Midsummer Tales

Junho já está na metade.
A temperatura passa dos 20, os dias estão mais longos, as moscas já voltaram (eca), as gatas já começam a soltar pêlos, o rádio já anuncia a “contagem de pólen no ar” diária (prevenindo os alérgicos) e os meus pés já ostentam a típica “marquinha” – nesse caso, marquinha de chinelo. É, pelo visto o verão chegou.

E, com ele, a vontade de abrir as cortinas, sentar no quintal para receber vitamina D em forma de sol da manhã com uma xícara de café e o jornal do dia, ir à praia tomar aqueles sorvetes padrão (um creme branco sabor “açúcar” com um tubo de chocolate espetado em cima), sentar no muro do pub com um copão de cerveja e, claro, lembrar-se vagamente de que há uma coisa chamada “mundo” do outro lado da porta.

Eu tenho que reunir forças para organizar potes que serão reutilizados e jogar todo o resto fora. e, claro, COMPRAR MAIS PLANTAS para encher os canteiros. Depois de anos perturbando respectivo, eu consegui fazer com que se materializassem.

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Queria fazer floreiras de madeira e plantar petúnias – essas cor-de-rosa na janela. A roseira fica na frente da cottage e eu quero tentar tirar mudas para replantar nos canteiros.

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e chega de sentar na pedra porque yes, nós temos móveis de jardim! \o/

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comprei flat-pack por uma mixaria numa queima de estoque no final do verão passado e meu pai ajudou a montar e pintar. voilá: uma mesa, um banco e duas cadeiras. ontem inaugurei-as tomando a primeira cerveja outdoors do verao. o jantar tambem foi servido al fresco: very english baked beans + risoles de carne br.

enquanto isso, a adaptaçao felina ao conceito de “dividir a casa com outro gato” tem sido dificil. maluca, bem maior e semi-feral, tenta pagar de blasé e ignorar a presença nervosa e arrepiada da chantilly; mas a verdade é que ela tem ficado muito pouco dentro de casa por conta da nova moradora. as duas pisam em ovos o tempo todo, maluca tenta cheirar a chantilly (não sei se para fazer amizade ou checar se ela está em condições de ser devorada…) e, em retribuição, chantilly range dentes e faz ruídos tão ameaçadores quanto patéticos. tá feia a coisa. mas, por sorte, ainda não rolou nenhum CAT! FIGHT! no quintal. observe as duas se estudando à distância:

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Também apresento os primeiros morangos colhidos no jardim:

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Nunca gostei de morangos no Brasil. Lindos por fora, mas brancos e azedos por dentro. Só conseguia comê-los dentro de um litro de creme de leite e com um quilo de açúcar por cima. Esses, totalmente orgânicos, parecem marzipan. Transformei numa salada de frutas.

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Adoro cow parsley. Em teoria são uma praga, multiplicam-se rapidamente e, se nao forem arrancados sem piedade, podem “arruinar” o seu jardim. Mas o meu jardim ja é meio selvagem anyway e eu sempre achei uma lindeza suas pequenas flores brancas e delicadas. Cow parsley é tanto a cara do verão quanto os narcisos são a da primavera.

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As fotos seguintes foram feitas ontem no caminho entre a minha casa e a caixa de correio. Adoro esses pequenos compridinhos e suas flores em forma de saco. Tendem a crescer em solo bem pobre (pedras, principalmente), mas eu nao sei o nome. E as famosas “margaridas africanas” (osteospermum), ainda semi fechadas.

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essas lilases cobrem muros inteiros.

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alyssums crescem rasteiras, e essas cor de laranja, seriam marigolds?

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as fuschias tropicais. lembro que minha mãe tinha um pé delas no quintal da casa onde cresci. tambem temos um no fundo do jardim, e foi motivo de alegria descobrir um pedacinho da minha infância aqui.

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as preferidas do verão: ice plants (tamém conhecidas como starburst). margaridas de pétalas finissimas, podem ser brancas, lilás (as da foto) e rosa choque (quase fluorescentes!). só florescem no verão e sob o sol – na sombra, elas nao abrem. as da foto estão ainda fechadas.

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gosto dessas pequenas margaridas, não maiores que a ponta do meu dedo. fico encantada com o fato de que a mesma planta produz flores brancas E cor de rosa.

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por fim, as hydrangeas (hortências), que florescem em grumos multicoloridos todos os anos.

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Sicília, primeira parada; Catania e Acireale.

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Sente-se num bar qualquer na Sicília, peça um drink e observe em tempo real o milagre da multiplicação dos antipastos. EU SÓ PEDI UMA CERVEJA. Juro que nada tenho nada a ver com essas quatro tigelas de comida + esse copo cheio de água suja e legumes secos plantados nela (crudité? tá de zoação). O bar em questão se chamava “Café de Paris”, ficava na orla da cidade de Catania e servia uns sorvetes, digamos assim, arquitetônicos de tão complicados e cheios de coisas desconhecidas equilibrando-se em cima. Pensei em pedir um, para fins de pesquisa cultural – mas infelizmente eu não podia me empanturrar. Estavamos ali fazendo hora para o jantar. Que iria ser degustado num restaurante ali perto, mas que só abriria às oito da noite.

Um dos pequenos probleminhas da itália, aliás. Eles realmente esperam que voce faça uma refeiçao completa, composta de antipasto (entradas frias ou quentes), primo piatto (macarrao), secondo (carnes, aves ou peixes), contorno (legumes e verduras) e dolci (sobremesa), começando as OITO da noite, esticando-se ate quase as dez e tem a petulancia de esperar que voce consiga dormir.

E olha que eu nem comi o tal do dolci, hein.

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A pousada em Acireale era uma gracinha. Chama-se Il Limoneto e é um desses “agriturismos” que proliferam por toda a Sicilia – uma fazenda que resolve alugar quartos. A nossa cultivava limões. Eu nem vou tentar descrever a sensação de acordar pela manha, abrir a janela e me deparar com um tapete verdissimo de limoeiros estendido à minha frente. Realmente lindo.

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O que eu vou tentar descrever foi o sufoco ate chegarmos lá. Desembarcamos no aeroporto de Catania quase dez da noite, já que a TUI resolver nos presentear com um atraso de OITO HORAS em hannover, onde não podíamos sequer sair do aeroporto “no caso de o voo conseguir sair antes do previsto”. Ok. Desnecessario dizer que o voo atrasou TODAS as oito horas previstas, que eu tive que passar oito horas num aeroporto de merda onde não há NADA para se fazer e que o sol brilhava lá fora: vinte e oito graus de primavera germânica.

Mentalizei uma morte lenta e dolorosa para todos os funcionarios da TUI e só acalmei quando a própria convidou os passageiros do vôo atrasado para um almoço cortesia, num dos salões do hotel do aeroporto, com vinhos e cervejas e bebidinhas e tudo o mais de grátis. E ainda dois vouchers para gastar com comida no aeroporto (não foi necessário) ou tralhas da free shop (troquei por um pingente de coração Swarovski, a unica coisa que custava o exato valor dos dois vouchers combinados; eles não dão troco).

E toca brincar com o zoom da camera pra fazer a hora passar… zzzzzzz…

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A chegada na Itália foi assim, meio que um anticlimax. ESTAVA FRIO. Eu saio de Jersey num sabado de sol maravilhoso, pessoas bebericando em frente à praia, vinte e seis graus. chego em Hannover e passo uma semana ensolarada, temperatura media de 25 graus. E aí resolvo ir pro SUL DA ITALIA e, depois de quase um mês de expectativa, está CHOVENDO? Eu joguei pedra na cruz??

Quarenta minutos depois, conseguimos pegar o carro na locadora de veiculos (ah, a eficiencia italiana…) e tocamos pra Acireale. O dilúvio versão remix caindo. na metade do caminho, no meio de uma auto estrada, o blackberry do respectivo toca. Era o pessoal da locadora de veículos, pedindo para que voltássemos na mesma hora, porque eles haviam nos dado o carro ERRADO (uma porcaria de um Lancia enorme e ruim de manobrar).

É claro que, mais da metade do caminho percorrido, e estando numa auto estrada, e chovendo gatos, cachorros, canivetes e macarrão parafuso, não voltaríamos NEM FODENDO. E é claro que os pentelhos da locadora continuaram ligando de cinco em cinco minutos, berrando “where are you” com sotaque siciliano, perturbando o motorista e quase causando um acidente. É claro que, por causa disso, Respectivo tomou o caminho errado e nos fez ir parar dentro de uma, erm… favela?

É claro que eu, carioca escaldada, paniquei histericamente imaginando que a qualquer momento um mafioso ia pular na frente do carro, AK-47 em punho, nos mandando descer e berrando o equivalente a “perdeu, prêibói” em italiano. É claro que nada disso aconteceu; só demorou um pouco mais para acharmos a maldita entrada para a fazenda, passando por um monte de ruas escuras sem calçamento e com mato por todos os lados. É impressionante como nessas horas a gente relembra rapidinho as orações que aprendeu nas aulas de catecismo, uns 20 anos atrás. Mas mesmo sendo obrigados a estacionar o carro longe do quarto e caminhar pela lama carregando malas pesadas na chuva (ai, a minha escova!), chegar lá valeu a pena.

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Se o tempo estivesse bom, daria até pra ver o mar direito… E o vulcão Etna fumegando ali atrás.

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Mas ó, taí um pedaço dele. Tó.

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The only way is up

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Acima, a escadaria de Santa Maria del Monte em Caltagirone, Sicília (no topo fica a igreja de San Giuliano, com uma vista inacreditável). E também um dos demônios que decoram toda a murada dos jardins públicos da cidade. Caltagirone é famosa por suas cerâmicas, como os azulejos que decoram a escadaria e os potes, vasos e tralhas que se espalham nas lojinhas caça-turistas. Como não ia caber nada muito grande na bagagem, não deu pra aloprar; comprei apenas dois anjos meio barrocos em Taormina.

Aqui, outra foto da escadaria, encontrada no flickr (ainda tenho que fazer download das minhas), que também deixa clara a paixão dos italianos por varandas/sacadas nos apartamentos.