sim, eu sumi. mas é porque estou de mudança. hoje é a minha última noite na terra da salsicha, pelo menos pelos próximos 30 dias. cansei, enjoei, irritei. quero minha casa, minha BBC, minha assinatura da revista country living, minha caminha e minhas janelas com vista para o verde – e não para a vizinha andando de sutiã pela sala enquanto fala no celular ou para o camarada com cara de sex offender que passa o dia inteiro olhando para a tela do computador com um sorriso estranho. *medo*
acabo de voltar da ikea. parece que TODAS as famílias de hannover olharam pela janela hoje cedo, deram de cara com a chuva e decidiram: “vamos levar as crianças pra passear na ikea??”. porque era uma mistura de pátio de jardim de infância na hora do recreio + enfermaria infantil de hospital. gritos, choros, berros, correria, criança passando por cima do pé, criança derrubando displays no chão… todos os círculos do inferno sim.
(loja de departamentos não é parquinho)
mas nem tudo é pobrema. fui à saturn comprar um adaptador para poder ouvir meu ipod no rádio do carro e dei de cara com um clone 30 vezes melhorado do jake gyllenhaal. para exemplificar, digo que o clone era lindo enquanto eu acho o jake feio. e quase vi uma patricinha virar pizza na rua. chão molhado, salto alto, sinal aberto, a criatura foi tentar atravessar correndo. resultado: levou um escorregão e se esborrachou na frente do carro, que parou a uns dez centímetros da cabecinha loira saxã. te dou uma dica, gata? acenda uma vela em agradecimento ao seu anjo da guarda – e ao inventor dos freios ABS.
encerro as transmissões alemãs por ora. e hoje me peguei pensando que sinto uma nostalgia gostosa de todas as casas onde morei na vida, não importa onde, nem por quanto tempo. a casa onde nasci e vivi meus primeiros anos, apesar de me lembrar tão pouco. saudade absurda e vívida da casa onde passei a infância e a adolescência. saudade da quitinete minúscula onde minha mãe foi morar com seu companheiro quando se separou do meu pai, e onde eu frequentemente a visitava. saudade do apartamento de dois quartos no mesmo prédio onde, depois de brigar com meu pai, fui morar com eles. saudades da casinha amarela que os dois compraram juntos e que quase perdemos quando ele morreu.
saudades da cottage alugada, pequena porém jeitosa, onde passei minhas duas primeiras temporadas em jersey. saudades da cottage gelada onde começamos nossa vida juntos (enquanto nossa casa estava sendo reformada) e onde dançamos ao som do led zeppelin na cozinha no dia do nosso casamento. saudades da nossa casa, que reformamos juntos e onde há um pouco de nós em cada cômodo, em cada cor de tinta escolhida e em cada móvel; da casa que se transformou junto conosco e que, com sorte, abrigará nossos sonhos e planos pelas próximas décadas. mas não sei se no futuro terei saudades desse apartamento. nunca, nem mesmo temporariamente, me senti realmente em casa.
é. amanhã bem cedo estarei voltando para a minha.
vou ali terminar de empacotar a vida; volto (e voltarei a ler todos vocês) assim que humanamente possível.
