Itália, ano passado.

O casal que vos escreve passava férias de verão na Sicília, aquele lugar mágico, cuja orla de um azul impossivelmente saturado é cercada por condomínios de luxo e hotéis cobrando diárias de mil euros, impossibilitando que locais e turistas pobres (eu) tenham acesso ao mar. Ainda bem que eu não gosto de praia e fui pra lá com o único objetivo de comer até explodir. E fui bem sucedida; perdi 50% do meu guarda roupa ao chegar de viagem.

Largamos o carro alugado num estacionamento em Taormina e fomos bater perna, comer coisas gostosas, comprar artesanato (o que coubesse na mala e no bolso) e fazer fotos. Na volta, o papel esticado no pára-brisa avisava que tínhamos excedido o limite de horas permitido (onde esse tal limite estava afixado, não encontramos) e por isso estávamos sendo multados; favor pagar até o dia XX na delegacia da região XX de Taormina, grato.

Problemas: estávamos indo embora de Taormina no dia seguinte para nos dirigir mais ao sul. Hotel reservado e tudo. Já começava a escurecer e encarei o prognóstico de me enfiar no carro e ir procurar o endereço da tal delegacia (não constava na multa) e depois tentar encontrá-la; admito que idéia de ir caçar uma delegacia àquela hora na Sicília não me pareceu convidativa. Enfiei a multa na bolsa para guardar de recuerdo e Respectivo riu: “Ok, a gente paga SE eles nos encontrarem!”

Bom, hoje a multa chegou na nossa casa. Mais de um ano depois.
Entrega especial, com assinatura requerida ao destinatário. A multa, em si, apenas oito euros. A cobrança, no entanto, era de quase 37 euros – atraso no pagamento, taxas de envio, etcétera. Sinceramente? Deve ter custado a eles bem mais do que isso em horas de trabalho descobrir nosso paradeiro e enviar a carta. Nota 10 em esforço investigativo, zero em custo-benefício.

Mas essa eu pago, né? Caso contrário eles mandam a máfia em peso atrás de mim se eu um dia voltar a pôr meus Loubotins na Sicília.

(by the way, não tenho Loubotins; gasto meu dinheiro pagando multas de trânsito hiperfaturadas)

Lembro que voltei da Sicília meio puta (por vários fatores, incluindo cidades que pareciam estar apodrecendo a olhos vistos e onde nada funcionava) a ponto de gastar metade de um batom da MAC rabiscando um xingamento na parede de um banheiro em Siracusa – shame on me. Mas o fato é que a Sicília precisa de tempo para ser digerida e compreendida. E no fim das contas, as muitas pequenas coisas boas se sobrepõe em número e em impacto às poucas coisas ruins. E são essas pequenas coisas que me fazem ter saudade e me fazem querer retornar um dia, mais sábia para evitar as roubadas e mais paciente com o ritmo desacelerado da vida dessa gente tão orgulhosa da sua cultura.

O que me faz lembrar imediatamente do pequeno restaurante italiano em Londres, que tem sorte de contar com uma excelente cozinha, ótimo vinho e um garçom que, ao ser perguntado por um turista americano se ele era italiano, ergueu o nariz levemente indignado e respondeu, na lata: “no – i’m sicilian”.

Should we talk about the weather?

Parece que o “verão” quer mesmo nos deixar; chove agora e choveu o dia inteiro. Depois do feriado de sol e calor, a temperatura já voltou ao padrão que se repetiu mais ou menos a semana passada inteira: tempo nublado e pancadinhas de chuva ocasionais. Digo “pancadinhas” porque a chuva aqui é meio diferente da brasileira. É mais quieta, reservada, não gosta de fazer alarde. Mais ou menos como os ingleses – os clássicos, como aqueles estereótipos que a gente tem na cabeça na forma de um senhor de meia idade em seu terno bem cortado, num ônibus vermelho de dois andares indo para a casa, onde lhe espera uma xícara de chá em frente da TV, assistindo a uma comédia antiga da BBC. Esse inglês praticamente não existe mais; uma pena. Mas a chuva britânica, ah, essa continua a mesma.

Em São Paulo, no show do Damien Rice em que fui com a Julie, tive que rir quando ele, depois de chegar meio assustado no meio de uma típica pancada de chuva de verão, disse algo nos moldes de “chove muito lá na Irlanda, mas NÃO ASSIM!!”. Hahaha, é verdade. A chuva aqui costuma ser chatinha, insistente, aquele plic-plec quase inaudível na janela por horas, dias, semanas. Isso quando faz plic-plec. Na maioria das vezes os pingos são tão finos que nem fazem barulho, e a gente só sente a suposta chuva quando sai na rua e aquela sensação de “ar úmido” nos envolve. O que não quer dizer que não existam tempestades por aqui; é que elas são mais raras.

Gosto de um bom temporal à brasileira, daqueles que encharcam tudo em volta, criam poças enormes e uma sinfonia de trovões, despejam mini enxurradas ladeira abaixo e fazem subir aquele cheirinho pós-chuva de terra molhada; tudo bem latino e emocional. Mas não gosto quando derrubam casas, alagam cidades e matam pessoas, no entanto. Mas assim é a vida; gostar das regras é opcional.

Então, aproveitando os últimos dias de verão disponíveis (nunca se sabe quando vão acabar) aceleramos os trabalhos na summer house e ela está praticamente pronta:

Falta pintar o teto e pôr vidro na porta e nas janelas. Depois vem a “mobília”; estou pintando de vermelho uma pequena cama antiga de solteiro que andava jogada por aqui, e vou fazer também uma mesa na frente da janela e prateleiras.


Sim, isso aí em cima é mesmo um penico de louça. Comprei numa car boot sale e está sendo usado como vaso de plantas; minhas begônias agradecem! A pequena xícara eu ganhei de brinde por ter comprado o penico; fim de feira, a dona devia estar a fim de se livrar de peso morto. Enquanto eu colocava os dois na bolsa, ela avisou: “não confunda os dois, hein!”.

Sim, minha senhora. Pode deixar. Eu não vou tomar café no penico e fazer xixi na xícara. Grata por se preocupar.

Os vasinhos vieram de um supermercado e foram escolhidos pela cor e pelos coraçõezinhos vazados estilo escandinavo. Ainda não sei se vão guardar flores ou velas perfumadas (não sei se a casinha vai ter eletricidade; caso não tenha, velas serão a única iluminação possível. Romântico!).

Pelo visto essa “summer house” só vai ser aproveitada no próximo verão. Porque o tempo lá fora já tem cara de outono e posso ver as primeiras folhas amarelas de 2009. Well, whatever. Nevermind. Hora de ir ali colocar a chaleira para ferver, calçar meias de lã e assistir a mais um episódio de Fawlty Towers ou Blackadder. :)

P.S.: Quase ia esquecendo de agradecer a todo mundo que me indicou no BlogDay! Esqueci da data e também sempre achei difícil indicar apenas cinco… O que deixa ainda mais envaidecida em ver tanta gente bacana me indicando. Muito obrigada! Nem sempre dá pra encontrar todo mundo que me linka (não tenho mais contador de visitas); então, se você me indicou, ou se tem o Hello Lolla nos seus links, avisa aí nos comentários porque eu quero conhecer o seu blog também. :)