Passei a véspera do reveião ciceroneando turistas brasileiros numa Londres superlotada de… turistas brasileiros. Uma amiga de Jersey trouxe o sobrinho e a namorada para uma estadia na ilhazinha, incluindo dois dias na ilhona. Já estava impossível transitar em certas áreas, a ponte de Westminster tomada e as pessoas eram obrigadas a andar na pista, disputando espaço com carros e ônibus. O medo de ser atropelada disputava espaço com o medo de ter a bolsa arrancada das mãos. Os jovens queriam fazer TODOS os programas de turista que eu particularmente não aprecio e a cidade estava literalmente explodindo. A espera estimada na fila do museu era de TRÊS HORAS. Por toda a parte só se ouvia português, na voz de brasileiros reclamando da superlotação mas encarando o desafio. Por fim, os meninos acharam que era sacrifício demais para ver celebridades de cêra e desistiram da idéia – UFA.
Sugeri um passeio turístico de ônibus double decker para ver a cidade (já que eles tinham tão pouco tempo aqui), mas a moça disse que “não queria andar de ônibus”. Risos. Levei-os então para a London Eye, onde ficaram mais de duas horas na fila enquanto eu e a amiga sentamos num restaurante chinês estilo buffet e batemos papo com uns rapazes brasileiros super simpáticos que estavam fazendo uma viagem mochilão pela Europa.
Mais cedo fomos para Piccadilly e Oxford Street, onde o rapaz tentou sem sucesso encontrar um Nike Shox – que não faz sucesso por essas bandas por ser um modelo esportivo. Lembrei das histórias que ouvi de outros brasileiros, que diziam (em tom de zoeira carinhosa) saber identificar os conterrâneos recém-chegados pela roupa: para ambos os sexos, “calça jeans de lavagem clara + jaqueta estilo bomber ou casaco de moleton con capuz + Nike Shox”. Em Tottenham Court levei-os para comer coxinha com guaraná, porque depois de reclamar até do suco servido aqui eu achei que eles mereciam relembrar com saudade de tudo aquilo que haviam deixado para trás 20 horas antes. Hahaha.
Por fim terminamos o dia sentados na estação de Victoria, nos deliciando com as batatinhas crocantes do Burger King (claro que o sanduíche do Brasil, na opinião deles, era melhor) e apesar das pernas cansadas e do tumulto inacreditável, foi divertido e rimos um bocado de todas as situações. Agora eles já devem ter chegado em Jersey e eu realmente espero que eles consigam reservar uns dias para ir a Paris como pretendem. Porque as melhores diversões da ilhotinha no inverno (já que não rola praia) são caminhadas pelo campo, vegetar na frente de lareiras e comer fora. Como eles estarão hospedados na cidade, numa casa pequena, sem espaço pra lareiras e vão querer arroz com feijão todos os dias, eu realmente não sei como vai ser.

Reveião em país de clima frio é sem graça. Ao invés do Natal, que tem um clima familiar e intimista, a celebração do começo de um novo ano pede festa. De preferência ao ar livre, pois fogos são tradicionais. Londres tem um foguetório considerável, mas depois que ele termina a polícia chega enfiando todo mundo para dentro do buraco de metrô mais próximo e prontocabou. Se quiser continuar celebrando, só se pagar com antecedência para entrar em algum clube ou pub lotados. E mesmo assim a cidade está cheia de gente saída da paraísos tropicais, usando um casaco por cima do outro, carregados de bolsas de lojas de desconto e reclamando que “aqui não tem boteco vendendo salgadinho.” Existem hotéis às margens do Tâmisa que já não têm mais vagas para o reveillon… do ANO QUE VEM.
Não fosse O Calor eu até gostaria de estar no Rio. Mas existe O Calor. E existe também a falta de planejamento, amigos avulsos (que não configuram mais uma turma) querendo fazer coisas diferentes, falta de planejamento, preços abusivos e minha mãe querendo me arrastar para a igreja. Eu já mencionei O Calor? Assim sendo, estou vestindo pijama de flanela, chupando uma lata de leite condensado e assistindo Julie Andrews rodopiar pelas montanhas em A Noviça Rebelde. Logo tomarei O ÚLTIMO BANHO DE 2012 (eu também detesto essa piada, não se aflijam) e me depositarei neste sofá, no colo um prato de feijoada que Respectivo está terminando de fazer.

Ok, você me irrita e muito às vezes (assim como todas as cidades onde eu já vivi) mas… I still love you, London. Obrigada por me aceitar na panelinha, por me incluir na muvuca, por me aceitar apesar das nossas diferenças e pelas semelhanças que me fazem sentir em casa. Obrigada pelo privilégio de estar aqui. Happy New Year. ♥