Winter home comforts.

Sunday breakfast: tray bake de aveia + as canelés da Dominique Ansel Bakery. Nunca tinha tido sorte antes com elas por aqui; a melhor eu comi na Galeria Lafayette em Paris, sentada num café na sacada admirando aquela cúpula art nouveau maravilhosa (sim, eu sei o quanto esse parágrafo soou “dondoca deslumbrada”, but there. Sometimes things are good and dreams do come true). As canelés do Dominique? Valeram as duas visitas que tive que fazer para conseguir comprar (elas e o maldito cronut) antes de esgotar. Very good indeed. :) Os cronuts? Mais sobre eles em breve.

Não consegui a última vela que faltava do trio comemorativo de halloween da Yankee, mas consegui esses samples variados por 1/3 do preço num outlet em Braintree. Peony sempre foi um dos meus perfumes favoritos and I’m burning one just now.

Em contagem regressiva para o halloween. Ano passado tivemos uma festa para ir na All Hallow’s Eve; esse ano aparentemente não vai ter nada mas estou considerando sair pra jantar. Ou sei lá, aceitar a derrota, comprar uma cacetada de doces vagabundos na Poundland e entupir os pirralhinhos de E-numbers.

A canequinha adorável é do supermercado e veio recheada de marshmallows que eu estou guardando pra assar na fogueira que farei no quintal.

Dinner time: stir-fry com frango e legumes. E enquanto não fica pronto é hora de inaugurar a tradição dos meses frios e escuros:

Água quente e carboidratos. ♥

We laughed like we were queens

i’m Creedence Clearwater Wright
best friend of Elodie Eye
we’ve been tight since Percy Elementary, class of 1985
we moved together out to Philly after college
took a two bedroom at South & 9th
i sold my violin so we could have it easy
El got her grandmother’s money when she died

we laughed like we were queens and split our ballgowns at the seams
and every single time I’d dream it was only El & me
but then she slipped away from me, she met a boy from New Jersey
and they fell fast in love of course
i swear it felt like a divorce

this september i’ll be 26 years old
and El’s the only one besides my dad who’s ever said i love you Creedence
took got a job downtown, it’s an hour on the bus each way
typing letters for a lawyer in a bad toupee
it’s dumb i know but it pays okay

and did i mention i moved out?
i got my own place off of South and  i’ve been living hand to mouth
for going on a year by now
and  yes i still see El around, it’s different but i can’t say how
she cut her hair, it’s back to brown
she’s living with her boyfriend now

and since september i’ve been 26 years old
she’s still the only one besides my dad who’s ever said
i love you Creedence.

casiotone for the painfully alone

High street em Ingatestone, Essex, ready for halloween.
(“high street” é como se chama aqui a rua principal de um bairro onde fica o comércio, lojas e serviços)

Vinte figurinhas.

Assim como todo mundo eu faço zilhares de fotos no celular, mas nem todas têm “substância” para um post e a maioria nunca vai parar no instagram ou em qualquer outro lugar. Daí a idéia de transformá-las em meme. Dêem um browse aí e postem 20 fotos aleatórias que vocês tenham no álbum de fotos? My turn:

01. fim da taça do meu brandy favorito que sempre ganho de cortesia no Piazza Cappuccino lá em Hannover | 02. pôr do sol colorido no estacionamento do shopping do meu bairro.

03. tomando sol no study, porque às vezes o verão é legal | 04. atrações de uma loja de brinquedos em algum lugar das minhas andanças, não lembro mais onde.

05. o que me serviram por MINI PIZZA num café e na verdade é um panini molengo parecendo uma ferida aberta, yuck. | 06. torre da British Telecom em Bloomsbury; o topo dela já foi um restaurante giratório! adoro prédios e monumentos que podem ser vistos de vários lugares da cidade.

07. journalling your troubles away. ♥ pena que as sharpies não podem ser realmente usadas para este fim porque mancham a folha. | 08. descontão de capinha pra celular na TKMaxx; lamento por quem não tem uma filial por perto (felizmente eles estão em quase todo lugar).

09. tortinha que não deu certo e eu desperdicei meio pote de salted caramel (ok, na verdade comi assim mesmo porque obviously) | 10. selfie no espelho do brechó em Blackmore, Essex (mamain olhando assustada ali atrás e eu não comprei nada, go me).

11. sol indo embora num parque aqui perto, no primeiro dia em que realmente precisei usar um suéter | 12. Glassblower numa sexta à tarde; pós expediente as calçadas dos pubs ficam todas assim, lotadas gente batendo papo e tomando cerveja antes de ir pra casa.

13. chá na Patisserie Valerie de Lakeside| 14. gato capotado no sofá (yup, he’s still around, don’t know what to do, but hey, KITTY ♥).

15. depois da chuva, curtindo um sofá e o sol que voltava a brilhar num céu limpinho (bônus: pátio que a natureza lavou, he) | 16. revistas + porridge (mingau de aveia) com mel + idade mental: louça da hello kitty.

17. “selfie” da janela  num dia particularmente bonito com a samambaia particularmente idem e o meu dream catcher particularmente hipster | 18. caneca ostentação (cof, cof, 99 centavos na Poundland, cof, abafa).

19. coleção de fitas bordadas vintage, porque um dia eu realmente achei que tinha vocação pra crafter, risos. | 20. namore alguém que te largue sentada por TRÊS HORAS na cafeteria de um museu de TANQUES DE GUERRA onde você não quis entrar, enquanto ele se esbalda e você aos poucos vai deixando de sentir o seu próprio traseiro enquanto afugenta abelhas.

E aí, vamos trocar figurinhas? :)

Outono/Inverno 2016

Pulôveres de gola alta. Bem amplos, feitos de lã quentinha e macia (merino, cashmere, alpaca, angorá) e graças à gola não precisar de cachecol.

Poder voltar a acordar tarde em paz, porque não tem um SOL atravessando a cortina e brilhando BEM na sua cara às cinco e meia da manhã.

Tirar do fundo armário aquele chinelinho de ficar em casa estilo RYDER porque dá pra usar com meia (os chinelos de dedo obviamente hibernam durante o inverno).

Abrir a gaveta cheia de suéters em todas as cores do arco íris (no meu caso basicamente cinza e preto, com um ou outro tom outonal) e dizer MY PRECIOUSSSS, I AM BACK

Encontrar panetone, stollen e mince pie no supermercado, ficar chocada e berrar “que ABSURDO estamos em setembro/outubro, onde ficam os limites, daqui a pouco vai ter panetone pra vender em AGOSTO” enquanto joga cinco panetones, três stollen e um pacotão duplo de mince pies dentro do carrinho sabendo que teria feito igual em agosto fuck the police you don’t own me.

O retorno triunfante das couves de bruxelas. ♥ E dane-se Londres: quando você se cansa de COUVE DE BRUXELAS é que você está cansado da vida.

Poder usar botas de novo. E fazer fotos dos seus pés cercados de folhas amarelas/vermelhas (e jogá-las pro alto fazendo chuvinha de folha quando ninguém estiver olhando)

(esse CHINELO de DEDO aí foi um erro da Matrix; eu estava na calçada de casa, abstraiam)

Começar a espalhar novamente pelas superfícies da casa todas as 957 mantas quentinhas e coloridas que você enfurnou no armário em junho (aos prantos).

Bebidas quentes com xarope de abóbora. Sempre a mesma coisa todo ano, você nunca consegue terminar porque é doce demais, sempre acha que devia ter pedido um caramel latte e be done with it, mas todo ano vira peteca nas mãos do marketing e fica lá sentada com cara de bunda e o seu copinho na mão, desejando que ele fosse tão bonito quando a caneca do cartaz. E daqui a pouco virão os copos VERMELHOS do natal e você apenas SABE que vai estar lá de novo. Yep.

Reclamar que não consegue mais usar o celular na rua por causa das luvas (luva com dedo descoberto = frostbite no dedo, anyone?) mas depois achar um par com “dedinhos touchscreen” (que funcionam) por 04 dinheiros na Tiger e que evitam que os seus dedos virem estalactites.

Começar a pesquisa de preços/modelos a fim de escolher o pijama do natal. Ano passado cometi o erro de comprar uma calça e um pulôver sem cara de pijama e que podem ser usados na rua e é claro que fiquei com dó de estragar usando em casa. Bad Lolla, no donut for you. Pijama de natal deve ser barato (pra durar um inverno só), ridículo (porque well, pijama de natal, né? vale estampa de rena, panetone ou couve de bruxelas) e vagabundo (porque você precisa ter coragem de jogar fora pra comprar outro ano que vem).

Comida de inverno. Pega essa saladinha, enche de bacon e sirva com uma porção de purê de batatas. Ganhar uns quilos is ok, porque vide item 01 dessa lista que manterá seus love handles/excessos de gostosura protegidos dos elementos e dos olhos do grande público até abril. Quando então você vai surtar, mas até lá YOLO, bitches.

Tomar banho e pegar uma toalha cheirando a amaciante e ainda quentinha da secadora. JOY OF JOYS. E esfregar na pele todos os creminhos cheirosos que você guarda na gaveta para a única época do ano em que sente vontade de se esfregar neles (e sejamos justos, a única época do ano em que eu tomo banho todo dia).

Tralhas de halloween nas lojas fazendo a sua adolescente gótica interior dar pulinhos de alegria – mesmo que hipoteticamente alegria não conste da listinha de emoções aceitáveis para uma gótica. Todas as caveiras, abóboras, sangue artificial, rosas pretas, bruxas, doces em forma de vísceras humanas, caixões e fantasmas que você conseguir comprar por uma libra na Poundland e decidir se vai sair vestida de Vandinha Adams, Elvira a Rainha das Trevas (com direito a nipple tassels) ou Calavera.

(inclusive revoltadíssima porque achei candy corn e witches brew, mas não forbidden fruit)

Mais uma vez lamentar não estar nos Estados Unidos para ver aquela folhagem incrível e as decorações de Halloween/Harvest das casas nessa época do ano. One day. :) Por enquanto a gente se contenta com o que tem por aqui mesmo.

Limpar o cafofo, fazer um chá, colocar uma musiquinea pra tocar na vitrola e acender TODAS as velas perfumadas que você vinha estocando com pena de usar no verão. Sua casa cheira a prostíbulo de beira de estrada onde cada mouça usa um perfume barato diferente; tem vela de 40 pilas da Diptyque, tem vela de 99 centavos da Primark, mas eis a beleza do multiculturalismo aromático.

Derreter dentro de metrô/busão, derreter na rua feito um cubo de gelo largado no sol, usar a cópia grátis do Evening Standard pra se abanar, ser obrigada a expôr braços e pernas ao câncer de pele? Muahaha, see ya.

Bath bombs, óleos de banho, banheira. ♥

(a água ficou com cheiro de canela e cor de xixi mas hey, 99 centavos na Pounland, you’re welcome)

Os dias frios escurecem mais cedo, excelente justificativa para aposentar o “fear of missing out” e aquela obrigação moral de “aproveitar a vida” do verão. Quando tudo o que você quer é praticar um mimetismo com a estampa do sofá e jogar uma manta em cima das pernas pra comer junk food assistindo TV lixo, nada mais perfeito do que ter uma desculpa para fazer exatamente isso. Yay for cold, shitty weather. ;)

it melts inside me like 5 hour snow

(eu faço) saladas muito boas e a melhor farofa.
(eu consigo) mexer só uma sobrancelha e manter suculentas vivas.
(eu compro) cupcakes prontos e cobertura pronta, porque meu forno não é confiável e eu não quero surpresas desagradáveis no halloween.
(eu deveria) dormir tarde para terminar trabalhos, mas ando sentindo sono por volta das dez e meia e acordando por volta das nove. winter hibernating mode on.
(eu tenho que) arrumar tempo para preparar o “jardim” para o inverno. varrer a primeira leva de folhas caídas, podar plantas, abrigar potes, jogar fora as falecidas.
(eu sei) que junho e julho foram meses ruins, mas setembro foi melhor e outubro vai bem.
(eu sinto) fome por volta das 3 da tarde, saudades da minha gata, cheiro de hadoque defumado pela casa, frio o bastante para usar chapéus.
(eu acho) que vou ter que ir ao Brasil em breve; mas não gostaria.
(eu consumo) maionese super light; quase um vidro por semana.
(eu ouço) the sundays, jezabels, october project, gene, the shins, mary onettes, new order, cocteau twins, till tuesday, sta. lucia, rachmaninoff, vaults, london grammar…
(eu sonho) em mudar para o interior e morar numa pequena cottage de paredes brancas, decorada em tons neutros, almofadas em tecidos florais vintage e janelas enormes com vista para o verde.
(eu espero) pelos doces incríveis que vou comer amanhã em Londres, lembrando que morar na cidade tem algumas vantagens.
(eu temo) a possibilidade de adoecer.
(eu gasto) dinheiro com coisas cheirosas (sabonete líquido, creme para as mãos, perfume), coisas macias (cashmere, meias, mantas), coisas de papelaria (adesivos, fitas washi), comida.
(eu adoro) ouvir os gansos berrando enquanto sobrevoam o jardim em direção ao lago.
(eu recebo) um monte de cartas para os antigos moradores dessa casa e folhetos com menu delivery de comida indiana, chinesa e turca.
(eu como) tomates cereja, atum em lata, gelatina, couve de bruxelas, sushi, pickles e chucrute.
(eu bebo) quase sempre chá na rua, quase sempre café em casa. e no fim de semana cidras de fruta e cervejas francesas baratas.
(eu irei) me servir de uma taça de muscat depois que terminar essa lista. friday feelings.
(eu economizo) dinheiro para voltar a Tóquio.
(eu geralmente) passo a meia hora antes de dormir olhando instagrams de decoração.
(eu assisto) vlogs particularmente ruins no youtube (1 ou 2 episódios, não aguento mais do que isso), reprises de location location location, homes under the hammer e grand designs.
(eu leio) revistas: country living, flow, frankie, oh comely. e blogs.
(eu quero) que o fim de semana seja tranquilo, cheio de risadas e comidas gostosas.

(fotos: cream tea em great dunmow; almoço libanês + bolo vegano em colchester)

But light is a vanishing hope.

Sair do metrô antes das dez e encher os pulmões daquele cheiro que antecipa a chuva. Nuvens em diversos tons de cinza claro desfiando pedaços pelo céu azul. Café da manhã no Nero por causa do melhor mini panetone da cidade e o chocolate quente que eu nunca peço em outro lugar (coffee is my boyfriend) mas aqui sim, porque maravilhoso. De “sobremesa” dividir churros com G. (e roubar doce de leite do copinho dele) numa fast food mexicana e sair bem  na hora em que finalmente começa a chover.

Curtir alguns segundos de chuva fina sentados no jardim da igreja até que os pingos começam a ficar cada vez grossos e importunos; buscar abrigo e ter a surpresa de encontrar um recital de piano em andamento. Curtir alguns minutos de música clássica examinando os detalhes do teto, do altar, o tamanho dos candelabros, a echarpe azul da pianista, as duas lindas moças japonesas que junto com G. e eu formavam a única platéia, a luz do céu que voltava a se abrir depois da chuva entrando pelos vitrais da janela e reconhecendo a beleza e o privilégio desse momento.

Saímos de novo para a rua, as calçadas aos poucos voltam a se encher. As poças de água no chão espelhando o sol, o cheiro nostálgico de terra molhada vindo dos jardins e a sensação de que a chuva cumpriu a missão do dia e hoje não volta mais. O céu se admira no reflexo das janelas das casinhas de fachada georgiana, emolduradas pelas folhas verdes das árvores que muito em breve mudarão de cor. Everything is so lovely I can barely stand it.

Em Covent Garden mais do mesmo: turistas e seus sorvetes, madames e suas sacolas de lojas de grife, malabaristas de rua, homens elegantes de calça vermelha, grupos barulhentos de adolescentes, o cara que pede dinheiro na rua se fingindo de estátua e que acabou de chegar e, enquanto arruma o ponto, se mexe normalmente, destruindo a ilusão das crianças. “Olha mãe, uma estátua se mexendo!” Nós rimos, eu declino do convite para almoçar do outro lado da cidade porque estou esperando F. Que chega atrasada e vamos comer almôndegas com arroz integral no Leon (tão saudáveis) e quando eu pergunto o que tem pra beber a vendedora me recita uma lista interminável de sucos verdes artesanais e águas de coco orgânicas e eu por fim interrompo “TEM COCA ZERO?” e ela diz que sim e dá uma risadinha na qual reconheço cumplicidade. Yup, she hates that healthy shit, too.

Passamos na padaria nórdica hipster que tem os maiores cinnamon rolls da história da humanidade e onde eu não compro nada; acabo tomando café com uma barrinha de pipoca no Pret-a-Manger, ganhando amostra de churrasco vegano (delicioso!) na porta da Whole Foods onde entramos pra admirar as prateleiras de sucos coloridos e cupcakes gluten free e eu acabo saindo com a janta: dois pacotes de pipoca gourmet. A de morango tem gosto de xarope e é meio ácida, a de coco + caramelo é bem melhor, mas meu sabor de pipoca favorito ainda é esse: caseiro, pouco óleo e muito sal, um pano de prato protegendo a mão da quentura que estoura o milho enquanto se sacode a panela até que por fim se faça o silêncio.

Muita manteiga. Mais sal. Enjoy. ♥

September

Os últimos morangos do verão. Usei para fazer frosé e saladas e me despeço deles até junho do ano que vem. Uns vão, outros chegam: goodbye morangos, hello couve de bruxelas. ♥

Falmouth, Cornwall. Tão bonita, mas tão chuvosa. Esse foi um dos raros momentos de sol que tivemos e jamais esquecerei aquela tarde onde meus sapatos praticamente se dissolveram na chuva e eu rodei a high street inteira atrás de galochas baratas, mas as únicas que encontrei custavam 35 pilas na Joules. O que eu comprei? Três cartelas de adesivos. Risos.

Gato que aparentemente resolveu mesmo se mudar. Já passa o dia todo aqui e só sai à noite porque o colocamos pra fora (apesar de ter pernoitado algumas vezes). Ele é tranquilão, good natured, gosta de carinho, de enfiar o focinho dentro da minha caneca de café, de beber a água do vaso sanitário do Respectivo (what) e de subir em cima de mim pra se acomodar e dormir. E como dorme. Obviamente ele tem dono (o número de telefone gravado num pendente na coleira não deixa dúvidas) mas estou curtindo a idéia de ter um gato cujas despesas com veterinário eu não vou ter que pagar. Teehee.

As folhas das horse chestnuts já estão caindo. Elas sempre são as primeiras; não são as mais bonitas – não mudam de cor, apenas secam como se enferrujassem e soltam dos galhos. Ali no meio vejo umas folhas amarelinhas de poplars, mas são minoria e as que ficam em torno da minha casa ainda estão bem verdes. But it’s coming.

Os campos já foram ceifados e os rolos de feno que vão ser usados como alimentação e abrigo para o gado no inverno já estão secando. Sinal claro da época de colheita e do fim do verão.

Já é Halloween na Primark e eu já garanti as canecas comemorativas – que esgotaram logo. Vai  ter chá com calavera e gato preto sim. ♥

E essas foram seis cenas da vida diária antes de dar adeus a Setembro.
acordaram o Billie Joe? Good. :)

Outros setembros: Alê (Ucrânia) | Ana (Alemanha) | Paula (Holanda) | Taís (Irlanda)

Categories 6x6

Harwich, Essex

Aqueles lugares onde você vai imaginando encontrar um pedaço de mundo desolado e morto e vai embora querendo voltar e procurando casas nos sites de imobiliárias. E as casas são lindas porque a arquitetura do lugar parou no tempo – in a good way.

Bem, morto é. Um pouco. Harwich é pequena e não fica muito perto de nenhuma cidade realmente grande. Já teve sua importância como porto/base naval até cair em desuso depois da segunda guerra; a Royal Navy não está mais presente, mas de lá ainda saem ferries transportando passageiros para a Holanda. Pequenas vielas de casinhas coloridas irradiam das ruas principais, aludindo ao passado medieval. O cinema do século passado com fachada e interior intactos ainda funciona, exibindo blockbusters numa sala e clássicos/arthouse/estrangeiros em outra, além de shows e eventos (programação melhor do que o cinema do meu bairro). Uau.

Não vi muito além de pubs, restaurantes tailandeses, deliveries de comida chinesa/indiana – ou seja, o básico típico. Não vi muitas pessoas pelas ruas apesar de ser domingo; talvez todo mundo estivesse fazendo compras em alguma cidade próxima ou curando a ressaca de sábado no sofá. Mas eu não esperava ver gente jovem (eles não costumam ficar onde não há trabalho ou universidades) e vi. Não esperava me encantar por ruas de pedrinhas, macieiras carregadas de frutos semi-maduros, brechós com tema náutico, céus perfeitos e barcos carcomidos apodrecendo lentamente na areia.  Eu não esperava me sentir em paz, querendo fotografar mais e andar além e conhecer melhor, sem aquela sensação ruim de isolamento claustrofóbico que eu conheço de outros tempos. Talvez ela viesse caso eu me mudasse mesmo para lá. Ou talvez não. A gente nunca sabe antes. Só depois, bem depois que o caminhão de mudança foi embora e não há como voltar atrás.

Aparentemente a melhor vista de Harwich é essa aí em cima- o porto de Felixstowe, em Suffolk, na outra margem do rio. O mar aberto se espalha à direita, em direção ao continente. À noite as luzes dos guindastes que descarregam os contâiners dos navios se acendem, formando um rastro de luz  que corta mar e céu; os locais dizem que é bonito. Eu não esperei anoitecer, mas não duvido.

Suburbia Tales

I only wanted something else to do but hang around.

No subúrbio a temperatura é sempre uns graus mais fresca do que no centro da cidade. E quando neva, é mais provável que a neve acumule aqui.

No subúrbio um jardim com esquilos, ouriços e passarinhos custa o mesmo que um conjugadinho mofado com vista pra rodoviária no centro. Só que você está mais longe e vai pagar mais pelo transporte (a diferença no aluguel ajuda a financiar muitas passagens do metrô, no entanto). Infelizmente sair à noite para beber fica complicado se você mora fora do alcance dos night buses. Esqueça táxis, a menos que queira deixar um rim no porta malas. Mas o metrô noturno aos fins de semana já é realidade nas linhas principais.

Os engarrafamentos são menos frequentes porque só as linhas locais de ônibus circulam pela área. Ônibus em Londres são lentos e atravancam o trânsito nas zonas centrais; no subúrbio há menos veículos circulando de modo geral.

Mais verde. Ruas arborizadas, jardins floridos e bem cuidados; os ingleses são os jardineiros talentosos e dedicados.

Menos barulho. Estou perto do centro do bairro e faço tudo a pé (banco, correio, supermercado, lojas, cafés), mas a vizinhança imediata é 100% residencial – ou seja, ausência de bêbados gritando na rua às três da manhã ou sirenes de polícia/ambulância embaixo da janela do quarto. A única coisa que ouço aqui às três da manhã: o ronco do respectivo e o carrinho elétrico que entrega o leite.

É menos violento. A realidade é essa, a gente poderia comprar mil brigas e se perder tentando explicar as razões, mas vamos ficar apenas com os fatos.

Não tem turistas. Visitem sim, sempre, turistas são necessários e apreciados; mas o grupo de espanhóis berrando dentro do Burger King, as crianças francesas gritando para os patos em St. James’ Park e as cinco senhorinhas de Inverness de mãos dadas ocupando a calçada inteira e andando a cinco metros por hora não são sempre a melhor coisa do mundo. Especialmente quando você tem pressa, dor de cabeça ou gosta de patos.

É menos populoso. As calçadas em que você mal consegue andar, o restaurante que não aceita reservas e tem fila de 1h pra entrar, a loja onde você precisa empurrar pra chegar na arara de promoção, o evento onde você entra depois de ficar 1h na fila e lá dentro encontra doze mil “mini-filas” diferentes (pra comprar comida, pra ver um stand, pra ir ao banheiro, pra jogar o pratinho de papel da comida no lixo, etc)? Não tem.

Ok, também não tem restaurante hype, treze eventos por semana e a H&M tem um estoque meia-bomba se comparado aos shoppings/Oxford Street. Mas dá pra respirar. Dá pra sair de casa e caminhar por calçadas largas e vazias, comprar o seu lanchinho no Tesco Express, sentar no parque pra comer stalkeando o instagram ou caçando Pokemons, dar as sobras pros esquilos e ir até a Primark comprar calcinhas de 1.50 numa banca que não foi revirada por mãos de pelo menos três continentes.

O subúrbio é o lugar onde o britânico médio vem ter filhos, garagens e labradores, plantar cerejeiras, construir conservatórios, se tornar conservador e realizar o sonho da casa própria – ou pelo menos do conjugado que ele não precisa dividir com estranhos a fim de conseguir pagar o aluguel. Anos depois, vazio o ninho, o interior e as pequenas cidades litorâneas são os lugares onde ele vai sentar numa cadeira reclinável, deixar os mementos de uma vida inteira para trás em prateleiras de brechós e morrer.

Está cedo pra sair. Porque quando eu me canso da tranquilidade provinciana do subúrbio e preciso recarregar as baterias com a energia da metrópole, bem, ela está logo ali. Win-win. ♥