The gentle art of domesticity

“a vida doméstica tem altos e baixos. ajuda bastante possuir um estado de espírito que saiba transformar a menor das indulgências em luxo. isso significa lançar um olhar positivo para a própria vida – considerar não apenas o que você quer ter, mas o que pode ter (ou o que já tem). significa decidir por si mesmo o que você classifica como luxo e não seguir as idéias exageradas da mídia. vestidos de alta costura, jatinhos particulares, iates imensos e diamantes maiores ainda são maravilhosos, tenho certeza, mas você não acha ridículo o fato de que pouquíssimas pessoas no mundo podem pagar por essas coisas? melhor se presentear com alguns rolos de lã macia para tricotar, um bom filme com uma bela xícara de chá, um buquê de rosas divino, ou uma pequena, porém deliciosa, caixinha de chocolates. como bette davis diz ao fim de ”now, voyager“: ‘não precisamos pedir a lua – nós temos as estrelas’.”

jane brocket, in “the gentle art of domesticity

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Reencontros e recomeços.

chegamos em casa na terça à noite. devíamos ter chegado na segunda, mas o mau tempo no canal da mancha fez com que os barcos fossem cancelados. ou seja, ganhamos um dia extra na cidadezinha de albert, que fica na região do somme, famosa pelas batalhas da primeira guerra mundial.

e como 80% dos ingleses adultos são fanaticos por guerras, eu peregrinei, sob frio e ventos cortantes, através de campos de batalhas, monumentos para os mortos que nunca foram encontrados, para os mortos que foram encontrados, 383254810976 mini cemitérios de guerra, museus no estilo “viu um, viu todos”, decifrei mapas em busca de crateras de bombas, enfim… você entendeu. ganhei um resfriado e dor nas pernas, mas respectivo estava feliz feito pinto no lixo e isso basta. atchim!!

e agora, da série coisas com que voce pode contar na frança:

1. os motoristas VÃO dirigir mal. não interessa se você está na cidade ou no countryside, no centro de paris ou nos cafundós de algum pays desabitado; eles vão ultrapassar onde não devem, vão dirigir a 30cm da sua traseira e vão fazer gestos obscenos pelo vidro do carro quando passarem por você. e, claro, seu respectivo inglês VAI resmungar um “FUCKING FROG!”.

2. as mulheres francesas VÃO vestir preto da cabeça aos pés e serão mais bonitas e mais magras que você. exceto as que não são. mas essas você nunca vai ver. você só vai ver as mais bonitas e mais magras que você. aceite.

3. a carne servida nos restaurantes será SEMPRE crua. siga a tabela: se você quer o seu bife médio, peça bem passado. se quiser bem passado, peça torrado. se quiser mal passado e pedir por isso, tenha confiança de que seu bife mal será apresentado à frigideira e será despejado no seu prato praticamente mugindo, mais sangrento do que um passeio de ônibus na palestina.

4. o café da manhã francês é o equivalente culinário da expressão “glicose na veia”. pão doce, geléia doce, bolos, biscoitos, sucos… ou seja, o inferno de atkins. isso tudo vai chutar a sua curva glicêmica acima da torre eiffel e, quando ela cair, sua fome será suficiente para devorar vinte quilos de foie gras, pouco se fodendo para os pobres gansos. muito açúcar, pouca sustança.

5. os franceses jamais irão retirar a decoração de natal das casas, lojas e restaurantes antes que janeiro termine. os mais roots vão deixar a árvore de natal armada (com as luzes piscando), a guirlanda na porta, o papai noel escalando as janelas e similares até meados de fevereiro. eles fazem questão de deixar as renas e bonecos de neve nas vitrines das lojas e a decoração de rua dependurada nos postes. acho que eles confundem “decoração de natal” com “decoração de inverno”. quando chegar o verão e a neve falsa em cima da arvore de natal não fizer mais tanto sentido, eles guardam tudo. ou então deixam tudo já montado, prontinho para o proximo natal.

enfim, tamo em casa.

tenho passado meus dias desencaixotando coisas, mas ainda tenho que desencaixotar muitas mais e reencontrar os lugares de onde elas saíram há muitos meses quando, assim como eu, foram arrancadas de suas rotinazinhas e levadas para um longo passeio no continente.

mas também tenho passado os dias dando gritinhos ao redescobrir coisas como a vista do banheiro azulzinho, com vaquinhas pastando na chuva. como o meu chuveiro COM!ÁGUA!QUENTE! e a pia enorme da cozinha, onde posso lavar pratos sem ter que lavar o chão ao mesmo tempo. como o slogan da minha rádio favorita. achar uma pilha de dvds entregue pelo carteiro. os livros que não tive tempo de ler, me esperando na estante. o meu sofá, velho, rasgado e cafona, mas extremamente macio e confortável, ao contrário daquele troço moderno e desconfortável da alemanha. as minhas revistas favoritas escritas num idioma que eu entendo. esbarrar nas pessoas e ouvir um imediato “sorry!” (estou quase esbarrando de propósito, só para ouvir os ingleses sendo mecanicamente educados).

estamos todos bem, a maluca está gorda e já comi meu primeiro sanduíche de bacon de verdade, em comemoração ao retorno ao lar.

é possível que em um mês ou dois eu visite novamente a família (marido e gata) que ficaram na alemanha, mas por agora eu só quero desempacotar minhas tralhas, me atirar nesse sofá e terminar de ler a country living magazine desse mês.

até já.

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Últimas observações.

sim, eu sumi. mas é porque estou de mudança. hoje é a minha última noite na terra da salsicha, pelo menos pelos próximos 30 dias. cansei, enjoei, irritei. quero minha casa, minha BBC, minha assinatura da revista country living, minha caminha e minhas janelas com vista para o verde – e não para a vizinha andando de sutiã pela sala enquanto fala no celular ou para o camarada com cara de sex offender que passa o dia inteiro olhando para a tela do computador com um sorriso estranho. *medo*

acabo de voltar da ikea. parece que TODAS as famílias de hannover olharam pela janela hoje cedo, deram de cara com a chuva e decidiram: “vamos levar as crianças pra passear na ikea??”. porque era uma mistura de pátio de jardim de infância na hora do recreio + enfermaria infantil de hospital. gritos, choros, berros, correria, criança passando por cima do pé, criança derrubando displays no chão… todos os círculos do inferno sim.

(loja de departamentos não é parquinho)

mas nem tudo é pobrema. fui à saturn comprar um adaptador para poder ouvir meu ipod no rádio do carro e dei de cara com um clone 30 vezes melhorado do jake gyllenhaal. para exemplificar, digo que o clone era lindo enquanto eu acho o jake feio. e quase vi uma patricinha virar pizza na rua. chão molhado, salto alto, sinal aberto, a criatura foi tentar atravessar correndo. resultado: levou um escorregão e se esborrachou na frente do carro, que parou a uns dez centímetros da cabecinha loira saxã. te dou uma dica, gata? acenda uma vela em agradecimento ao seu anjo da guarda – e ao inventor dos freios ABS.

encerro as transmissões alemãs por ora. e hoje me peguei pensando que sinto uma nostalgia gostosa de todas as casas onde morei na vida, não importa onde, nem por quanto tempo. a casa onde nasci e vivi meus primeiros anos, apesar de me lembrar tão pouco. saudade absurda e vívida da casa onde passei a infância e a adolescência. saudade da quitinete minúscula onde minha mãe foi morar com seu companheiro quando se separou do meu pai, e onde eu frequentemente a visitava. saudade do apartamento de dois quartos no mesmo prédio onde, depois de brigar com meu pai, fui morar com eles. saudades da casinha amarela que os dois compraram juntos e que quase perdemos quando ele morreu.

saudades da cottage alugada, pequena porém jeitosa, onde passei minhas duas primeiras temporadas em jersey. saudades da cottage gelada onde começamos nossa vida juntos (enquanto nossa casa estava sendo reformada) e onde dançamos ao som do led zeppelin na cozinha no dia do nosso casamento. saudades da nossa casa, que reformamos juntos e onde há um pouco de nós em cada cômodo, em cada cor de tinta escolhida e em cada móvel; da casa que se transformou junto conosco e que, com sorte, abrigará nossos sonhos e planos pelas próximas décadas. mas não sei se no futuro terei saudades desse apartamento. nunca, nem mesmo temporariamente, me senti realmente em casa.

é. amanhã bem cedo estarei voltando para a minha.

vou ali terminar de empacotar a vida; volto (e voltarei a ler todos vocês) assim que humanamente possível.

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Baby she’s a try hard

obrigada a todo mundo pelos recados no orkut/email e ligações no meu aniversário.
a internet pode ser um balaio de loucos, mas alguns desses loucos sao também adoráveis.

então, lutando bravamente contra a falta de vontade de atualizar isso aqui, venho declarar que “a britney é minha copycat” (isso rende até uma comunidade no orkut, mas deixemos baixo).

semana passada, quando o tédio me arrancou o traseiro dessa cadeira, me empurrou porta afora e me fez adentrar os domínios cafonas da woolworths (a versão alemã consegue ser mais decadente e brega que a inglesa, que é mais variada e eu admito gostar), eu achei uma seção chamada “karnival” – ou alguma chucrutice equivalente. fantasias de jersey brilhante e perucas de nylon vagabundas em todas as cores imagináveis, sem mencionar os saquinhos de confete e as latinhas de spray de espuma (pelo visto também é moda por aqui). Às meninas que moram na alemanha, favor explicar: existe carnaval alemão? é pra ter medo??

como a woolworths alemã é daquelas lojas que, mesmo que você entre com dinheiro e vontade de gastá-lo, quase sempre vai sair de mãos vazias porque não encontra nada que queira, eu DECIDI que seria o meu dia. peguei uma peruca vermelha, pus na cesta, paguei e fui pra casa brincar de tirar fotos no espelho OI-EU-TENHO-CINCO-ANOS (e-não-muito-o-que-fazer). resumo da ópera:

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p.s.: os óculos custaram uns 5 euros na H&M.

tendo postado a pagação de mico acima no meu fotolog, abro o jornal dias depois e me deparo com isso:

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britney, eu sei que você passa o dia todo bebendo frapuccinos e dando F5 no meu fotolog, mas pega leve, vai. ok que a nossa reputação já desceu pelo ralinho do banheiro faz tempo, mas você, pelo menos, está sendo bem paga por isso – já EU tive que pagar nove euros por essa peruca vagabunda e agora, por sua causa, ela vai virar espanador.

enfraquece, viu.
mas pelo menos os meus óculos são mais bonitos e custaram mais barato que os seus. woohoo.

/2007 — 2008

então, reveillon bom-bou.
descontando-se o fato de que respectivo comprou ingressos para a festa errada. ok que com bebida e comida qualquer lugar funciona, e o jack the ripper’s sempre manda música boa (só toca britpop), mas putz, eu passei 2007 inteiro enfiada naquele pub. já tem aquele feeling de quintal de casa, sabe. mas enfim – podia ser pior. eu podia ter ficado nesse apartamento, me sentindo no big brother sendo observada por todos os olhos nas janelas adjacentes.

levamos A., minha junkie preferida, mas ela “passou mal” antes de meia noite e disse que iria para casa. hmmm. a meu ver ela tinha outro borogodó pra ir, marcado com os amigos do lado negro da força e regado a entorpecentes variados. whatever – ela já é bem grandinha e não tenho qualificações pra ser baby sitter nem psicóloga; desejo um pouco de juízo àquela cabecinha ruiva em 2008.

os “canapés” servidos eram fatias de pão francês com pedaços de salame por cima. sofisticadíssimo. acabei enfiando a cara nas batatas fritas com queijo derretido por cima, yummy. percebi que havia exagerado na maquiagem quando tiraram uma foto minha com flash e, quando olhei no visor da câmera, minha cara estava branca e brilhante feito a do gasparzinho. ooops.

ok, meia noite. a garrafa de prosecco na mesa, olhamos um para a cara do outro e nos perguntamos, “mas cadê a contagem regressiva?”. não rolou. achamos meio bizarro (ah, esses chucrutes…) e abrimos a garrafa. UMA HORA depois começa um projeto de contagem e aí fomos nos dar conta: é um english pub, oras, e eles estavam festejando a virada no horário da Inglaterra. how cute is that? e fomos pra “pista de dança” (na verdade eles só arrastaram as cadeiras pro lado).

por volta das três (e depois de uns três copões de flying kangaroo) eu já estava vendo três respectivos na minha frente. um deles (o mais sensato) achou por bem me carregar pra casa. o percurso jack the ripper’s –> apartamento big brother leva uns 20 minutos a passos normais. levamos cerca de duas horas para chegar em casa, porque eu caía a cada dez metros, morrendo de rir de alguma piada que não lembro qual foi (até porque ninguém tinha contado nenhuma). também atrasamos porque um dos cinco respectivos decidiu parar numa lanchonete da estação e me enfiar um copo de café pela cara + um sanduba gigantesco de frikadelle pingando maionese. eu comia, ria, acenava para os doze respectivos que tinham ido pagar a conta e encarava o fulaninho sentado a umas poucas mesas à frente, e que não parava de piscar o olho. ÓBVIO que, assim que o café começou a fazer efeito, percebi que não, ele não estava me dando bola – era tique nervoso. UIA. so much for my self esteem.

consegui chegar em casa, amparada pelos oito respectivos (estavam diminuindo, finalmente!!) e me atirei na cama sem tirar a maquiagem. dia seguinte acordei com a cara igual a de um urso panda e o cheirinho de fry-up vindo da cozinha (marido prendado é tudo, amigas). mas antes que eu conseguisse me animar, ela chegou. ânsia de vômito. corro para o banheiro, sento no chão, abraço o vaso e regurgito cangurus voadores, pão amassado e um bagulho verde de procedência desconhecida.

ufa. i feel much better now. passa esse bacon pra cá, ô.

e que em 2008 eu continue bebendo horrores, rindo horrores (mesmo sem saber de quê; na verdade, nem importa) e vomitando coisas verdes; desde que não sejam sapos, porque esses eu não quero mais ter que engolir.

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