When we were wanderers.

Lembra quando a gente podia andar livremente pelas ruas? Escolher uma manhã bonita, não esquecer o filtro solar, passar um batom na boca, a chave na porta e se levar pra almoçar? Ver as novidades na vitrine, sentar num café de bairro pra ler a cópia do Evening Standard que pegou de graça na saída do metrô, dar moedas na mão da senhorinha do caixa e ver o sol se pôr em Primrose Hill? Fotografar a floração das glicínias (ah, o cheiro!), passar o sábado num pub garden bebendo cidra Kopparberg e fazendo planos de viagens, ir ao garden centre domingo de manhã e encher um carrinho de rosas, camélias, gerânios e margaridas africanas pra enfeitar o jardim?

Levar a amiga para um salão de chá em Mayfair, ir com o amigo passear com o cachorro em Hampstead Heath, ir com o marido ver a exposição do Pink Floyd no Victoria And Albert Museum, fazer piquenique em Richmond Park com comidinhas da Maids of Honour, comer o arancini com parmigiano do Harry’s, o char siu bun do Castle Dragon, pôr o fone de ouvido sentada no banco da frente do double decker e assistir a cidade do alto, dirigir duas horas pra um brunch em Brighton, andar pela areia da praia em Clacton, comprar cacarecos vintage em Lewes – tudo isso calçando sapatos! Sapatos, você lembra do conceito?

Gasta-se menos removedor de maquiagem. Gasta-se mais pó de café. Os dias se embaralham um nos outros. O céu de um azul irônico sem uma única nuvem ou avião. O que era escolha virou dever. Já tem papel higiênico e arroz no supermercado, mas tem também produto novo na prateleira; um que ninguém quer levar pra casa, mas que tal como num sonho de marketing perfeito não sai da cabeça do consumidor.

E vamos enganando a ansiedade com memes e transformando ressentimento em olimpíadas de virtude.
Éramos andarilhos e agora estamos fugindo de algo sem sair do lugar.
Que tempos esquisitos.

(Fotos: Poule au pot, Michelin House e Whipped London – maio 2019)

Whirlwinds, forest fires and comets.

“We are born with whirlwinds, forest fires, and comets inside us. We are born able to sing to birds and read the clouds and see our destiny in grains of sand. But then we get the magic educated right out of our souls. We get it churched out, spanked out, washed out, and combed out. We get put on the straight and narrow and told to be responsible. Told to act our age. Told to grow up, for God’s sake. And you know why we were told that? Because the people doing the telling were afraid of our wildness and youth, and because the magic we knew made them ashamed and sad of what they’d allowed to wither in themselves.”

— Robert R. McCammon