Kick in the teeth and kiss on the forehead.

Sentada num café em Kensington com as duas únicas pessoas que conheço que não usam o celular pra matar o tempo. Olham pela janela, lêem o menu, conversam entre si. Tenho vergonha de pegar o meu na presença desses seres claramente mais evoluídos; me sinto uma adolescente sem traquejo social (bem, só a parte da adolescência não procede) e me pergunto se “me julgar” faz parte das distrações não-eletrônicas. Reponho rapidamente a comida dos gatos no Neko Atsume, enfio o telefone de volta na bolsa e tento retomar o meu lugar na conversa.

O café está lotado. As melhores mesas e as cadeiras mais confortáveis ocupadas por madames e hipsters que pedem um latte, abrem o Macbook Air e passam três horas “trabalhando” no Instagram. Isso num país onde quase todo mundo tem 4G ilimitado e internet super veloz em casa, especialmente numa vizinhança abastada como essa. Deviam tirar o Wi-Fi ou estabelecer limite de tempo pra atravancar as mesas com seus gadgets de luxo; eu só queria 20 minutos de conforto pra fugir do frio e quase tive que voltar pra chuva por falta de lugar. Quer ficar dando like com conforto e sem estourar o plano de dados? Try a place called home.

Acho que eu estava meio amarguinha.

Mais tarde, Highgate. Criatura que não conheço usando Louboutins (a sola vermelha refletindo o chão, de tão nova) e um Rolex Daytona masculino maior que o meu punho nos contando o quanto economiza no natal dando geléia caseira de presente pra família. Se eu fosse parente acho que cuspiria na sua rabanada, moça. Avareza é um defeito por vezes compreensível, mas nunca desejável – menos ainda em gente rica. Se a pessoa não merece presente então não merece nem mesmo a geléia.

No fim do dia, depois de me examinar atentamente por trás da franja longa e perguntar minha idade (eu menti), ela me informa que sou nova demais para ter linhas de expressão e recomenda Botox. Finjo ofensa e respondo que quero continuar sendo capaz de franzir a testa. A ofensa dela é genuína. “Viu? Eu consigo franzir a minha. Toma aqui o cartão do meu médico.”

“Quantos potes de geléia custa o tratamento?” eu pergunto e ela ri, mas sei que não entendeu a piada. Pra ser sincera eu também não. Guardo o cartão com texto em relevo no bolso do casaco e encaro o espelho, alisando as rugas com os dedos. Minha base não combina com o meu tom de pele, e pelo menos por ora isso me incomoda bem mais.

Saída rápida pra tomar uma cidra no Dirty Dicks (risos). Não sei se sujos, mas não eram “dicks”; a homarada (bonita) era na verdade muito bem educada. Fazia tempo que eu não tinha tantas portas abertas e prontidão ao puxar cadeiras. Não precisei ficar meia hora gastando sorriso no balcão até ser servida; o engravatado à minha frente mal acabava de pagar e o bartender já acenava pra mim. Um rapaz perguntou se eu queria ajuda para carregar as garrafas e copos escada acima. Não precisei, mas devia ter aceitado.

Uma moça chorava no celular do lado de fora da estação de Liverpool Street. Chorava e explicava e fumava, as nuvens de nicotina se formando pesadas em volta do seu desespero. Outra retocava o batom enquanto andava, o salto fino tamborilando freneticamente no chão. Tenho inveja de quem é bom de multitasking; eu só sei passar batom estando absolutamente imóvel. E quando preciso chorar, me dedico (mas reconheço que nem sempre dá pra esperar). Salivei diante dos onigiris e sushis e sashimis na vitrine do Wasabi – but resolve is a beautiful thing.

Um rapaz bonito insistiu que uma moeda de uma libra havia caído da minha bolsa. Não caiu da minha bolsa. Mas eu devia ter aceitado.

Trem depois das sete = vazio. Revistinha gratuita do Evening Standard e bombons que ganhei da colega. As luzes da cidade passando rapidamente na janela e o barulho repetitivo dos trilhos têm um efeito calmante sobre mim.

Em casa, preocupação. Minha gata ainda sem equilíbrio no corpinho flácido pós-anestesia e ainda sem comer. E num sms semi desaforado, outra esnobada de que eu não precisava. Mas fiquei orgulhosa de não ter me humilhado buscando retratação; uma das vantagens de ter saído da fase “adolescente buscando aprovação de grupinhos” é não ter mais que engolir certos batráquios. “I’m too old to put up with this/being treated like shit” is a mantra we should all learn to recite, regardless of age.

Acho que no fim das contas vida me deu exatamente o que eu mereço: as partes boas e as más, também. The kicks in the teeth and the kisses on the forehead: I’ve earned them all.

Deletei a mensagem, pus a gata no meu travesseiro e, quentinhas (eu nas meias de esqui do respectivo), dormimos o sono dos justos.

Madrid, four days

As fachadas de azulejos antigos das lojas e restaurantes, construções clássicas na Gran Via, primeiro café da manhã na cidade, detalhe da fachada de um restaurante, cerveja Tio Pepe (“o sol da Andaluzia engarrafado”), chafariz no Parque do Retiro.

Doces numa padaria em Calle de Velazquez, palácio de cristal no Parque do Retiro, casaco insuficiente contra a ventania madrilenha, chafariz e estátuas no Parque, chocolateria San Gines – a mais antiga da cidade, churros fritos na hora a serem mergulhados no chocolate grosso e amargo.

Quatro dias na Espanha. Revi as amigas, comi tapas, paella, presunto ibérico, bocaditos e montaditos (nota mental: com toda essa variedade, nunca mais pedir coca cola ou batata frita em terras espanholas – ambas são ruins), bebi prosecco e Heineken, caminhei por um parque lindo, conheci a mais antiga chocolateria de Madrid (onde os churros ali em cima foram consumidos, apesar de o chocolate ser amargo demais), comprei batom no El Corte Inglés, tomei café da manhã em padarias, resisti às compras na filial da Zara na Gran Via, encarei cinco horas de trem entre Madrid e Algeciras, comi algo que não combinou com a minha personalidade e passei metade do sábado ejetando seus pedaços não digeridos no banheiro do hotel em La Línea, visitei cavernas repletas de estalactites e estalagmites milenares, conheci os famosos macacos da pedra de Gibraltar (que até posam para fotos desde que em troca de amendoins, os mercenários) e encerrei a visita jogando boliche em Marbella (sem conseguir nem um strike, mas não importa porque teve comida chinesa depois).

Tudo fotografado na lembrança, em altíssima resolução e com trilha sonora de risos e música espanhola. Me esperem de volta qualquer dia desses. :)

the week

01. Macaroons de coco (não confundir com os macarons franceses) da HEMA, uma loja de departamentos holandesa que abriu filiais em Londres ano passado. Também recomendo os stroopkoeken recheados que são absolutamente viciantes.

02. Esse piso no meu banheiro, que entra pra lista de pequenos sonhos realizados.

03. Esses pequenos.. . crocuses? Que estão começando a despontar. Não lembro mais o que plantei aqui, vai ser uma surpresa descobrir.

04. This man.

05. Essas chaves, que eu dei como perdidas ano passado e reencontrei essa semana (depois de muito stress e de ter tido que trocar a fechadura…) dentro de uma bolsa que eu uso quase nunca. Bem, pelo menos recuperei o chaveiro de que eu gostava tanto.

06. Essas prateleiras, nova solução para um antigo problema e que me liberou um gaveteiro para usar em outro lugar. Falta ajustar e pintar.

07. Esse muffin de victoria sponge (cobertura de creme fraiche, recheio de geléia de morango) que abriu as comemorações pelo meu aniversário esse ano. Very good indeed; thanks, Marks & Spencer. ♥

 photo links.jpg
Waiting Dogs (sempre me dá peninha ver os cachorros esperando os donos do lado de fora das lojas, mas que idéia simples e fofa registrá-los)

– Instagram da semana: Sad Animal Facts.

O mundo da gente começa a morrer antes da gente, lindo texto da Eliane Brum.

Essa casa. Preciso me mudar. Agora. Nem preciso levar nada.

– Stephen Fry (o mais inglês dos ingleses?) te dá as boas vindas ao Reino Unido – e aproveita pra dar também umas aulinhas de etiqueta britânica…

11 (onze) horas de Neko Atsume, versão reality show. I cannot.

Linha de roupas inspirada na Mathilda Lando, do filme Leon. Quero meus 14 anos de volta.

– Essa entrevista da Bethy Lagardere pro Glamurama é de um ano atrás, porém vale o link porque hilária (e não, você nem precisa saber quem ela é).

Resoluções simples de ano novo que você realmente deveria fazer.

– Esse maravilhoso porta anel (scroll down). Adoro as tetinhas e o suvaco peludo.

Girlfriend in a coma – um relato interessante (e bem honesto) sobre o que acontece quando você… entra em coma.

Regras de etiqueta do  instagram, by Vogue.

Sobre aniversários (e macacos).

Sempre tive um crush naquele macaquinho mascote da Kipling, desde quando levava minhas pernas pré-adolescentes para bater no shopping, lanchar junk food e fazer pesquisa de preços. Chegando à conclusão de que até mesmo a bolsinha de lápis custava mais do que a minha mesada permitia, perguntei à vendedora se podia comprar só o macaco. Ela riu, me deixou de lado e foi atender outra pessoa. Fosse hoje, plena era das redes sociais enquanto ferramentas de bullying reverso, eu faria um textão indignado no facebook que ganharia 30.000 compartilhamentos pedindo boicote e quiçá provocaria a demissão da funcionária metida. Mas em 1992 os únicos cursos de ação possíveis eram, a saber:

a) sair da loja, ganhar na loto, voltar sacudindo quinze sacolas da Pakalolo ou Cantão e ter o meu momentinho Julia Roberts em Pretty Woman gritando “MISTAKE! BIIIIG MISTAKE!”

b) sair de loja de orelha murcha, voltar pra casa e assistir Pretty Woman chorando dentro de um pote de sorvete.

Pelo menos o sorvete era Kibon.

Passei uns anos desenvolvendo um certo odinho socialista àquele primata pedante e a tudo o que ele representava; nos meus delírios proletários eu jogava uma bomba atômica em cima da loja e o macaco dentro de uma jaula de tigres de pelúcia famintos. Mas ainda bem que a gente não é adolescente pra sempre e a maturidade me trouxe um emprego (argh) e um salário no fim do mês (urrú) – uma pena que na época meus principais interesses atendiam pelos nomes de Antarctica, Brahma, Original (e ok, Bavaria depois do dia 20) e bares levavam quase todo o meu dinheiro. E depois que passei a bolsas “adultas” eu acabei empurrando a idéia do macaquinho para o fundo da gaveta de desejos reprimidos da infância.

Até agora:

O batom é reposição de estoque porque o meu estava no fim e eu peguei de graça com o meu cartãozinho de fidelidade da Boots; que mun-rá abençoe muito essa drogaria, amém. Respectivo me trouxe esse perfume de Gibraltar.

E assim começam as celebrações pré-aniversário da Lolla, sem facada no bolso mas com muito amor, bolo, cheirinho de rosas e macacos de pelúcia – no caso macaca, que atende pelo singelo nome de Melissa.

Welcome home, Mel. Not a day too soon.
Antes tarde do que nunca. ♥

Leiden, Holanda II

De repente eis que surge um mercadinho de natal. ♥

E com ele, chocolate quente. Eu, que nem mesmo sou “chocolate people”, confesso que esse aí estava muito bom. Não melhor do que os chocolates quentes na Itália (é covardia comparar, na verdade), mas muito bom mesmo. Até o creme batido era uma delícia.

Blissed out after food state:

Aparentemente tem um museu nesse moinho; não deu tempo, fica pra próxima!

No meio da cidade há esse morrinho sob o qual se ergue uma fortificação circular, a chamada torre de Burcht:

Lá do alto dá pra ter uma vista bem bacana da cidade:

Achamos uma loja de doces interessante, com Pringles sabor pizza (nunca vi por aqui), pizza de chiclete e um iPad de chocolate.

Modestamente adquiri uma caixinha de Pocky sabor limão siciliano (tem gosto de Bis de Limão) e Reese’s peanut butter versão chocolate branco. :)

E assim acabou o nosso rolêzinho na cidade; Leiden é uma gracinha, não fica longe de Amsterdam mas tem brilho próprio. :)  Depois de tomar o café da manhã do hotel entramos no carro e pegamos a estrada novamente, destino Hannover.

Aleatórias

Crianças mal saídas das fraldas já escolhendo o que querem vestir. Eu deixei essa decisão nas mãos de costureira da minha mãe até uns 10 anos de idade e vestia o que ela comprasse/fizesse (imagine saias modelo “balonê” e cópias de roupas do Bicho Comeu, a grife infantil da Xuxa) ou o que o meu pai ganhasse no trabalho (logística de uma empresa de transportes): camisetas com propagandas da Texaco, Pirelli e Castrol.

Lembro que mamãe se recusou a pagar pela camiseta do uniforme de educação física (“é só uma camisetinha pra suar e sujar, qualquer coisa serve!”)  e ficou enchendo o saco da diretora da escola, que resolveu se poupar da fadiga e deixou que eu fizesse as aulas com camisetas genéricas. O professor fanfarrão passou a me chamar de POSTO IPIRANGA ou MISS TEXACO em homenagem às mais usadas. Minha mãe ficou putíssima quando descobriu, mas eu não liguei pro bullying. Afinal eu podia usar uma camiseta diferente toda semana, enquanto as outras crianças cujos pais se curvaram ao capitalismo tinham que repetir brusinha. Vitória do proletariado (brought to you by Pneus Michelin).

Papai ganhava muita coisa legal. Lembro particularmente de um conjunto cinza de plush super macio, que eu adorava usar – e usei até quase se desfazer. Outro tesouro eram os livrinhos RODAS, uma edição capa dura promocional/comemorativa contando a história do automóvel e do automobilismo através de charmosos textos curtos e ilustrações bacanas. Devorei esses livros de cabo a rabo centenas de vezes e aprendi muita coisa; inclusive que o nome “Mercedes” veio da filha francesa de um tcheco que curtia tudo que fosse da Espanha e deu um nome espanhol à menina – mais tarde usando-o pra rebatizar carros Daimler na França (já que depois da ocupação nazista ninguém ia vender nada com nome alemão).

Comecei falando de roupas, terminei falando de carros. O título do post não poderia ser mais apto.

Ano novo, agendas novas:

A maior tem datas e é para journalling, a segunda é na verdade um caderninho que eu pretendo usar como planner – mas ainda não sei se vai ser esse ou algum outro entre as centenas que tenho em standby nas gavetas, esperando uma chance. Eu devo ter mais cadernos do que anos de vida pela frente para usá-los.

Ansiosa por usar também essas sticky notes fofas de gatinho que achei na drogaria Rossmann em Hannover. ♥

Apesar da luz azul do restaurante deixar toda a comida com cara de vômito eu queria declarar amor pela bandeja de aperitivos do indiano local.

Lembrei que não postei o meu resultado do meme “Best Nine” do Instagram em lugar algum. Taí: cores, plantas e lovely London.

13 anos hoje.
E sempre que ouço alguém dizer que todo policial é uma pessoa inerentemente má, cruel e violenta eu lembro de você e de que felizmente toda regra tem exceções.

Thank you for everything and rest in peace.

Leiden, Holanda

Chegamos à noite na pequena Leiden para fazer um pit-stop no caminho pra Alemanha. Já deu pra sentir a vibe holandesa nos montinhos de bicicletas em todo canto.

O dia amanheceu cinza azulado (sem filtro):

Flores e até frutas pela rua; o inverno definitivamente ainda não apareceu esse ano.

Uma das coisas bacanas na Holanda e na Alemanha são as janelas das casas abertas para a rua, o desapego à privacidade que nos permite admirar mil badulaques decorativos em exibição nas soleiras. Irresistível espiar para dentro das salas e se encantar com o decor minimalista e rústico de inspiração escandinava.

As janelas das lojas não ficam atrás:

Essas tricoteiras? Aww. ♥

(to be continued…)