A Few of my Favourite Shoes II

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Esse veio da Street, uma rede de sapatarias em Hannover. Eu usei TANTO esse sapato que o custo por uso está na casa dos centavos. Já está meio velhinho, o salto um pouco gasto e alargou com o uso, por isso eu comprei esse aqui para “substituir” porque a vibe é parecida. Mas não é a mesma coisa.

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Essas sapatilhas da New Look:

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Eu nunca fui fã dessa cor; evitei-a ferozmente durante a adolescência pirigótica obrigatória. Mas passaram-se os anos e eu por fim me rendi às cores. Meu guarda-roupas ainda está longe de lembrar figurino de parada LGBT, mas baby steps.

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São super confortáveis e gosto de usar com vestidinhos de verão. Sim, aquela estação que pode ou não acontecer nesse hemisfério.

Esses Doc Martens são fake, rs.

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Tenho outros originais; porém, detalhes a considerar: a) eu quis economizar porque achei que teria pouco uso para um par cor-de-rosa na vida adulta (meu primeiro par de Docs era verde limão e eu usei muito – mas eu tinha 17 anos) e b) Docs originais são lindos, mas até entrarem em acordo com seus pés são duros e desconfortáveis. Machucam mesmo. E eu quis me poupar, porque com 17 anos você aceita sofrer por estilo mas depois da velhice a balança pesa pro lado do conforto.

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Esse sapatinho “T-Bar” como se chama aqui (por conta da fivela em forma de T) é da ASOS; o preço estava ridículo e por isso eu comprei também um par preto. O salto é meio anabela/plataforma, mas sem atingir níveis muito altos na escala Richter da cafonice:

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Foram queridíssimos por um bom tempo, mas meu pé sempre acusava um certo perrengue. No momento estão semi-aposentados e só saem da gaveta quando um sapato BORDÔ se faz necessário.

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Outro par de T-Bars; parece quase branco, mas na verdade é um rosa bem claro (e também da New Look):

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Comprei porque gostei do modelo e desse detalhe de tachinhas douradas – uma pequena concessão ao espírito da minha perua interior, afogada sem muita piedade em oceanos de cerveja Malzbier e Cuba Libre ao som de Bauhaus em festas góticas nos anos 90.

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Como tem esse leve saltinho eu uso apenas em ocasiões especiais, onde tenho que estar fofa e sei que não vou andar muito.

Ou seja: quase nunca. :)

Petersham Nurseries

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Desculpem o spam de fotos de celular, mas é que eu não resisto.

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Petersham Nurseries fica numa área agradabilíssima de Richmond, e mesmo que você não queira comprar plantas eu recomendo a visita porque é tudo lindo. Parece que você entrou num conto de fadas. Infelizmente quase tudo o que você viu aí são “antiguidades” (aham, velharias trazidas dos brocantes da França, mais provável) ou peças feitas por “artesãos” e custando Os. Olhos. Da. Cara. E provavelmente de outras partes do corpo também, caso você tivesse olhos lá.

Pode ser complicado achar espaço pra estacionar, os frequentadores te olham com cara de bunda, mas PLANTINHASSS. E vaquinhasss também, mas essas ficam para a próxima. Vale a pena a visita para encher os olhos, encher a barriga (no café e no restaurante, que inclusive tem duas estrelas Michelin – very chic) e talvez comprar algumas plantas.

[6 on 6] Anniversary

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Um ano do nosso projeto de “fotógrafas expatriadas” do 6×6, e é exatamente essa edição que eu consigo atrasar. Mês passado foi punk e no último sábado antes do projeto eu esqueci completamente de organizar alguma coisa. A idéia era fazer um piquenique com comidas típicas do lado de cá, mas o clima não colaborou no domingo. Sobrou arrumar alguma coisa às pressas com o que eu já tinha em casa (mais alguns extras) quando o sol enfim apareceu no fim de semana passado. ♥ Colocamos a nossa picnic basket no carro e fomos para Wimpole, uma manor home em Cambridgeshire.

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Party time! Ok, o espumante é italiano, mas eu juro que depois teve chá. :)

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Não existe picnic sem sanduíche – que é invenção inglesa (agradeçam a John Montagu, Conde de Sandwich) e considerada “a maior contribuição da Inglaterra para a culinária”. Hm, meio maldoso isso aí, mas ainda que seja verdade é uma contribuição e tanto; ninguém mais considera a hipótese de viver sem.  Os nossos eram de bacon com frango e o tradicionalíssimo “ovo + maionese”. Mais tradicional ainda seria o de pepino, mas né, ninguém merece.

A coisa redonda ali ao lado do sanduíche e que parece uma empadinha é uma pork pie (yup, mais ou menos uma empada).

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O recheio é de carne de porco curada, moída ou picadinha, com temperos. Não está entre os meus lanchinhos preferidos por conta da “geléia” de tecido conjuntivo que costuma acompanhar o recheio (quem já comeu mocotó aí no Brasil sabe o que é) , mas essa aí não tinha – não que seja ruim, o problema pra mim é a textura. As tortas de porco mais tradicionais aqui vêm de Melton Mowbray, uma cidadezinha no condado de Leicestershire.

Outra coisa que vem de Melton Mowbray é o queijo Stilton:

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Eu não tenho palavras pra descrever o quanto essa coisinha fedida é DELICIOSA. ♥

Aqui o Stilton servido com cream crackers Jacob’s em homenagem a William Jacob, o irlandês que produziu o biscoito depois de ele ter sido inventado por Joseph Haughton em sua casa em Dublin – mas aí já é assunto para a nossa irlandesa de plantão. :)

Finalizamos com Eccles Cakes, esses bolinhos de massa folhada com recheio de groselhas – especialidade da cidade de Eccles, em Manchester.

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Mas não existe piquenique sem chá e bolo; nos dirigimos para o café, onde a infusão da tarde veio acompanhada desse bolo de café e nozes.

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Ok, eu sei que tem mais de seis fotos aí, mas que puedo hacer? Eu tinha que mostrar as gororobas. ¯\_(ツ)_/¯

As meninas listaram algumas curiosidades sobre festas de aniversário em seus respectivos países adotivos, mas eu não consegui pensar em nada muito diferente que exista aqui na Inglaterra (bolo, bebida, happy birthday e presentes: check!) exceto, talvez, a cara de espanto que os ingleses de classe média costumam fazer quando explicamos para eles como são as festas de criança no Brasil.

Uma vez eu estava lendo a LEROS (revista de notícias culturais e classificados para expatriados brasileiros em Londres) e uma moça inglesa ficou fascinada com os anúncios de animação, salgadinhos vendidos por cento, bolo iluminado/musical, festas temáticas, etc. Não que essas coisas inexistam aqui, mas são bem raras e, dependendo das proporções, consideradas de mau gosto. Aniversário infantil costuma ser mais sossegado; a festinha de um ano, se existir, é só um bolinho para a família imediata, já que nessa idade o bebê ainda não tem amiguinhos e nem vai lembrar de nada. Mais tarde colegas da escola e filhos de amigos dos pais passam a ser convidados, mas os festejos são bem mais simples e 100% voltados para os pequenos – ou seja, nada de cerveja. :(

E uma retrospectiva dos temas que rolaram nesse ano: Welcome, Summer, Parks, Architecture, Autumn, Neighbourhood, Christmas, Winter, Home, Cemeteries, Street Art e Spring.

Um abraço em todas as meninas que participam desse projeto; as que estão desde o começo, as que chegaram há pouco, as que já seguiram adiante e as que ainda vão chegar. Here’s to another year of sharing the world we see through our lenses. HIP HIP HOORAY! \o/

Outras celebrações: Taís (Irlanda) – Sarah (Noruega) – Alê (Ucrânia) – Paula (Holanda)

Be kind, rewind.



Meu primeiro emprego propriamente dito (se você descontar a falta da carteira assinada) foi numa locadora de vídeo situada bem no meio do mapa da cidade do Grande Rio onde eu nasci. Na começo da adolescência eu ouvi falar da inauguração de uma locadora nova e chique no bairro; grande, com direito a fila fazendo voltinhas no quarteirão porque tinha ar condicionado, um bom acervo, cartãozinho de plástico com letras metalizadas e em relevo para os clientes, bebedouro com água gelada, cafezinho e aparentemente as atendentes eram gatas.

De onde concluímos que não foi nessa aí que eu fui trabalhar. Risos.

A que me empregou também ficava no centro, porém era mais modesta em termos de metragem e gêneros cinematográficos (“Cinema alternativo? A alternativa é procurar outra locadora, rárá”). Se um cliente reclamasse de sede receberia primeiro um olhar desconfiado e, caso insistisse, receberia água morna da torneira da “cozinha” – 01 pia, 03 copos, 01 microondas e 01 frigobar que não gelava nada. O cartão era de papel plastificado (o plástico era fino e descascava logo) e quase toda semana alguém aparecia tentando alugar uma fita VHS com algo que lembrava uma escultura abstrata de papel machê – mas que na verdade era só o nosso cartão, depois de um ciclo na máquina de lavar roupas tendo sido esquecido no bolso traseiro do jeans.






Quando comecei a trabalhar ali ninguém falava em internet. Sabíamos que existia, mas não fazia parte da nossa realidade – assim como férias na Disney e auto-estima. Conceitos como torrents e Netflix estariam em casa num episódio dos Jetsons, ou seja, futuro inimaginável. Já rolavam uns papos sobre “laser discs” que soavam como ficção científica; gênero que inclusive estava muito bem representado nas nossas prateleiras por Jurassic Park, Predador, Robocop, Alien, o Exterminador do Futuro e o genial 69: Uma Odisséia do Orgasmo.

Hein? Filmes independentes? Bom, esse aqui saiu de casa, mora sozinho e paga as próprias contas…

Quando comecei no expediente da tarde (três dias por semana) o movimento já estava diminuindo por conta da abertura da locadora chique. A esposa do patrão, em exercício de masoquismo nostálgico, gostava de apontar o fundo da loja e dizer que no passado as filas de clientes com as mãos carregadas de caixinhas de VHS chegavam até lá nas tardes de sexta e sábado. Eu nunca vi uma fila com mais de três pessoas ali, e quando fui dispensada menos de um ano depois (por não haver mais nece$$idade de manter todo aquele staff) não havia mais filas. A cada hora um cliente (ou menos) aparecia para devolver uma fita, às vezes buscar outra, às vezes apenas reclamar de que ela não havia funcionado direito ou para devolver o cartãozinho da loja – o que era desnecessário e me deixava irritada e meio triste porque eu nunca curti despedidas. “Não precisa devolver” eu respondia, metade mal humorada, metade sarcástica; “pode jogar fora ou guardar de recordação.”

Na maioria das tardes, enquanto o barulho da clientela fazendo perguntas e trocando idéias sobre os filmes ia aos poucos se transformando em ecos fantasmagóricos de um passado cada vez mais distante, a gente fazia pipoca no microondas, mandava um dos meninos comprar coca cola gelada na lojinha de conveniência do posto de gasolina (porque o maldito freezer não ia gelar mesmo) e ficava assistindo fitas na TV (ok, às vezes a novela repetida no Vale a Pena Ver de Novo era melhor do que qualquer coisa do acervo que a gente ainda não tivesse visto), fazendo fofoca de celebridade antes de o Just Jared sonhar em existir e rindo dos senhores meio encolhidos na seção de pornô – separada do resto da loja por uma espécie de biombo, que a gente apelidou de “paredão da vergonha”.

Não era pré-requisito para ser contratado, mas coincidentemente quase todo mundo ali gostava um bocado de cinema e tinha algum conhecimento útil na hora de recomendar filmes aos clientes. Não adiantava muito quando a pergunta era “qual desses filmes do Van Damme você acha o melhor?” e virou piada recomendar O Encouraçado Potemkin para a galera com cara de ter dificuldade pra entender o roteiro de Duro de Matar. O único problema era que a gente não tinha o Encouraçado Potemkin no acervo, por isso ficou apenas na piada.

A gente assistia Ruas de Fogo cantando “tonight is what it means to be young”, chorava em A Cor Púrpura, anotava citações de A Sociedade dos Poetas Mortos na agenda, tentava harmonizar O Mágico de Oz com o CD do Pink Floyd e torcia pra Andie terminar com o Steff em A Garota Rosa Shocking. Lá eu assisti pela primeira vez Asas do Desejo numa tarde chuvosa em que fiquei sozinha, sem ser interrompida pelo telefone que não tocava mais, alguns dias antes de ser dispensada. Associei a melancolia do filme à tristeza de ver um ritual morrendo aos poucos, o fascínio pelas TVs a cabo roubando a clientela que sempre esquecia de rebobinar as fitas antes de devolver – as mesmas que agora acumulavam pó nas prateleiras e não eram mais devolvidas com atraso e multa. As noites de sexta com cheiro de pipoca e crianças chorando porque o filme da Disney que elas queriam assistir já havia sido alugado não iam mais voltar.

A locadora fechou as portas poucos meses depois.
A locadora chique durou mais um ano ou dois, por ter apostado também em videogames. A era dos joguinhos online acabou com ela também.

“Ainda existe locadora de vídeo? Hahaha, que lixo” um conhecido riu quando eu disse.
Eu tenho a impressão de que nunca o perdoei.

(Fotos: Borough Market, London Bridge, Green Park)