Freqüentemente alguém vira pra mim e manda a clássica: “você não teve infância, não?”.
Essa pergunta é tão recorrente que vou ser obrigada a filosofar. Eu já falei bastante lá no finado blog sobre o quanto fui criticada pelo meu jeitinho esdrúxulo de me vestir. Não vou recomeçar; só quero deixar claro que eu me visto de palhaça fashion desde bem antes dos indies e dos clubbers.
Não é que eu não tenha tido infância. Eu tive infância demais. E foi tão boa que eu me recuso a sair dela. Mas eu sou o Peter Pan, não a Wendy. Na Terra do Nunca as crianças têm a sorte de não precisar crescer, porque elas não querem crescer. E justo num lugar deles a mina resolve ser a “mãezinha”, cuidar dos meninos perdidos e fazer comidinha pra eles?!? A Wendy é o estereótipo da amélia e merece ir fazer companhia ao relógio na barriga do jacaré da história, só para não dar esse péssimo exemplo às meninas.
Mas é quase como se procedesse. Nós mulheres aparentemente nascemos velhas. Os homens nos enrolam direitinho com o papo “vocês amadurecem mais cedo“. Por “amadurecer” entenda envelhecer, ficar chata, careta, contando calorias e medindo celulites, tomando anticoncepcional que faz mal ao coração, fazendo plásticas sacrificantes para manter a admiração deles, carregando os filhos deles, fazendo tripla jornada (trabalho, casa, vida) e ainda achar que somos “poderosas” por isso.
Jura que somos burras assim? Ou existe algum benefício oculto em fazer esse papel de idiota e eu ainda não descobri? Se for isso me contem, porque senão vou morrer solteira, pegando geral, bebendo muita cerveja e achando que isso é legal.
Bem… Já me disseram que eu me visto desse jeito, que eu me comporto desse jeito (eu não me comporto feito criança! Eu não uso fraldas nem chupetas e não esperneio quando quero alguma coisa… Bom, pelo menos não de forma muito ostensiva) porque tenho inveja da juventude. Acho crianças em geral chatas e adolescentes em geral idiotas, mas tenho inveja sim – da falta de responsabilidades, e só. Mas eu posso muito bem ser adulta E irresponsável; basta que eu seja também corajosa para agüentar as conseqüências.


Mas, da “juventude”? Nah. Não se pode invejar pessoas por algo que elas não têm. Crianças e jovens não têm o elixir da juventude dentro de um vidrinho na prateleira do banheiro. Eles não são jovens, eles ESTÃO jovens, assim como eu já estive, e do alto dos meus 20 anos ainda estou, se comparada a Matusalém. A juventude nós apenas pedimos emprestada ao Tempo, para fins de aprendizado. Um dia o Tempo vai pedir de volta. E aí, não adianta usar camiseta das Powerpuff Girls, nem meinha listrada. No matter what you do, a funerária precisa de clientes.
Tô com fome.