He’s gone home.

– Meu aniversário, em 2002, foi ótimo. Bolo, presentes do meu padrasto, carinho da minha mãe e de amigos. O de 2003 foi péssimo. Meu padrasto estava morto há uma semana e eu e minha mãe tínhamos como perspectiva a possibilidade de perdermos a nossa casa. O de 2004 foi deprê; passei o dia removendo meu nome das listas de “aniversariante do mês” da empresa, porque estava tão triste ali que não queria que ninguém soubesse. Já ontem teve presente, bolo, chilli con carne no jantar, visitas e emails e telefonemas dos amigos, passeio a Itaipava e a Esperança mandando lembranças. I’m happy.

A terra ficou mais redonda depois do tsunami.

Atkins “falhou” nessas três semanas. Não sei como me atrevo a fazer dieta das proteínas se não gosto de carne. Sou aquela que vai a churrascarias pensando na batata frita e no pão de alho. Ganhei peso, mas só segunda feira volto a sobreviver de salsicha e pedaços de queijo amarelo. Porque hoje e amanhã tem bolo de aniversário de ontem, a maior nostalgia do prazer gastronômico da minha infância.

Orkut: eu abro uma vez a cada dois meses, autorizo sem nem olhar quem me adicionou e fecho a janela. Tentei brincar por uns tempos, mas qual a graça de um site que existe para que malucos de internet se envolvam em brigas, gastem latim e um tempo enorme, precioso, defendendo seus “pontos de vista”? MSN Messenger: eu não te dei block e nem entro invisível. Se eu sumi, é porque eu não estou usando o programa.

– Lamentamos informar que devido ao excesso de burocracia e incompetência da justiça brasileira o casamento não saiu do projeto. Segundo minha mãe, a idosa que me atendeu no cartório foi a mesma que me registrou quando nasci e, também segundo minha mãe, ela já estava meio gagá naquele tempo. Me deu várias listas de documentos errados, informações incompletas, me fez certificar dezenas de xerox (a R$4 cada…) sem necessidade, e ainda debochou quando eu me queixei que ela estava sendo desatenta e ineficiente. As pessoas à minha volta me olharam feio porque EU estava destratando uma idosa e provavemente EU é quem estava fazendo tudo errado. Well: para traduzir os documentos dele no Brasil: uma semana e erros na tradução. Conclusão óbvia na fila do cartório (pela 53429364 vez no mesmo dia): “Vamos mandar tudo isso e todos eles à merda e casar na Inglaterra?” “Vamos!”

– E ele foi embora no vôo das quatro. Ficou brincando no setor de embarque, usando o carrinho de bagagem como patinete, fingindo entrar e depois aparecendo de novo pela porta de vidro fumê do embarque da British Airways, até que se foi pelos próximos três meses. Não choro. Mas o pedaço meu que ele leva dentro da bagagem me faz falta.

Updates!

Chegamos de Paquetá ontem, e nesse meio tempo já estivemos em Petrópolis, Teresópolis e passeando pelo Rio. Acho que dessa vez não vai dar tempo de ir a Búzios e Penedo (colônia finlandesa aqui no Rio de Janeiro). Amanhã vamos ao centro pegar a papelada traduzida e aproveitar para ir ao consulado para mais um bate papo em prol do meu visto. E daqui a pouco, depois de um almocinho que incluirá feijão, arroz, salada, batata frita e bife (mais brazuca impossible!) além de algumas latinhas de Bohemia, vamos à Igreja da Penha fazer fotos. Se os traficantes do Complexo do Alemão nos deixarem sair vivos, volto logo com os resultados.

Paquetá foi invadida por uma horda de gente mal educada, que fala gritando, que joga lixo na baía de Guanabara e suja os parques e jardins da Ilha com restos de comida. Lastimável.

Mas pra compensar sempre existirá (assim espero!) a linda arquitetura art nouveau da Casa das Artes:

Dreamers.

Ontem fomos a Petrópolis, a terra do Imperador. Ele reclamou o tempo todo do carro; então lá vamos nós alugar um 2.0 hoje para subir a serra de novo, só que dessa vez pra Teresópolis.

Compramos ontem nossos primeiros móveis: uma mesa oval enorme com seis cadeiras. Tudo vai ser restaurado e entregue aqui em casa. Também arrematamos uma penteadeira antiga e uma cadeirinha fofa para acompanhar. E hoje vamos procurar sofás.

Há uns 15 anos tive um sonho, desses que a gente acorda e se lembra de tudo e não esquece mais. No sonho eu morava no que parecia ser Petrópolis, numa casa muito velha, que dava vista para um vale cheio de árvores. Toda a mobília da casa era escura e antiga e tinha um relógio enorme, daqueles de chão, logo na entrada. O clima do lugar era tão bom, tão acolhedor, eu estava tão feliz por morar ali, naquela casa cheia de história e lembranças de gerações passadas, que o sonho ficou preso na minha memória por todos esses anos.

A primeira vez que vi fotos da nova casa, soube que era antiga. Assim que entrei lá pela primeira vez, vi um relógio parecido ao do meu sonho, na entrada (que infelizmente foi embora junto com a antiga moradora). Comprei meus primeiros móveis em Petrópolis, e eles são escuros e antigos, como no sonho. E, sobre a vista, bem, não é igual à do sonho. Mas tem bastante árvores também.

E esses acontecimentos com cara de profecia cumprida me trazem alegria e alívio. Porque quando eu era criança não conseguia imaginar meu futuro de jeito nenhum, ao contrário dos meus amiguinhos que sabiam o que iam ser quando crescessem, o que iam estudar na faculdade, quantos filhos iam ter, onde morariam. Eu nunca soube de NADA. Meu futuro era um buraco negro, um monte de folhas em branco num livro ainda por ser escrito e que eu nem sabia se ia ser publicado. Com o tempo eu ia largando faculdades, abandonando projetos e me esforçando para saber qual era, afinal, “a minha”, o nevoeiro ia se tornando cada vez mais denso e eu não enxergava o fim da estrada. Acabei me acostumando a andar meio às cegas, com farol alto na cara de todo mundo para me defender. No fundo eu achava que ou eu ia morrer muito cedo ou que meu futuro não era aqui. Não sei se dá pra gritar bingo, mas continuo com a cartela em mãos. You never know.

Amanhã vamos visitar a Ilha de Paquetá, que é um lugarzinho que muita gente considera cafona, mas que é muito significativo pra gente. E não há romance que não seja meio brega; afinal, já disseram que todas as cartas de amor são ridículas. Que sejamos ridículos, pois.

Feliz 2005.

Mudamos os planos e ficamos por Copacabana mesmo, no Merlin. Adoro hotéis: café da manhã, roupa de cama novinha e cheirosa todo dia, TV a cabo e frigobar cheio de calorias líquidas.

A festa do reveillon em si não é lá essas coisas. Copacabana já esteve mais cheia, o foguetório já foi mais bonito e a cascata de fogos do hotel Meridien já foi bem mais impressionante. Aparentemente esse ano rolou um glitch com os fogos e a fumaça veio todinha parar na praia. Desagradável. Eu mal percebi; passamos a virada numa mesa de bar, celebrando com comida, chopp e champanhe.

E essa unha rosa barbie horrorosa acabou com a classe da foto.

Tive uma sensação estranha enquanto esperava o dono da joalheria buscar os anéis no nosso tamanho. Nem parecia que era eu ali, comprando um par de alianças. Beejebus.

Sobre o novo ano que começa hoje, há muito tempo desisti de resoluções. As melhores coisas que me aconteceram na vida chegaram sem que eu fizesse esforço. Tudo aquilo que lutei pra conquistar foi perdido ou não se concretizou. Meu novo lema: sentar e esperar. Ainda que seja longa a espera. 2003 foi um ano terrível. No dia 31 eu não tinha absolutamente nada de bom pra recordar. 2004 me trouxe a libertação de um trabalho que me fazia infeliz, de uma pessoa que dizia me amar mas que era viciado em mentiras e só conseguia me pôr pra baixo, do pesadelo de perder a nossa casa – e de bônus encontrei um amor de verdade na minha Inbox.

Um interlúdio merecido nessas nuvens de chuva; eu precisava desse arco íris.
Come in, 2005. I’ve got a feeling you’ll be amazing.