Oh love, luck and money, go to my head like wildfire

na infância eu vestia…
coisas que minha mãe costurava (versões miniatura de camisas de adulto, saias “balonê“, vestidos de verão estampados…) e roupas que meu pai, que trabalhava numa empresa de transportes, ganhava de brinde dos representantes de produtos automotivos e postos de gasolina. ou seja, muita camisetinha promocional com logo da texaco, da michelin, pneus goodyear e óleos castrol.

meu quarto era…
completamente desprovido de privacidade. para chegar ao quarto dos meus pais era preciso passar pelo meu, porque a casa não tinha corredor. na verdade meus pais deixaram de dormir juntos poucos anos depois que eu nasci (o casamento veio a fraturar mais tarde). eu dormia na cama de casal com minha mãe, e meu pai na minha cama de solteiro branca com detalhes dourados – very girlie. apesar de eu não dormir nele o meu quarto-corredor foi “crescendo” comigo, mudando de acordo com a minha idade e os meus interesses. a estante de vime que comprei com os dólares que afanei do meu pai (contei pra ele depois), o quadro gigante da madonna, os quadrinhos pequenos, bordados à mão, com trechos de músicas dos smiths e a escrivaninha com o meu primeiro computador; não havia internet e ele servia para escrever cartas, imprimir etiquetas de endereço para decorar meus envelopes e jogar joguinhos de DOS como herectic e doom. depois que eu e minha mãe saímos daquela casa para sempre meu pai herdou a minha cama em definitivo; dorme nela até hoje.

quando eu era adolescente eu…
era introvertida (não tímida, favor não confundir) e nutria as paixões óbvias dos jovens antisociais: livros, música e cinema. sonhava em viajar pelo mundo, tinha poucos amigos e alguns desafetos, não gostava de estudar e provavelmente assistia televisão demais. vivia às turras com meu pai e por isso “fugia” de casa com frequência; pequenas viagens pelo sul/sudeste onde eu dormia no ônibus e tomava banho em rodoviárias para economizar hotel. passei um tempo em são paulo e outro morando na zona sul do rio, no casarão de uma tia casada com um gringo rico. fui metaleira, gótica, indie, balconista de videolocadora, musa de rádio pirata, interesse romântico de meninos de 12 anos e homens de 45 (não retribuídos), amiga por correspondência, frequentadora de festas em prostíbulos, alcóolatra in training, metade de um relacionamento aberto, rainha dos selfies de webcam no fotolog e a última das minhas amiguinhas a pedir barbie de presente de natal – bem, ainda peço. quase nada me dava mais prazer do que perambular pelo saara nos fins de semana comprando quinquilharias, aproveitar as promoções de cds nas lojas americanas e sentar em alguma mureta de beira de estrada vendo o fim de semana dos outros passar por mim em alta velocidade.

quando eu crescesse eu queria ser…
nunca fiz muitos planos para o futuro, que era uma grande incógnita mas nem por isso assustador. não tinha vocação para carreiras e toparia qualquer uma que me permitisse morar sozinha e mobiliar meu cafofo nas casas bahia. eu passava horas escolhendo e circulando camas, sofás e armários de cozinha em anúncios de jornal e fazendo contas com a minha querida calculadora sharp para saber quanto eu iria gastar. :)

um momento seminal da minha vida…
decidir abandonar uma faculdade pública já na reta final, durante o estágio, a fim de preservar a minha saúde mental. fui acusada de louca e irresponsável, mas acredito ter sido uma das melhores decisões que tomei na vida. as duas horas de viagem por dia (só de ida), bullying de colegas e professores e falta de apoio doméstico (eu passava o dia todo fora, só com o dinheiro da passagem) são as desculpas oficiais – e muito válidas, inclusive. mas o que me deu o impulso pra chutar tudo pelos ares foi a sensação de que todo aquele sacrifício era em vão, porque o meu destino não estava ligado àquele curso. de alguma forma eu sempre soube.

eu nunca pensei que eu…
me casaria com alguém ou moraria fora do país. but here i am. é chato ter que dar o braço a torcer e engolir palavras, por isso mantenho todas as opções em aberto – até as que parecem inconcebíveis. beberei de qualquer água dependendo da sede, e reconhecer isso poupa muito conflito interno/constrangimento público.

eu aprendi a…
guardar opiniões/informações pessoais para mim mesma e só compartilhar as mais inócuas, não ser sempre a “sincerona” e manter uma hipocrisia funcional, ver nuances nas questões ao invés do preto X branco, sempre esperar o pior das pessoas, comer menos carboidratos quando possível mas sem eliminá-los completamente (life can be miserable enough, even with cake), cortar o soluço fazendo exercícios respiratórios, viver com menos (dinheiro, comida, amigos, expectativas), viver com mais (dinheiro, quilos, liberdade, calma), priorizar relacionamentos que saibam respeitar o meu tempo, me afastar de gente viciada em drama, abrir o vidro de maionese sem esforço batendo com a tampa na quina da mesa, admitir que não sou uma pessoa fundamentalmente gostável, aceitar minhas faltas de talento e que nem todo mundo nasceu para “fazer diferença”, receber elogios com um pé atrás e analisar com carinho as críticas porque eu funciono melhor assim.

eu sei…
mexer uma sobrancelha só, fazer um bolo de limão passável e uma farofa de ovo + bacon excelente, cantar em japonês (sem entender quase nada), reconhecer beleza nas coisas mais comuns, a letra de quase todas as músicas dos meus artistas preferidos, citações de vários filmes/músicas que vou incluir frequentemente em conversas, que estou no mundo a passeio e não há nada de errado com isso.

eu compartilho coisas na internet porque…
tenho tempo, aprecio o feedback e gosto de manter sites bonitinhos. dito isso, desde o ano passado minhas redes sociais estão dying a death e a causa mortis é uma preguiça indizível de existir digitalmente. não tenho sacadas geniais para o twitter, percebo que não tenho a vida certa para o instagram, não sou de esquerda/direita o suficiente para pertencer a panelinhas no facebook e não sou interessante o bastante pra manter no whatsapp. sinto que estou ocupando espaços indevidos na internet e preferindo manter diários de papel, boards privados no pinterest e contas alternativas no instagram. será 2017 o fim de uma era?

se eu tivesse uma manhã inteiramente para mim eu…
eu tenho quase todas as manhãs livres para mim. café com leite, jornais, planejar uma saída, um café/almoço com um(a) amigo(a) ou passar a manhã lendo/cuidando das plantas/costurando. não ter um emprego fixo significa dinheiro pouco e imprevisível, mas nada que eu possa comprar é mais importante que não temer as segundas feiras e a interação forçada com gente desagradável.

You don’t know a thing about their lives

Chegamos naquele ponto em que é difícil atualizar o blog porque eu nem lembro mais se já postei essas fotos ou não. mas enfim: eis uma visita à village de dulwich (fica no sul de londres e se pronuncia “duh-lit”) em dezembro do ano passado – porque a pasta FEVEREIRO 2017 está praticamente vazia. sorry.

o “brunch” (adquirindo certa birra desse apelido hipster que inventaram para *almoçar cedo*) foi na gails bakery, populada quase que exclusivamente por yummy mummies se esforçando para não parecer too yummy e moços de óculos que lêem o guardian e têm cara de não saber montar um gaveteiro da ikea. todo o staff composto por imigrantes, graciosamente fornecidos pela vizinha lewisham (a prima pobre que fica logo ali do lado, muito prático). e eu tomei o meu chá com quiche de bacon, uma dose de sarcasmo para acompanhar o kugelhopf e saracoteei para fora do estabelecimento em tempo de pegar esse pôr do sol:

The sandwich theory (6×6)

chá e cookies aquecendo um dia cinza (eu já adoro dias cinzas, imagina com biscoito!)

já é valentines day na leader magazine (sou viciada nessa torta de cookie da millie’s)

jacintos porque já sinto a primavera virando a esquina (perdão pelo trocadilho porco, mas olha essas flores!)

receber revistas que além de bacanas vêm com capas assim ♥

pegar o protetor labial na bolsa e sorrir porque ele me lembra que realizei meu tokyo dream

bullet journalling ♥ eu amo as horas passadas 100% offline colando papel e ouvindo música com velas da yankee on rotation

atrasei o 6×6 de novo, mas foi por uma péssima causa: não esqueci, mas o dia de ontem não foi moleza. médicos, traumas, internet baleiando quando eu precisava trabalhar, faxina, carteira perdida (e depois de duas horas de pânico, reencontrada), sandices de família e a nítida sensação de que fevereiro não está muito a fim de entrar para o meu time. pelo menos consegui ouvir cyndi lauper, comer miojo light (zero noodles + maionese light + caldo knorr de frango; é perfeito), comprar washis novas no ebay, comprar flores para a casa e carboidratos para o fim de semana, ouvir gansos sobrevoando o jardim depois de semanas de silêncio e me sentir um pouco melhor depois de um weekend alternando pizza com xarope, supermercado com analgésico, roadtrips para o campo com tardes de febre sob o cobertor mais grosso do armário. folgo em informá-los de que estamos sobrevivendo, though.

então eu pensei em fazer o 6×6 de fevereiro não como um recap dos eventos do mês de janeiro (que fora a minitrip de aniversário e alguns fins de semana comendo o meu peso em açúcar no west end não foi lá muito movimentado) mas como uma coleção de pequenas alegrias que ajudaram a fazer esses últimos 30 dias melhores. eu acredito no poder dessas doses homeopáticas de coisas simples que fazem bem, porque são elas que seguram o dia-a-dia, quando nem sempre vai ter uma viagem, conquista ou grande vitória pessoal para comemorar. às vezes a gente precisa dar um jeito de celebrar a beleza e o valor do que está ao alcance da mão.

o que sempre me traz de volta à teoria do sanduíche:

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calvin: se você pudesse ter qualquer coisa no mundo agora, o que seria?
hobbes: hmm…
calvin: qualquer coisa mesmo! o que você quiser!
hobbes: um sanduíche.
calvin: UM SANDUÍCHE?!? mas que desejo estúpido é esse?? que fracasso de imaginação! eu pediria um trilhão de bilhão de dólares, minha própria nave espacial e um continente só pra mim.
hobbes (comendo o sanduíche): eu realizei o MEU desejo.

muita gente aposta todas as suas fichas de felicidade em uma ou duas coisas, e se elas colapsam (pode acontecer a qualquer instante) essas pessoas desmoronam junto. sonhar e almejar é preciso, mas sobreviver também é, tentando cultivar uma rede de interesses, prazeres e alegrias possíveis onde se abrigar caso o grande sonho falhe. uma versão resumida do famoso “plano b”, mesmo que seja b de biscoito. it’s up to you. :)

outros janeiros: Alê (Ucrânia) | Ana (Alemanha) | Paula (Holanda) | Taís (Irlanda)

Categories 6x6

Molesey, London

delicinha de subúrbio. fica às margens do tâmisa, tem uma high street (rua comercial) com vários cafés, restaurantes e lojas de antiguidades e muitas casas antigas onde pessoas famosas (artistas, escritores, cientistas, etc) já habitaram e deixaram de herança nos muros uma daquelas plaquinhas redondas azuis, indicando que ali viveu alguém de renome. tenho andado muito por essas bandas por motivos de trampo, já experimentei alguns restaurantes (the stables tem almocinhos leves por 5 pilas e o mezzet tem comida libanesa gostosa e água com gás cortesia), já espionei janelas entreabertas e jardins de muro baixo, já quis comprar muitas tralhas (e tive sucesso em evitá-las até agora)e já passei algumas horas sentada às margens do rio sentindo o rosto congelar com o vento frio até que as luzes de hampton court palace se acendam, homens de terno comecem a ser despejados em série da estação e é minha hora de pegar o trem pra casa.

desculpem o sumiço e os posts curtos; a tia está doente, irritada por estar doente e sem muita vontade de escrever. vai passar, eu espero. ♥