(vista interior do mercado em Covent Garden, Londres)
Enfim, novamente é quase natal. Ano passado foi o meu primeiro na casa nova. Foi lindo, teve luzinhas, teve comida e teve trilha sonora natalina. Só faltou a lareira, que infelizmente vai faltar esse ano também. Se eu puder fazer um desejo antecipado para o natal 2015 será ter dinheiro pra instalar uma lareira. Mas o natal de 2014 já conta com uma secadora de roupas (OBRIGADA, BLACK FRIDAY!!), então estou no lucro, haha.
Anyway. Natal na Inglaterra. Tudo muito próprio, onde renas e trenós e guirlandas cobertas de ivy e neve fake fazem *todo* o sentido. Risos. Quer dizer, só um pouco, se você considerar que aqui não tem rena e não é sempre que neva forte no Reino. Tivemos “snow luck” por alguns anos, mas ano passado = praticamente zero. Confesso ter ficado desapontada. Não há nada mais legal que acordar, abrir as cortinas e ver uma paisagem de snow globe do lado de fora. NUNCA perde a graça. :)
(enfeites à venda em Waddesdon Manor, Hertfordshire)
DECORAÇÃO
O kit completo: árvore decorada, guirlanda na porta, muuuuitas luzinhas. Algumas pessoas perdem a mão (e obom senso) e cobrem a casa com pisca-piscas e bonecos de neve infláveis com cinco metros de altura e renas coloridas que acendem e piscam e causam ataques epilépticos nas pessoas e mexem a cabeça e reluzem em todas as cores do arco íris – aposto que o resultado pode ser visto de Marte, e se esticar o tamanho da conta de luz de Dezembro é bem capaz de chegar lá. Mas é inegável que andar de carro pelas ruas à noite se torna muito divertido. Eu sou adepta e batizei a atividade de “christmas bomb hunting”.
As pessoas levam suas árvores de natal a sério e compram toneladas de enfeites; há muita variedade nas lojas, mas é preciso correr porque no começo de dezembro os melhores já terão esgotado. Lojas de departamento famosas, como a Harrods, têm suas próprias linhas de enfeites (logotipo da loja incluso, claro). O famoso triângulo de velinhas estará em muitas janelas, e esse é o meu. :)
OUTDOORS/CULTURA
As ruas e shoppings também são decorados para a ocasião; as avenidas de compras mais famosas do centro (Oxford Street, Bond Street, Regent Street, etc) ganham decoração especial e há cerimônias com celebridades para marcar o momento em que as luzes são acesas pela primeira vez. Mercados e festas de Natal proliferam pela cidade, a mais famosa sendo a Winter Wonderland no Hyde Park. É muito animada e colorida, com uma forte vibe “mercado de natal alemão”, inclusive nas comidas, bebidas e barraquinhas com layout germânico. Mas tenha paciência porque as multidões costumam ser brutais – especialmente nessa época, em que a cidade está cheia de turistas. Outras opções são os rinks de patinação no gelo – o mais tradicional sendo o do Museu de História Natural (com barraquinhas de comida e presentes, bebida, corais, apresentações musicais, etc). Por toda a parte os teatros também apresentam pantomimes – fábulas de natal encenadas em estilo pastelão – que fazem sucesso com as crianças.
As manor homes (mansões campestres, muitas vezes habitadas por uma mesma família aristocrática por gerações – pense Downton Abbey) também se iluminam e promovem christmas markets vendendo comida, presentes e enfeites de Natal. Acho que nesse sentido Chatsworth foi a melhor a que fui até hoje.
(enfeites à venda em Waddesdon Manor, Hertfordshire)
COMIDAS
A ceia aqui é à moda americana: servida no almoço do dia 25 e não na noite do dia 24 (eu celebro como nas duas datas, porque sim). Na véspera não há ceia, mas algumas pessoas vão à igreja ouvir os christmas carols – corais de crianças ou adultos cantando clássicos e hinos anglicanos tradicionais (lembra de Esqueceram de Mim quando o Kevin entra na igreja e eles estão cantando Carol of the Bells?). É realmente muito bonito.
No almoço de Natal temos o indefectível peru (alternativas aviárias: pato ou ganso), que aqui é servido “recheado” por uma farofinha úmida chamada “stuffing” e eu adoro. Também tem legumes assados no forno, os mais comuns sendo batata, cenouras carameladas e couve de bruxelas (com pedacinhos de bacon e queijo parmesão, hmmm), e as famosas “pigs in blankets” (mini linguiças enroladas em bacon). Também é relativamente comum servir salgadinhos antes da refeição principal (especialmente em festas), a versão natalina do delivery de fim de semana… Se não houver salgados pode ter algum prato quente como entrada. Existem diversos molhos que podem ser usados sobre o peru, feito com líquidos do próprio cozimento, bem como cranbery sauce (um molho de frutas vermelhas) ou bread sauce (feito com creme de leite e pão) para acompanhar.(
rena gigante na praça central de Covent Garden)
Não tem rabanada (que aqui se chama “french toast”), mas tem mince pies: pequenas “empadinhas” doces de massa folheada, recheadas com uma mistura de frutas secas e licor. Outras sobremesas tradicionais são o christmas pudding (que vêm à mesa flambado, em chamas – how festive) e o christmas cake. Não gosto muito de nenhum dos dois; acho a massa meio pesada e enjoativa. Os ingleses também importaram o stollen, que é um pão doce de origem alemã recheado de marzipan. O panetone/chocotone também é popular.
A galera capricha no booze – ingleses, como se sabe, adoram beber – e vinhos tintos, brancos, espumantes, champanhe e licores entram pesado na listinha do supermercado. Cerveja não é tão comum nessa época. O mulled wine (vinho temperado com especiarias e servido quente) é bastante popular, assim como o Bellini, um coquetel feito com Prosecco + suco de pêssego, tradicional no café da manhã. Para acompanhar todo esse vinhos temos queijos variados (stilton, cheddar, brie, camembert…).
(Candy canes gigantes decorando o hall em Covent Garden, Londres)
No dia seguinte ao Natal (dia 26/12) ainda é feriado, conhecido como Boxing Day; existem várias teorias que tentam explicar o porquê do nome, que você pode encontar no link. O Boxing Day é mais uma desculpa para passar o dia comendo e coçando, mas especialmente é a versão britânica da BLACK FRIDAY! \o/ Sim, no meio do feriado, em plena ressaca de Natal, as lojas abrem fazendo liquidações. Todos os anos eu aguardo ansiosa pela reportagem na TV mostrando a multidão de chinesas na porta da Selfridges, aguardando a abertura da loja pra invadir e sair no tapa por uma Louis Vuitton ou Gucci com desconto.
(papai noel de LEGO em Covent Garden, Londres)
A única parte que me irrita um pouco com relação ao natal aqui é o foco excessivo no consumismo. Se até eu, que não sou exatamente uma freira carmelita descalça, fico chocada com a euforia das compras e a obsessão por presentes, presentes e presentes, você pode imaginar o tamanho da loucura. Parece que sem isso nada mais importa – o clima, a família, a comida, as luzinhas, a neve, as músicas, O TAL DO JESUS pra quem acredita, etc. As revistas femininas tocam o terror psicológico, ensinando “como criar o natal perfeito” – mil receitas complicadas e potencialmente catastróficas, decorações elaboradíssimas, presentes caros exaustivamente escolhidos de acordo com a personalidade do presenteado, inclusive o cachorro (e até mesmo presentes extras para quem aparecer de última hora), cartões de natal postados na data certa, as melhores receitas do fatídico livro de Natal da Nigella ou Jamie… ou seja, uma pressão enorme e injusta, receita certa para um dia 25 de exaustão física e mental, muita culpa caso algo dê errado e estrague o cenário idílico de comercial de margarina e rombos lendários no cartão de crédito em janeiro. QUAL A NECESSIDADE DISSO?
Oxford Street e os shoppings ficam intransitáveis durante todo o mês de dezembro e eu juro que cada criança desse país, independente da renda, deve ganhar uns cinco presentes de cada familiar. Realmente não entendo isso. No fim você tem uma criança com ressaca consumista, olhando entediada para um monte de caixas, a expectativa atropelada pelo excesso.
Acho que o pessoal podia relaxar. Fazer ceias comunitárias onde cada um traz um prato, ou planejar algo simples e encomendar tudo. Convidar menos gente, acostumar cada criança a esperar menos e e simplesmente curtir a data. Reservar uma tarde fria no começo de dezembro para tirar as caixas de enfeites do sótão, botar Mariah Carey na vitrola e decorar a árvore com a criançada, comendo mince pies e bebendo chocolate quente.
Quanto a mim… All I want for christmas.. is food. :D
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