Finding Places

É legal essa fase onde nada tem lugar fixo e você pode ficar experimentando e mudando as coisas de lugar, tentando descobrir onde elas se encaixam melhor. Como a minha avenca estava DETESTANDO morar no study, murchando e secando apesar de toda a água e carinho, eu a coloquei na sala e liberei a cômoda para outras coisas.

A parede do escritório é um lilás bem clarinho, mas sempre parece branca nas fotos.

O closet está começando a tomar forma. Mas as paredes das fotos abaixo já não são mais assim. Desde domingo eu venho pintando uma por dia. Quem adivinhar a cor ganha um chocolate.

Yup, eu comprei uma penca de gaveteiros Malm. Eles são baratos, práticos e têm um design bem clean. Eu poderia esperar anos para conseguir gaveteiros usados legais, fuçando brechós, lojas de segunda mão ou o Ebay. Enquanto isso as minhas roupas continuariam amassadas dentro de caixas de papelão. Quer saber? Malm it is. Se um dia eu ganhar na loteria dôo todos e compro outros.

Por enquanto estou só espalhando coisas aleatoriamente, na esperança de que alguma delas encontre o seu lugar. Mas esses são apenas detalhes, partes de um processo que não termina nunca e é gostoso sempre. No fim das contas, a coisa mais importante de todas já se encontra em seu lugar definitivo: eu. O resto é diversão. ;)

Not so pretty in pink

Meio sumida, lidando com problemas da vida real (computador em processo de falecimento, meu pai com labirintite caindo pela casa, a pensão não-resolvida da minha mãe) e alegrias da vida real (pintando cômodos, montando móveis e minha viagem para o Japão finalmente marcada! Embarco em duas semanas e aceito sugestões e dicas de quem já visitou, ok?) Quando sobra tempo eu me meto a fazer DIY (destroy it yourself…), nem sempre com resultados positivo.

Outro dia estava eu na BLITZ London de Brick Lane quando dei de cara com essa peça:

Na fila do caixa pra pagar, coloquei-a em cima do balcão e a menina à minha frente acariciou o couro da maleta e exclamou “I love that!”. Foi quando abri o zíper (ui!) e revelei a belezura:

Ta-da! Uma máquina de escrever vintage. Estava querendo uma faz tempo para usar nas minhas colagens/journaling e para fins de embelezamento do meu escritório. ♥ É claro que eu queria mesmo uma Royal vintage como essa, mas são quase impossíveis de achar no Ebay. E sinceramente eu preferia não ter que comprar pela internet, por medo de chegar danificada – máquinas de escrever são coisas delicadas (e pesadíssimas; o shipping é sempre caro).

Trouxe pra casa no metrô, carregando com todo o cuidado. Felizmente não era hora do rush e eu pude vir sentada com ela no colo. Testei logo ao chegar, ainda meio confusa com os “controles”; desde o fim da infância eu não brincava com uma dessas, mas todo o modus operandi me voltou de imediato assim que comecei a ajustar o espaçamento e de repente era como se eu tivesse 12 anos de novo.

TAC! TAC! Meldels, a FORÇA necessária pra disparar as letras! Anos de moleza com o teclado macio dos computadores me deixaram fora de forma… Ginástica para os dedinhos! Me perguntei COMO eu conseguia encher folhas e mais folhas de papel ofício A4 em algumas poucas horas de “inspiração” (eu escrevia livrinhos de histórias, copiava letras de música, tentava poemas, fazia meu diário…), mas aí lembrei que o preço pago pelo meu vício de datilografar eram dedos absolutamente moídos no dia seguinte. Lembro da noite que passei acordada (da novela das oito às cinco da manhã) terminando um trabalho de escola que havia deixado para o último segundo. Dia seguinte eu mal conseguia segurar o lápis (e as pálpebras caindo de sono) na aula.

Quanto à cor meio sem graça da dita cuja, well, eu tinha planos… e também metade de uma lata de Japlac rosa sobrando do espelho e gaveteiro que pintei meses atrás. :)

Não tinha como dar erro, pensei. Japlac gruda até em bosta, verifiquei. A metade da lata seria mais do que suficiente, calculei. Ok, a tinta parecia ter engrossado um pouquinho desde o último uso, mas só dar uma mexidinha e problema resolvido, right?

Right??

Wrong. Ficou uma merda. A tinta estava de fato grossa demais e deixou a pobre máquina com cara de bolo mal confeitado de padaria. O acabamento devia estar liso feito bunda de bebê, e no entanto ficou cheio de ondas feito o mar de Copacabana em dia de ressaca.

É claro que depois peguei um pincel fino e contornei esse logotipo. Mas o que afundou o barco foi a tinta, mesmo. Solução: lixar com lixa beeeem fininha para remover essas marcas, essa tinta empelotada e pintar novamente, dessa vez com tinta nova (e diluída).

More work ahead. Mas vai ficar bonita, ah se vai. Não gastei 45 pilas e carreguei você no colo pra casa com o cuidado de quem carrega o primeiro filho pra ISSO, baby.

*chora na cama que é lugar quente*
*volta pro Ebay e procura uma Royal vintage* :(

And it’s autumn again.

E pensar que há cinco minutos atrás era verão…

O último pôr do sol do Verão 2013. :)

As folhas amarelas avisam que esse ano, que começou ontem, já entrou na reta final. A macieira do vizinho está carregada de frutos vermelhos e sinto saudades dos meus pés de maçã, pêra e figo lá de Jersey. Que eu ignorei por anos e a primeira fruta que comi deles foi colhida pela minha sogra, o que me fez arrepender de ter deixado tantas maçãs apodrecerem porque eram deliciosas. Tínhamos duas variedades diferentes: uma era meio azedinha e só servia para cozinhar e usar em receitas; mas a outra, apesar de feinha, era doce feito açúcar. E com o bônus dos apple/pear blossoms na primavera. Hoje fui para Woodford Wells dar comida para os patinhos no lago:

Na volta o ônibus passa por diversos bairros habitados pela galera do subcontinente – Índia, Paquistão, Bangladesh… E pelo visto eles gostam de comer fora, porque a variedade de restaurantes indianos atendendo quase que exclusivamente à clientela local é enorme. E quase todos representam a cozinha de uma localidade diferente; é um tal de “punjabi cuisine”, “gujarati cuisine” e eu acho engraçado porque, apesar de tanta variedade regional, comida indiana pra mim é tudo a mesma coisa: uma papa de legumes com curry (não muito diferente de vômito) em cima de arroz pilau. E eu acho uma delícia. Por falar em vômito (risos) andei me perguntando por que afinal tanta gente reclama de cachorro que faz cocô na calçada, mas não se manifesta a respeito de bêbados que vomitam na rua. Porque vômito espalha e FEDE muito mais do que bosta canina. Se tem uma coisa que me entedia é gente que não sabe beber e insiste, ou que bebe unicamente pra ficar bêbado e depois perde a linha “chamando o Hugo” em via pública. Ou seja, 90% dos jovens desse país… Tem uma “pizza” de vômito azedo assando na minha calçada e pelo visto vou ter que esperar uma boa chuva resolver o problema. Se eu tivesse presenciado o feito, teria obrigado o distinto a comer. Espero que os mais sensíveis não estejam lendo esse post durante o almoço.

Estação de Waterloo com o The Shard fazendo figuração ao fundo. No domingo eu comprei plantas, consegui plantar a metade e ainda tive tempo de montar um gaveteiro. Com o gaveteiro extra no lugar, me pus a arrumar gavetas e armários e fiquei apavorada com o TANTO de roupa que eu tenho. Nada caro ou de muito boa qualidade, mas O TANTO. Acho que se eu jogasse metade fora ainda passaria uns seis meses sem repetir roupa. Tá nesse nível. Tem coisa que eu comprei na adolescência. Ecos do passado ao pegar aquele moleton da PAKALOLO e aquela camisetinha listrada com bordado do PIU PIU que veio da finada Side Play. I feel really old right now. Resultado: decidi que vou ficar um ano sem Zara, ops, um ano sem comprar roupa, ou melhor, uns três meses sem comprar nada exceto o casaco de inverno 2013/14 – apesar de eu ter uma arara cheia de casacos de inverno e… ah, dane-se. :) Se eu conseguir pelo menos não comprar mais trinta pijamas de flanela na Primark em Dezembro (exceto os de tema natalino; esses são obrigatórios) já me dou por feliz. E o que eu conseguir economizar, torrarei em canecas fofas como essa:

O bolo é de proteína isolada de soja e tem gosto de depressão e de histórias tristes envolvendo gatinhos – então não me inveje. :(

Keeping warm.

Esse vestido é a coisa mais macia e quentinha do planeta. É bem largo (comprei o maior tamanho disponível) e não dá pra usar com casaco por cima por causa do volume, mas para a meia estação tá perfeito. Difícil é conseguir dobrar e guardar; parece que estou tentando engavetar um edredon.

Só quando cheguei em casa percebi que a cor do vestido era quase igual à desses sapatos que eu tenho há pelo menos cinco anos e nunca usava por não ter nada que combinasse. Bônus points!

Enquadrar fotos is overrated.

Isso aí eu planejei vestir hoje pra ir a Richmond, mas o solzinho me convenceu a mudar de idéia e pôr uma roupa mais leve.

Aí eu chego em Richmond e adivinha? Chuva.

O colete com forro de pele fake é do Respectivo. Senti IMENSAS saudades dele essa tarde, enquanto segurava meu latte embaixo de uma marquise esperando a chuva passar.

P.S.: O closet é o próximo na lista de “cômodos a serem organizados”. Guarda roupas já a caminho, cor de tinta escolhida e muito em breve, espero, terei um lugar arrumadinho para as minhas roupas.

P.S.2: Desculpa, mas vou fazer propaganda da procedência do cachorro das fotos porque a história é legal. Ele se chama Trouble e pertence ao respectivo. Os dois se conheceram no departamento de pelúcias da F.A.O. Schwarz em Nova York e foi amor à primeira vista. O dog vinha em três tamanhos, a escolher: Trouble, Big Trouble e VERY BIG TROUBLE. É claro que o VERY BIG TROUBLE foi o eleito e embarcou de volta pra Inglaterra no colo do novo dono (não cabia na mala), garantindo um sem número de “awwww, how sweet! how cute!!” de todas as damas no vôo – incluindo as aeromoças gatas. Infelizmente ele estava viajando com a namorada (que não era eu, by the way) e não pode “aproveitar a popularidade”. Que dó. ;)

Fake lomo.

Sei que não vou ter sorte com câmeras analógicas, então forço o efeito hipster-vintage-toy-camera com a point and shoot, mesmo. Na verdade eu nem gosto muito dessas presepadas e preferiria não usar; só que essa câmera (Canon SX220) tem um zoom legal ,mas a qualidade das imagens não é das melhores.

Still too young to fail

“Sábado. Quinze minutos pra uma da madrugada.

A noite não está sendo legal com você. Sem sono, sem fome, sem vontade. A pessoa que viria formatar seu HD mais cedo ligou avisando que só vem amanhã. O que estava esquematizado furou, e agora você está lá, perdida e sem saber exatamente com o que preencher o tempo que ficou vago. Liga para a única pessoa que sabe que também vai estar acordada:

Lolla: Tá fazendo o quê?
BFF: Nada. Vem pra cá ouvir programa de flashback.
Lolla: Opa, NEM. (que no nosso dialeto significa uma maneira irônica de dizer JÁ É).

Uma e três da manhã. A chuva acabou de acabar, mas faz frio. Guarda chuva dentro de uma sacola plástica do Carrefour. Calça de moleton, chinelo, camiseta da C&A (“fashion girl”, lol), bilhete pra mãe na porta da geladeira (nunca se sabe), there she goes. Quinze minutos depois meu dedo na campainha. A voz masculina imitando mulher sai do interfone:

“Boa noite… Bem vindo ao Atendimento Online da “Funerária Só Falta Você”. Estamos de portas e caixões abertos para recebê-lo todos os dias, das oito da manhã às cinco da tarde. Temos os melhores preços e planos de pagamento para sua comodidade nesse momento tão difícil. Para reservar seu esquife e deixar suas medidas, disque 1. Para solicitar catálogo com cores, modelos e tamanhos apropriados, disque 2. Para reclamações, disque 3 (atenção! não aceitamos devolução de produtos usados). Para falar com um de nossos atendentes, olhe para trás…“

E você, que já está rindo, comete a imprudência de olhar para trás (nunca se sabe). Ninguém, é claro. Nesse instante, o berro explode do aparelho:

“AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHH!!!!!!!!”

E você dá um pulo de um quilômetro de altura, xinga meia dúzia de palavras feias e, quando consegue entrar, depois de estapear o comediante, passa a madrugada bebendo pepsi (ARGH) com vodca, comendo biscoito de água e sal com geléia, ouvindo David Bowie e tirando cochilos em meio a papos surreais como “será que os animais têm signo? será que eles têm uma Zora Yonara?” ou “será que alienígenas fazem filmes com humanos saindo de dentro de foguetes da NASA e ameaçando destruir a civilização deles com bombas atômicas e músicas da Kelly Key?”

Não quero que você se mude pra SP. Não quero.“

Outro dia achei esse rascunho de um blog de 2002 (?) e guardei para publicar hoje, no dia do seu aniversário. 13 de Setembro, e a gente sempre torcia para que caísse numa sexta feira – por motivos de sexta ser dia de farra, não por superstição. Você, de fato, não foi para São Paulo; foi pra mais longe ainda, de volta para a terra dos seus pais, dos seus avós e bisavós, um lugar que você dizia detestar: “só a comida presta”, e eu secretamente ria, sabendo que exatamente por isso você estaria feliz lá.

I really hope you are.
Miss you, sweetie. Happy birthday. x

It’s coming

 photo autumn.jpg

Abri o folder SETEMBRO dentro do folder “2013” da pasta de imagens do computador, desacreditando. Outro dia achei mince pies (um mini tortinha tipicamente natalina) nas prateleiras do supermercado, e na Fortnum & Mason eles já estão anunciando a abertura do mercado de natal no último andar. Para ONDE este ano foi?

O verão, pelo menos, por mim já pode ir. Foi longo, foi lindo, foi quente como há tempos não víamos. Mas já tivemos o suficiente. Ontem eu transpirava no ônibus para Brentwood, e transpirar aqui é um fenômeno que vale uma anotação no diário, um evento que merece post no blog. Hoje o dia amanheceu nublado e com chuva, e aguardamos um fim de semana parecido. O que não é nada bom para os meus projetos, mas excelente para a minha alma. Eis a beleza do ciclo infinito das estações. I’m ready to feel cold again. :)

Somewhere in the City

Por alguns anos Respectivo teve o privilégio de trabalhar num dos lugares mais bonitos da cidade. Charterhouse foi construída em 1371 como um monastério cartusiano, ao lado de uma enorme vala comum onde foram enterrados dezenas de milhares de vítimas da Peste Negra. Hoje em cima dela existe uma linda pracinha, onde crianças de um jardim de infância próximo brincam no intervalo em meio a esquilos e pés de carvalho centenários. E era à sombra deles que eu me sentava, nos degraus da calçada que circula a praça (sem entrar; além dos pequenos, somente os moradores e locatários de Charterhouse têm a chave do portão – a grade é baixa, no entanto), esperando Respectivo sair do trabalho para pegar uma carona pra casa.

(difícil fotografar com celular sob a luz rebelde do sol de meio-dia, viu? mas era o único horário disponível, então vambora)

O monastério foi desativado, transformado em residência, depois em escola e em hospital. A escola mudou de endereço e foi para a Surrey; o hospital foi transformado em pensionato para um punhado de idosos. Alguns apartamentos são alugados para quem pode pagar o valor exorbitante. Vantagens? Localização central, portaria controlada 24 horas por simpáticos senhorzinhos indianos, jardins absolutamente impecáveis (um time de quatro jardineiros trabalhando sete dias por semana), estação de metrô próxima, história transbordando em cada tijolo, em cada pedra no chão e um pouco de silêncio, natureza e paz bem no meio do caos da cidade.

O contrato do escritório termina esse mês e não será renovado.
Vão se mudar para outro mais próximo de casa (engarrafamento na volta estava matando, mesmo) e, crucialmente, mais barato. Essa visita, no último sábado, provavelmente foi a minha última. Enquanto ele resolvia pelo telefone um probleminha de IT antes de sairmos para aproveitar o dia de sol, eu me dei alguns momentos para caminhar por entre os jardins, alas, prédios, pátios e passagens, me sentar à sombra do pé de magnólia preferido, pensar em outras épocas e me despedir de Charterhouse guardando essas imagens.

I was lucky to be here for a while. :)

Hello September

Achei numa pasta de cópia de itens enviados do Outlook. De 2002, eu acho. Fiquei aliviada quando percebi que achei mais engraçado que triste.

“Sim, é isso – rir e gozar são as vinganças possíveis, e eu acho que estou mal justamente por querer o impossível, me fingindo de esperta e não aceitando que o sublime não está ao alcance. Eu gostaria de dar de cara com um retrospecto mais ou menos feliz quando desse aquela olhadinha pra trás daqui a alguns anos, mas no momento acho que estou presa no passado de forma meio obsessiva, por ansiedade quanto ao futuro e porque já me vejo repetindo os erros óbvios que devia ter aprendido a evitar. Tenho medo que eles se transformem em padrão de comportamento. Eu estou *sempre* meio triste embora faça as pessoas rirem e elas me achem divertida e eu beba gargalhando em festinhas e eu acredite que não tenho depressão porque fico feliz quando o tempo amanhece nublado + o barulho da chuva no vidro da janela + o cheiro da terra molhada depois + borboletas batendo asinhas entre os raios de sol – cê sabe, esses clichês de felicidade barata e possível, esses prêmios de consolação por não estar num iate em St. Tropez bebendo Bellinis com o amor da sua vida e a barriga da Gisele Bundchen. Mas por sorte eu não preciso extrair a fórceps a beleza das coisas, elas me pulam na cara mesmo e bom, pelo menos isso. Só que anos atrás eu menti para um médico, e ele percebeu, porque me receitou um anti-depressivo tão fraco que eu tinha que rir pra minha cara no espelho e dar rodopios na frente da minha mãe para que ela achasse que o remédio estava funcionando. Não estava. Minha tristeza não era química e a solução teria custado menos do que a conta da farmácia.”