Há uns mil anos atrás eu tinha essa correspondente (penpal, amiguinha por carta, chame do que quiser) da Bélgica que, em uma das caixas cheias de inutilidades regionais fofas que costumávamos trocar, me mandou um sabonete da Lush. O cheiro era bom, até hoje eu tenho a caixa e o cheirinho de morango continua lá.
Essa verdade não se pode negar; os produtos da Lush têm um cheiro INCRÍVEL.
Mas pára por aí.
Passei por acaso na loja da Regent Street com a F. e resolvi trazer umas coisas cheirosas para casa. Nada ali é exatamente barato, então não pirei e escolhi a dedo o que me interessava. Comprei duas “massage bar” (sabe-se lá o que isso significa, mas fui informada de que era um nome estiloso que deram para sabonete), um pote de creme de limpeza com algas marinhas e um vidro pequeno de sabonete líquido com aparência e cheiro de sorvete de morango.


Aí estão as massage bars (como comprei duas, ganhei essa latinha fofa de presente). A primeira, em forma de coração e “sabor” chocolate branco, tinha mesmo cheiro de chocolate branco. A segunda tinha forma de favo de mel (adivinhe o cheiro?). Pois bem, fui cometer a asneira de entrar com uma delas (a de chocolate) no chuveiro.
Assim que esfreguei na pele, fui coberta por uma camada grossa de GORDURA. Sério. Agora eu sei como se sente uma galinha depenada, sendo preparada para o forno e lambuzada de manteiga. Nojento define. E nada da banha sair ralo abaixo. Fui obrigada a passar a mão num sabonete de verdade para emulsificar a gordura; só assim me livrei de ir pra cama parecendo um pastel de feira.
E agora vem o melhor: pelo menos 25% do “sabonete” simplesmente desapareceu no banho. Além de deixar a pessoa amanteigada, o negócio acaba depois de quatro utilizações rápidas (essa parte nem é tão ruim, vai). É claro que não experimentei a barrinha de mel; vai que, além de ficar engordurada, eu também acabasse ficando DOCE? Há limites para tudo nessa vida.
Tempos depois eu fico sabendo que o vendedor era meio burro e me orientou errado. Sim, senhores – essa porra NÃO ERA um sabonete e sim um HIDRATANTE EM BARRA. Agora sim, faz todo o sentido do mundo. A vontade de voltar na loja, caçar o hipster magrelo que me vendeu hidratante como se fosse sabonete e jogá-lo dentro de um latão de banha foi grande, mas me contive. Banha tá cara.


Aí em cima, o “creme de limpeza” e o sabonete líquido. Lavei o rosto uma única vez com o creme, segundo instruções do pote. Ao estabelecer contato com a água morna, o negócio se transformou numa gosma que derreteu e escorreu pelo pescoço, meu rosto ficou branco e COBERTO de farelinhos verdes de algas marinhas. Como não tenho vocação pra Pequena Sereia, passei meia hora retirando farelo por farelo à unha. Meu rosto não ficou mais limpo do que estava antes e o produto NÃO removeu os restos de maquiagem, como prometia. Pelo contrário, borrou o resto de rímel da noite anterior e, somado com os farelos verdes e a gosma branca, eu fiquei A CARA do Tio Fester depois de vomitar um repolho.
O produto menos ofensivo do lote foi o sabonete líquido. Cheiro bom e textura decente, pena que, oi, NÃO FAZ ESPUMA. E infelizmente JÁ ESTÁ fora da validade; o vidro foi deixado na prateleira mesmo depois de estar vencido há dois dias.
Dizem que os cosméticos da Lush, por “não terem conservantes”, devem ser mantidos na geladeira e consumidos rapidamente. Ou seja, safadeza da loja deixar um item fora do prazo de validade exposto aos clientes desavisados (a data de fabricação estava escondida atrás de uma etiqueta com uma “caricatura” do funcionário que havia misturado os ingredientes daquele produto).
É. Algumas lembranças ficam melhor no passado, onde elas pertencem e dividem o apartamento com a ilusão e a ignorância. 18 libras MUITO BEM desperdiçadas; me ensinaram de uma vez por todas a comprar sabonete no supermercado e creme de limpeza na farmácia.
Pfe.