Memories 1.0

Assistir a esse vídeo foi estranho.
1998. Mas eu ainda levei mais um ano para finalmente ter internet em casa. Conexão discada, e lembro de ligar para uma amiga e tirar dúvidas estúpidas durante o processo (“não está dando certo! tô ouvindo um barulho de fax ao invés de internet!”). Lembro do amigo técnico que veio ajudar e me apresentou aos newsgroups – uma praga que me consumiu madrugadas inteiras numa prévia do que hoje seria nomeado “xingar muito na internet”. Lembro dos sites de anime e de salvar uma quantidade assustadora de imagens em bitmap para o hard drive de, sei lá, 210MB. Lembro de instalar programas em disquete (no caso do windows, por exemplo, uma caixa inteira deles), de comprar CDs com joguinhos para DOS e programinhas inúteis, de receber CDs de instalação da America On Line em casa e jogar todos fora (ou usar como descanso para copos), de trapacear para passar de fase em Doom e Heretic, de trocar skins para Winamp com meus amigos, de usar o Altavista para fazer buscas (e do saudoso tempo em que as buscas traziam SITES, não blogs ou lojas), de fazer conta de email no BOL, de baixar vários discadores de internet para testar um quando o outro estivesse busy. Do “uh oh” no ICQ e de não entender quem usava Aol Instant Messenger. De fazer um blog no Blogger e ficar perdida no espaço, sem saber direito o que escrever ou se mais alguém leria. De descobrir um portal de blogs brasileiro chamado Desembucha que mudaria seu universo e ver, a partir dali, a internet como então conhecíamos entrar num declínio sem volta.

Evolução, alguns dizem. E eu só me arrependo por nunca ter feito uma conta no IRC, e lamento que o uso da palavra “internauta” tenha caído em desuso. O que temos pra hoje? TWITTOSFERA.

I rest my case.

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Lolita de Lempicka

Lolita Lempicka. Belo frasco, mas a fixação é fraca e olha que se trata de eau de parfum. Mas como eu disse, frasco lindo que vai ficar perfeito na minha futura bandeja 80s com fundo de espelho – onde colecionarei vidros de perfume bonitos e vazios. Vela perfumada da Royal Horticultural Society. Nome solene, mas essa veio da B&Q. Quarto inteiro com cheiro de rosas, no entanto.

Batoms “novos” (os últimos que comprei, mas já faz tempo): Rouge Volupté em Beaubourg Brown (Yves Saint Laurent – não é linda essa embalagem?), Ruby Woo e Fanfarre (MAC). Blush preferido (até o cheiro é ótimo): Brun 545, Guerlain. E esse site me lembra de que preciso comprar outro vidro de Shalimar. :)

P.S.: A Raquel, do Uma Aspone Qualquer, fez uma feature com fotos do meu sótão. Para quem quiser ver um pouco do lugar de onde eu escrevo (e como, assisto dvds, ouço música e, eventualmente, durmo) é só clicar aqui. :)

After the Fire

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre.
Assim acontece com a gente.
As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa. Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor.
Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre.
Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo!
Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.

Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura.

No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira.
Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva.
Não vão dar alegria para ninguém.

O Amor que Acende a Lua, Rubem Alves

Claire, I can see your underwear

Dizem não ser de bom-tom postar fotos das suas próprias calcinhas na internet.
Mas acho que, desde que nunca tenham sido usadas e eu não esteja dentro delas, não deverei passar por maiores constrangimentos.

Como resistir às promoções “3 por £7” da New Look?

Adoro os babadinhos, rendinhas e demais frescurices.
Duvido que vão resistir a mais de três lavagens, no entanto. Nada é perfeito.

Gorila Gum

Não resisti a esses chicletinhos com cara de vintage numa loja de doces aqui em Jersey:

Houve um tempo em que chicletes vinham assim, em pacotinhos coloridos individuais que pareciam ter sido embalados à mão. Alguns vinham com figurinhas dentro, às vezes decalques de raspar que a gente podia passar para capas de caderno. A inesquecível coleção Ploc Monsters, com decalques de monstros pavorosos (bom, pelo menos para as crianças) e cada um tinha um nome. Paula, Alexandre, Carolina, Patrícia, Gustavo, Henrique… Quanto mais feio o monstro, mais chochada a criança era, e os bordões “o seu monstro é muito mais feio que o meu!” ou “até que essa monstra Luciana é bonitinha… Pelo menos mais bonita que a própria Luciana!” se espalhavam pelos playgrounds e pátios de colégio.

Quem diria que chiclete um dia já serviu de veículo pra bullying?
A melhor coisa da minha infância? Nunca acharam um monstro Ploc com o MEU nome.

Pancake day

Queria muito estar fazendo algo útil.
Mas é terça de carnaval num país sem carnaval e estou dançando George Michael e Elton John.

Hoje também é o dia da panqueca. Estou muito feliz porque, ao manifestar meu desejo de comê-las, alguém me passa um site com OITENTA receitas de panqueca. Tinha que ser salgada, já que ontem ingeri o equivalente ao meu peso em forma de bolo, e porque eu não sou muito fã de panqueca doce. Achei uma receita de Panqueca! De! Batata! e estava amarradona checando ingredientes e fazendo a Food Dance aqui quando a sogra liga e convida. Para jantar. GALINHA ASSADA. Porque Murphy tem uma obsessão crônica e doentia com a minha pessoa.

Mas PODIA SER PIOR, senhores. A sogra podia ter LEMBRADO que hoje é dia da panqueca e cismado de fazê-las. Da última vez em que isso aconteceu, ela fez uma bacia de panquecas doces, cheias de suco de limão azedo e quilos de acúcar cristal despejados em cima. Eu já disse que odeio quando as pessoas despejam açúcar cristal em cima de doces? Eu já disse o quanto simplesmente ODEIO açúcar cristal em qualquer forma que ele resolva assumir? Açúcar cristal = mastigar vidro moído. Areia de praia. Just don’t do it.

Tenho duas opções. Grin and bear it, pôr meu rabo entre as pernas, forjar um sorriso e ir sentar lá por cerda de duas horas roendo a tal galinha, ouvindo histórias requentadas e sonhando com panquecas de batata dançando à minha volta. ALTERNATIVAMENTE, posso alegar disenteria e ficar em casa quietinha fazendo panquecas enquanto danço em volta delas.

The Dream Season.

Lembra aquele episódio de Dallas onde a Pam abria a porta do banheiro e lá dentro estava o Bobby, que todos pensavam ter morrido? Na verdade o personagem tinha morrido sim, porém levando com ele boa parte da audiência da série. Não havia nenhum modo plausível de consertar o erro porque muita coisa já havia se passado desde então; como não dava para simplesmente ressuscitá-lo, a morte de Bobby – e toda a oitava temporada – foram transformadas numa espécie de “sonho” da Pam. Uma manhã ela acorda, ouve barulho de água corrente no banheiro, abre a porta do chuveiro e lá está Bobby. “Good morning!”

Pam, what’s the matter? It looks like you just saw a ghost!

Às vezes eu vejo épocas da minha vida como histórias extremamente mal contadas, porém sem a menor possibilidade de serem reescritas sem deixar furos homéricos na narrativa. Não dá pra contrariar as leis da física, então aposto num grande mal entendido. Porque não, não pode ter sido isso, sabe. E às vezes, quando estou autofilosofando sobre a minha desgraça no chuveiro, fico esperando a Pam abrir a porta e, depois de se acalmar, me contar devagar e em detalhes como foi que a minha vida realmente aconteceu.

All is well, or at least will be.