Black humour.

…e então 2003 está sendo um ano duca. Primeiro meu padrasto morre, depois meu pai descobre um tumor.

E o pior de tudo: eu comecei a trabalhar.

Não me xinguem. Meu humor negro é (sempre) involuntário. Papai está se cuidando. E os médicos estão muito otimistas. Médicos (sempre) são otimistas.

Ele não vai precisar de quimioterapia, nem de extirpar nada. Ele está tranquilo. E com isso eu fico tranquila. E eu estou esticando esse post contra a vontade, como se quisesse desviar o foco. Mas eu sei que ele vai ficar bem, e, se não ficar, essa é a vida. A gente fica triste, e depois vai esquecendo tudo à prestação.

E agora eu vou lá pra sala, ver novela com ele e a Chantilly.

One.

E então ele olhou a foto por uns poucos segundos antes de atirá-la gaveta adentro e levantar da cadeira.


– Deus não é uma pessoa justa.

– Deus não é uma pessoa – eu disse.

– Bom pra ele.

Calei e voltei à “tentativa” de crochê. Minha visão periférica, no entanto, denunciou que ele havia se voltado em minha direção. Ergui os meus olhos-espiões e lá estavam os dele, azuis como a terra vista do espaço.

E ele enfiou novamente os olhos no mundo que havia do lado de fora da janela. E eles foram crescendo, como se absorvessem todas as coisas na sala, os carros na rua, os pássaros no céu, as nuvens, o cheiro da chuva da noite passada perfumando o ar, tudo; até a mim. Aliás, a mim principalmente. Porque parecia que ele tinha em si um pouco de cada coisa que existia. As coisas bonitas e as tristes, principalmente as tristes. Mas também todos os caminhos, as perguntas e as respostas. E até mesmo as coisas que eram apenas coisas, mais nada. Ele era uma coletânea do planeta. Se os marcianos (ou venusianos… sim, Vênus é melhor, eu prefiro que sejam venusianos), se os venusianos viessem à terra para estudá-la, seria suficiente abduzi-lo. Porque ele era tudo, e tudo era ele. “I’m such a sucker for this guy”, eu pensei pra mim mesma. E ri pra mim mesma. Só que, mesmo quando eu ria em pensamento, ele sabia. Voltou-se para mim, arzinho de ironia: “o que foi?!”.

– Como assim o que foi? Eu estou quieta.

Tentei soar ríspida pra disfarçar o medo. Ele me dava medo com esse jeito de saber as coisas.

– Eu sei, eu estou estranhando a sua quietude…

– Eu falo pouco.

E os olhos dele, que sabiam tudo, me desmentiram.

Nothing to do.

3 CDs do momento:
Não tenho “cds do momento”.

3 músicas para chorar:
– Disney Girls (Art Garfunkel)
– I Know it’s Over (The Smiths)
– Fake Plastic Trees (Radiohead)

3 músicas para se empolgar:
– Just Like Heaven (The Cure)
– You Just Haven’t Earned it yet baby (The Smiths)
– Spirit of the Radio (Rush)

3 músicas para fazer zegzo:
Eu já disse que odeio transar com trilha sonora?
Pois é. Eu odeio transar com trilha sonora.

3 shows que eu venderia alma para ver:
– The Smiths
– Led Zeppelin
– Pink Floyd

3 cantores:
– David Gates
– Morrissey
– Art Garfunkel

3 cantoras:
– Joan Baez
– Janis Joplin
– Nina Simone

3 bandas:
– Smiths
– Rush
– Pink Floyd

3 filmes para chorar:
– A Lista de Schindler
– O Morro dos Ventos Uivantes (a versão de 1939, com o Lawrence Olivier)
– Só nos Resta a Esperança.

3 filmes para me deixar feliz:
– Curtindo a Vida Adoidado
– Grease
– Velvet Underground

3 filmes para me deixar tenso:
– Cova rasa
– Rebeca, a mulher inesquecível
– Drugstore cowboy

3 atores fodões:
– Jack Nicholson
– Tom Hanks
– Johnny Depp

3 atrizes fodonas:
– Audrey Hepburn
– Jodie Foster
– Meryl Streep

3 livros:
– Cem anos de Solidão (G.G.Marquez)
– O Morro dos Ventos Uivantes (Emily Brontë)
– O Retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde)

3 livros que eu quero ler:
– 1984 (George Orwell)
– A Arte da Guerra (Sun Tzu)
– O Príncipe (Maquiavel)

3 autores fodas:
– Oscar Wilde
– Machado de Assis
– Eduardo Galeano

3 autoras fodonas:
– Emily Brontë
– Clarice Lispector
– Florbela Espanca

3 doces:
– bolo de aniversário
– bubaloo
– queijadinha

3 bebidas que eu amo:
– johnny walker black label
– vinho tinto
– cerveja

3 bebidas não-alcóolicas:
– coca cola
– lipton ice tea pêssego
– hula hula de morango

3 bebidas que me deixam muuuito bêbado:
– vódega
– gin
– misturar ambas

3 partes minhas que as pessoas costumam gostar:
– ombros
– pernas
– lábios

3 coisas físicas em mim que as pessoas não devem curtir:
– meu nariz
– minha (falta de) bunda
– sei lá, digam aí

3 partes minhas que eu gosto:
– olhos
– boca
– pernas

3 qualidades minhas que os outros percebem:
– personalidade
– lealdade
– bom humor (haha, na maior parte do tempo)

3 qualidades que eu sei que tenho:
– bom senso
– alguma inteligência
– caráter

3 defeitos que os outros percebem em mim:
– insociabilidade
– dispersão
– preguiça

3 defeitos que eu sei que tenho:
– insociabilidade
– desinteresse
– preguiça

3 vícios:
– música
– ler
– comer

3 lugares de night:
– meu quarto
– minha cama
– internet

3 marcas de roupa:
– hot topic
– brechós
– C&A

3 marcas de tênis:
– adidas
– all star
só esses.

3 países:
– Inglaterra
– Japão
– Itália

3 coisas que me excitam:
– inteligência
– inteligência
– inteligência

3 coisas que cortam o tesão:
– burrice
– cuspir no chão
– perna fina (ok, i’m somewhat futile)

3 nomes de mulher:
– Beatriz
– Cecília
– Carolina

3 nomes de homem:
– Gabriel
– Marcos
– André

3 piores ficantes/namorados/casinhos:
Nenhum grande arrependimento no currículo.

3 formas de despachar um casinho/ficante inconveniente e joselito:
– chifrá-lo porque infelizmente muitas vezes é a única.

3 “paixões” virtuais:
É pra rir mesmo, ou eu entendi errado a pergunta?

3 domains:
– maligna.org
– fragilemuse.org
– relique.net

3 pecados capitais:
Eu matei as aulas de religião.
Próxima pergunta.

3 signos que eu gosto de lidar:
– peixes
– touro
– gêmeos

3 signos de que eu não gosto:
– câncer
– áries
– aquário

Talking in your sleep

M. e P. vieram aqui ontem. Meus amigos very old in their twenties, que ruminam e emulam os anos 80 todo o tempo, como eu. Coisa triste e extremamente patética os três baixando lixo no Kazaa com a clara intenção de fazer bedroom dancing depois. Não deu, eu tinha que acordar cedo.

Eu sei lá. Gosto das pessoas, gosto de recebê-las. Mas às vezes me afasto por culpa do capetinha que fica me sussurando bobagens orelha adentro. Não tenho muito tempo, e no caso de algumas pessoas em particular (não os citados, a quem amo) eu continuo achando-os o máximo, só não tenho mais tanta vontade de estar com eles. Uma vez por semestre bastaria.

Às vezes tenho uma certa vontade de sair pra dançar, mas a vontade se mostra tão passageira quanto minhas crises de ódio ocasionais. A noite está muito estúpida, cheia de gente idem, e eu estou tentando ser uma pessoa mais, erm, velha. Voltei até a escrever, e isso não é bom sinal. Predigo uma intensa fase de introspecção elevada, mas que haverá de me fazer voltar a cometer coisas das quais me orgulho. E faz um bom, bom tempo que eu não adiciono coisas assim ao currículo.

Esse seria o set list da bedroom dancing night de domingo. Não foi ontem, mas vai ser logo. E que se foda o trabalho, PORQUE UMA PORRA DE UM CARTÃO DE PONTO NÃO VAI ME DIZER O QUE EU POSSO OU NÃO FAZER.

  1. Too Shy – Kajagoogoo
  2. Hurts to be in Love – Gino Vanelli
  3. Out of Touch – Hall & Oates
  4. You Belong to The City – Glen Frey
  5. Harden my Heart – Quarterflesh
  6. Steppin’ Out – Joe Jackson
  7. Illusion – Imagination
  8. Trouble – Lindsay Buckingham
  9. Don’t you want me? – Human League
  10. Only when you Leave – Spandau Ballet
  11. Formosa – Zero
  12. Talking in your Sleep – Romantics
  13. Abracadabra – Steve Miller Band
  14. Tenderness – General Public

Hurts to be in Love… Meu amigo, se você nunca deu um amasso aos 13 anos numa festinha ao som dessa música então você NÃO TEVE adolescência. As “rainhas dos cantinhos” ficaram eternamente devendo uma ao Gino Vanelli.

“Out ot Touch” do Hall & Oates: eu aos nove, dez anos, com meus primos na kombi (oh, yeah) do tio Vizinho (era esse o apelido) rumando pela BR 040 para Petrópolis. Both ways, era nóis em cima da carroceria, boca aberta contra o vento ou cuspindo na estrada para ver a saliva ir ficando para trás e, quem sabe, com alguma sorte, acertar em cheio o pára brisa de algum carro de playboy.

Já foi TÃO mais doce ser revoltado.

Dear Diary

Ontem fez calor por algumas boas horas. O céu estava lindo e então, sentada na parte descoberta do terraço, resolvi desenhá-lo. Gosto de tentar guardar na memória as coisas bonitas que se apresentam a mim, mas como a minha é fraca… Dizem que elefantes têm uma memória proporcional ao peso. Se for verdade, e se o peso for mesmo o critério, então eu tenho memória de formiguinha. De plâncton. De serzinho unicelular.

Não havia lápis de cor, então eu desenhei o céu com lápis comum, mesmo. Não pude guardar o azul, o sol tão claro que cegava os olhos e não me deixava ver sua forma para poder desenhá-lo. Nem os raios que escapavam por entre as brechas das nuvenzinhas. Falando em nuvens, a única coisa que ficou realmente perfeita no desenho foram elas, já que são brancas, da cor do papel, e não precisaram ser pintadas. Só que o céu do desenho ficou cinza, a cor do grafite. Cor de tempestade forte chegando. E eu fiquei feliz do mesmo jeito, porque gosto do céu cor-de-chumbo que anuncia trovoadas e gotas grossas e barulhentas. A melodia das tempestades me deixa feliz. A própria palavra, tem-pes-ta-de, me deixa feliz. Ela é forte, poderosa. Um lindo nome para a filha que eu nunca vou ter: Tempestade.

Terminado o desenho, olhei para o céu novamente, e vi que, sem querer, adivinhei o futuro. Um canto do horizonte já estava tomado por uma mancha negro azulada. Como eu quis ter um lápis dessa cor nesse momento! Não tinha. Fotografei o céu com a retina, mas sabia que não ia durar muito tempo lá. Amanhã não lembrarei da cor, depois não lembrarei da forma e do tamanho da mancha, e por fim não lembrarei de nada. E então fiquei triste pela morte inevitável daquela lembrança, e tive vontade de chorar. Depois me lembrei de que vinha vindo uma tempestade e isso era motivo para sorrir. E lembrei de “well i wonder” dos smiths, que sempre me lembra chuva, e que gosto de ouvir quando chove. Não só porque tem barulho de chuva no final. Mas porque ela é triste, e gosto de ouvir coisas tristes na chuva.

Por que ela é triste? Porque a história é triste. É um menino tímido que não sabe se a pessoa que ele gosta sabe que ele existe. E ele não quer ser esquecido, mas nem sabe se é lembrado. O que pode ser pior do que ignorarem o nosso amor? É ignorarem a nossa existência. Será que o outro me vê? Será que alguma vez me viu? E se sim, será que despertei o mesmo interesse que uma pedra? Ou será que sou especial à distância, como ele é para mim? Nossa. Que conversa mais besta. Eu não estou nessa situação. Não estou. Não estou. Não estou. Quanto tempo leva para algo que a gente repete tornar-se realidade? É só uma dúvida.

Gotas pesadas de água (vindas sabe-se lá de que oceano – ou poça d’água – do mundo) caíram e fizeram manchas no caderno. Fechei meu desenho e olhei para o céu. Iguais, as manchas do céu e as que vieram parar no meu desenho. Fiquei feliz. Agora, mesmo que morresse a memória da retina, ela ressuscitaria no papel todas as vezes que eu a buscasse. O papel é o baú dos sentimentos e das imagens. Bendito seja, guardião das memórias fujonas.

Do you hear me when you sleep? I hoarsely cry.
Do you see me when we pass? I half die.
Please keep me in mind.