Dia 20 foi dia de São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro e santo de devoção do meu pai. Que não era uma pessoa religiosa e não frequentava igrejas, mas com mãe candomblecista aprendeu que dentro do sincretismo era filho de Oxóssi. Ele sempre usou essa correntinha de ouro com uma imagem do santo como pingente e só tirava para dormir; eram inseparáveis, Bastião and dad.
Todo dia 20 de janeiro ele me sentava no banco do carona de um carro qualquer (passamos por fuscas, fiats, escorts e chevettes) e íamos juntos até a igreja de São Sebastião mais próxima. Minha mãe não se animava a ir, e depois que virou evangélica se recusava terminantemente – it was our thing então, programa anual de pai e filha a peregrinação ao bairro vizinho para acender uma vela, pegar uma fitinha do santo pra amarrar no pulso, agradecer a sorte e refazer promessas. A igreja ficava no alto de uma ladeira e me lembro de um ano em que o carro pifou no meio da subida – por incrível que pareça bem em frente a uma oficina mecânica. Milagre de Saint Sebastian, certeza.
Ele foi todos os anos, enquanto pôde. Minha avó dizia que meu pai era de uma firmeza inatacável, que “o barco dele não andava, mas também não afundava”. Pois eu sempre achei que apesar de não ter dado nenhuma volta ao mundo ele até que andou sim, e de fato não afundou; ele se livrou de um monte de furadas tensas ao longo da vida – talvez por sorte, talvez por ser safo, talvez por destino. Eu gosto de pensar que teve um dedo de Tião nisso.
Papai viveu uma vida longa, confortável e livre de doenças até quase o fim. Viajou bastante, comeu o que quis, teve amigos, amores, desafetos, duas filhas, dois netos e aventuras que renderam muitas histórias para contar. A correntinha agora está comigo; não a uso muito por medo de perder, mas fica sempre perto de onde estou.
Valeu sebs, por cuidar bem dele. E se tiver um tempinho, cuide agora de mim também. Aquelas velas e fitinhas todas durante todos esses anos não podem ter sido em vão.
Amanhã completam-se dois meses de uso diário (mesmo!) dos produtos da The Ordinary que recebi em novembro. E apesar de realmente ser pouco tempo para avaliar mudanças significativas na qualidade da minha pele, acho que já posso tecer alguns breves e descompromissados comentários sobre como tem sido a minha relação com os ácidos.
Para fins de informação: esse post não é patrocinado. Os produtos foram adquiridos na Cult Beauty e obviamente não recebi (e nem desejo receber) nenhum tipo de desconto ou compensação da marca. Também não se guiem pela minha experiência pessoal; não sou dermatologista e não me consultei com nenhum. Dei um tiro no escuro e comprei os produtos após pesquisar o site, as propriedades dos princípios ativos e tirar uma ou outra dúvida no Reddit.
Recomendo esse approach? Não, mas minha pele é relativamente boa (apesar do dano solar/melasma) e resistente – ou seja, não tenho acne nem sensibilidade/alergias. També não moro no Brasil e não tenho acesso rápido e fácil a dermatologistas. Se você puder (e sua pele necessitar) por favor procure orientação profissional antes de experimentar qualquer tipo de ácido. Até porque o médico poderá receitar fórmulas de manipulação bem mais potentes e com foco voltado para o seu problema específico.
Também nem preciso dizer que ao usar ácidos na pele você DEVE proteger o rosto diariamente com filtro solar. This is a must, ok? Non negotiable.
Hidratante + Tônico de ácido Glicólico + serum de Alpha Arbutin Esse é o “turno da manhã”. Como eu ainda tinha mais da metade do potinho de L’Oreal e do frasco de gel hidratante Clinique ao fazer o pedido dos ácidos resolvi continuar usando. Assim que acordo e entro no banheiro já puxo um algodão e limpo o rosto com o tônico de ácido glicólico; em seguida aplico o serum de Alpha-Arbutin e o hidratante. Fazer isso assim que acordo me ajuda a manter a rotina e sinto que se deixar pra mais tarde acabo esquecendo.
O tônico vem num vidro grande e vai durar pelo menos uns 4 meses porque só agora chegou na metade. Algumas pessoas acham forte demais e reclamam de ardência; a mim não incomodou. Já o serum (que tem uma textura de gel ralo, bem fresquinha e gostosa) acabou antes de todos porque eu também uso à noite. E estava usando em excesso; duas gotinhas pro rosto bastam.
Granactive Retinoid 2% + peeling AHA + BHA 3% Turno da noite: Granactive Retinoid 2% e peeling AHA 30% + BHA 3%. O retinol eu uso diariamente antes da dose noturna do alpha arbutin, exceto quando uso o peeling (duas noites por semana; esse eu prefiro não misturar com outras coisas). O retinol tem uma textura meio rala e as gotas escorrem logo; como eu não curto pôr o produto na mão antes de passar no rosto (pra não desperdiçar) tenho que inclinar um pouco a cabeça para trás e ser rápida. O uso deve ser exclusivo noturno (e o frasco mantido em local escuro) porque a luz do sol degrada a vitamina A. O rosto deve estar 100% seco porque a água também reduz as propriedades do retinol. Você deve deixar o produto agir sozinho por 15 minutos antes de aplicar outra coisa.
O peeling tem uma cor vermelho sangue lindíssima que vai ficar na sua cara durante os 10 minutos em que você deixa o produto agir – cuidado pra não assustar o carteiro. :) Ele tem fama de causar uma certa ardência/formigamento na pele, mas eu só senti esses efeitos, muito de leve, na primeira vez que usei; hoje em dia é sussa. Muitos usuários se queixam de que o ácido irrita a pele e se você nunca usou esse tipo de química é preciso ir aos poucos. Como eu já conheço a minha “casca grossa” resolvi arriscar; deixo os 10 minutos inteiros e uso duas vezes por semana. Mas há quem só use uma vez por mês. Cada um com a sua realidade.
RESULTADOS Como eu disse anteriormente, dois meses é pouca coisa. Resultados com o retinol, por exemplo, costumam aparecer por volta dos 6-12 meses de uso contínuo. Vou perseverar e manter a esperança de que meus poros e ruguinhas vão diminuir, mas mesmo que não *melhore* nada (eu negligenciei minha pele ou usei os produtos errados por muito tempo; dei sorte por não estar destruída e não espero milagres) pelo menos ajuda a não piorar. Retinol é certamente um produto que vou usar para a vida, e encontrar nesse preço ajuda muito a não desanimar – é chato pagar 200 pilas por mês num vidrinho e não ter nada pra se gabar, né migs? Risos.
O peeling e o tônico de ácido glicólico pelo menos já melhoraram um tanto a textura da pele. Eu a sinto finíssima, mais brilhante, saudável e como consequência a maquiagem fixa melhor. A sensação de pele limpa depois de usar o tônico pela manhã é deliciosa. Estou satisfeita com esses dois produtos e pretendo comprar novamente. O serum é OK, mas não percebi nenhuma melhora nas manchas de melasma. De novo, vou dar tempo ao tempo e tentar por mais alguns meses; se não notar nenhuma alteração significativa vou partir pra hidroquinona.
E você, tem alguma rotina de cuidados com a pele? Ou é novinha(o) demais pra não se ocupar disso?
Qualquer que seja o caso, usem filtro solar. Não era comum nos anos 90 mas me arrependo de ter exposto minha desprotegida face ao sol por tantos anos. Hoje não tem desculpa. Go!
Minha segunda visita ao Ritz, dessa vez no meu aniversário e para experimentar o famoso chá da tarde no Palm Court. O salão é realmente lindo, pegada bem Louis XVI (inclusive o banheiro; olha aquele sofá rosa) e eles tiveram a idéia genial de contratar um monte de mocinhos made in italy para atender e servir, com aquela simpatia que só italianos têm dentro da hospitalidade. Basicamente passei duas horas rodeada de rapazes bonitos com o sotaque do inspector montalbano me empurrando carboidratos. “Tem certeza que não quer mais bolo? Fico triste vendo o seu prato vazio.” This is the life I deserve to live.
Tudo gostoso e correto, mas bastante tradicional e sem invencionices. O que eu não sabia e me surpreendeu é que tudo ali é em sistema refil: dos sanduíches aos scones os garçons continuam servindo. Os sanduíches eram clássicos e simples: ham + mustard, salmon + cream cheese, cucumber, egg rolls, etc. Nada daquelas novidades gourmetizadas do Sketch. Os docinhos eram ok e eu gostei especialmente do macaron de framboesa. A decepção infelizmente ficou por conta dos scones: textura de pãozinho e GENTE. scone. não. é. pãozinho. Um fracasso inesperadamente trágico, que foi compensado com o trolley de bolos que veio em seguida – esse rum baba estava FANTÁSTICO e eu teria comido fácil outra fatia.
Encerramos as comemorações de aniversário com drinks e snacks no Galvin at Windows que fica no topo do London Hilton em Park Lane. Vista incrível da cidade e eu quero voltar para ver o pôr do sol.
Então eu percebi que troquei a cor do meu famoso armário azul em dezembro mas não tinha feito ainda nenhum post sobre isso.
Esse armário veio de um brechó em Jersey e o verniz original era bem escuro. Pintei eu mesma as duas vezes; o azul era lindo e durou vários anos, mas mudei de cidade, de casa, de mobília, a minha decoração atual é mais neutra e achei que esse taupe (um cinza meio bege, ou um bege meio cinza? as fotos não mostram a cor fielmente) combinaria melhor com o resto dos móveis.
A tinta se chama “taupe” mesmo e é da linha Colours Quick Dry da B&Q (o acabamento escolhido foi”eggshell”, que tem um leve acetinado sem ser muito brilhoso). Essa tinta é maravilhosa, ótima para novatos: não escorre e seca rápido. Minha técnica é meio controversa: eles recomendam esperar 12h entre uma demão e outra, mas como a tinta fica seca ao toque quase instantaneamente eu faço a segunda camada assim que termino de pintar o móvel inteiro. assim o trabalho termina mais rápido; esse armário foi pintado num dia só.
Primeiro tentei usar uma tinta da Farrow & Ball, a marca mais famosa, metida a besta e considerada uma das melhores – virou até adjetivo e verbo aqui; se a sua vida foi “farrow & ball’ed” então você deu um upgrade nela e ascendeu socialmente. Pena que a fama e o preço não corresponderam às expectativas; diante da fraqueza da primeira camada eu ia levar um mês dando uma demão por dia até cobrir tudo. Os entendidos dirão “ah, faltou preparação, você tinha que ter usado um primer!”. e eu respondo: não usei primer nenhum com a tinta da B&Q, a diferença de cobertura é atroz e a B&Q custou menos da metade do preço. Sorry Farrow & Ball lovers, but it’s a no from me.
A maioria das coisas vermelhas nesse armário já foi removida. Em termos de decoração eu infelizmente sou “mulher de fases”; desde o ano passado eu enjoei da cor vermelha e estou aos poucos eliminando das prateleiras (e guardando no sótão ao invés de me desfazer porque well, ch-ch-ch-changes…).
E pra comemorar meu armário pintado e perfeito: café + carboidratos. ♥ Juro que não estou fazendo publi desses cookies, mas pra quem prefere os crocantes aos molinhos (eu prefiro ambos) são bem gostosos.
A luz estava impossível para fotos mas eu gostei delas mesmo assim. Uma primeira segunda feira com vinho, bacon cheesy fries, house party de última hora, girly gossip about unmentionables – a very, very excellent day was had.
o ano novo terminou com pub, cerveja, lasanha, delivery e eu dormindo no sofá de alguém e o ano novo começou com pub, roadtrip, castelos de arquitetura bizantina em pleno condado de suffolk e uma viagem frustrada em busca de carboidratos; a padaria estava fechada, mas o pôr do sol valeu a viagem.
é o que penso quando faço uma mini retrospectiva de 2018. não perdi ninguém, não tive notícias ruins e um enorme peso saiu dos nossos ombros. muitos planos frustrados por motivos alheios à minha vontade e indiferentes aos meus esforços. uma bolinha amarela de pêlos, miados e fome que enche meus dias de risadas e fofura. muito trabalho, pouca diversão. mas carinho e conforto e um abraço garantidos ao chegar em casa e a companhia das pessoas que fizeram essa volta em torno do sol mais suportável – às vezes, quase memorável.
valeu a viagem. e só. mas agora é mudar a rota porque, depois de um longo caminho no escuro, o sol finalmente saiu. os caminhos estão abertos. enjoy the ride.