Happy Halloween! (adiantado porque viajo amanhã e não sei quando volto).
Faltam apenas alguns dias, mas já é All Hallows’ eve pelas janelas, portas, quintais e muros. As lojas não sabem exatamente o que estocar: coisas laranjas e pretas OU coisas vermelhas e verdes. Adoro o fim do ano e todas as festas que vêm com ele.
Estou indo ver o Morrissey com a Márcia amanhã, depois seguimos para o Lake District e então vou para Paris com a Flávia. Depois não sei. Literalmente, não comprei a passagem de volta. :) Continuaremos nesse mesmo bat local (e no outro) sempre que humanamente possível. Inté!
A summerhouse progride a passos lentos. Na semana passada, Respectivo finalmente montou a prateleira abaixo da janela (usando sobras de madeira da própria casinha), e eu pintei de branco. Seguem algumas fotos, meio escuras porque no meio da sessão fotográfica o tempo fechou e de repente fez-se a escuridão sobre a terra. Haja ISO 1600.
A função da prateleira é servir de mesa, aproveitando a luz natural da janela. Nela vou poder usar o laptop ou a máquina de costura, assim que instalarmos luz.
O vaso branco era um vidro de cebolas em conserva. Pus um pouco de tinta a óleo branca dentro, tampei o vidro, sacudi e depois despejei a tinta de volta na lata. As flores são hortênsias que colhi no jardim e deixei secar. As velas são da Ikea, de vários natais atrás. A “toalhinha” de mesa é um pedaço de broderie anglaise (bordado inglês). Não vai ficar ali. O porta velas e o oil burner eu comprei na festa da Cidra.
Esse quilt (é uma almofada, não uma toalha de mesa…) veio do Ebay. Chegando em casa, vi que era muito grande. Não acredito que seja possível encontrar um “recheio” de almofada pronto desse tamanho; talvez uns travesseiros funcionem. Oh well. Pelo menos foi baratinho, para uma coisa feita à mão nos EUA.
Achei esse coração feito de gravetos da Gisela Graham numa lojinha aqui em Jersey chamada The Gooseberry Bush. Vou decorar com fitinhas, folhas e ramos de holy.
Sim, holy; elas já chegaram. O natal está, realmente, logo ali.
Ontem fui à Festa Anual da Cidra em Hamptonne, que se repete todos os anos na época da colheita das maçãs. A cidra é uma bebida bastante popular por aqui, mas que nada tem a ver com aquela modalidade gasosa e doce que nós brasileiros, em pelo menos algum momento da vida, já bebemos no Natal. A cidra inglesa, pelo menos a natural, não tem gás e seu sabor é bem mais seco.
Fiquei boquiaberta ao ler que a média de consumo de cidra na Inglaterra já chegou a dois litros DIÁRIOS por pessoa (incluindo crianças e mulheres). Durante o período vitoriano a qualidade da água obtida nas cidades era bastante ruim (sistema de esgoto sendo um conceito desconhecido). A população era obrigada a se jogar no álcool, já que o processo de fermentação extermina as bactérias e torna a bebida mais segura. Afinal de contas, melhor destruir o fígado lentamente e morrer de cirrose hepática aos 25 anos do que de perecer numa crise de diarréia aos três.
E agora chega de aulinha fajuta de História e vamos aos pixels. :) Perdoem as fotos meio fora de foco e mal compostas mas, sinceramente, depois de três pints de cidra artesanal, nem Annie Leibovitz faria melhor. *HIC*
Cidra + “bean crock”, uma espécie de feijoada incluindo vários tipos de feijão e miúdos de porco; comida de trabalhador rural e, como tal, muito boa.
Queijos fabricados em Jersey + porco inteiro no espeto, cujas fatias são servidas com pão, purê de maçã e uma massa feita com ervas, cebola e pão, que também é usada para recheadar assados.
E aqui, os porquinhos ainda crus. :D O porco ali atrás resolveu acordar no meio da sessão fotográfica e se encaminhar para a tigela de comida, passando por cima dos outros e acordando todo o chiqueiro no processo. Classe suína.
Jersey Wonders – As maravilhas de Jersey (e o cartaz escrito em antigo jerriais).
Jersey Wonders = um tipo de pãozinho doce e bem fofo, frito em óleo fervendo e polvilhado com canela e açúcar. Lembra um milhão de coisas sem nome que comi com café na infância – mas não, não tem nada a ver com rabanada. Ei-las – não pude fazer uma foto melhor porque a velha chata que tomava conta da bacia estava me olhando torto… Nesse ângulo parece cocôs de cachorro.
A obrigatória barraquinha de geléias e conservas. Levei um vidro pequeno de “Black Butter”, que não é manteiga e nem mesmo preta, mas sim um creme espesso e marrom escuro, obtido ao se cozinhar maçãs em fogo baixíssimo por hooooras. Perfeita com aquele queijo brie lá em cima. ;)
Vaquinha fake para treinar ordenha.
Cantoria obrigatória – melodias vitorianas entoadas em Jerriais.
Castanhas assadas na hora, 50 centavos o saquinho. O cheiro pelo menos estava ótimo e meu pai teria adorado.
O subproduto da fabricação da cidra: depois de amassadas por uma imensa roda de pedra, as maçãs são prensadas e o suco estocado em tonéis de madeira para fermentar. O que sobra é utilizado para alimentar animais ou para produzir Black Butter. Nada se perde, tudo se degusta.
Como se eu não tivesse me entupido de bean crock, porco assado e cidra durante o dia, à noite eu tive que provar as compras. Controle de qualidade. ;)
Ok, a aparência do queijo é estranha, ainda mais quando você se lembra de que essa cobertura na verdade, são fungos. Yummy.
Mas aí a gente corta o dito cujo e se depara com essa textura maravilhosa e amanteigada.
Vem cá, meu funguinho querido. I love you.
Agora vou ali me enfiar com isso tudo + uma taça de vinho do Porto debaixo de um edredon no sofá, acender a lareira e agradecer aos céus a chegada do frio.
Queria mostrar às moças bonitas que me lêem que o Flamingo Pink da Barry M será meu esmalte preferido para o verão 2010 e ainda combina com a minha blusa:
De vez em quando, muito de vez em quando, tenho vontade de escrever mais aqui. Sobre assuntos diversos, como eu costumava fazer anos atrás. E costumava agradar, tanto que meus blogs sempre foram bem visitados. Claro que sempre existiam os mais sensíveis, que ouvem críticas sinceras e bem intencionadas (se é que isso existe…) como se fossem julgamentos de caráter e se rebelam ou se afastam; não sinto saudades. O que sinto, de vez em quando, é a garganta entalar com alguma coisa, pessoa ou acontecimento e me parece que seria saudável externar uma opinião, nem que fosse para resolver o assunto na minha cabeça. Já que, pelo menos até o final da década passada, blogs também serviam como catarse, e não apenas para mostrar fotos bonitas, falar mal de celebridades ou trocar a própria opinião por pedaços de plástico colorido.
Mas aí eu me dou uns dez minutos e esqueço. Completamente. E prefiro creditar isso à falta de importância do assunto, não ao Alzheimer precoce que já me preocupa (?).
O fato é que, nessa época multimídia em que vivemos (onde todo mundo pode ir ali no wordpress ou twitter e criar seu próprio palanque virtual a preço de ocasião: grátis), todo mundo parece acreditar que precisa ter uma opinião sobre todo e qualquer assunto, de preferência negativa, e que precisa externá-la a qualquer custo. Eu também, oras. Dar pitaco é divertido, quase irresistível, e é difícil fazer silêncio quando todos ao seu redor estão gritando; parece que, calado, você se torna invisível e desinteressante. Sendo expostos a essa vastidão de informação, temos dois caminhos a seguir: mergulhar nela e tentar processar e regurgitar o máximo possível ou fechar o browser e ir tirar um cochilo. Confesso que invejo cada vez mais quem opta por dormir, e tenho procurado fazer isso. Pelo que mais não seja, minhas olheiras diminuíram consideravelmente.
Hoje em dia, os únicos blogs que acompanho são de amigos ou os que eu chamo “inspiracionais”: pouco ou nenhum blá blá blá escrito e muitas fotos bonitas, poesia ou links interessantes. Dificilmente deixo comentários, então quase ninguém sabe que leio. Absorvo o máximo que posso e saio revigorada e cheia de idéias; algumas dessas coisas vêm parar aqui, porque é da natureza humana querer compartilhar coisas bonitas.
De resto, quando decido dar um passo fora da trilha demarcada e me encontro num desses “blogs opinativos”, acabo me sentindo irritada e cansada. A leitura é difícil, pesada, cheia de expletivos, negativismo, reclamações, acusações. Ou longas listas de dicas para se tornar uma pessoa perfeita, bacana, adaptada, bem resolvida e justa. Como se fosse possível. E como se quem escreve esses “manuais de comportamento humano” fosse tudo isso e estivesse apto a ensinar. Exatamente como eu fazia e, às vezes, acabo fazendo de novo (humanos, né? Errar é o nosso destino). Só que no fundo eu sei que qualquer coisa que eu diga, conclua ou critique, não passa de mais do mesmo. E sinto que envelheço e não tenho mais tempo para ser apenas mais uma voz brigando para ser ouvida.
Acredito que os autores estejam fazendo algo de valor (ainda que para si próprios, o que é justo) e não vou negar a importância do discurso. Mas, ao mesmo tempo, sinto que já passei por essa fase anos atrás, já vi, li e escrevi tudo isso antes e não pretendo passar mais dez anos repetindo senso comum e a piada de ontem travestidos de grande novidade. Não sinto mais vontade de publicar minhas verdades como se elas fossem algo mais do que as minhas verdades ou como se fossem mudar alguma coisa ou alguém. As coisas e pessoas mudam quando estão prontas para isso. Minha adolescência (física e mental) acabou. Acho que agora vou optar a voltar a ser criança e me deixar encantar por coisas pequenas, como essa última borboleta de verão pousada na minha janela. E que voou antes que eu conseguisse pegar a câmera para fazer uma foto.
Ela também sabe que tem pouco tempo pela frente (as noites de outono cada vez mais frias). E que as coisas realmente importantes não conseguem e nem precisam ser registradas, explicadas, analisadas, esmiuçadas, criticadas ou consertadas. Vivê-las, ainda de que forma imperfeita, basta.
O verão finalmente se foi. Os dias já estão mais curtos e frios, as árvores já começam a mudar de cor e perder folhas. No sábado ventou muito – o que, combinado a uma bituca de cigarro largada por algum descuidado, acabou causando um incêndio numa parte da ilha. O vento também precipitou a “mudança de roupa” de algumas árvores. Enquanto eu começo a vestir casacos elas começam a fazer strip tease para o inverno.
Quero agradecer a todo mundo que manifestou simpatia pela operação do meu pai. A cirurgia foi adiada (por motivos que não ficaram muito claros para mim), mas vai acontecer em breve. Até lá, ficarei nervosa e torcendo. E agradecendo sempre o apoio emocional de vocês. :)
Num dos últimos fins de semana de sol resolvemos ir pela primeira vez ao Bistro Soleil, que foi bem recomendado e tem uma área externa com vista para a praia de St Aubin.
Essa foi a minha sobremesa. Tiramisu com sorvete de café. Estava muito bom, mas eu decididamente não sou uma formiguinha. Larguei metade do doce e nem toquei no sorvete.
Mas fiquei cobiçando os queijos do Respectivo. Não sou uma formiguinha, sou uma rata. AMO queijo. Troco todo e qualquer doce por uma tábua de queijos molengos e fedidos.
Castanhas sempre me lembram dele, que simplesmente as adora. Todo natal ele trazia do supermercado para casa um saco enorme delas, duras feito pedra, para assar no forno. Eu nunca gostei muito de castanhas; o sabor rico e a textura amanteigada me enjoavam, então meu pai era “obrigado” a dar cabo de tudo. Eu não me importava e na verdade até evitava comê-las para que sobrassem para ele. Me divertia vê-lo feliz da vida sentado na sua poltrona predileta, a tigela quente de castanhas assadas repousando no colo.
Depois que minha mãe saiu de casa (e eu também, meses depois), meu pai nunca mais comprou castanhas. Não era apenas a comida; era o ritual familiar, e talvez ele não visse mais sentido em se dar ao trabalho, estando sozinho. Fico triste por ele quando penso nisso. Anos se passaram e eu vim parar num país onde nem é preciso ir ao supermercado para comprar castanhas; elas caem das árvores no meio da rua e acabam esmagadas por carros ou cavalos se não forem colhidas. Tenho algumas árvores no meu quintal, e quando chega a época certa do ano elas salpicam castanhas na varanda em cima da garagem.
Todos os anos eu lembro do meu pai na época das castanhas.
Hoje ele vai passar por uma pequena cirurgia. Nada dramático, mas sempre uma preocupação quando se passa dos 70 anos. Estamos planejando trazê-los (minha mãe também) aqui no fim do ano, para que possam saber como é o Natal num lugar onde todas aquelas decorações invernais, incluindo renas e flocos de neve, fazem algum sentido (não fazem nenhum num país onde a temperatura média frequentemente ultrapassa 40 graus em Dezembro).
E, pai. Fique bom logo. Mais uma vez, como antes, eu vou guardar todas as castanhas do Natal para você.