With satellite television you can go anywhere.

a tão bela quanto breve temporada dos lilacs já veio e se foi. tentei trazê-los para dentro de casa, mas lilacs morrem ainda mais rápido fora dos galhos. o segredo, segundo dizem, é mergulhar os talos em água quente por alguns segundos antes de colocá-los em seu vaso definitivo – well, preguiça. duraram menos de dois dias. and that’s ok.

vamos de choisya, então (essa levou três anos pra chegar nesse tamanho).

ando com saudades do inverno e do brilho âmbar das minhas velas perfumadas no meio de uma tarde escura, e olha que o verão ainda nem começou. dizem que no rio faz 15 graus. o carioca veste cachecóis, o paulista mal humorado reclama da temperatura e resmunga que não, as pessoas não se vestem bem no frio. “e nem no calor”, penso eu, e fecho o browser.

peguei esse galho caído no chão da floresta de epping. as folhas que iam abrir (e agora não vão, nunca mais) ficaram eternizadas nesse estágio de broto, como promessas de uma primavera que jamais se cumprirá. achei bonito, porém melancólico. vai ganhar umas bolas coloridas no natal.

batatas royal de jersey, colhidas naquela manhã e ainda com a lama fria das encostas de gorey cobrindo a casca. com manteiga e hortelã horas depois. yummy.

meu rododendro que quase morreu e que eu estou tentando recuperar. floriu bem e cedo esse ano, mas as flores duraram pouco. a maioria dos rododendros da vizinhança ainda está em flor. bummer.

passo a vida xingando o enorme carvalho plantado no meio do jardim (faz sombra demais, resseca a terra, enche a grama de folhas e galhos quebrados o ano inteiro, serve de morada para pombos cagões e esquilos que cavam buracos nos meus vasos de plantas) e o que faço? compro outro carvalho, é claro.

ok, essa é uma variedade anã (não vai crescer mais que metro e meio) e as folhas mudam de cor lindamente no outono. vamos ver.

“i like to look into other people’s houses, i like to see inside.”

passei uma tarde (em que deveria estar trabalhando) ouvindo e fazendo playlists com um amigo. é legal descobrir uma música excelente lançada muitos anos atrás e que teria feito parte da trilha sonora da sua vida se você soubesse que ela existia na época. é como recuperar uma parte desconhecida do seu passado, uma peça perdida que faltava no quebra cabeças e que você não sabia o que era, mas que de alguma forma se encaixa e faz com que a imagem inteira faça sentido.

está se tornando cada vez mais raro ter vontade de sair para conversar. há tempos sinto que boa parte das poucas pessoas com quem falo não quer ouvir o que eu tenho a dizer, me corta o tempo todo e o “papo” não passa de uma oportunidade para falar de si mesmo. tento encontrar brechas por onde começar a construir uma ponte mas esbarro no mais profundo desinteresse, breves silêncios seguidos de retomadas de monólogos e é quando a ficha cai. eu entrego os pontos num sorriso de monalisa cansada, desisto de tentar contribuir, faço perguntas aleatórias (em cujas respostas não estou realmente interessada, já que a conexão não se fez) a fim de evitar pausas desconfortáveis – mas não tenho vontade de procurá-los de novo, nem de conhecer pessoas novas.

eu sou uma boa ouvinte. e acredito que essa talvez seja uma qualidade rara, já que quase nunca retribuem. aceito que a razão por trás disso seja a minha chatice, especialmente quando não existe uma conexão natural. mas não é como se a obrigação de ouvir fosse só minha porque todo os outros têm uma vida social eletrizante; os assuntos que eles trazem para a roda como se fossem tesouros da conversação são apenas relatórios de atividades do fim de semana – e isso eu poderia fazer também, se me deixassem falar. e se realmente não há interesse em mim, se a criatura sabe que vai passar o tempo todo com cara de sono ou falando de si mesma, então por que me procurar? porque não apareceu algo melhor com que preencher o tempo e “qualquer coisa” é melhor do que nada?

nessas horas eu percebo que essas pessoas que parecem ter centenas de amigos não são especialmente fascinantes ou fascinadas. elas são só pouco seletivas, mesmo.

e eu tenho que aprender a me negar mais. há poucas almas no meu mundo cuja companhia às vezes consegue ser melhor do que a solidão e, já que seletividade é o meu forte, o que eu estou efetivamente fazendo é entediar gente que não faz diferença na minha vida e que não está interessada em mim apenas para poupá-las de uma sexta à noite em casa assistindo netflix.

tá na hora de deixar o povo botar esses seriados em dia.

Before the golden hour.

meio dia, sol rachando. não era o melhor horário de pra uma sessão fotográfica. eu sugeri aguardar o fim da tarde e o dourado suave da “golden hour” – mas a moça só tinha esse tempo disponível entre as doze e duas da tarde e descolou uma permissão pra fotografar num jardim privado em notting hill, que normalmente só pode ser apreciado pelos sortudos donos das casas que o rodeiam. tínhamos que aproveitar. às seis da tarde eles chegam do trabalho e querem curtir o playground comunitário dos ricos, sem blogueiras fazendo poses forçadas embaixo de cerejeiras.

fora a câmera profissional que ela ganhou do mecenas (aka. papai) nós não temos refletores, tripés, medidores de luz nem nada do tipo. a rigor não temos nem mesmo uma fotógrafa; só alguém (eu) para apertar o shutter da câmera, porque também não temos controle remoto. ou seja, as fotos saíram uma porcaria e teremos que refazer. de preferência super cedo ou mais tarde, com uma luz mais amigável, porém sem o jardim bonito porque o privilégio (e a floração das cerejeiras no sul da inglaterra) já expirou.

notting hill é uma graça na primavera. as casinhas coloridas com os cachos de clematis e wisterias escorregando das fachadas, mas também com suas moradias sociais e imigrantes (em trajes e tons de pele tão variados quanto a escala pantone das casas) servindo peixe frito, samosas e dim sums pelas barraquinhas de golborne road. paramos no pizza east onde ela comeu salada (vegetariana) e eu a barrinha de pipoca com caramelo do pret a manger que tinha comprado perto da estação de ladbroke grove. rimos de grafites engraçados, de madamas comendo pizza com garfo e faca e de uma garotinha de uns três anos que xingava feito papagaio de boteco porque a mãe (morta de vergonha) se recusava a comprar-lhe sabe-se lá o quê.

lembrei de uma ocasião, muitos e muitos anos atrás, onde eu tinha essa idade e chorava muito dentro de um ônibus e xinguei (no volume dez) de um nome bastante feio uma criança com a qual a minha mãe havia me comparado. “olha lá a menininha bonita te olhando, ela é bonita porque não chora, você é feia”. chocada pela afronta, calei-me instantaneamente e só abri a boca de novo para vociferar profanidades. minha mãe abaixou a cabeça e desceu no próximo ponto, mesmo que estivéssemos a quilômetros de distância de casa. seria razoável acreditar que ela teria aprendido a respeitar minha individualidade e nunca mais tentado me humilhar ao me comparar com alguém. mas a verdade é que quem aprendeu a lição fui eu: xingar em voz baixa para não ter que voltar pra casa andando.

na volta, dentro do metrô, levanto os olhos do celular e observo as torres de canary wharf reluzindo feito pepitas de ouro bruto na linha do horizonte. e enfim se fez luz. perfeita.

(essas fotos não foram feitas com a câmera profissional e sim com a minha, que comprei no natal e veio com duas lentes incluídas no preço. elas também teriam saído melhores na golden hour, mas é o que tem pra hoje, senhores.)