Been eating.

eu sei que as pessoas seguem esse blog essencialmente por conta de fotos de comida – e ando em falta com isso. a verdade é que tenho comido em lugares pouco inspirados (onde o desencanto com menu me tira a vontade de compartilhar a experiência) ou nos mesmos lugares de sempre que eu já cansei de mostrar aqui. preciso voltar a me programar para descobrir lugares novos porque a minha lista de restaurantes para experimentar só cresce e, junto com wi-fi rápido, essa é a maior (se não a única) vantagem de morar nessa cidade.

este foi o dia em que eu sabia que ia ter algumas horas para matar entre um compromisso e outro; e como não existe melhor passatempo do que COMER eu reservei mesa no the delaunay para experimentar o chá da tarde vienense. tendo recentemente visitado viena (e morado na alemanha) eu me interessei pelo tema; principalmente pela idéia de gugelhupfs, um dos meus bolinhos preferidos.

fui bem recepcionada, o salão é bonitinho (apesar de meio escuro e da mobília sem finesse), o chá é decente, a louça, prataria e guardanapos são monogramados e o atendimento é correto. uma pena que a comida não acompanhou.

os sanduíches eram… estranhos. don’t get me wrong, eu adoro novidade e não sou muito apegada à formação clássica de sanduichinhos sem graça servidos em pão de forma meio seco da maioria dos afternoon teas que a gente encontra pela cidade. mas o problema aqui nem era não ter “cara” de sanduíche, era que eles não eram mesmo muito gostosos. a adição de pumpernickel, o famoso pão preto alemão, foi uma homenagem à herança germânica do menu – só que, risos, pumpernickel é horroroso.

o mais gostoso era esse pão com pedaços de lombinho, mas ele desaparecia com uma mordida só. tinha isso também: os sanduíches eram pequenos. ok, tinha outras coisas pra comer depois, mas poxa. sempre cabe mais um pouco do que é bom – ok, no caso do pumpernickel eu agradeci por ser mínimo…

no entanto o maior fracasso do menu estava por vir:

gugelhupfs são geralmente feitos com iogurte e têm massa densa, porém úmida e doce, com um leve toque azedinho. uma maravilha da cozinha teutônica. não sei se por causa dessa tonelada de sementes de papoula, mas esses aí ficaram secos, amargos e duros. péssimo.

na hora H fraquejei e por precaução resolvi pedir tanto os gugelhupfs quanto os scones tradicionais, e foi literalmente a melhor decisão do dia (mais sobre isso depois) porque os scones salvaram a experiência.

this is what perfection looks like.

não só os scones estavam perfeitos (já tolerei a minha cota de scone duro, seco, quebradiço ou massudo na vida) mas os acompanhamentos eram nota dez; quantidades suficientes de geléia e creme clotted legítimo na temperatura ideal (creme gelado não espalha direito). eu voltaria ao delaunay só pelos scones. ♥

a parte final do chá não foi lá essas coisas, mas londres sendo londres eu pelo menos já esperava que os bolos decepcionassem. quase nenhum lugar mais serve fatias de bolo pra encerrar o afternoon tea; o consenso é de que millenials querem cupcakes, macarons e melecas servidas em copinhos, porque fotografam melhor pro instagram.

o bolo de chocolate era uma tentativa de sacher torte que falhou forte, falhou rude – mas tinha padrões altos a atingir pois ano passado eu comi sacher torte no hotel sacher em viena, que inventou a receita original e depois disso não poderá mais ser superado. a tortinha de limão estava até comível (apesar de muito azeda), um cupcake de cenoura ressecado, um battenberg com gosto de remédio e essa coisa verde tinha (de novo) meio quilo de sementes de papoula na massa. what the fuck? estava em promoção esse negócio? derrubaram o saco inteiro dentro da batedeira? que inferno.

dali me mandei pro meu evento, dando uma paradinha rápida no cross keys que estava especialmente bonito naquele fim de tarde super claro de fim de primavera.

foi mais ou menos por ali que eu me dei conta de que tinha tomado uma decisão imbecil antes de sair de casa. o traje obrigatório do evento excluía jeans e eu notei que a saia de couro “vegano” (fake) que eu não usava há meses e decidi desenterrar do fundo da gaveta naquele dia estava esfarelando. literalmente se desfazendo, largando pedaços de tamanhos variados pela rua. de início eu achei que o lookinho ia convencer numa vibe “destroyed” proposital, mas a) difícil segurar esse look com a minha cara de tia quituteira de subúrbio e b) o look destroyed estava perigando virar NUDE. no sentido estrito da palavra.

passei o evento sentada sem levantar da mesa e por sorte a situação foi rápida; na volta pra casa já estava escurecendo, a saia era preta e tanto eu quanto o meu mico mimetizamos na escuridão. daqui pra frente só compro couro caso ele um dia tenha mugido. do contrário sigamos com os tecidos sintéticos baratos, porém seguros – exceto em caso de fogo, mas “london burning” só rolou de fato em 1666.

eu já devo ter postado o bang bang oriental umas 300 vezes mas resistir, quem há de? comidinhas honestas, porções amigas, preços pequeninos e, se você chegar cedo (meio dia), muito lugar pra sentar e atendimento rápido. aí embaixo a gente tem um mix de frango empanado com curry e omelete que estava bom, mas o “churrasco triplo” is a thing of a beauty.

de entrada os pork buns da barraquinha de dim sum, e na sobremesa um bubble crepe – com sorvete movenpick! na entrada/saída do food hall tem um uma padaria chinesa (“wonderful patisserie”, tão modestos) que dependendo do dia e do horário tem uma seleção bacana de pãezinhos, bolos e rolls pra garantir o seu café da manhã no dia seguinte.

outro achadinho recente do soho é a kova patisserie, que fica escondida numa viela e se você não souber que ela está ali, vai perder. fui na seca de provar o “lava cheesecake”, pelo qual me apaixonei depois de ver umas fotos no instagram – yeah, i’m such a basic bitch… you had me at melted cheese sauce, baby.

a cor desse matcha latte. ♥

o bolo é quase um pãozinho, não é super doce mas está longe de ser seco apesar do que aparenta nessa minha foto ruim. a luz é péssima pra fotografar, a menos que você consiga faturar a única mesa externa que eles têm (o café é super pequeno). o molho escorre pelas laterais da fatia quando ela é cortada e faz toda a diferença no sabor. eu 100% irei nele de novo.

e pra encerrar os chás de verão do starbucks – que junto com o frappuccino de strawberries & cream são a única coisa que eu consigo tomar ali. esse ano tivemos morango, pêssego e abacaxi, e desses eu tomaria o de abacaxi eternamente. pena que das últimas vezes em que bati ponto todos os sabores estavam EM FALTA.

QUEM DEIXA FALTAR CHÁ GELADO NO VERÃO, MELDELS.

malditos yankees. go home.

e vocês, descobriram alguma coisa bacana pra comer em suas respectivas localidades? compartilhem aí, 2019 é ano de brasil pra mim e tô aceitando dicas de onde encher meu pandú gostosinho e baratinho no país tropical. :)

The Tors of Dartmoor

sempre quis ver de perto os tors do parque nacional de dartmoor. tors são depósitos naturais de granito/sedimentos rochosos ancestrais que foram expostos por conta da erosão. é uma paisagem meio desolada, com diversos picos gigantes de pedras esculpidas pelo tempo, muitas vezes equilibradas uma em cima da outra como se tivessem sido arrumadas ali por uma mão gigante brincando de lego.

eu fiquei fascinada por essa árvore solitária no meio do nada. não havia nenhuma outra por perto e ela parecia estar crescendo de uma pilha de granito, os galhos cobertos de musgo seco arrepiados pelo vento. certamente “casca grossa” por ter conseguido crescer tanto num ambiente tão exposto e hostil.

eu não estava propriamente vestida para a aventura e me senti meio ridícula quando um grupo passou por nós, todo mundo cheio dos equipamentos, botinas de trekking e vestimentas – e eu de sapato de plástico, short e meia calça. risos. mas ponderei: “no fim das contas eles chegaram aqui, mas eu também cheguei”.

só foi meio complicado subir os tors (alguns eram um pouco altos e o acesso complicado e íngreme), porém depois de alguns fios puxados na meia e alguns surtos de desistência apavorada de minha parte nós finalmente conseguimos. o hotel servindo scones do post passado fica logo ali perto, assim como dartmouth e o pub-hotel onde nos hospedamos. o sábado terminou com cidra gelada às margens do riacho e no dia seguinte pegamos a estrada em direção a somerset para um almoço de domingo com sogra e cunhado, seguido de mais 3h de carro até london town.

acho que foi a primeira vez em que estive no condado de devon sem que tivesse chovido uma ÚNICA vez – mal sabia eu, mas já era a heatwave chegando no reino encantado para uma longa temporada de calor. está na hora de eu virar uma boa pessoa, porque esse verão veio me mostrar que eu simplesmente NÃO POSSO ir para o inferno.

Cream tea at Dartmoor.

depois do county show em exeter e da rápida visita a dartmouth, resolvemos explorar dartmoor. são 950 quilômetros quadrados de áreas elevadas e cobertas por vegetação rasteira, rios, florestas, ovelhas e pôneis. sim, pôneis. comendo grama e passeando tranquilamente na estrada. você tem que esperar eles passarem. existe até uma sociedade para eles.

essa parte do rio era tão bonita que eu realmente não queria ir embora. passei uns momentos contemplativos até a hora do chá. encontramos o prince hall hotel graças a uma plaquinha na entrada do driveway; o caminho até chegar lá já nos presenteia com a visão desse túnel verde:

os relógios de doguinho. ♥

sentamos numa mesa de piquenique no jardim curtindo o ventinho do fim da tarde e a vista para as moorlands, onde pastava um simpático rebanho de bovinas. quem sabe as mesmas que forneceram leite e creme para o lanchinho.

WHO’S A GOOD BOY? sim, ele mesmo, querendo meus scones.

infelizmente chegou tarde pro banquete:

outro lugar que eu preciso de mais tempo pra explorar. de preferência hospedada no prince hall, porque aqueles scones estavam incríveis. ♥