Last Summer, when Summer was new.

Portas coloridas, vitrines retrô e flores, muitas flores em Whitstable, uma cidadezinha litorânea no condado de Kent. Bastante popular com turistas – não deixe que essas fotos te enganem, o lugar está sempre cheio, especialmente nos fins de semana, especialmente no verão. Chegamos cedo e o centro já estava consideravelmente abarrotado. O que é compreensível, já que as ruas pontilhadas de lojinhas com fachadas em tons pastel são 100% insta-friendly, há uma praia relativamente decente e que faz sucesso com famílias. Não comemos lá dessa vez, mas não faltam pubs e restaurantes para acomodar todos os tipos e tamanhos de apetite (recomendo fortemente reservar se for possível, pois as chances de encontrar mesa disponível não são das maiores).

A apenas duas horas de trem de Londres, fica aí a dica para quem estiver a fim de sair um pouco do big city environment e ver o mar.

You talk like a man and taste like the sun.

Meu vizinho nos presenteou com dois pequenos tomateiros em troca de algo que fizemos por ele (não faço ideia do quê). Não tive coragem de dizer que não tenho absolutamente nenhuma ideia de como cuidar dessas coisas. Sou uma jardineira preguiçosa na melhor das hipóteses e não estou interessada em cultivar alimentos, mas well, vou tentar.

Porém olha minha roseira lilás. Perfeita.

A pasta carbonara dele ainda é a minha favorita, o deck deixou o jardim novamente utilizável, tive uma experiência medonha com a nova bebida de verão do Starbucks (devia ter ficado com o meu bom e velho frappuccino de strawberries and cream), mas esse pôr do sol salvou o dia.

E foi um bom dia indeed. O gato concorda.

I have been to the movies, I’ve seen how it ends.

Desculpem o flood de foto de barco, mas eu precisava deixar registrada aqui a belezinha que é a village de Aldeburgh, no condado de Suffolk. Parece de mentira com as casinhas coloridas, os barcos de pescadores, moinhos de vento, barracões vendendo peixe fresco e a praia de pedrinhas redondas e perfeitas (não resisti e trouxe algumas pra casa). E por falar em peixe: o fish and chips local é tido como um dos melhores do país.

Foi o local que escolhemos para o nosso primeiro “long distance picnic” depois que o governo afrouxou o lockdown. O menu foi bem básico (sanduíches, pork pies e esses cookies gigantescos do Sainburys) mas que delícia poder pegar o carro, se aventurar novamente pelas estradas e apreciar a primavera se despedindo com a floração das dog roses e cow parsleys. Enquanto a gente que é pequeno, ínfimo, um respingo na bigger picture segue se desviando  das ciladas a natureza segue grande – e segue seu curso.

Chegamos na metade do ano. E que ano. A tentação é declarar null and void e fingir que não aconteceu, mas a real é que o ano *está acontecendo* sim – apesar de vírus e ameaças de respiradores artificiais pairando no ar. 2020 está em chamas; mal se apaga o fogo nas florestas e ele se acende nas capitais, queimando o combustível da revolta, da frustração e do desespero dos que se vêem sem voz mas não podem mais se calar. Está difícil pra todo mundo, mas sempre esteve difícil e 1/2 pra quem é minoria e está de figurante nesse seriado.

O título desse post seria “June, be gentle”. Mas quando o sistema nos fecha a cara e nos mostra as garras, ser suave não basta. Às vezes gentileza não gera gentileza. Às vezes a brandura é repelida com aspereza, e de tanto se ferir pela brutalidade e ver os rasgos cicatrizando uns por cima dos outros sem esperança ou alívio, é preciso se defender com as armas que estiverem à mão. Que junho venha com tudo e por todos. E se tiver que queimar, let it burn.