Day of the dead.

E hoje eu fui pro cemitério. Não pro de Inhaúma vsitar o meu padrasto (nem minha mãe foi). Fui no São João Batista. Eu sabia que ir dar merda. Tumulto. Mas eu estava com uma sensação esquisita, não queria ficar em casa. Acho que, inconscientemente, nem foi pra isso que eu saí. Cismei, pus a câmera na mochila e rua.

Cheio, claro. Mas não tanto quanto eu esperava. No meio das sepulturas, eu observava as pessoas. Estou habituada a cemitérios; como sabem, pirigótica. Curioso que depois do advento da câmera digital eu não tenha feito nenhuma imagem. Não foi diferente hoje: um tempo depois que entrei avistei uma garota de jeans e cabelo castanho claro muito liso preso num rabo-de-cavalo. Era uma conhecida minha, da primeira faculdade que fiz. A querida avó dela morrera há pouco mais de um mês.

Passamos por anjinhos barrocos e velas apagando na chuva. Caminhamos até a sepultura da avó e fiquei lá sem saber o que dizer, onde colocar as mãos, essas coisas. Ela me contou histórias da infância, da avó que a tinha criado porque a mãe saiu de cena quando ela ainda nem andava. Ouvi, abracei e a deixei sozinha com seus pensamentos. O pai estava doente e não pôde vir, o irmão não estava nem aí. Ela veio só.

Enterros… O primeiro que acompanhei foi o do meu padrasto. Das vezes anteriores, quando eu estava num cemitério lendo tumbas e vinha chegando um féretro eu saía apavorada (porém ao mesmo tempo cheia de curiosidade). A verdade é que eu odiei ver aquela pessoa que conviveu comigo por tantos anos sendo enfiada numa gaveta, coroas de flores e homenagens amassadas e empurradas com violência pra dentro e por fim o cimento fresco vedando a parede e encerrando 61 anos de vida e experiências em um espaço de 2x1m.

Eu prefiro ser cremada.

Minha mãe hoje se lembrou do enterro do Tio Dutinho. Gente simples, vida longa que findou num câncer. A família levou flores baratas para um cemitério que ficava no topo de um morro. Uma cruzinha aqui, outra acolá bem longe, poucas sepulturas – a maioria enterrada no chão. Lá embaixo as luzes dos quintais das casas acendiam ao entardecer. Minha mãe achou que ele estaria feliz ali. A impressão foi a de que os parentes do meu padrasto queriam “acabar logo com aquilo”. Não apenas porque a situação era dolorosa, e sim porque havia outras coisas com as quais se preocupar: herança, negócios, carro, dinheiro, inquérito. Tanto que ofenderam minha mãe durante o enterro e mal esperaram o corpo esfriar pra cair em cima do espólio feito urubus. Eu prefiro ser enterrada como indigente do que por “famílias” feito essas.

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