Semanas atrás eu disse um adeus às pressas, meio relutante, meio incerto porque não sabia se ia voltar ou não para o dia da mudança. Não voltei. E acho que já sabia que não voltaria; foi apenas um truque (in)consciente para evitar o momento do adeus – que sempre, sempre me incomodou. Não funciono em despedidas, especialmente as irreversíveis. Afaguei a Maluca, que dormia em sua cama favorita: um enorme cachorro de pelúcia do lado da janela que mais recebe sol. Um banho no banheiro azul (“não é o último” – mas foi), que eu projetei, decorei e pintei sozinha; observei a vista da janela e os erros de iniciante que o meu pincel deixou nas paredes. Olhei pela janela do sótão, minha vista preferida, o jardim que já estava sendo cuidado por estranhos. Entrei no carro para o aeroporto a fim de pegar meu vôo para Londres e, atrasada, esqueci de olhar para trás.
Uma semana depois, assim que o último caminhão de mudança saiu, Respectivo trancou a porta da frente e jogou a chave para dentro pela abertura do correio – em definitivo, oficializando a entrega. Mas deixou para chorar no carro, quando o amigo que veio ajudar com as caixas já tinha ido embora. Na saída arrancou do muro a placa de madeira velha e gasta (que nunca trocamos) com o nome da casa e a trouxe consigo. Maison de La Palloterie. Que doravante se chamará “Saint Honoré” (argh, se me permite) e não nos pertence mais.

chave da casa, quando a recebemos em 2004
Muito obrigada, Jersey. Por tudo. Por me acolher, me ajudar a adaptar, me ensinar a ser daqui. Pela beleza, as vacas, a comida, os poucos mas queridos amigos que fiz, o sótão rosa, os natais e aniversários, os muitos pubs visitados, as manhãs de domingo ao som do vento nas árvores e do sino da igreja, as longas caminhadas de inverno onde nos conhecemos aos poucos através dos seus atalhos, pelo silêncio, pela Maluca e por seis anos maravilhosos com o meu melhor amigo.
Goodbye and thank you. We’re missing you already, and hope to see you again someday. ♥




























