçoar na arte de escutar sem prestar atenção. É apenas uma pergunta besta sobre o raio da sua namorada. Aquela que você não tem ou aquela que você não quer; DAÍ vem a sua irritação, convenhamos, e não da pergunta em si. Mas imagino que, caso quisesse e tivesse uma, você não teria problemas em falar sobre ela. Muito pelo contrário. Aposto que se tivesse acabado de passar no vestibular adoraria mostrar o recorte do jornal com o seu nome na lista de aprovados. Ou que estaria entusiasmado falando do seu novo trabalho, caso tivesse um. Então não vista a carapuça de loser, not yet. Não se ofenda. É apenas uma tia entediada e curiosa, que por acaso não tem culpa de as coisas não estarem dando muito certo pra você nesse momento – e não o Grinch que acabou de destruir o seu Natal, mimimi, comosufro. É. só. uma. pergunta. Responda (vale mentir, em nome da boa convivência e do encurtamento da prosa; ao invés de reclamar com antecedência no twitter comece a ensair as mentiras perfeitas) e mude de assunto.

Ou de família, caso eles sejam de fato insuportáveis.

O McDonalds abre amanhã. Corra antes que os lanches felizes esgotem.

And have yourself a merry little christmas now. ♥