There’s beauty in chaos.

Para quem estava com saudades da ilhazinha.

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Estive em Jersey por duas vezes nos últimos dois meses. Achei o jardim diferente. Após tanto tempo de “abandono” sem ninguém cuidando dele, passou a crescer selvagemente, se infiltrando nas rachaduras da calçada. Flores que não estavam ali antes brotando da noite para o dia, sementes vindas de longe graças aos pássaros e abelhas – os únicos frequentadores do meu antigo endereço.

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O mato quase engoliu a summer house:

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Era como se a natureza estivesse clamando de volta o espaço não utilizado pelos humanos. E ela não perde tempo. Lembrei-me das casas abandonadas de Detroit, onde a natureza tomou conta do que foi deixado para trás. Existem sites inteiros dedicados a documentá-las antes que desapareçam em meio a hera, arbustos e árvores. Onde humanos medem, calculam, planejam, programam e organizam, a natureza expande, envolve, espalha, atravessa e prolifera. Nem sempre há simetria na aleatoriedade. Mas existe beleza no caos.

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Let the madness begin.

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E a “festinha do esporte” começa oficialmente amanhã. Eu gostaria de aproveitar esse espaço para declarar que moro a quatro estações de metrô de distância do parque olímpico de Stratford, que dependo da Central line e da North Circular pra sobreviver e que a partir desta sexta feira a minha vida vai virar um inferno.

Acho bonitinhas as mensagens que o governo e o comitê olímpico estamparam pelos outdoors, anúncios de revista e jornais, propagandas e anúncios de TV e rádio. Eles sugerem (com um subtexto de JUST DO IT) que os londrinos evitem se dirigir ao centro, evitem sair de casa, deixem a metade das estradas livres para os engravatados olímpicos e seus carrinhos pintados de branco e rosa (sim, marcaram uma FAIXA ESPECIAL para os paxás dos jogos, e se seres humanos comuns como eu e você ousarem trafegar por ela podem tomar multa na fuça), evitem respirar, evitem EXISTIR para “não atrapalhar atletas e turistas”. Que tal vocês DESAPARECEREM e deixar a cidade livre? Depois vocês podem voltar e continuar pagando os impostos que patrocinaram tudo isso, ok?

Seria muito engraçado mesmo se turista algum aparecesse. O que não está sendo engraçado: estou vendo o preço de absolutamente tudo à minha volta aumentar, na antecipação da chegada desses turistas.

Eu nunca fui fã de esportes. Tentei gostar de futebol durante parte da infância e adolescência, mas a verdade é que eu gostava era das CAMISAS de time. Costumo “gostar” de esporte também na Copa do Mundo, mas só quando morava no Rio e o Brasil estava jogando, para fins de “voltar pra casa mais cedo” do trabalho ou da faculdade. Os únicos jogos que eu gostaria de ter acompanhado (mas não pude, por razões de fecundação tardia) foram os de Montreal. Gostaria de ter visto a Nadia Comaneci aloprar os jurados. Ou os de Moscou, para ter dado uma choradinha junto com o carismático ursinho Misha – Russos podem até não entender de comida, simpatia ou política, mas entendem de top models, vodka e mascotes de jogos olímpicos.

As it is, estou aqui tropeçando nesses mascotes LEESHO pelos corredores de todas as lojas, em forma de chaveiros e pelúcias, pela módica quantia de milhões de libras.

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(No meu tempo, cobra com um olho só tinha outro nome. Just saying.)

E por mais três semanas no mínimo (sem contar as paraolimpíadas, mas não vamos fingir que alguém se importa) haja adesivo rosa no metrô e idiotas de crachá querendo mandar na minha vida.

A minha única torcida será para que não role nenhum atentado terrorista. And let the madness begin.

Hosepipe ban blues.

O verão de 2012 resolveu inexistir e, fora dois ou três dias bastante esparsos de calor, a chuva praticamente não pára. Começamos abril com o governo banindo a população de usar mangueiras (hosepipes) para regar plantas ou lavar carros, porque a estiagem havia secado as reservas e ameaçava gerar uma crise. Nem tivemos tempo de reclamar: São Pedro ouviu a conversa e resolveu abrir as torneiras. As reservas já estão transbordando, assim como os rios – que acabaram invadindo casas e provocando prejuízo – e a nossa paciência. Meio sem graça, o governo cancelou a proibição às mangueiras já que agora aparentemente temos mais água do que precisamos. Resultado da chuva: as plantas que comprei em Jersey e trouxe para Londres com todo o cuidado morreram afogadas na água da chuva, e eu não tenho mais vontade de pisar no quintal.

Chove demais nessa cidade. Vou repetir, e reforçar: chove. DEMAIS. nessa cidade.
Você começa a compreender a natureza sombria, cinzenta e levemente desesperada dos londrinos. Crescer aqui é para os estóicos.

Bem antes de o verão inexistente começar a inexistir, um raro dia de sol (mas não de calor) em Leigh-on-Sea:

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Outro dia, outro registro de um verão que deixa praias vazias, mesmo em Jersey (“the sunniest place in the british isles”, anuncia o slogan ao ver tantos quartos de hotéis desocupados em pleno junho):

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Status meteorológico: Meia opaca fio 100.

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Essa moça passa os dias sentada na entrada no metrô de Tottenham Court. Além de sempre muito triste, ela é uma das pessoas mais bonitas que já vi. Tem um rosto de personagem de conto de fadas, especialmente nas raras vezes em que sorri – quando por exemplo alguém lhe entrega uma garrafa d’água. Talvez ela preferisse que estivesse fazendo calor. Talvez isso tornasse as noites na rua menos difíceis.

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Pensei em assistir esse musical semana passada. Bastante propício para o clima chuvoso.

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O céu em Little Britain e as nuvens que resolveram montar acampamento pelo verão inteiro.

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Onde foi o dia de São Swithin. Reza a lenda local que, se chover no dia do santo, choverá pelos próximos 40 dias.

St Swithun’s day if thou dost rain
For forty days it will remain
St Swithun’s day if thou be fair
For forty days ‘twill rain nae mare

Ontem não caiu uma gota de água. Sol pela manhã, nublado lá pela hora do almoço, sol abrindo novamente e até uma ameaça tímida e breve de calor por volta das seis da tarde. O povo se animou com o sinal divino e previu o começo tardio de um verão escaldante, que se estenderia até o final de outubro ou, com alguma sorte, se tornaria numa espécie de “verão indiano” (fora de época) e estaríamos desmontando a piscininha do jardim na véspera de Natal.

Amanheceu chovendo hoje.

Portsmouth Historic Dockyard

De início eu não estava muito animada, mas acompanhei Respectivo ao porto de Portsmouth domingo passado. Como sempre, tudo começou com café:

Em seguida, pausa para foto de tiete com Henricão Oitavo. FOCO NO CODPIECE do distinto, pfvr.

Eu muito quis uma bonequinha de Ana Bolena; mas só se viesse com cabecinha removível pra gente brincar de decapitação.

Razão principal da visita: HMS Victory. Pena que estava sem os mastros (em reforma). Ainda assim tão, tão lindo… Ou linda, já que aqui as pessoas se referem a navios no feminino.

Luxo e riqueza na cabine do Admiral.

Funcionalidade na cozinha. A dieta dos marinheiros era um tédio; biscoitos duros e quase sempre cheio de insetos, pouca carne, pouca manteiga, pouco queijo, algumas ervilhas – mas muita cerveja.

Plaquinha no chão do deck informando o local exato onde o famoso Nelson tomou pipoco. Esqueci de fotografar o barril onde o corpo dele foi conservado em cachaça na viagem de volta à Inglaterra.

Havia uma exposição de figureheads no museu, aquelas figuras colocadas na proa dos navios.

Curti especialmente essa da Eurídice pagando peitinho,. Ela não teve um destino muito feliz na sua vida mitológica; por isso a cara de quem comeu e não gostou.

Que a gente tenta imitar, sem muito sucesso porque o staff do museu inteiro naquele momento olhava para a nossa direção, esperando o desenrolar dos fatos. Fiquei com vergonha. Apologies.

Olha o tamanho desse camarada aqui.

“England Expects (too much, sometimes)”.

Era possível fazer passeios de barco em volta do dockyard. Não deu tempo dessa vez; fica para a próxima.

Voltando para casa fazendo “caminho alternativo”. As auto estradas aqui costumam ser um tédio, então de vez em quando a gente programa o navegador para evitá-las. Encontrar pequenas villages com casinhas coloridas e rebanhos de ovelhas pelo caminho ou esses túneis de árvores quando a estrada corta florestas compensam a viagem mais longa.