For the price of a cup of tea you’d get a line of coke.

peguei o metrô em stratford e desci em st. john’s wood para admirar o real state (ou seja, as casas). uma moça com cara de rica, rabo de cavalo castanho e legging preta passeava um french bulldogue e me olhou ressabiada. subi até primrose hill, hipsters falando idiomas eslavos e monopolizando o alto (de onde se tem a melhor vista) enquanto tamborilavam as telas gigantescas dos seus samsungs. meu iphone 4s parecia antiquado em comparação. a ponta do the shard cintilava no horizonte.

desci, andei até chalk farm, considerei camden mas peguei o 27 para chiswick. passei por um cinema que exibia todos os filmes do oscar + the book thief (que eu ainda não assisti, mas preciso, nem que seja para falar mal – se bem que a crítica já está descascando por mim). comprei livros, inclusive dois pequeninos num antiquário LINDO na high street que me fez ter old books orgasms. 175 libras por uma edição de a cabana do pai tomás, que de tão bonita dava vontade de comer. deixei na prateleira. trouxe um livro babaca de ilustrações + christopher robin storybook (essa uma edição de 1963, cheia de rabiscos infantis e que foi obviamente muito amada) por duas libras cada + outros livros novos. peguei o 27 de novo para notting hill gate, mas desci antes porque queria comprar falafels.

ônibus são legais porque permitem que você veja por onde está indo, descubra lugares que não conhece, desça neles ou faça planos de voltar. uma pena, porque são muito, MUITO lentos. metrô é rápido e eficiente, uma necessidade em muitos casos; mas jamais me proporcionariam admirar o pequeno cemitério da igreja de st. mary abbots em kensington, coberto de crocus desabrochando sob o sol de inverno.

a viagem de volta dentro do latão subterrâneo é tediosa e levemente embaraçosa, e por algum motivo eu sempre acabo sentada na frente da única outra pessoa do vagão que não está lendo jornal ou olhando para o celular. é desconfortável ficar evitando cruzar olhares ao mesmo tempo sabendo que a pessoa *vai* estar olhando para você quando você estiver olhando para o chão (analisando os sapatos dos outros passageiros), da mesma maneira que você fará com ela.

Mirror on the wall.

selfies taking over the internet. nunca foi tão fácil (e tão bem visto, incentivado até) colocar a sua cara na rede. não que o coro de “nossa, mas que futilidade!” tenha se extinguido – mas acredite, ele já foi muito maior. um celular, um aplicativo com filtros de superexposição que fazem a sua acne (e por consequência, a sua timidez) desaparecer e de repente os seus amigos e inimigos sabem da localização de cada mancha no seu rosto, da profundidade de cada ruga; o que apenas os seus amigos íntimos conheciam virou domínio público. será que um dia vamos todos nos arrepender coletivamente dessa super exposição? será que eles (seja lá quem “eles” forem) vão usá-la contra nós?

minha casa tem muitos espelhos. as janelas são pequenas e eles ajudam a refletir a luz pelos cômodos. com uma ajudinha da tecnologia eles refletem também a minha imagem para além dessas paredes e para outros lugares e olhares sobre os quais eu não tenho o menor controle. not gonna lie, this shit scares me sometimes

can you hear me calling you?

fui para hampstead heath e resolvi entrar naquela manor house no meio do parque, kenwood. o lugar estava cheio; dentro da casa velhas e velhos com cara de upper middle class, twin sets, pulôvers de cashmere, jaquetas de couro, sapatos de verniz, cachecóis de lã merino, observavam com atenção os quadros na parede – e a mim, de rabo de olho ou abertamente, desrespeitando a regra número um de ser inglês que é não encarar ninguém abertamente. judeus circulavam em pleno sabbath e um grupo de meninas adolescentes tagarelava em volta de um filhote de springer spaniel, o sotaque cortante compondo a trilha sonora da tarde. o restaurante estava lotado, mas conseguimos tomar um latte no jardim e depois descer a bishops avenue (vulgarmente conhecida como “avenida dos bilionários”, posto que perdeu há tempos para outros endereços) rindo daquelas casas caríssimas, porém horríveis.

terminei cedo a noite anterior, cantando mr. brightside meio bêbada num karaokê em camden. a idéia era não passar da minha habitual taça de prosecco vagabundo, mas alguém abriu um sauvignon blanc na mesa e nada mais me lembro, berenice. antes disso fomos buscar pessoas que não tinham carro mas também não estavam, digamos, “em condições” de utilizar transporte público. a casa ficava em east finchley, era uma terraced vitoriana caindo aos pedaços, com sacos de lixo jogados ao lado da porta que pareciam estar ali há séculos e ervas daninhas brotando de cada uma das rachaduras no cimento. um rapaz magrinho com cabelo black power e camiseta superdry abriu a porta justo quando eu estava me preparando pra fazer uma foto das molduras de madeira apodrecida na marquise. a idéia era não entrar, mas dez minutos depois eu estava sentada com uma lata de cerveja na mão numa pilha de lencóis amarrotados em cima de um colchão de casal no chão de um quarto imenso, mas praticamente desprovido de qualquer outra mobília além de um frigobar vermelho, um macbook e malas de viagem tamanho jumbo.

na sala umas cinco pessoas falando no celular ao mesmo tempo e eu fui ficando ansiosa e aquela sensação de algo sufocando dentro de mim e cravando as unhas por dentro da minha pele tentando rasgar e sair e respirar, e eu comuniquei o fato da maneira mais blasé possível e me deram uma cartela de calmante e se passaram uns bons anos desde a última vez em que vi uma dessas – mas a prudência não me permitiu experimentar. peguei outra latinha de fosters pra tentar relaxar e eu odeio fosters. já que estava bebendo mesmo aceitei também um punhado de pringles. fui pra janela tentar respirar um pouco de ar puro, não adiantou, fui ao banheiro e havia uma quantidade assustadora de sacolas de supermercado (cheias de sabe-se lá o quê; me pareceu tecido/roupa) com as alças amarradas dentro da banheira. o banheiro não tinha tranca. alguém sintonizou o rádio na Radio 1. pedi em privado por favor pra ir embora, e aí três pessoas entraram no banco de trás do carro com a gente e eu só pensava em ir pra casa.

porém uma hora depois eu estava comendo lulas recheadas de chorizo + risoto (o arroz, com forte sabor de manteiga, preto por causa da tinta da lula) e depois um peixe cujo nome esqueci envolto em bacon com cuscuz e abóbora e berinjela ao forno. eu não gosto de peixe. não tive coragem de dizer. nem de pedir sobremesa e o café não me ajudou a ficar sóbria ou calma. o serum da boots + exfoliação diária realmente está deixando a minha pele melhor mas eu vou ter que passar fome por duas semanas porque minha retenção de líquido está gritando. contei e tenho 80 doses de rivotril, provavelmente vencido, da caixinha que a L. me deu ano passado. em condições normais eu realmente não preciso, mas pelo andar da carruagem vai ficar cada vez menos provável ficar ok sem química.

março, de fato, está sendo difícil.

Me and Charles Manson like the same ice cream

don’t you just hate when a day that had everything to be amazing ends up being a complete car crash?

pessoas vendendo flores na beira da estrada, uma maldita banquinha a cada 100 metros. um carro parado no acostamento com um pneu estourado, portas abertas e cinco caras bêbados dançando ao som de paint in black, dos stones. duas raposas atropeladas. tori amos no meu mp3 player, caught a lite sneeze. uma embalagem de praline sugarless chocolate derretendo na minha bolsa. alguém com dor de dente. um acidente de moto perto de billericay. nenhum morto, ou pelo menos não vi. céu alternando nuvens com nesgas de sol, na maior das más vontades. english breakfast num café que tentou sem sucesso uma decoração criativa – as mesas forradas com union flags e os olhos azuis muito claros do menino bonito que veio anotar meu pedido tinham cara de partido nacionalista. acabei confusa: “você poderia me trazer café ao invés de café?” e o menino bonito sorriu e respondeu “sim, eu posso trazer café ao invés de chá“ e eu afundei na cadeira. o café era ok, embora tenha vindo com leite sendo que eu não pedi leite. os tomates eram em lata – gostosos, mas cheios de açúcar. bacon e os ovos ok, mas as salsichas eram desprezíveis; por 6,95 eu esperava salsichas de verdade, não rolinhos de farinha.

fomos multados porque o bilhete de estacionamento virou de cabeça pra baixo com o vento quando fechamos a porta do carro e não dava para ver a data. na b&q enquanto eu procurava tintas uma onda de frustração com a falta de cooperação, energia, entusiasmo, vontade de viver das pessoas me bateu e quase me afoga. uma sensação de impotência, de desistência, de desesperança, de who gives any fuck to any of this and why am i pretending to. escapei e fui andar na cidade, sem bolsa e só pus no bolso do casaco celular, chave, cartão de crédito e o mp3 player, que ainda tocava tori amos. tear in your hand. maybe she’s just pieces of me you’ve never seen. sendo domingo as lojas já fechando, bairro estúpido. as ruas cheias de gente horrível, ainda mais horríveis que durante a semana – devem sair do esconderijo aos sábados e domingos. agradeci pelo mp3 player; eu podia ter que olhar para elas mas pelo menos não tinha que ouvi-las. comprei coisas desnecessárias (revistas, livro) e necessárias (macarrão low carb, um gaveteiro de acrílico). não achei um único café aberto onde eu pudesse me sentar e passar o tempo ouvindo música e lendo o livro. bairro estúpido. vi um rato morto gigantesco na calçada. carreguei tudo para casa, repassando o dia na cabeça. olhar o mar, ouvir o mar, as gaivotas, me fez ter saudades de jersey. what the fuck am i doing here. what the fuck am i doing.

está difícil, eu sabia que março ia ser difícil mas há dias em que está sendo pior do que o esperado. inferno astral é uma piada, a menos que tenham registrado meu nascimento em janeiro por engano. março sempre é terrível. as cerejeiras e magnólias em flor são lindas, a primavera tem sido gentil com meus olhos, mas é só.

For the times we’ve had I don’t want to be a page in your diary

De vez em quando me encontro perambulando por lugares tão ricos que tenho certeza de que se fuçar as lixeiras vou achar uma Birkin. Ok, não tenho coragem de me enfiar dentro, mas sempre dou uma passada de olhos superficial – e em cima de uma delas encontrei esse livro (limpíssimo, aliás… lixo de gente rica é outra coisa):

Não sabia do que se tratava, mas passei a mão e enfiei na bolsa assim mesmo. Parei num café e depois de lavar as mãos com álcool gel fui examinar. A capa, de um azul intenso, é de couro fake com tipografia prateada – mesma cor da lateral das páginas. A introdução dá uma idéia do espírito da coisa:

Querido leitor,

Existem três motivos pelos quais a maioria das pessoas, embora tenha tentado, não consegue manter um diário:

1. Nem todo dia é muito agitado.
2. É preciso bastante disciplina (principalmente em relação ao item 1)
3. Em retrospecto, muitas pessoas consideram o que escreveram embaraçoso.

Você pode usar o Simple Diary:

a) como quiser.
b) quando quiser.
c) onde estiver.
d) de forma aleatória ou em sequência.
e) escrevendo seus pensamentos ou deixando em branco.
f) lendo uma página ou quantas quiser.
g) e deixando de lado por algum tempo.
h) como um assistente para qualquer ocasião na vida.

Espero que você encontre um amigo de verdade, um bom lugar ou alguma sabedoria através desse livro. Isso me faria feliz.

Boa sorte, e obrigado pelo seu tempo. Ele é todo seu.

É uma espécie de diário, só que com prompts criativos para responder e onde você não precisa escrever muito. Cada dia começa com uma questão de múltipla escolha (“como foi o seu dia?” seguida de três alternativas variadas + um breve espaço para explicar o motivo da escolha), perguntas reflexivas, pequenas listas, etc. Uma espécie de “diário para preguiçosos que não têm saco/tempo/talento para manter um”.

A primeira página já havia sido preenchida há quase cinco anos, em caligrafia quase ininteligível, pelo dono original:

Me pergunto o que terá acontecido a essa pessoa. Por que não escreveu mais no diário, por que jogou fora… Se por acaso se arrependeu de ter jogado fora ou se alguém jogou fora por ela. Se ainda está viva, ou se alguém se livrou desse diário por ser uma lembrança dolorosa de alguém que não está mais aqui.

Vou deixá-la como está, como um souvenir do acaso.

Acredito que a idéia não seja usar todos os dias, do contrário o diário acabaria rapidinho; não sei quantas páginas são, mas não são muitas porque são grossas. Depois das duas páginas de experimentação que fiz, vou guardá-lo para dias “especiais” – ou não tão especiais, mas onde eu queira expressar algum sentimento – de forma críptica e para mim mesma. E talvez compartilhe algumas por aqui. :)

O autor, Philipp Keel.

Descobri que existem outras edições do diário, em cores de bala. Como eu sou uma ratazana de papelaria e curti a idéia, já coloquei na minha wishlist. Se alguém quiser me dar um presente barato e muito bem recebido, taí a idéia. ;)

It’s too fleeting. We can only hold on to the memories.

Sou hipocondríaca porque sou ansiosa ou sou ansiosa porque sou hipocondríaca? Aperto as axilas, sinto os braços, observo xixi, cocô, procuro sinais de icterícia no branco dos olhos, faço notas mentais das dores, presto atenção no meu caminhar, checo as unhas, apalpo os seios, busco por gânglios. É estranho, estou sempre avidamente procurando por coisas que eu não quero encontrar.

Semana passada na nossa “dvd night” apresentei Howl’s moving castle e Grave of the fireflies no dvd player improvisado: laptop + monitor. O dvd player da casa por algum motivo não roda a versão em japonês com legendas em inglês e assistir anime dublado is rather pointless.

image

Liz Jones, jornalista inglesa, foi cobrir uma festa do oscar e o taxista disse que percebeu alguns paparazzi fotografando-a. “Eu não sou uma estrela de cinema!” respondeu ela, e o taxista disse que de fato ela não se parecia com uma. A jornalista, vagamente indignada, pergunta qual a diferença. “20 anos e 20 quilos”, respondeu ele.

image

Uma coisa que me irrita em cafés: você se aproxima e começa a ler a lista de bebidas quentes. O lugar está tranquilo, não há fila. O atendente se aproxima, diz olá, você responde e ele fica ali, na sua frente, encarando, como se estivesse te forçando a decidir. Posso até ouvir os pensamentos: “por que ela não escolhe logo? não é como se houvesse centenas de opções!”. Amigo/a, eu nem mesmo estou perto do balcão, estou lendo a uma distância que deveria informar que eu não estou esperando atendimento, apenas tentando ler/escolher em paz. Posso? Acho que alguns baristas estão acostumados a pessoas que fazem o mesmo pedido todos os dias, já sabem de cor o que vão querer e chegam despejando “olá – bom – dia – um – chai- soya – latte – médio – e – um – panini – de – queijo – e – cebola – por – favor”. Bem, não é assim comigo, e a pressão daquela pessoa me encarando sem piscar sempre me faz pedir qualquer coisa para me livrar dela e sempre acabo me arrependendo. Hoje, por exemplo, concluí que era pra ser latte mas pedi cappuccino. Estava horrível.

Sorry, Costa. Mas estava. Café ruim sempre será ruim e não pode ser consertado com nenhum outro ingrediente. Ingleses parecem achar que café forte é sinônimo de café amargo. Não, não é. Café amargo é sinônimo de café queimado. Cafezinho tradicional brasileiro, italiano, francês é forte sem ser intragável.

Essa semana durante as minhas andanças esbarrei em DOIS lugares na cidade servindo um café decente. É uma surpresa tão grande quando isso acontece que estou quase escrevendo um guia dos melhores, a fim de que turistas não sejam obrigados a sofrer sorvendo uma bacia de água suja/sopa de jiló. Pena que esses estabelecimentos quase nunca estejam localizados em rotas turísticas. A dica é procurar pequenos cafés familiares. Eles podem até não ter wi-fi (nunca funciona direito anyway) nem poltronas chiques para se sentar em meio ao decór modernoso e os hipsters batucando ipads; mas de que adianta tudo isso se o café é uma porcaria? E depois esses “cafés de grife” precisam menos do seu dinheiro do que aquela família de imigrantes ali, que depende da pequena clientela fiel para pagar o colégio dos filhos. Pronto, cabou o discursinho politicamente correto da semana, podem vomitar agora (o que um café ruim não faz).

Café decente numa pequena deli portuguesa em Willesden. ♥

Me recomendaram alguns produtos para cuidar da pele. Marcas: RoC, Aveeno, Neutrogena. Devem ter retinol e vitamina c/e. Pela manhã, lavar e hidratar. Retinol à noite. Se tudo falhar, chemical peel. Ou simplesmente desistir e comprar um cardigan e um par daqueles sapatos de avó que eles vendem na Clarks.

image

Cora Corré (16 anos) deu uma entrevista para a Tatler dizendo que aos 10 anos vestiu jeans para ir com sua avó Vivienne Westwood ao British Museum. Vivienne disse “oh that’s so boring, it’s better to look good and be in pain than be comfy and look like shit”. Cora respondeu “I’d rather look like me than look like you and be in pain”. Touché. “Sofrer pela moda”, com 10 anos? Sério, minha senhora? And this is why everybody hates fashionistas.

Happy kitty. Ela espera o ano todo pelo sol, e quando ele chega, she can’t get enough:

they see me rollin’, they be hatin’

The grey remains of a friendship scarred.













highgate é um poucos bairros onde é possível ver montanhas ao (quase) longe, numa cidade conhecida pela falta de alto-relevo. londres é uma grande panqueca, mas nessa área pelo menos as pessoas têm ladeiras e algo que pode ser considerado uma vista e que não necessariamente se resume ao jardim do vizinho. jardim esse que vale as suas dimensões em ouro. highgate é caríssima, talvez pelo privilégio oferecido de vislumbrar alguns morros cobertos de árvores que não perderam suas folhas no inverno.

ando pelas ruas em direção ao meu destino parando em frente a cada porta colorida georgiana, observando os pórticos de madeira esculpida, os pequenos jardins contidos em potes de terracota, esperando que a mulher com o carrinho de bebê vire a esquina e me perca de vista porque quero fotografar a fachada da casa de onde ela saiu. entro num sebo de livros e me dou conta de que ali eles custam o mesmo preço que os novos na loja. saio xingando mentalmente a ganância da classe média. encontro uma igreja, depois um parque com lagos onde patos e gansos bóiam rodeados por salgueiros chorões com a folhagem verde-clara nova da primavera – e também cerejeiras, amendoeiras, forsythias, camélias e magnólias em flor. é quase beleza demais para suportar, mas eu faço um esforço. pessoas sentadas nos banquinhos espalhados pelos cantos pitorescos estragam minhas fotos, mas pelo menos estão em silêncio – exceto por raras e comedidas interações sociais via celular, as vogais cortantes do sotaque clássico dos abastados.

em hendon, ao contrário, mal se fala inglês. tropeço em mercadinhos vendendo produtos alimentícios de todo o mundo, populados por seus habitantes (poloneses, tailandeses, chineses, árabes, turcos, etc) trocando impressões na comfort zone das suas línguas maternas. pego latas e pacotes cujas embalagens me parecem interessantes sem entender muito bem o que são. não há a menor chance de decifrar a lista de ingredientes.

alguém fede a peixe no ônibus.
faz frio, o que eu não esperava. meu pulôver não basta.

no metrô de volta uma mulher bêbada quer retocar o batom. é engraçado, mas eu tento não rir. e fracasso, claro.

no shopping onde espero carona para casa um policial se desculpa ao esbarrar em mim. ele leva pelo braço um rapaz algemado. os dois são seguidos pelo segurança de uma loja. eu sinto o cheiro dos pretzels e do café da lanchonete ao lado. as pessoas em volta interrompem seus trajetos para observar a cena. a carona chega. vou atravessando a passarela em direção ao estacionamento olhando o céu nublado. essa cidade são várias.

My week in pixels

image

1. Essas prateleiras
Porque me custaram duas horas para colocar, os parafusos não ajudaram, mas tudo fica tão mais leve sem aquelas estantes pesadas.

image

2. Essa gata.
Playing up recently, vomitando em carpetes, enchendo a minha vida de pêlos, fazendo cocô em tudo o que eu amo, mas… oh, well. Love is love.

image

3. Esse espelho.
Que na verdade é uma porta de armário velha encontrada por aí. Queria ter levado a irmã gêmea dela também, mas cabô espaço no carro.

image

4. Essas flores.
Que começaram a desabrochar já no comecinho de março. A primavera não quer saber de esperar.

image

5. Essa pequena.
Porque os gashapons ingleses não chegam aos pés dos japoneses.

image

6. Esses sapatos.
Que sete anos depois de comprados finalmente vêm sendo usados porque agora combinam com tanta coisa.

image

7. Esse almoço.
Fechando a semana num dos meus restaurantes preferidos.

My Week in Pixels

1. Flores falsas
(pela companhia que me fizeram durante o inverno. thanks.)

image

2. Esse muffin de morango e chocolate branco.
(absolutamente incomível. doei os outros três.)

image

3. Esse adesivo.
(no armário onde ficam as dolls; acho que vou tirar as pétalas caindo.)

image

4. Essa pequena.
(made in japan. pelas saudades diárias de Tóquio.)

image

5. Essa rosa.
(os brotos verdes oficializando o fim do inverno – go, little one!)

image

6. Mais suculentinhas.
(porque a 99 centavos cada, nunca é demais)

image

7. Essa placa.
(era da nossa casa em Jersey e resolvi pendurar na parede. saudades, também).

image

I’ve had my fun, now it’s time to serve your conscience.

Previsão da meteorologia: tempo firme, períodos de sol, 12 graus. Peguei o guarda chuva de 3 reais de novo (apenas por precaução) e rua.

image

Fui fuçar a loja da & Other Stories (irmãzinha metida a besta da H&M) na Regent Street, que de fato é uma graça, decoração com jeitinho de “zakka escandinava” e não (muito) cara.

image
image
image
image

Alguns sapatos são bem legais; experimentei essas botas, mas preferia que fossem mais justas na perna. Pra quem curte salto gostei desse aqui – mas queria que essa moda de sapatos com recortes passasse logo, não é exatamente bonito ou prático, as cópias se multiplicam e fica tudo muito igual. Os produtos de beleza/maquiagem parecem ser bons e as embalagens minimalistas (e preços relativamente baixos) me animaram, mas não comprei nada – yay. :)

Saí de lá e fui choramingar na Anthropologie, cheia de coisas bonitinhas para a casa e umas velas aroma “pêra com creme batido“ realmente incríveis, além de outros objetos e uns vestidos na casa dos 150 paus que eu compraria se fosse menos pão-dura e se o clima desse país permitisse o uso de vestidos por mais de duas semanas por ano.

image
image
image

Esse paredão verde é natural. ♥

image
image

Não entendi muito bem a proposta ”ratos e urubus, larguem minha fantasia“ desse display aí embaixo, mas enfim.

image
image
image

Entrei na Liberty pra tomar um café (eu sabia que tinha um lá dentro, só que nunca tinha sentado nele), mas assim que me deparei com a plaquinha WAIT TO BE SEATED eu me dei conta que não era um café estilo “um expresso e um misto quente, pfvr” e sim um café as in “madame prefere suas lagostas com ou sem creme de conhaque?”. Dei meia volta, procurei em vão um banheiro, subi até o andar de móveis e me APAVOREI com os preços e saí de lá voada. A Liberty é uma gracinha com sua fachada mock tudor e seu interior que te faz sentir a Ana Bolena – mas não pense em comprar nem mesmo UM DEDAL lá dentro.

image
image

O que é uma pena, porque o departamento de papelaria e seus cadernos cobertos de papel ou tecido com as famosas estampas Liberty é uma tentação:

image

“Por favor, não sente nas cadeiras” – Sim, mas é CLARO que eu vou pagar cinco mil dinheiros numa poltrona SEM PERNAS sem nem mesmo testar se são macias antes…

image
image

Mas olha esse teto de vigas de madeira e multiplica (na minha casa), Senhor:

image

As escadarias também são uma atração à parte.

image

Fui procurar banheiro onde sabia que ia encontrar – na Selfridges. Sempre limpinhos e decentes. A pegadinha é que o banheiro fica bem ao lado da livraria. Ou seja, pode acabar não saindo de graça…

Esses letreiros luminosos com lâmpadas e/ou neon estão bombando por aqui. Mas se eu quisesse um teria que fazer eu mesma – o “Love and Kisses” aí embaixo, por exemplo, custava 1600 libras. O.o

image

Orgia de canetas. Agora você já sabe o que as suas BICs ficam fazendo quando desaparecem. “Ele vai dar uma grafitada na hidrocor dela”

image

Saí correndo e fui aproveitar a não-chuva para expôr a figura no Tâmisa. Frio do inferno, no entanto, e como era HALF TERM (micro férias escolares, que eu nunca entendi…) eu me dei mal porque o lugar estava lotado de criancinhas correndo aos gritos. Delightful.

image

Vendendo o peixe:

image
image

Mas buscando o ângulo certo dá até pra acreditar que a cidade está quase vazia e é só minha:

image
image
image
image
image
image
image

Como havia esquecido meus cartões em casa, contei as moedas e vi que dava para almoçar. Mas aí me deparo com isso aí embaixo e, well, fazer o quê? Fiquei com fome. :)

image