Na escola, eu:
Não era nerd, nem popular, não tinha os amigos certos (e nem os errados).
Sentava no fundão, não pra fazer bagunça, mas para ficar longe dos professores e das patricinhas puxa saco que sentavam perto deles.
(e deu certo, eles não percebiam a minha existência)
Sempre quis levar meus cachorros pra aula; achava que a experiência seria muito mais agradável.
Nem sempre saía da sala na hora do recreio.
Comprava salgado + refrigerante. Quase sempre “joelho” ou enroladinho de salsicha.
Gostava de dormir na debruçada na mesa. E às vezes babava.
Notei que as pessoas escreviam letras da Legião Urbana à lápis na mesa.
Adorava as aulas de biologia, inglês, história e literatura.
Detestava todas as aulas de exatas, exceto por um ano em que o professor de Química era bacana.
Ficava me achando porque meu namorado encapava meus livros com xerox de mapas antigos.
Pedi para uma menina que copiava letras de música para os outros para copiar Timidez do Biquini Cavadão pra mim a fim de puxar conversa. A amizade durou anos.
Era boa de decoreba dinâmica. Memorizava tudo, largava na prova, esquecia tudo em seguida.
Tirava boas notas. Quer dizer, aceitáveis. Menos em exatas.
Usava saia de tergal azul marinho plissada + a camiseta de malha da escola. Tinha alguns furos nela.
Não curtia usar sutiã pra fazer educação física. Não curtia fazer educação física.
Percebi que todas as minhas professoras de educação física eram lésbicas.
Achava besta pular corda. Preferia pular elástico, era mais intelectualmente desafiador.
Ia andando pra escola sozinha, e aproveitava o trajeto para pensar. Isso quando a mãe não dava carona no Fusca.
Não tinha a menor vergonha de ganhar carona da mãe. Ganhava de longe de ter que voltar pra casa na chuva.
Muitos dos meus melhores amigos até hoje foram feitos na escola.





Tá ficando bonita a primavera, que finalmente decidiu dar as caras. Mas hoje o tempo nublou, como se para avisar que a) quem dá as cartas aqui é a Natureza, não o serviço de previsões metereológicas e b) ingleses têm o seu caráter formado nas adversidades; muito sol, calor e tulipas coloridas não condizem com a realidade de um povo que encara verão e calor como breve novidade seguida de inconveniência, que nunca sabe exatamente o que vestir quando a temperatura passa dos 30 graus e que nunca se deixa acostumar muito às coisas boas – porque foram criados por gente que ainda se lembra de que elas podem ser temporárias.
E hoje, combinando com a chuva, temos médico. Joinha.









Meu pai chegou no domingo. Sem falar português no aeroporto, foi “detido” até que descobrissem a que tinha vindo. Puseram uma pessoa que falava espanhol para conversar com ele. Me custa crer que numa cidade cheia de brasileiros seja impossível contratar um para traduzir em Heathrow. Ou talvez seja justamente isso que eles não querem; um conterrâneo para “facilitar” as coisas.
Enfim. Ele já está instalado. E querendo ser útil, me pedindo coisas com frequência a fim de ajudar, infelizmente num momento da minha vida em que eu só queria tomar um calmante e dormir o dia todo. Mas vamos levando, e é bom saber que ele gostou da casa, do lugar e parece estar se divertindo. Meu pai sempre diz que a saúde dele melhora assim que ele pisa aqui.







(Fotos feitas em Regents Park e na vizinhança)