chegamos em casa na terça à noite. devíamos ter chegado na segunda, mas o mau tempo no canal da mancha fez com que os barcos fossem cancelados. ou seja, ganhamos um dia extra na cidadezinha de albert, que fica na região do somme, famosa pelas batalhas da primeira guerra mundial.
e como 80% dos ingleses adultos são fanaticos por guerras, eu peregrinei, sob frio e ventos cortantes, através de campos de batalhas, monumentos para os mortos que nunca foram encontrados, para os mortos que foram encontrados, 383254810976 mini cemitérios de guerra, museus no estilo “viu um, viu todos”, decifrei mapas em busca de crateras de bombas, enfim… você entendeu. ganhei um resfriado e dor nas pernas, mas respectivo estava feliz feito pinto no lixo e isso basta. atchim!!
e agora, da série coisas com que voce pode contar na frança:
1. os motoristas VÃO dirigir mal. não interessa se você está na cidade ou no countryside, no centro de paris ou nos cafundós de algum pays desabitado; eles vão ultrapassar onde não devem, vão dirigir a 30cm da sua traseira e vão fazer gestos obscenos pelo vidro do carro quando passarem por você. e, claro, seu respectivo inglês VAI resmungar um “FUCKING FROG!”.
2. as mulheres francesas VÃO vestir preto da cabeça aos pés e serão mais bonitas e mais magras que você. exceto as que não são. mas essas você nunca vai ver. você só vai ver as mais bonitas e mais magras que você. aceite.
3. a carne servida nos restaurantes será SEMPRE crua. siga a tabela: se você quer o seu bife médio, peça bem passado. se quiser bem passado, peça torrado. se quiser mal passado e pedir por isso, tenha confiança de que seu bife mal será apresentado à frigideira e será despejado no seu prato praticamente mugindo, mais sangrento do que um passeio de ônibus na palestina.
4. o café da manhã francês é o equivalente culinário da expressão “glicose na veia”. pão doce, geléia doce, bolos, biscoitos, sucos… ou seja, o inferno de atkins. isso tudo vai chutar a sua curva glicêmica acima da torre eiffel e, quando ela cair, sua fome será suficiente para devorar vinte quilos de foie gras, pouco se fodendo para os pobres gansos. muito açúcar, pouca sustança.
5. os franceses jamais irão retirar a decoração de natal das casas, lojas e restaurantes antes que janeiro termine. os mais roots vão deixar a árvore de natal armada (com as luzes piscando), a guirlanda na porta, o papai noel escalando as janelas e similares até meados de fevereiro. eles fazem questão de deixar as renas e bonecos de neve nas vitrines das lojas e a decoração de rua dependurada nos postes. acho que eles confundem “decoração de natal” com “decoração de inverno”. quando chegar o verão e a neve falsa em cima da arvore de natal não fizer mais tanto sentido, eles guardam tudo. ou então deixam tudo já montado, prontinho para o proximo natal.
enfim, tamo em casa.
tenho passado meus dias desencaixotando coisas, mas ainda tenho que desencaixotar muitas mais e reencontrar os lugares de onde elas saíram há muitos meses quando, assim como eu, foram arrancadas de suas rotinazinhas e levadas para um longo passeio no continente.
mas também tenho passado os dias dando gritinhos ao redescobrir coisas como a vista do banheiro azulzinho, com vaquinhas pastando na chuva. como o meu chuveiro COM!ÁGUA!QUENTE! e a pia enorme da cozinha, onde posso lavar pratos sem ter que lavar o chão ao mesmo tempo. como o slogan da minha rádio favorita. achar uma pilha de dvds entregue pelo carteiro. os livros que não tive tempo de ler, me esperando na estante. o meu sofá, velho, rasgado e cafona, mas extremamente macio e confortável, ao contrário daquele troço moderno e desconfortável da alemanha. as minhas revistas favoritas escritas num idioma que eu entendo. esbarrar nas pessoas e ouvir um imediato “sorry!” (estou quase esbarrando de propósito, só para ouvir os ingleses sendo mecanicamente educados).
estamos todos bem, a maluca está gorda e já comi meu primeiro sanduíche de bacon de verdade, em comemoração ao retorno ao lar.
é possível que em um mês ou dois eu visite novamente a família (marido e gata) que ficaram na alemanha, mas por agora eu só quero desempacotar minhas tralhas, me atirar nesse sofá e terminar de ler a country living magazine desse mês.
até já.






