E então o céu virou sorvete de pistache.

E o telefone fez o seu papel e tocou no domingo às nove, quando eu estava em casa meditando e tentando abstrair o fato de que o day after seria uma segunda feira – i don’t like mondays, tipo a serial killer teen da música do Bob Geldof. E era ele. E senti pela voz que ele estava bêbado. E ele disse que havia bebido todo o dinheiro que tinha, e agora nem um tostão pra voltar pra casa.

– Tá, você pode dormir aqui hoje.
– Mas eu só preciso do dinheiro.
– E de glicose. E de porrada.
– Posso dormir aí, então?

Dez minutos e a campainha toca, e então eu o vejo entrar bêbado como eu nunca havia visto em todos esses anos. Ele cismou que a parede do meu quarto NÃO ERA AZUL antes. E chorou meia hora pedindo que eu “não maltratasse a família dele”. E falava gesticulando como se estivesse drogado, e eu perguntei se haviam jogado drogas no whisky e ele disse que não sabia.

Pode ser útil dialogar com bêbados, quando se está sóbrio. A caixinha de pandora se abre e todos os segredinhos vêm à tona, boiando no álcool… Tudo o que fiz foi fornecer estímulos para o “truth or dare” versão monólogo, e então ficar ouvindo tudo com um ar solidário na cara e um risinho maquiavélico nos lábios por onde escorria o veneno.

Esse foi o final do dia.
O começo do dia foi legal, porque foi quando nós dois começamos a beber no mesmo lugar onde ele se embriagou mais tarde. Eu fui encontrar a L. no “shopping” aqui perto e fomos ver as tartarugas do projeto Tamar na praça. Aqui na foto ela parece pequena, mas se não chega a ser uma “tartaruga-de-couro” (cujo casco chega a medir mais de 2 metros), é BEM maior do que o que a gente conhece por tartaruga…

Os bebês:

Um bebê tartaruga eclodindo do ovo:

Tartaruga de cerâmica. Se coubesse, ia ficar style em cima da minha geladeira:

No shopping, começamos a notar gente estranha com roupas mais estranhas ainda circulando. Quando a música começou, descobrimos que estava rolando um “carnaval da terceira idade” no segundo piso. Fotos, naturally:

A cantora da “banda”, Alcione wannabe:

Ô abre alas, que eu quero infartar.

O cabelo reluzente da L:

E depois eu o encontrei, ele estava no bar e lá ficou quando decidi ir para casa, prometendo ir embora no final daquela cerveja.

Mas não foi, e passou da cerveja pro whisky, e encontrou pessoas (porque nessa fortaleza com muros de mil metros de altura e cerca elétrica eu acho que mora um menino que morre de medo de ser deixado sozinho), e ficou feliz, e bebeu mais, e pediu frango à passarinho, e viu todos os jogos televisionados da rodada no dia, ficou revoltado com uma mulher que, quando seu namorado chegou, esnobou um velho apaixonado que estava pagando bebida pra ela – enfim, bem maria-do-bairro.

E não tivemos muito tempo pra conversar, e ele mentiu. Tinha sim o dinheiro pra voltar pra casa, mas também tinha consciência de que, naquele estado, no máximo ia achar o caminho do cemitério. E eu não sei direito o que falar com ele, da próxima vez. Eu ouvi tanta coisa diferente, mas não sei se cheguei a conclusões diferentes. Waste of energy.

E não, eu não procurei na-da sobre o peito da Janet Jackson no Google.
Obrigada.

The definitive goodbye.

soundtrack interna: “lerê, lerê, lerêlerê lerêêê…”
Ok, já deu pra notar que eu estava no trabalho. And suddenly, the phone rings.

– É pra você.
– …
– Alô? – digo eu, incerta. Ninguém liga pro meu trabalho. Me preparo para a notícia de que minha mãe teve uma crise de septicemia aguda e bateu as botinas.
– Está nervosinha? – é a voz dele. Adolf. Consigo ouvir o risinho-de-canto-de-boca que ele nem deu ainda. E continua:
– Você sempre fica nervosinha quando eu te ligo aqui no trabalho (o detalhe interessante é que essa foi apenas a SEGUNDA vez que ele fez isso, e já se sente capaz de traçar um padrão de comportamento… Pfe).

– Eu não estou nervosa, só estou ocupada (isso, garota, DESTRÓI ELE).
– E eu só liguei pra dar sinal de vida (“quem pediu?”, é a pergunta que não ia calar se eu não a tivesse engolido feito uma colherada de óleo de rícino). Faz tempo que eu não te ligo… (ele tinha me ligado há dois dias, quando é natural ficar quase uma semana sem telefonar)

– Hm.
– É que meu telefone está mudo, e com esse calor não tenho coragem de sair pra ligar da rua (sim, mas EU posso sair às ruas para trabalhar, enquanto ele fica at home fritando batatas e ouvindo Pink Floyd). Resolvi engajar no papo:
– Se deixasse pra ligar pra minha casa não ia me achar hoje. Saindo daqui eu vou ao Norte Shopping pagar a fatura da Renner.
– Por que no Norte Shopping??
– Porque na nossa cidade não tem loja da Renner, claro. E só se pode pagar faturas deles nas próprias lojas. Vou pegar uma kombi, porque aqui perto do trabalho não passa ônibus pro Norte Shopping, e…
– Deixa eu desligar antes que eu me aborreça mais. Você faz TUDO errado!
– O que tem de errado em ir pagar uma fatura???
– De Kombi?? Aí na capital? Você vai tomar um tiro na testa antes das seis da tarde hoje, espero que tenha tempo de se lembrar dessa minha profecia, quando ela se cumprir.

E aí ele reclama mais um pouco até desligar.

Eu deposito o fone no gancho e volto para a minha mesa, pensativa. Noutros tempos eu teria ficado feliz. Noutras, triste. Mas o que tem pra hoje é um misto de indiferença e decepção. Essas atitudes que fariam algumas meninas vibrar pela “preocupação e zêlo” só asfaltam mais um metro da estrada que me afasta daquilo que eu pensava ser a perfeição. Estou caminhando pra longe e, como tenho um péssimo senso espacial (consigo me perder dentro de uma casa de cinco cômodos), é provável que, uma vez longe, eu esqueça o caminho de volta.

Isso não é preocupação, nem zêlo. É controle. Isso precisa de tratamento médico e já faz uns dez anos que desisti desse diploma.

Eu ainda estava na rua quando ele ligou pra minha casa, a mãe disse. Se pra se desculpar, ou reclamar mais, ou saber se a tal bala perdida tinha encontrado a minha cabeça, não sei. Nunca saberei, porque não vou perguntar, porque não quero saber e porque não importa mais.

O definitivo adeus do amor é o poema

Foste ausente e eu cumpri, com a cínica resignação
de conhecido o caminho, o urbano rito de perder-te.
Tu sabes. Fiz-te um brinde solene, depois outro…
Depois muitos, até que tu não mais me doías
e eu fui morrer de frio num outro braço.

Mas a todas estas coisas fiz cumprir de olhos secos,
e vesti-me de amargura como de preto as viúvas:
por adequado o traje, não o luto.

Enfim, eis os teus irreversíveis versos.

Limpamo-nos um do outro sem maior dano
que acrescentar descrença a um sonho já roto.
Não houve fotografia para rasgar, nem um cão que
sinta tua falta ou crianças para dividir. Nenhum amigo
lamentará nosso triste fim ou servirá de memória do que fomos.

Pouco existimos um para o outro;
pouco, muito pouco eu partilhei contigo
além de toda poesia que existe no mundo.

Não sei desesperar mesmo quando desespero.

Ai, poeta, se eu soubesse.
Eu te juro, rasgava o vestido,
arrancava os cabelos, e de joelhos
eu te pedia (em alexandrinos),
pra não ires embora de mim.

Food is all you need.

You finally figured out the girl in your heart isn’t the girl in your dreams. Some people don’t figure it out all their lives.

Estou comendo alopradamente. A mãe não cozinha nada, pra evitar o calor do fogo. Chove de vizinha generosa na minha cozinha fazendo comida (e aproveitando pra comer de graça, é claro), meu pai está um amor lá fora, lavando meus tênis e me ainda trouxe um pote gigantesco de sorvete de limão. Uma das vizinhas fez uma sobremesa fofa, que consiste em pedaços de gelatina em cores variadas dentro de um creme de leite condensado + creme de leite. Estou esvaziando o pote.

E eu sei que as vizinhas que vêm aqui “ajudar” falam mal de mim pelas costas. Devem achar um absurdo o fato de que não sou eu assumindo as panelas. Eu SEI cuidar da casa, fiz isso muito bem quando foi necessário, mas já que elas parecem estar tão interessadas em marcar território e me jogar pra escanteio então que se divirtam ué. Preciso terminar meu site, responder emails, ver o filme que ganhei do Cau, ler o jornal que me espera há dias. Eu não preciso de um certificado de conclusão do curso de prendas domésticas. Ou talvez até precise, mas se eu não consigo fazer as coisas necessárias que eu gosto, por acaso vou fazer as que eu não gosto? Tsc.

E, para salvar minha vida, ressuscitaram o joguinho do pinguim, eeeeeeeeee! Gonna eat and play all day long. E se fanlistings são divertidas, hatelistings são ainda mais.