Aleatórias da semana.

Fiz um bolo que tinha tudo pra ficar lindo (bati claras em neve e tudo, vejam só) e ele SOLOU amargamente. Não exatamente por culpa minha e sim do forno, que está desregulado. Essa é a minha desculpa e estou me agarrando a ela, ok? Comecei a assar e só levou cinco minutos para que a crosta ficasse marrom bombom com manchas pretas na superfície e o resto da massa completamente crua. Tirei às pressas do meu forno precário e o transportei para o da sogra, cruzando o quintal segurando a fôrma com luvas de cozinha . O bolo terminou de assar, mas não ficou tão fofinho como eu esperava. Resolvi o problema fazendo uns furos com garfo e despejando em cima uma mistura de leite, açúcar e essência de baunilha. Está comível e come-lo-ei com chá.

E, por falar em chá, como você prefere o seu? Forte, fraco? Com ou sem leite? Limão? Uma ou duas colheres de açúcar, ou açúcar nenhum? Biscoitinho? :)

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Essa xícara é uma gracinha e encontrei por £4 na BHS. Já as colheres de prata (super oxidadas; preciso limpar) eu encontrei no fundo de uma caixa de papelão cheia de tralhas aqui em casa mesmo. Ah, as surpresas das “vidas passadas” do Respectivo. Nem ele sabe de onde são. Excelente: assim não preciso devolver caso não pertençam à família.

image Minha mãe pergunta ao telefone se Michael Jackson era brasileiro, “porque ele era preto”. Eu não soube por onde começar e nem se deveria. E depois cerumanos SE ofendem e me xingam nos comentários quando digo que mamãe é master em formular perguntas genialmente imbecis. Nada mais que a verdade, minha gente. Uma qualidade a ser admirada.

image Adoro essas fitas adesivas japonesas feitas de papel hashi. Viraram febre entre as blogueiras artesãs e eu, que piro fácil em qualquer artigo de papelaria diferente e colorido, também quero. (mais variedade na loja japonesa)

image Arruine a dieta daquela sua amiga sofisticada e fashion victim: dê a ela cupcakes Chanel de presente! (a Maison não tem nada a ver com isso e nem deve ter gostado; afinal, moças que comem cupcakes não vão caber nos terninhos tamanho 0 da loja)

image Essas fotos lindas de um autêntico mercadinho de velharias francês. Daria o dedo mindinho para estar lá e comprar esse jogo de porta mantimentos quadriculado vermelho e o boneco do elefante Babar.

image Descubra por que vampiros não podem usar maquiagem (do ótimo See Mike Draw)

image Esse comentário sobre um post no Fuck My Life. Triste mas verdadeiro.

image Sabe aquelas padronagens na parte de dentro de envelopes contendo saldos bancários, contas de luz, etc, que a gente encontra e descarta sem nem olhar? Esse set no Flickr mostra como eles podem ser artísticos e lindos. (nunca mais vou olhar para um envelope comercial do mesmo jeito)

image A voz aveludada de um Michael Jackson ainda adolescente cantando “Happy”. Linda música, porém quase irônica ao ser interpretada por alguém que talvez nunca tenha sido verdadeiramente feliz. (será que eu já fui? talvez a gente nunca saiba ao certo)

Coisas que não entendo.

Marmelada. De LARANJA. It doesn’t sound right.
Porque no Brasil a gente tem a fruta chamada MARMELO e convencionou-se chamar de “marmelada” o doce feito com ela. Mas existe marmelo na Inglaterra, também; só que ele se chama quince e seu doce, “quince jelly”. Erm.

SEMPRE que vou comer em algum lugar (principalmente o famoso – e tão desprezado pelos brasileiros – english breakfast) e eles nos trazem aqueles potinhos pequenos de “orange marmalade”, “lemon marmalade”… eu balanço a cabeça. E, mentalmente, começo a cantar:

Marmelada de banana,
bananada de goiaba,
Goiabada de marmelo,
Sítio do Pica-Pau amarelo

Foto feita na janela da cozinha da sogra, na casa onde morei por um ano (antes de a véia vir para Jersey), esperando a reforma da nossa casa ficar pronta. A casinha fica acima da garagem mas, como o terreno é em aclive, ela tem um jardim convencional atrás (a geografia aqui é meio complicada, porém interessante). Da janela da cozinha (onde está o pote de marmelada) e da varanda da frente, tem-se uma visão completa da frente do meu cafofo, e eu passei aqueles mais de 12 meses observando de lá o desenrolar da obra, as janelas sendo pintadas de azul, torcendo para que ela acabasse logo e eu pudesse, enfim, ir pra casa.

E, por fim, mudando de alho para bugalhos; o que fazer com os seus potes antigos de Bonne Maman? Reciclar, lógico. São bonitos demais para se jogar fora; o vidro sextavado, a tampinha com cara de toalha de piquenique. Eu uso os meus para guardar coisas bonitas. Como por exemplo as flores de fita que fiz:

Pronto, os potes já têm uso.
Falta eu achar alguma utilidade prática para as flores; sugestões?

London Food

Quem encara o 9 às 5 diário aqui raramente almoça; afinal, a pressa é inimiga da digestão. A não ser quando se trata de um almoço com clientes, a maioria acaba pegando um daqueles combos de “sanduíche + bebida + batatinha frita” que se encontram à venda em lugares tão díspares quanto drogarias e livrarias. Quem estiver disposto a gastar um pouco mais (e ter lugar para sentar), procura por lojas de rede como Starbucks, Nero, Pret A Manger, EAT, Costa e similares, que se espalham feito praga pelas metrópoles.

Dessa vez fui experimentar a EAT. Eu estava na TopShop de Oxford Circus, com uma cesta cheia de meias e camisetas, morrendo de cansaço e fome e querendo fazer xixi. O café, que fica dentro da loja, me oferecia sofás acolchoados, banheiros limpos e estava bem ali na minha frente; eu nem precisava enfrentar a fila pra pagar minhas compras e sair da TopShop para procurar um café. Nem pensei duas vezes. Minha escolha: sanduíche de peru com frutas silvestres (cranberries, e o Google me traduziu como OXICOCO. Socorro), coca cola e um singelo cupcake rosa com uma florzinha de marzipan.

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Preço: pouco mais de seis libras. Veredito? Bastante aceitável.

Quando estou pelas imediações, costumo almoçar em chinatown. Muita variedade em termos de comida asiática, a maioria dos estabelecimentos bem descomplicada, no estilo bufê. Gosto do Wasabi, que não é chinês e nem fica em chinatown, mas deve ser a rede de sushi fast food mais famosa de Londres. Meu preferido é o da Oxford Street que fica quase em frente à Selfridges, com bastante lugar para sentar (desde que você chegue antes das 11 da manhã). Pegue um bentozinho de papelão, escolha os seus sushis (ou um bento já montado, ou um baldinho com carne + arroz ou noodles) e manda ver. :)

F. em chinatown desprezando a minha escolha de bebida. Mas esse suquinho de uvas verdes com pedaços de fruta é o paraíso geladinho por menos de uma libra.

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Para onde você olhe em chinatown, haverá uma vitrine de restaurante coberta de patos à moda de Pequim, só esperando um prato (novamente, vegetarianos, sorry pela foto):

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Lá você também acha lojinhas vendendo todo o tipo de tranqueira oriental, os docinhos com as embalagens mais fofas, centenas de balas, biscoitos e pudins com a Hello Kitty de garota propaganda e os “bolos de padaria” mais bonitinhos da cidade:

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Juro que um dia vou comprar um bolo desses só pra mim, e descobrir se eles são apenas bonitos ou também gostosos (dúvida que sempre me assola quando se trata de sobremesas orientais).

E quanto aos doces, dessa vez não pirei muito. Só comprei essas balas de leite (mastigáveis e viciantes), o suco de líchia (ok) e os biscoitinhos com cara de sorvete – meio sem graça, porém embalados individualmente em envelopinhos em tons pastéis. Ah, os japoneses…

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Outro restaurante oriental favorito é o Wagamama. Está por toda a parte e você pode esperar boa comida, preços acessíveis, cardápio interessante, mesinhas comunitárias (onde todo mundo se senta junto, o que não significa que você vai sair do restaurante cheio de amigos) e MUITA FILA nos horários e locações mais concorridas.

Eu, R. e E. chegamos já bem tarde, pouco antes das dez da noite (já estavam quase fechando), e o lugar estava quase vazio. Foi uma experiência única; acho que o mais perto que cheguei de um Wagamama às moscas foi em Earl’s Court, mas também porque o lugar não é central e eu cheguei no meio da tarde. De entrada, edamame beans cozidos com sal marinho em cima. Yummy:

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Eu não lembro, nem fotografei o que o E. pediu; mas a R. (que nunca tinha comido ali) confiou na minha dica e pedimos um chicken curry katsu, meu prato predileto do cardápio. Por sorte ela amou, se bem que a meu ver não tem como não amar arroz branquinho + fatias finíssimas de frango à milanesa super macio + curry bem leve e uma saladinha refrescante com molho delícia:

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Se você tem gostos mais patrióticos e não abrir mão de típica comida de boteco carioca quando estiver nos domínios de Lilibeth, também não precisa arrancar os cabelos. Pois em verdade vos digo: as melhores coxinhas que já comi na vida saíram todas daqui. E com guaraná Antarctica gelado ainda; o que mais você quer?

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Se você precisa matar a saudade de casa então corra para um dos muitos restaurantes “brazucas” (esse termo agride meus tímpanos, mas enfim) localizados em áreas como Camden, Kensal Green, Willesden, Kensal Rise, Charing Cross, Oxford Street… Desculpem as fotos sem foco e feitas às pressas; nós estávamos com fome!

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A caipirinha de morango é uma delícia, mas não vale o preço cobrado porque o copo tem mais gelo do que bebida; uma pena. A feijoada também é ótima, mas vem da cozinha com uma mixaria de farofa, que aliás tem cara de ser daquelas em saquinho da Yoki (talvez até seja), sem falar na quantidade ridícula de couve. Pelo preço eu esperava mais. Já o “snack platter” (bandeja de salgadinhos) é value for money; vem bastante coisa e, na foto, você pode ver F. em apuros para conseguir terminar o dela (é claro que nós ajudamos, hehe).

Outro porém foi o garçom, medianamente gatinho, que não quis nem por decreto dizer para as moçoilas solteiras e interessadas (tô fora desse grupo) que era de Portugal, mesmo com a cara de Manuel e o sotaque pesado. As meninas perguntaram de onde ele era, já que a maioria dos garçons dos restaurantes brasileiros é paulista, mineira, carioca ou goiana e estranhamos o maluco só falando conosco in english.

Manuel: “I’m from Europe”.
Lolla: “But where in Europe?”
Manuel (virando as costas): “I’ll leave you guessing, ora pois!”

(ok – o “ora pois” é piada)

Por fim, um cafezinho no Ritazza, pra descansar de tudo isso. Latte Macchiato na filial de Victoria Station, na companhia da edição de Julho da Nylon:

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♥ Relaxed.

Eu não entendo muito bem gente que diz adorar cachorros e detestar gatos. E vice versa. Wuem gosta de bicho, gosta de bicho. Assim, sem muitas condições e poréns. Não sou muuuuito fã de insetos, mas acho que nesse caso eu posso culpar picadas, alergias e inconveniências como mosca na sopa, abelha no refrigerante e formiga no bolo (uma regra fundamental para que qualquer bicho conquiste a minha estima: não mexa com a minha comida).

Mas é impossível não se sentir em paz com um felino adormecido ao redor. Pra mim, casa sem gato não é um lar.

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Gosto de todo e qualquer bicho, mas rola uma pendência sentimental para o lado dos felinos porque, assim como eu, eles sabem relaxar e curtir o seu próprio espaço. Cães são feitos de puro amor, porém mais agitados e dependentes. O meu completo oposto. Daí eu me derreter para eles na rua, mas não ter tanta certeza se um cachorro caberia na minha vida. Let’s see.

Nem lush, nem lixo.

Há uns mil anos atrás eu tinha essa correspondente (penpal, amiguinha por carta, chame do que quiser) da Bélgica que, em uma das caixas cheias de inutilidades regionais fofas que costumávamos trocar, me mandou um sabonete da Lush. O cheiro era bom, até hoje eu tenho a caixa e o cheirinho de morango continua lá.

Essa verdade não se pode negar; os produtos da Lush têm um cheiro INCRÍVEL.
Mas pára por aí.

Passei por acaso na loja da Regent Street com a F. e resolvi trazer umas coisas cheirosas para casa. Nada ali é exatamente barato, então não pirei e escolhi a dedo o que me interessava. Comprei duas “massage bar” (sabe-se lá o que isso significa, mas fui informada de que era um nome estiloso que deram para sabonete), um pote de creme de limpeza com algas marinhas e um vidro pequeno de sabonete líquido com aparência e cheiro de sorvete de morango.

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Aí estão as massage bars (como comprei duas, ganhei essa latinha fofa de presente). A primeira, em forma de coração e “sabor” chocolate branco, tinha mesmo cheiro de chocolate branco. A segunda tinha forma de favo de mel (adivinhe o cheiro?). Pois bem, fui cometer a asneira de entrar com uma delas (a de chocolate) no chuveiro.

Assim que esfreguei na pele, fui coberta por uma camada grossa de GORDURA. Sério. Agora eu sei como se sente uma galinha depenada, sendo preparada para o forno e lambuzada de manteiga. Nojento define. E nada da banha sair ralo abaixo. Fui obrigada a passar a mão num sabonete de verdade para emulsificar a gordura; só assim me livrei de ir pra cama parecendo um pastel de feira.

E agora vem o melhor: pelo menos 25% do “sabonete” simplesmente desapareceu no banho. Além de deixar a pessoa amanteigada, o negócio acaba depois de quatro utilizações rápidas (essa parte nem é tão ruim, vai). É claro que não experimentei a barrinha de mel; vai que, além de ficar engordurada, eu também acabasse ficando DOCE? Há limites para tudo nessa vida.

Tempos depois eu fico sabendo que o vendedor era meio burro e me orientou errado. Sim, senhores – essa porra NÃO ERA um sabonete e sim um HIDRATANTE EM BARRA. Agora sim, faz todo o sentido do mundo. A vontade de voltar na loja, caçar o hipster magrelo que me vendeu hidratante como se fosse sabonete e jogá-lo dentro de um latão de banha foi grande, mas me contive. Banha tá cara.

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Aí em cima, o “creme de limpeza” e o sabonete líquido. Lavei o rosto uma única vez com o creme, segundo instruções do pote. Ao estabelecer contato com a água morna, o negócio se transformou numa gosma que derreteu e escorreu pelo pescoço, meu rosto ficou branco e COBERTO de farelinhos verdes de algas marinhas. Como não tenho vocação pra Pequena Sereia, passei meia hora retirando farelo por farelo à unha. Meu rosto não ficou mais limpo do que estava antes e o produto NÃO removeu os restos de maquiagem, como prometia. Pelo contrário, borrou o resto de rímel da noite anterior e, somado com os farelos verdes e a gosma branca, eu fiquei A CARA do Tio Fester depois de vomitar um repolho.

O produto menos ofensivo do lote foi o sabonete líquido. Cheiro bom e textura decente, pena que, oi, NÃO FAZ ESPUMA. E infelizmente JÁ ESTÁ fora da validade; o vidro foi deixado na prateleira mesmo depois de estar vencido há dois dias.

Dizem que os cosméticos da Lush, por “não terem conservantes”, devem ser mantidos na geladeira e consumidos rapidamente. Ou seja, safadeza da loja deixar um item fora do prazo de validade exposto aos clientes desavisados (a data de fabricação estava escondida atrás de uma etiqueta com uma “caricatura” do funcionário que havia misturado os ingredientes daquele produto).

É. Algumas lembranças ficam melhor no passado, onde elas pertencem e dividem o apartamento com a ilusão e a ignorância. 18 libras MUITO BEM desperdiçadas; me ensinaram de uma vez por todas a comprar sabonete no supermercado e creme de limpeza na farmácia.

Pfe.

♥ Home away from home: three notes.

Apesar de eu estar a apenas 40 minutos de ônibus de Oxford Street, não posso dizer que “moro bem” em Londres. Com a quantidade absurda de sinais de trânsito + a lentidão com que os ônibus se arrastam naquela cidade, quarenta minutos significa que estou bem perto (fosse no Rio, dez minutos cobririam o trajeto). Estou no sul – south east, pra ser mais exata, na região administrativa de Southwark – numa área que faz divisa entre New Cross e Peckam, sendo esse último a atual capital do knife-crime no sul de Londres.

That’s right; a rapaziada se amarra em carregar facas no bolso e usá-las para intimidar qualquer um que tenha cara de bunda mole e não lhes esteja mostrando o devido “respeito”.

É claro que antes de me comprometer eu fiz o meu dever de casa e pesquisei na internet. E, quando até a Wikipedia te avisa que o lugar é heavy metal, melhor acreditar. Não faltaram pessoas me aconselhando a NÃO alugar ali, mas o preço era bom, a família idem e, barra pesada por barra pesada, eu morei no Rio de Janeiro.

Well. Dia seguinte à minha chegada, eu me encaminhava para o ponto de ônibus quando um rapaz veio caminhando na direção oposta. Já chegou falando e, através do sotaque estuário pesado, eu decifrei um “can you help me?”. Parei e logo percebi meu erro: ele desenrolou a velha história do “preciso de uma libra para inteirar a minha passagem e voltar pra casa” que eu, em condições normais, teria negado. Mas enfim; eu estava em Peckam, a capital Londrina de esfaqueamentos. Achei melhor puxar a carteira da bolsa, tirar dela uma moeda de uma libra e entregar. Foi quando ele disse “não, eu falei TRÊS libras”.

Fodeu.

EU: Querido, eu não vou te dar três libras. Eu também preciso de dinheiro para a minha passagem de volta, senão vou ter que ficar pedindo, igual a você.
ELE: Você não me entendeu, EU FALEI TRÊS.

A essa altura confesso que um leve pânico tomou conta de mim. A reação natural seria a de mandá-lo ir à merda de bicicleta e seguir o meu caminho; mas, e se ele tivesse uma faca no bolso? Continuei argumentando na esperança de convencê-lo (ou cansá-lo, o que viesse primeiro) quando olhei para o lado e, dentro de uma lanchonete de comida halal, vi dois homens de aparência árabe sentados no fundo, gesticulando na minha direção. Levei algum tempo para entender que eles estavam me aconselhando a não dar dinheiro nenhum. Na dúvida (e na falta de opção) acabei entrando na loja para tentar desencorajar o pedinte; só que ele entrou atrás de mim, e foi quando um dos árabes se emputeceu:

ÁRABE: Sai da minha loja! Sai ou eu vou ligar pra polícia!
VAGABUNDO: Não, ela vai me dar dinheiro!
ÁRABE: CAI FORA DA MINHA LOJA AGORA!!

O vagabundo não saiu, os xingamentos começaram a ser trocados e as cadeiras começaram a voar. Sério. O árabe enfezado passou a mão na mobília e começou a catapultá-la na direção do intruso; uma delas passou a uns vinte centímetros da minha cabeça. Quando o maluco finalmente achou mais prudente se retirar, fiquei sem coragem de sair; vai que ele estava ali fora me esperando pra me furar toda? Sentei numa das poucas cadeiras que ainda estavam no lugar e pedi uma coca cola. Enquanto o árabe brabo arrumava a loja, o mais quietinho me disse que aqueles caras viviam por ali esmolando e que eu não deveria ter dado dinheiro nenhum (falar é fácil, baby). Enquanto ele me aconselhava e eu bebia minha coca tentando recuperar o fôlego, chegou outro cara pedindo um take away de frango frito.

O árabe foi pegar o frango e o rapazola com lindos dreadlocks de jah ficou lá em pé, me olhando de cima a baixo com um sorrisinho cafa ISO9000 no rosto, cheio de segundas e terceiras intenções. Percebi. Olhei a lata de coca cola ainda pela metade e calculei o tempo que levaria pra chegar até a porta antes que o Don Juan do Caribe resolvesse me dirigir a palavra. Problema: o medo de sair e dar de cara com o Jack the Ripper da Nigéria.

Don Juan (sorrindo): What’s your name?
Eu: Sorry?
Don Juan: Your name.

Fodeu II.

Eu: Lolla.
Don Juan: Where are you from?
Eu: BRASIL.
Don Juan: Wow. Brazil.
Eu: …
Don Juan: So, do you live here?

E assim prosseguiu a “conversa” meio unilateral. Ele falava, eu sacudia a cabeça e sorria. Whatever, mate; deixa só eu terminar essa coca que eu vazarei daqui e já estou achando melhor encarar uma faca de cozinha engordurada do que essa sua conversinha mole E o cheiro da galinha frita.

Ah, o cheiro… Essa era a pior parte. O rapaz em si fedia a fritura misturada com suor e maconha. Depois de uns dez minutos, não aguentei mais o papo, nem o cheiro do cidadão; já ia me levantando quando ele apresentou um business card (isso a despeito de feder mais do que a Morte e estar vestido feito um mendigo) onde o nome Junior (!) vinha logo acima de um número de celular. “Me liga e vamos nos divertir”, disse ele enquanto me acompanhava até à porta, segurando a sacola de galinha frita com uma mão e a minha cintura com a outra. Sorri para não irritar meu pretendente e entrei no primeiro ônibus para o centro que passou. Sentei e borrifei meio vidro de Amarige na roupa para aliviar a catinga. Por sorte não vi mais o conquistador, nem o Jack the Ripper.

Uns três dias depois, eu já estava no ponto de ônibus segurando orgulhosa o meu Oyster Card quando percebi que um outro camarada (esse mais velho e mais gordo, mas igualmente malcheiroso) veio se aproximando e se enconstando, praticamente se espojando, na minha bolsa.

Pára. Peraí. Nem minha mãe, depois de tomar banho com álcool, encosta desse jeito na única Marc Jacobs que o meu dinheiro conseguiu comprar. Amigo, SAI. Mudei a bolsa de braço, olhei o dito cujo com a cara mais feia que consegui fazer e abstraí. Foi quando ele, agora com o caminho livre, tacou sem cerimônia a mão na minha bunda. ALI. Ponto de ônibus cheio, plena luz do dia.

Eu não tenho nenhuma explicação antropológica para o fenômeno, mas a verdade é que os africanos/caribenhos são BEM mais ousados e diretos que os brasileiros (os ingleses, coitados, esses então nem contam). Fiquei passada com as cantadas que ouvi nessa semana, coisa que nunca ouvi nem no Brasil. A mais bonitinha foi de um grupo grande trabalhando numa obra perto da casa. Um dos caras pôs a cabeça para fora da van e gritou “HEY SWEETIE” (eu adoro ser chamada de sweetie). “YA BRIGHTEN UP MY DAY WHEN I SEE YE”.

Aww, fofo, vai. Mas aí eu me dou conta de que estou usando um cardigan PINK FLUORESCENTE, e concluo que “iluminar” o dia de alguém assim é muito fácil. Acabo rindo e praticamente TODO o contingente de trabalhadores braçais da rua começa a aplaudir.

Como se costuma dizer por aí, não há crise de baixa estima que uma bela cantada de pedreiro não resolva. ;)

Aleatórias da Greve.

E eu hoje toda encantada com o brasileiro de 23 anos, recém chegado de Goiânia, que conheci graças à colombiana maluca. Um amor de menino, um balde de educação transbordando de “please” e “thank you”, coisa tão rara em hoje em dia. Levei uns 20 minutos para perceber que ele usava essas duas expressões com tanta frequência porque eram praticamente as únicas que ele sabia falar em inglês.

Me propus a ensinar uma terceira (“you’re welcome”), mas ele não pareceu entender qual a aplicação. “Mas welcome não é o que falam pra gente quando chegamos num lugar?”.

Dei de ombros. A prática fará a perfeição (ou não).

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Por falar na colombiana maluca. Que lê meu blog e vai já, já descobrir esse link, mas não me importo porque eu disse à própria que a achava maluca. Não entrarei em detalhes. Mas o fato é que me ocorreu hoje que eu devo ser uma espécie de pára raio de mulher louca. O que não deixa de ser intrigante, visto que eu sou a pessoa menos “louca” do universo. Opostos se atraem e eu pego carona temporária nos desvarios das meninas, living vicariously porque me falta coragem para fazer o que elas fazem e falar o que elas falam. É uma relação meio bulímica com a extroversão; experimento o gosto, mas não sofro as consequências (mais alguém aí ficou enjoado com essa minha metáfora porca?). Ser voyeur de doida é o meu passatempo predileto em tempos de recessão emocional, ou seja, quando eu estou me sentindo mais pra baixo que a sola das minhas sapatilhas.

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Segundo e último dia da greve dos metroviários em Londres. Opiniões se dividem entre os que acreditam que eles têm direito a protestar e os que se revoltam pelo fato da classe (que já recebe um salário razoável – cerca de 40 mil libras anuais – além de benefícios e férias longas) querer um aumento de 5 por cento quando o país se encontra em crise. Meu conhecimento sobre o assunto não é suficiente para que eu emita uma opinião, portanto mantenho-me quieta e desbravo a cidade munida de mapas de ônibus para Central e South East London.

Por falar em ônibus. Estava eu na estação de Victoria aguardando o meu quando ouço os berros. Emitidos por uma loirinha de uns 5 ou 6 anos, esperneando por não querer entrar no coletivo. A mãe tenta consolar: “calma querida, o metrô volta a funcionar amanhã… Olha, o ônibus não é tão ruim assim, está vendo?”. HAHA. As duas desceram devidamente em Pimlico, que é a parte mais posh do trajeto do ônibus.

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Comecei o dia sentada no Wetherspoon’s de Victoria, comendo cottage pie e bebendo cerveja. No café da manhã. Teria sido very british indeed se não fosse pela colombiana maluca falando em espanhol no Skype Phone. Porque tudo bem ser riquinha e morar na zona 1, mas não é por isso que ela precisa ser besta e pagar uma fortuna em ligação internacional. Garota esperta; me ufano das minhas amiguinhas, mesmo as malucas.

Depois entramos no 52 pra ir a Notting Hill. Uma brasileira grita no celular, detalhando sua vida sexual para a amiga do outro lado da linha. Já é errado conversar intimidades em português em Londres, porque a cidade está cheia de brasileiros. Considerando que o 52 faz ponto final em Willesden, tradicional reduto de conterrâneos, a atitude da menina cruza o limite da displicência e atinge o patamar da burrice. Too much information.

A intenção da colombiana (fotografar a portinha azul do Hugh Grant no filme A Place Called Notting Hill) foi frustrada por algum espírito de porco que pintou a porta de preto. Fabulous. Sentamos num café charmosinho para fugir do vento frio, e acabamos traçando um latte duplo + cupcake de chocolate branco com recheio de limão. O tipo de iguaria cujo nome eu nem devia estar digitando, nem mesmo pensando sobre. Não só pensei, como digitei e COMI. E era bom. E foi a última coisa que comi hoje. A dieta que inventei (comer pouco, mas só o que é bom), segue de vento em popa.

Já perdi dois quilos, mas mantive a vontade de viver, que é o que eu costumo perder primeiro quando começo a fazer uma dieta convencional. Por enquanto, sucesso.