My only friend through teenage nights.

Outro dia me perguntaram se eu costumava ouvir rádio aqui.
Atualmente bem pouco. De vez em quando a Absolute, mas quase sempre são as playlists do 8tracks, ou faixas escolhidas no Spotify ou Groveshark que me fazem companhia. Eu ouço música com frequência; quase todos os dias. Tenho momentos de deixar rolando como trilha sonora, sem prestar atenção, até sentar no escuro absorvendo cada nota, arranjo e frase de uma música favorita. Quando eu era criança gostava de sentar numa rede que tínhamos na varanda e passar a tarde inteira ali, usando a rede como se fosse balanço (meus pés quase batiam no teto) e cantando junto.

Eu gostava de ouvir rádio no Brasil. Não sou da “geração Napster”; quando música começou a ser encarada como algo que você pega de graça quando quiser, como se fosse folheto de supermercado, eu já era quase adulta. A seleção de músicas de fundo para a minha primeira infância dependeu do gosto musical um tanto quanto errático dos meus pais. Eu ouvia os discos que eles tinham em casa, uma curadoria super eclética que incluía Secos & Molhados, trilhas de novela, Bezerra da Silva, Saturday Night Fever e os Sambas de Enredo das Escolas de Samba do Rio de Janeiro de 1977. Num momento eu ouvia encantada os versos de Rosa de Hiroshima e no momento seguinte cantarolava Malandragem Dá Um Tempo sem entender muito bem o que estava sendo enrolado ou acendido naquela letra. E imaginava o dia em que, assim como a Yvonne Elliman, eu poderia dizer para alguém que “if I can’t have you, I don’t want nobody, baby”. Só que não diria, é claro. Essa tal de Yvonne dava muita bandeira e eu ia ser cool.

E aí eu descobri o rádio e tudo mudou. Eu podia ouvir rock o dia inteiro na saudosa Fluminense FM, pop na já citada Transamérica e flashbacks dos anos 50, 60, 70 e 80 na Rádio Mundial AM – programa “Jovem Também Tem Saudade” (y u so brega). Jovem? Oito anos e eu já sentia saudades doloridas de bandas que deixaram de existir décadas antes de eu nascer.

A partir dali o céu era o limite. Ou melhor, o limite era a vinheta que anunciava o começo da Voz do Brasil, às sete da noite. “Em Brasília, dezenove horas” dizia a voz cavernosa do locutor, que depois foi substituído por um cara mais animadinho e eu odiei (e quando eles deram um “arranjo tropicalista” ao Guarani de Carlos Gomes? Essas coisas deviam ser proibidas). “Hora do Brasil, Hora de desligar o rádio”, todo mundo dizia e eu concordava. Hora de tomar banho e ir assistir a novela esperando o jantar.

Sinto falta dessas rádios (e tantas outras) que ou encerraram atividades ou mudaram completamente com o passar dos anos. Algumas foram compradas por igrejas evangélicas. É claro que o mundo se transformou e as pessoas migraram para a internet. Aqui elas podem ouvir o que realmente querem quando quiserem, ao invés de ter jabá enfiado goela abaixo pelas gravadoras que pagam pra fazer os DJs tocarem o que elas querem que venda. Uma pena, porque rádios nem sempre foram assim tão ruins e nem precisam ser. Minhas rádios favoritas me permitiram conhecer minhas bandas e artistas preferidos e me apaixonar por eles. Serei eternamente grata.

De certa maneira acho que tive sorte por ter crescido em outra época, por poder ter experimentado a alegria inesperada de reconhecer os primeiros acordes da música mais bonita do mundo daquela semana começando a tocar no rádio e correr para ouvir, ao invés de apenas digitar o nome da faixa no YouTube e dar quantos replays quiser. Ou então passar a tarde plantada do lado do rádio, com a fita k-7 no deck e as teclas REC e PAUSE a postos, esperando para gravar uma música – torcendo para que tocasse inteira sem que o locutor começasse a falar no fim. Ou até mesmo conseguir gravar só um pedacinho de uma canção “rara” que quase nunca tocava, e passar dias dando rewind e play naqueles 20 segundos, inalando cada nota daquele tesouro sonoro como se fosse oxigênio – até que a fita arrebentasse.

Prefiro as facilidades de hoje, sem dúvida. Nostalgia de ter trabalho extra, passar sufoco e se frustrar? Nope. Mas foi bom poder ter tido as duas experiências, até para dar valor ao que temos hoje. E para exibir o troféu de desbravadora. Torrent é para os fracos. ;)

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