Acho que estamos prestes a encontrar o nosso novo cafofo temporário. Oito minutos de caminhada da estação de metrô mais próxima = perfeitamente aceitável. Tamanho das acomodações = nem tanto. Nossa geladeira, por exemplo, não cabe na cozinha. E se eu engordar dez quilos é bastante provável que EU também não caiba. Entretanto, é isso ou amargar mais alguns meses de house hunting. Aparentemente existem casas interessantes, mas elas costumam ficar longe da estação, não ter garagem ou ser alugadas em 30 minutos.
A casa não tem o charme vitoriano das tradicionais residências urbanas londrinas. É só um quadrado de tijolinhos vermelhos. Foi construída nos anos 80 e fica num cul-de-sac, cercada por casas mais ou menos iguais. Os poucos móveis que já estáo lá ficarão lá. O imóvel estava alugado antes para uma família com crianças, e cada quarto tem uma cama. Invariavelmente encardida. Preciso me livrar delas, do sofá e outros entulhos. ONDE pôr todas essas coisas não faço idéia, mas prefiro pagar para guardá-las em algum galpão do que ser obrigada a conviver.
Tem um jardim (ok, tem grama) de tamanho respeitável nos fundos, apesar de a cerca necessitar reparos. Na garagem talvez caibam algumas caixas e entulhos (quem sabe algumas camas desmontadas…). Os quartos não são grandes, porém são bem iluminados. Num deles tem uma suíte (não gosto de banheiro no quarto) e no outro há armários embutidos. Os quartos pequenos são realmente pequenos. No momento estão pintando paredes, trocando pisos e consertando um vazamento, mas em uma ou duas semanas poderemos assinar o contrato.
A necessidade de ter uma garagem acabou reduzindo muito a escolha. Londres não é conhecida por garagens espaçosas. Aliás, Londres não é conhecida por espaço, simples assim. Um dos motivos que faz seus habitantes deixarem a cidade para trás e buscar uma vida no campo é a possibilidade de ter privacidade, silêncio, limpeza, segurança, qualidade de vida e alguns metros quadrados a mais onde poder vivê-la. E são exatamente essas coisas que eu estou deixando para trás, sem conseguir (ainda) me sentir muito estúpida.
Enfim, é uma casa. Não muito engraçada, mas com teto e paredes. Perto do metrô, numa área tranquila, com cinemas, Waitrose, Sainsbury, M&S, Boots e, não muito longe, Tesco e Ikea. Acesso fácil para o aeroporto. E acima de tudo, estaremos onde precisamos estar.
Muito pouca coisa acontecendo por aqui. Os dias ficando mais longos e claros, a primavera se aproximando. Outro dia a gata conseguiu sair para o quintal pela primeira vez no ano e, quando a vi rolando no asfalto morno, eu soube que o inverno de 2010/2011 estava consignado à história. Entrou para a pilha de invernos passados sem deixar muitas memórias, o que de certa forma me entristece.
Meu tempo aqui está se esgotando. A lembrança de mais um inverno tedioso que termina me ajuda a engolir essa verdade e tornar a opção (a mudança para uma parte mais urbana) mais atrativa.
O pior é não saber ao certo quando a areia na ampulheta vai secar totalmente e não poder me preparar para o momento. Morei por cinco anos numa ilha tão pequena e sequer posso dizer que a conheço; Respectivo viveu aqui por mais de 20 anos e, até vir ver essa casa, ele nunca tinha pisado nessa rua. Planejei aproveitar esse último mês fazendo longas caminhadas, me despedindo dos meus lugares favoritos, das vistas mais bonitas, ver o vale dos narcisos em flor mais uma vez (o mesmo para o das bluebells), tomar mais um café no Hungry Man, bater papos com as vacas mais doces do mundo, andar pela cidade que eu visito tanto mas conheço tão pouco…
I took this beautiful place for granted. Não aproveitei tudo o que podia, não conheci tudo o que devia, e agora estamos indo embora. Para outro lugar, menos bonito, porém muito mais prático. Trocar a beleza pela conveniência. Lema dos tempos modernos? Let’s wait and see.
* 175g de manteiga em temperatura ambiente; * 100g de iogurte natural; * 2 colheres de sopa de lemon curd; * 3 ovos; * Suco e raspas de um limão; * 200g de farinha de trigo com fermento; * 175g de açúcar; * 140g de açúcar de confeiteiro; * 200g de mirtilos (blueberries) ou framboesas.
Pré-aqueça o forno a 160°C, unte uma forma quadrada pequena com manteiga e polvilhe com farinha de trigo. Ponha o iogurte, 2 colheres de sopa do lemon curd, a manteiga, os ovos, as raspas do limão, a farinha e o açúcar numa tigela. Bata até formar uma mistura homogênea. Ponha metade da mistura na forma, adicione 100g das frutas, cubra com o restante da massa e, por fim, mais uma camada de frutas por cima. Asse por cerca de 70 minutos até dourar. Deixe esfriar antes de desenformar. Misture o suco de limão com o açúcar até formar um creme liso e consistente. Espalhe sobre o bolo e sirva com extra lemon curd, iogurte e frutas se preferir.
A unha de semana (passada): Bongo Beat, um azul metálico com mini partículas prateadas da Hot Looks – tenho outros esmaltes dessa marca, super baratinha e a qualidade é muito boa. Estou usando cores mais vibrantes agora que mantenho as unhas mais curtas.
Reestocaram meu lip balm favorito na Boots. Na verdade eu gosto daqueles em bastão (mais práticos) e coloridos (quem precisa de batom?), mas esse aí embaixo é eficaz– para os lábios rachados do inverno ainda não encontrei melhor.
Ok, vá lá- existem outras marcas tão boas quanto. Mas nenhuma delas nessa latinha duck egg blue com cara de vintage:
Eu gostava de ponto cruz na adolescência e os amigos ganhavam cartões de natal ou aniversário com motivos bordados por mim. Mas claro, tudo isso foi antes da internet, a culpada pelo meu déficit de atenção.
Hoje em dia tenho mais hobbies do que tempo ou disciplina para mantê-los e definitivamente não sei gerenciar meus interesses. Acabo abandonando tudo pela metade e começando coisas novas quando deveria estar simplesmente terminando as antigas. Triste. Mas como eu sou peruana e só desisto em anos bissextos pares, esbarrei numa loja de crafts MAGIA em Dinan e comprei esses livros de ponto cruz. Quem gosta de artes manuais na Inglaterra sabe o quanto é difícil encontrar esse tipo de coisa aqui. O inglês moderno (mais especificamente, a inglesa) não tem o menor interesse; artesanato é coisa de trabalho escolar de jardim de infância e, se querem uma meia de lã, compram na Primark em dois minutos – e por menos do que custam as agulhas de tricô.
Esse livro é praticamente todo sobre alfabetos em vários tipos de caligrafia (super útil) e casinhas (que eu adoro bordar).
Esses aqui têm motivos em ponto cruz e também bordado tradicional.
Estou bordando pelo menos uma meia dúzia de quadradinhos por dia, para não perder o hábito. Eis a bagunça, contida nessa linda sacolinha de pano com aplicação de uma menina de cabelo preto bordando (haha, serei eu?), presente de uma leitora querida. :)
Descobri uma revista nova. Se chama “Oh Comely” e eu adoro tanto o título (comely significa bela) quanto o slogan “keep your curiosity sacred“.
Segundo o site, “Oh Comely é uma revista que valoriza a criatividade e a originalidade, ao invés do dinheiro e do que ele pode comprar. Segundo a descrição, o objetivo é inspirar as pessoas a serem criativas, a falar com os vizinhos e explorar oportunidades novas, ao invés de apenas comprar bagulhos e emagrecer. Imagine-se sentado com uma xícara de chá e um amigo interessante, para ouvir as novidades, as coisas diferentes que ele tem a dizer, as coisas que fez e tudo o que ama.”
Eu acho que é uma espécie de Lula mais adulta e um pouquinho menos pretensiosa.
Jane Flett encheu o saco da sua carreira glamourosa e foi servir cerveja num pub pelo salário mínimo. Liberou a mente de “assuntos de trabalho” para enchê-la de coisas muito mais prazerosas, como joguinhos de Game Boy, poemas, jogar frisbee na praia e fazer panquecas com os amigos que também chutaram o emprego e a grana para ir ali viver. Dinheiro e status não é tudo, principalmente quando você passa a concluir que está trocando a sua vida – e toda a diversão – por essas coisas.
Moda, é claro. Mas achei o máximo a produção usar quase que exclusivamente peças de brechó. Não há um único sapatinho Prada, bolsa Hermès, pulseirinha YSL ou calcinha Louis Vuitton nos ensaios.
Você pode encontrar alguns números antigos na loja.
Achei essas casinhas de resina numa loja de aeromodelismo (não se assustem, não estou pensando em adotar mais esse hobby… por enquanto) aqui em Jersey, dentro de uma lata enferrujada e, segundo a dona, prestes a ir para o lixo. Perguntei se podia ficar com elas e a velha teve a cara de pau de responder rispidamente “se quiser comprar, custam 50 centavos cada”. OK, senhora – estava indo para o LIXO, então? Como eu fiquei com pena das casinhas (e estava frio demais para esperar do lado de fora da loja até ela pôr a lixeira na rua) eu suspirei e paguei.
Por quatro. E joguei mais duas dentro da bolsa porque EU NÃO SOU UMA BOA PESSOA.
Não se assustem, não costumo fazer isso na casa dos amigos; podem me convidar para o chá. (escondam os biscoitos, though)
Acho legal quem consegue fazer um “what’s in your bag” todos os meses e sempre ter coisas diferentes lá dentro. No máximo, eu consigo trocar a bolsa e a capinha do iPhone. Eu nem costumo sair com essa bolsa aí embaixo, mas ela estava na mala quando fui para a França (usei como necessaire para levar maquiagem e cremes). Até porque isso não é uma bolsa, é praticamente um cupcake.
1. bolsa @ Camden Market, 2004
2. gloss Chanel, caneta de origem desconhecida, labello fruit shine, bonequinha da Bécassine lá de Dinan, Margarido Guineto (o gnomo viajante), boneca da moranguinho também de Dinan, chave da minha escrivaninha, que não deveria estar na bolsa.
3. régua verde (?) de origem desconhecida, telefone, pó compacto Chanel, porta moedas Accessorize, caixinha de balas de uma lojinha de souvenirs em Cancale, chaves de casa, carteira Vivienne Westwood.
4. luvas Warehouse, agenda coreana daTopshop, óculos H&7M, caixinha dourada com bombom que ganhei no hotel, chicletes.
Não consigo sair de casa sem guarda chuvas (anos vivendo num país onde o tempo podia virar de repente; e não é diferente no país atual), mas esqueci de inclui-lo na foto. E o que não costuma faltar na sua bolsa?
Agora um close na latinha, que veio cheia de balas e eu vou usar para guardar meus analgésicos de estimação (hipocondria):
Os macarons de Dinan – os de salted caramel já haviam “esgotado”…
E a pequena Bécassine – devia ter comprado outras; elas são difíceis de achar. Não resisti a esse modelo com a mala, viajante e dedo em riste – talvez reclamando das condições do banheiro dos aviões da Easy Jet…
E antes que eu me esqueça, resultado final da minha tentativa de bordar os personagens de O Clube dos Cinco (esse título é idiota; The Breakfast Club no original). A parte de trás do bordado ficou uma zona, mas não me importei muito porque afinal era um quadro e a moldura esconderia a barafunda. Na próxima vez preciso me lembrar de usar um bastidor enquanto estiver bordando, para manter a tensão do tecido constante – dá para ver no quadrinho aí embaixo que o pano ficou meio franzido em algumas áreas. Enfim. ANOS que eu não bordava nada em ponto de cruz. Acho uma das técnicas de bordado mais bacanas, rápidas e fáceis de aprender. :) Próximo projeto é bordar a turma de A Garota de Rosa Shocking (outro título idiota, dessa vez para Pretty in Pink).
Da última vez que fui ao Rio entrei na papelaria que eu costumava frequentar quando estava no segundo grau. A escola ficava no meio do caminho entre a minha casa e o centro da cidade, e várias vezes eu e minha pequena turma de proscritos íamos bater perna e olhar vitrines depois da aula. Não lembro ao certo, mas acho que o horário da saída era às 11:45m. Ou seja, todo mundo com fome. Nunca me esquecerei da pizza gorda, gordíssima, coberta de mozzarela e tomate, inchada de tanto fermento na massa, que afogávamos de catchup e mostarda e coca cola gelada – ou, se a grana estivesse curta, um daqueles refrescos de máquina sem sabor definido, que alguns candidamente intitulavam “suco de amarelo”.
Nosso point favorito era a lanchonete que ficava nos fundos da Magal, logo antes da seção de brinquedos. A Magal (O Magazine Total!) era uma pequena rede de lojas de departamento carioca provavelmente direcionada às classes C e D. O domínio ainda existe, mas parece estar fora do ar. A Magal resistiu aos tempos modernos? Não sei, mas é certo que ela sempre existirá enquanto nos lembrarmos dela – e enquanto alguém se der ao trabalho de postar o jingle no YouTube.
Na papelaria (que dessa vez não era a Magal, e sim a Prolar, que veio um pouco depois) comprei três canetas; CIS ultra fine nas cores azul, preta e vermelha. Muito parecidas com a minha caneta favorita de todos os tempos, a Futura da Paper Mate. Igual a esse exemplar aí embaixo, só que eu preferia a versão com ponta extra fina, número 0.5.
Essas canetas escreveram (e desenharam) todos os meus anos 80 e 90. Em folhas de caderno, mesas de escola (borrando a fórmica se a gente não esperasse secar antes de enconstar a mão), sulfites reaproveitadas, contracapas de livros didáticos, mãos (pra que esmalte, se você pode pintar suas unhas de hidrocor, que não lasca? pra que tatuagem, se você pode mudar de idéia quanto ao desenho e apagar a tinta da caneta no banho? com 11 anos nada é eterno anyway), membros engessados dos amigos mais velhos, “arte” personalizada em mochilas e jeans, “cadernos de perguntas” onde segredos se misturavam a ficções elaboradas para impressionar ou disfarçar verdades desconfortáveis, camisetas no último dia de aula do último ano do segundo grau, a partir de onde novos caminhos precisavam ser escolhidos, com a confiança de quem acredita que é possível traçar destinos.
Novos amigos por fazer, novos cadernos para começar, novas dores de crescimento para afogar em poesia ruim e cerveja barata. Os nomes sendo anotados às pressas na camisa de malha suada, os desejos de boa sorte, números de telefone para não perder contato (que seria perdido, sim, sem ser excessivamente lamentado), brincadeiras e gozações, versinhos cafonas, desenhos… Quase sempre com a caneta Futura, que não “falhava” tanto quanto as esferográficas. Sempre sem perceber, no meio da algazarra, excitação e antecipação pelos três meses de férias, que estávamos crescendo e talvez deixando para trás os melhores anos das nossas vidas.
Acho uma bênção que crianças não tenham noção disso. É um carinho da vida (um dos poucos que receberemos dela) que, nessa idade, a gente não consiga ouvir o tic-tac do relógio guiando nossos passos para a eventual decepção.
Eu ainda tenho a minha camisa do último dia do último ano. O cheiro dos ovos e da farinha, que me acertaram de raspão quando eu corria tentando me esconder atrás de uma pilastra, não existe mais. A tinta hidrocor, com os anos, transformou todos aqueles desejos, planos, poesia, brincadeiras, pirocas com olhinhos e números de telefone num borrão monocromático. Comprei as canetas, clones mais baratos da original, sem a alça metálica com o logotipo de corações da Paper Mate. Elas não substituem, é claro. E não há nenhuma camisa onde deixar meus votos de felicidade, sorte na vida, “saúde, dinheiro e homem bonito” – que era o que eu escrevia para as amigas. As canetas de hoje são o máximo que eu posso ter, e até que não são muito diferentes da Futura em termos de desempenho. Trouxe pra casa na sacola plástica da loja e não consegui jogar fora a notinha. São bem parecidas mesmo. Enquanto escrevo, a caneta desliza macia sobre o papel, desenhando o caminho já percorrido e tendo à frente o que parece ser uma eternidade de vazio para preencher. Se eu fechar os olhos é quase igual.
É fevereiro, bitches. Hora de começar a dieta a sério; aquela que devia ter sido iniciada – e mantida – mês passado. Hora de tentar dar mais atenção a esse abandonado espaço virtual. Alguns de vocês já devem ter percebido que eu deletei algumas coisinhas virtuais que vinha acumulando nos últimos anos. Projeto Limpeza Digital 2011 a todo o vapor.
Em 2011 eu quero ler mais livros, assistir mais filmes, falar com mais pessoas (só as queridas, porque a vida é curta demais para ser desperdiçada com estranhos mal educados), produzir mais (fotos, textos, crafts, receitas…) e perder menos tempo fazendo coisas por obrigação fingindo que é por prazer. Essa armadilha em que a gente sempre acaba caindo de vez em quando, na vida.
Então eu vou mudar o layout desse site, vou postar com mais frequência (mas sem muita falação), vou tentar procurar coisas bonitas para compartilhar e, se possível, criar algumas delas também.
Feliz Ano Novo atrasado para todo mundo, mas nunca é tarde pra começar.