Some cats grow by the laws of the wild.

Eis que meu cafofo está um caos.
Até ontem a mesa de jantar estava coberta de ferramentas, incluindo uma serra circular com uma lâmina do tamanho da minha cabeça. Mas agora é oficial: esta casa que vos fala não tem mais carpete! *salva de palmas* Isso mesmo, depois de quase dez anos (!) vivendo com o espécime mofado que veio com esse imóvel finalmente vencemos a inércia e deixamos no lixão municipal aquilo que só servia pra acumular poeira, ácaros e alimentar traças.

Infelizmente como essa casa é nova (foi construída nos anos 90, eu acho) o que eu achei embaixo do carpete não era o belíssimo piso de madeira maciça que se costuma encontrar nas residências mais antigas, e sim um compensado verde horrorendo. Compramos um piso de madeira moderno (não tão bonito quanto os vintage, mas pelo menos é novo) e instalamos nós mesmos; o trabalho levou dois fins de semana pra ser concluído e ENCHEU a casa de pó de serra num nível que eu não vou conseguir explicar sem espirrar ou chorar; mas a sensação de andar num piso LIMPO não tem preço. Dei adeus à minha estimada mancha de vômito da Chantilly (lembranças de quando trocamos a ração dela por uma vermelha sem nos dar conta de que o output também seria da mesma cor, rs) e desde então não vi mais UMA traça voando pela casa. Obrigada Mun-rá pela graça alcançada.

(Ok, ainda tem carpete na biblioteca, mas ele está em “bom” estado e não é um cômodo que usamos com frequência então por enquanto vou deixar como está.)

Algo que aliviou um pouco essa situação desagradável de bagunça foi ter aberto umas gavetas disposta a jogar metade do conteúdo fora e deixar Marie Kondo orgulhosa. Enchi uns três sacos pretos de coisas que estava guardando para alguma eventualidade, mas se em vários anos essas eventualidades não deram as caras eu decidi que era hora de dizer tchau. Pelas semanas seguintes fiquei bastante feliz com o desapego – até precisar de uma das coisas que tinha jogado fora. Isn’t that ironic, Alanis Morrissette?

Também comecei a assistir Hilda Furacão no Globoplay – sim, descobri que agora funciona aqui e desde então sou uma pessoa mais feliz e menos presente em redes sociais pois nada melhor que uma bacia de pipoca e cinco capítulos seguidos de novelas que eu assisti pela primeira vez quando ainda nem sabia ler o nome do elenco na chamada. Joy, joy, joy. Na época em que Hilda foi exibida eu até tive interesse, mas a vida estava um turbilhão de acontecimentos e sentimentos e durante esse horário eu ou estava dormindo ou passando a noite em claro. Agora temos pipoca e uma variedade de superfícies confortáveis onde me acomodar para assistir. Até porque agora eu realmente preciso do conforto, caso não queira ganhar um torcicolo. A velhice é uma maravilha. Eu lembro da Ana Paula Arósio quando ela era uma pirralha de treze anos na capa da Capricho.

O jardim está se preparando pra hibernar. Eu já disse que tivemos um verão terrível? Porque tivemos um verão terrível. Pela primeira vez vi os termômetros do reino marcando 40 graus, e com esse clima seco isso não foi nada agradável. A maioria das minhas plantas ainda está em processo de recuperação – exceto os gerânios, claro, que tiveram o seu Hot Girl Summer e estão belíssimos. Dizem que as rosas também gostam de calor e secura; então as minhas devem ser um bando de frouxas impostoras pois produziram meia dúzia de rosinhas mixurucas e NENHUMA repetiu a floração. Decepcionadíssima. Mas as suculentas brilharam em 2022 – e as fúcsias que eu lembrei de colocar na sombra também.

Esse livro foi a melhor coisa que eu li em setembro. Ok, foi a única coisa que eu li em setembro, mas foi uma baita trip nostálgica para um tempo que eu sequer vivi mas que teve a trilha sonora da minha adolescência. Comprei há muitos anos numa promoção de livraria, e só porque meu amigo comprou também e eu invejei. Sofri pra trazer pra casa pois pesa umas quinze toneladas e nem é capa dura – o que eu achei um pecado. Passou a década juntando pó em alguma prateleira, até que esbarrei nele quando fui organizar e resolvi dar uma folheada pra ver as figuras. Meu dedo abriu justamente a página com uma entrevista do Johnny Marr falando sobre a época em que formou a banda, a cena de rock em Manchester nos anos 70/80, os pais viciados em música, a primeira visita à casa do Morrissey onde ele ficou encantado com a “pequena, porém absolutamente impecável” coleção de álbuns que o rapaz lhe mostrou. Foi mais ou menos com sentar num boteco e ouvir essas histórias dele. E aí não parei até a última página.

(Ah! E se eu quisesse apenas “ver figuras” estaria igualmente bem servida; me dei conta que o livro foi escrito pelo Kevin Cummins, simplesmente o fotógrafo da New Musical Express responsável pelas fotos mais icônicas do Joy Division – uma das minhas bandas preferidas.)

E o que mais… Outubro, né? This is my happy place/month/season.
O primeiro dia do mês amanheceu nublado e me encontrou de pulôver cheirando a amaciante, Aztec Camera no player, sentada no Starbucks com um toffee apple muffin e o primeiro pumpkin spiced latte da estação – e também o último, já que não é meu preferido e eu só compro pelo ritual. O rapaz que veio me entregar o muffin sorriu e disse “you look happy today”.

Happy? Your girl was GLOWING, friends.
O outono chegou. Seja bem vindo.

(O que, dois posts em dois dias? She must be happy indeed.)

Been Eating.

Há tempos não faço um post sobre comida por aqui. Não tenho atualizado o blog com frequência e perdi o entusiasmo pelo instagram, e com isso aquela motivação de parar tudo pra fotografar o almoço não tem sido a mesma. Sequer consigo lembrar a última vez que tirei uma câmera da bolsa um restaurante. A maioria das fotos de comida fica exilada no celular ou sobrevive por meras 24 horas nos cada vez mais raros stories até cair no éter. Então, já que eu estou pagando esse domínio vamos lá deixar registrado alguns rangos e rolês aleatórios das últimas semanas que eu por acaso não esqueci de fotografar.

O Manteca é um restaurante italiano que abriu há pouco tempo em Shoreditch, não muito longe do mercado de Spitalfields. O conceito é “nose to tail“, ou seja, eles utilizam todas as partes do animal – e não apenas os cortes nobres, como o peito do frango ou o filé do boi. O menu também vai incluir como ingredientes a pele, órgãos, gordura… É uma maneira de aproximar a culinária de hoje à dos nossos antepassados – antes de ter acesso a supermercados com a carne limpa, cortadinha e separada em bandejas o animal era adquirido (ou caçado/abatido) inteiro e todas as suas partes aproveitadas. Quando em prática essa filosofia nos permite alimentar com mais variedade, consumir mais e melhores nutrientes, evitar o desperdício e honrar a vida do animal que foi parar em nosso prato aproveitando cada pedacinho dele. Ah, e todos os embutidos e massas servidos no restaurante são de fabricação própria.

O croquetão ali em cima foi feito com carne das bochechas do porco. O patê de pato estava perfeito em sabor e textura (o pãozinho grelhado no azeite e o molho de tâmaras ❤) e essa pasta cacio e pepe tinha um diferencial no molho: caranguejo. uma carne que eu normalmente acho meio sem graça, mas que aqui foi o complemento perfeito pra elevar um prato básico e torná-lo especial. Uma delícia.

Achei que o molho pesto dessa barriga de porco estava meio excessivo e pesou o prato; desnecessário. A sobremesa era um bolinho de amêndoas com sorvete cremoso e molho de cerejas. As batatas assadas em pig fat não aparecem nas fotos porque foram devoradas instantaneamente.

■ Drinks no Pasta Remoli + arancinis + tagliatelle com pancetta e cogumelos ao molho branco durante visita à nova arena de Wembley e o bairro que foi construído em volta dela. Eu ainda não conhecia a área (já assisti shows em Wembley, mas não na arena) e fiquei boquiaberta. Bares, lojas, restaurantes, lazer… Porém a alta densidade demográfica e os milhares de apartamentinhos uns iguais aos outros me causou uma certa claustrofobia.

Donuts de salted caramel da Bread Ahead (uma padaria artesanal que começou pequenina em Borough Market e agora tem várias filiais com decor industrial-chic servindo pizzas, french toasts, bolos, sanduíches, hamburgers, donuts e saladas).

■ Egg sando do Café Kitsuné. (kitsuné significa raposa em japonês; o cookie em forma de raposinha que eu não comprei dessa vez é uma graça e me lembra a Frankie) enquanto esperava minha sogra renovar seu passaporte no consulado finlandês. Quero provar o chicken katsu sando que eles servem na hora do almoço; preciso saber se é tão bom quanto ou melhor que o do Wa Café.

■ O famoso cinnamon social do Ole & Steen, uma rede de padarias dinamarquesa. É pra comer fresquinho; já cometi o erro de levar pra casa e no dia seguinte ele perde 80% da graça. Eu tenho o hábito de chegar para um encontro antes da hora marcada e pedir alguma coisa enquanto leio um livro ou observo o movimento. Provavelmente coisa de quem tem ansiedade social, mas eu também faço o mesmo com amigos próximos; quem me conhece sabe que é comum já me encontrar com um pratinho vazio na mesa. Mas ter começado os trabalhos antes não significa que vou deixar minha companhia comer sozinha. Round two is ON.

■ Snacks na pizzaria Zizzi, uma das redes mais populares do país. A pizza é gostosa (para quem curte pizza old school, cheia de toppings ao invés das pizzas hipsters de hoje em dia que são praticamente um disco de sourdough com meia dúzia de alcaparras polvilhadas em cima – soooo not my thing) mas eles também brilham nos croquetes e tira-gostos. Às vezes vou lá só pelo aperol e uma porção de arancinis.

■ Almoço de aniversário da R. no Felix de Warley. A la carte caro e metido a besta, mas achei a comida mediana (as batatinhas dauphinoise valeram o ingresso, porém).

■ Country pub extremamente bem servido cujo nome esqueci; esse cheesecake “desconstruído” estava perfeito, apesar de visualmente ridículo.

Legumes prontos para ir ao forno. Eu gosto da minha air fryer e uso com frequência, mas sinceramente acho mais difícil acertar ponto, tempo e temperatura. Dicas?

Nesse verão verdadeiramente senegalês que tivemos em 2022 (rest in peace as plantas no meu jardim) fiquei viciada em fazer iced latte. O método tradicional caseiro envolve deixar grãos moídos em molho por algumas horas (proporção recomendada: 80g de pó para 1 litro de água) mas sinceramente? Eu tenho feito com instantâneo resfriado e não vi tanta diferença no sabor. Leite integral (ou plant based, como preferir), gelinho e pronto.

E você, o que anda comendo de interessante? :)