Aqui, sábado.
Meu quarto com as janelas abertas, e como está nublando, tudo fica ainda mais bonito. E eu sei que está nublado não por olhar o céu (a janela dá pra uma parede e uma escadaria branca, embaixo da qual moram velharias). Eu gosto tanto de chuva que posso adivinhá-la pelo cheiro que sinto quando ela está pra chegar.
Eu ia me dar bem trabalhando com metereologia.
Eu estou feliz, hoje. E não devia. Hoje eu sei que dei um passo (à frente, eu espero) que não terá como ser revertido. A permanência daquele retrato na escrivaninha me fazia mal e eu decidi que nada tem que ser para sempre. Se nem as boas coisas ficam… por que deixar justamente as ruins?
Eu estou bem. Porque eu gosto do meu monitor novo, as cores são mais bonitas nele. Porque é legal ficar em casa quando o tempo esfria. Porque fiz fotos engraçadas com a minha câmera nova. Porque ontem à noite fiquei mal e vomitei – mas fiquei melhor porque expulsei de mim o que meu corpo não aceitava mais.
E ele ligou pra fazer exigências absurdas, e eu não cedi, e ele disse que sem isso não queria mais me ver.
E eu disse “ok, então”.
E eu jamais pensei que seria capaz de dizer isso, mesmo que mil anos se passassem.
E eu disse que não queria mais vê-lo, também.
Porque ele pisou em cima da amizade que eu ofereci. Como quem desdenhosamente apaga com a sola do sapato a brasa de um cigarro que, mesmo no fim, ainda estava queimando.
Mas eu não apaguei. Eu estou aqui.
Meu quarto está uma zona e tudo bem.
Minha gata dorme na minha cama e sua presença me acalma. Está tudo bem.
As caixas das coisinhas simples, porém necessárias/prazerosas que eu comprei esses dias se amontoam no armário, e está tudo bem.
O vento pré-chuva e seu perfume delicioso entra pela janela e adentra os pulmões, a alma, e está tudo bem.
As minhas pulseiras coloridas estão espalhadas por cima da bancada, está tudo bagunçado, mas as cores são lindas, e está tudo bem.
Meu amigo ligou de manhã pra me dar bom dia, e está tudo bem.
E a tarde começa agora. Vou lá fora vê-la antes que chova.
E depois que começar a chover, eu ainda vou estar lá.
“está tudo bagunçado, mas as cores são lindas”.
É. Definitivamente, está tudo bem.
Month: March 2004
My beloved monster and me
Achei um punhadinho de fotos velhas enquanto fuçava uma pasta perdida do cê-dois-pontos.

1) Descansando num banquinho da orla de Paquetá. Não no último carnaval, mas numa das minhas muitas visitas à “Ilha dos Três Pontinhos”… E eu a chamo assim porque a história do livro A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, se passa em Paquetá, mas por um motivo que eu nunca descobri o nome nunca é citado a não ser assim: “e Augusto voltou à Ilha de …”. Whatever. A história é fictícia, mas se passa em Paquetá. Tanto que a “Pedra da Moreninha”, onde Carolina esperava a volta do seu amado, é um de seus pontos turísticos.

2) FOCO. O QUE É FOCO. Risos. Enfim, a ala vip do mundo postal carioca se reúne no “churrasco social”, em Teresópolis, região serrana do RJ.

3) Se achando pinup, ela. Sinto falta do cabelão.

4) Adorável pôster do meu quarto. Sangue, depressão e instrumentos perfuro-cortantes. Um amor.

5) So fashion.

6) Desktop do meu quarto, na minha fase “tente parecer feliz enchendo sua vida de cores alegres”. Detalhe pro anjo que roubei de um cemitério. Belo dia achei que ele estava me dando azar e o espatifei na parede. Estupidez. A sorte não mudou e sinto falta do anjo.

7) Só os antigos vão se lembrar do Shampoo e sua triste história com final feliz (?). A interrogação é porque perdi contato com o gatinho. I hope you’re well.

8) Bloody Bunny, grande amigo.

9) “This is your world in wich we grow, and we will grow to hate you”.

10) Maricá, região dos Lagos, um carnaval qualquer.

11) “Eu posso ser baranga mas o meu queixo tem covinha”
Depois tem mais. Agora, acabou.
Carnaval Gótico
Well, review: primeiro dia de carnaval, chuva. Minha sutil vingança contra os “romeiros de são momo” que entupiram as estradas em direção ao sol. Passei o sábado arrumando o quarto. O PC inoperante, os amigos a caminho das praias, o ex-namorado dispensado, o que mais eu podia fazer? Ir a Paquetá no domingo, é claro. Pra quem não conhece: é uma ilha do tamanho de um pequeno bairro plantada no meio da baía de Guanabara. Tenho ido lá desde criança e sempre quis ver o luar na ilha, mas o fato de a última barca deixar o cais às nove da noite era um puta desestímulo. Sempre ia embora ao entardecer, mas dessa vez fiz diferente; achei uma pousada pulgueiro e resolvi dormir lá. E assim pernoitei, depois de tomar um banho de chuva inesperado dentro do cemitério de passarinhos e voltar pra pensão levemente enlameada e não conseguir entrar no meu próprio quarto, pois a dona do cafofo, alcoolizada, não me reconheceu. Haha. O meu breve diálogo com as outras pessoas que estavam no, err, “lobby”:
– Mas você pegou essa chuva toda, menina? Foi aonde?
– Eu estava no cemitério de passarinhos…
– CRUZ CREDO!!
Na verdade eu gosto de lá. As pequenas tumbas (o cemitério é de pássaros, mas aceita qualquer espécie de bichinho de estimação, por uma módica quantia), as árvores de ramos baixos, curvando-se em direção à terra, como se quisessem alcançar de novo aqueles que algum dia já cantarolaram em seus galhos. Silêncio absoluto, calma, paz.
E lá estava maria antonieta herself, cantarolando the cure em pleno domingo/segunda de carnaval. Fiquei no sofá até as três da manhã assistindo desfile de escola de samba até a velha curar 10% do pileque e me devolver a chave do quarto. Ok, eu podia ter pego do chaveiro enquanto a gentil hostess cantava o samba da Grande Rio grudada num copo de cerveja. Mas qual a graça? A festa estava animada. E com o céu nublado não ia ter luar pela janela. Então toca beber cerveja e sambar no tapete. E tudo isso por menos de 100 reais. Acho que vou montar uma empresa de pacotes turísticos sem noção a preços convidativos. Talvez esteja aí o melhor plano de fuga do meu provável futuro fracassado.
Hell is over there.
Não creio que o inferno seja aqui, porque domingos chuvosos são o paraíso e domingos chuvosos acontecem.
O weekend foi legal porque a Z. chegou do Arizona com o E. e eu pude conhecer o menino e rever a Z., que eu não via desde um certo anoitecer num ponto de ônibus em Nilópolis. Voltávamos da casa da M., meu ônibus chegou primeiro, nos despedimos e eu parti. Dias depois brigamos e só fui saber dela mais de um ano depois, quando o R. soube que ela tinha ido para os EUA, sem planos de retorno. Mas a internet é do tamanho de um ovo de galinha e foi bom ver que, apesar de termos mudado bastante, aquilo que fez com que nos tornássemos amigas continua de certa forma igual.
Z. e sua Canon EOS Rebel, demonstrando o foco da macro em um dos carrinhos do E.:

Minha roupa não é adequada. Meu jeito não é adequado. Minhas idéias não são adequadas. Eu não sou uma pessoa adequada. Eu não estou me adequando ao ambiente de trabalho. Acho melhor desistir logo e me conformar com a perspectiva de que vou passar o resto do meu futuro (que já chegou) jogando biriba com mendigos nalgum abrigo da prefeitura. E o mais interessante é que essa idéia não chega a me assustar. O que me assusta de verdade é a visão de um futuro de cartões-de-ponto.
Também não vou usar bolsa de avó combinando com sapato e twin-set bege. Tá, confesso – já tentei me vestir assim. Entrevistas de emprego. Antes de sair de casa, o suplício. Olhava no espelho e me sentia oprimida. Oprimida por um twin-set! O twin-set ria da minha cara: “Deus, você está ridícula. RI-DÍ-CU-LA! A quem você pensa que engana?”. A ninguém, pensava eu. “A NINGUÉM!”, respondia o espelho; e ria da minha cara ele também.
Rocket man.

“I’m like the six year old boy who wants to be an astronaut.
Everyday he looks at the stars and the moon whispering to himself, “someday I’ll be up there too.” It gets him through life. Damn it, it’s a dream he clings to. It will make him great in the eyes of every person that has ever thought he was anything less than spectacular.
Then, he becomes the twenty-something year old adult and he comes to the realization that he sucks at math. He also has a heart condition that prevents him from going on so much as a mildly scary roller coaster, and his eye sight is failing.
No rocketships for him.
In fact, in five or six years he probably won’t even be able to see the stars very well.”