And so I gave him my heart.

Ainda se pode fazer uma festa com 20 reais.

9 reais o cento de salgadinhos. 1,80 a garrafa de Romano (o primo paupérrimo do Martini). 2 pratas a garrafa pet 2 litros e MEIO de coca (promoção no Carrefour). 3 reais a lata de goiabada, e com mais três o chantilly. O queijo eu tinha na geladeira, os CDs ele trouxe de casa, o papo inspirado é graças à nossa sintonia e a brisa no terraço é por conta da natureza, que faz carinho em forma de vento nas pessoas pobres que só têm 20 pratas na carteira e mesmo assim querem – e podem – dar uma festa pra dois.

E ele só tinha 20 pratas na carteira, sim.
E ele é o meu melhor amigo, sim.
E meu rabo se você acha que isso é pouco.

Já o meu namorado é um pedante neurótico que gasta boa parte do tempo que passamos juntos tentando ver em mim uma pessoa que não sou, nem nunca serei. Ele me acha esperta, e eu me acho uma mula manca que repete as mesmas perguntas de sempre – porque nunca consegue entender as respostas.

Só que eu sou uma mula manca metida a besta. Quero alguém que possa responder às perguntas que se repetem. É que, às vezes, eu me sinto capaz de dar algumas respostas. E quero ser entendida. Mais eco e menos vácuo.

Juntos por comodismo? Who knows? Preguiça de sair procurando por aí alguém igualzinho a mim, com os mesmos muitos defeitos e as mesmas poucas qualidades. Outra mula manca, que saiba dar respostas, mas que nem sempre entende as que recebe; e que repete as mesmas perguntas. Quero alguém que eu possa, acima de tudo, admirar – é, complexo de inferioridade, mesmo. Mas se essa pessoa quer brincar eternamente de procurar em mim algo que não sou, o problema não é meu.

Quem vai se frustrar é ele. Prefiro que ELE fique frustrado para sempre, do que me frustrar eu, tentando ver num eventual “substituto”, algo que ele não é, e nem nunca será.

Tattoo fighting

Fui sábado de manhã com S. ao estúdio onde fiz o piercing. Queria fazer tatoos novas mas só fiz uma outra pequena no ombro. As meninas revisaram as suas com o Robson e voltamos para casa felizes e contentes. Na minha casa, à minha espera, o meu namorado. Como eu estava com uma camiseta sem manga não tive como esconder a tatuagem. Nem como, nem porquê.

Só que não deu certo. Não deu nada certo. Ele não gostou. Odiou, pra ser mais exata. Deu um mini show, quis saber quem diabos eu “estava querendo imitar” e que eu ia acabar feito uma freak, com o corpo recoberto por rabiscos esdrúxulos. Oh, well. Depois de tanto tempo, eu acho que ele deveria me conhecer melhor. Ele deveria saber que sei impor limites a mim mesma. Que nunca farei um dragão de 60cm nas costas, por exemplo. Mas sobretudo, ele deveria saber que eu teria todo o direito de fazer a porra do dragão, se quisesse. Ok, eu sei que ele sabe disso. Mas às vezes não custa me lembrar que sabe, não se comportando como um cretino.

Fiquei azeda, mandei-o de volta pra casa e fui almoçar no À Mineira com S. No começo da nossa vaca atolada com cachaça, adentra o recinto (relativamente refinado, frequentado porém pelos empresários escandalosos da BR 040 – barrigudos, falastrões, portando celulares caríssimos e à bordo de carros imensos) um casal. A moça, cabeça raspada e argolas enormes. Ele, cabelo loiro encaracolado e uma camisa vermelho-bombeiro. 5kg de relógio de ouro no pulso. Ela trajava um conjunto jeans de short e top. Ambos da Gang. Ambos mi-nús-cu-los. O conjunto todo se equilibrava em cima dos saltos inacreditáveis de um tamancão de madeira. Os dois cheiravam a marginalidade. É lógico que eu adorei.

Foi um espetáculo. Os garfos e facas ficaram suspensos no ar, bocas cheias de couve e torresmo abertas, celulares tiveram que tocar mais vezes antes de serem atendidos. S.: “ah, ele deve ser jogador de futebol…”. Eu: “porra nenhuma. Se fosse, estaria atracado com uma loira insossa da Barra. Ele tá vestido é de gerente de boca de fumo e ela deve ser a primeira dama”.

Quando saíram, esticamos os olhos seguindo os passos. Entraram em algo que, de longe, me pareceu ser um carro importado. So typical. E, pra encerrar o dia “bacana”, às nove e meia da noite escuto gritos na rua: “Sandra, Sandra! Me ajuda! Acabei de matar um cara lá na estação!!”. E o que parecia ser a tal de Sandra berrou de volta: “Matou? E o que você tá fazendo aí na rua? Vai pra casa, daqui a pouco passa o camburão e te leva… E vê se sai da minha porta!!”.

Óbvio que nem fui checar se o suposto assassinato tinha sido pra valer ou se era efeito de cachaça barata. Graças a Deus eu moro longe da estação.

Uma boa semana pra vocês.

I can’t deal with the other face

Saco de feriado.
Acabei não indo ao shopping. Meu pai estava lavando sei lá o quê no quintal e não quis ir. E como eu estava sem um puto no bolso (o salário, obviamente, já fora todo enfiado no cu do capitalismo), fui obrigada a engolir minhas panquecas e ir pra casa do F. em busca de algum filme pra ver.

Ele estava lá, às voltas com uns amiguinhos escrotos da Barra da Tijuca. O bairro que deve concentrar a maior quantidade de imbecis por metro quadrado do Rio de Janeiro. Os tais amigos eram de fato um amor. Um casal de plínios com titica na cabeça. A menina querendo pagar de rebelde pros índios da baixada fluminense (eu e o F., implicitamente), dizendo que descoloria os pêlos da xana no terraço de casa para ficar “tudo loiro igual ao cabelo” Sim, ela tem 15 anos. O menino parecia um idiota inofensivo, mas ficava olhando tudo com cara de bunda.

Quando estávamos na calçada um mané passou vendendo salame roubado (da sadia… 12 reais no mercado, 5 pratas na mão dele), e os dois se achando Os Subversivos decidiram comprar. Depois fizeram as piadinhas toscas de praxe, comparando o salame a… Está cada vez menos divertido aturar amadores.

Depois que eles foram embora eu e o F. fomos para a cozinha fazer uns sanduíches com o NOSSO salame, e o pai dele passa e dispara: “mas você está ficando gostosa, hein, menina… está fazendo musculação?”. Halp. Fiquei sem graça (coisa rara). E sem vontade de ficar ali. Pensando bem, em qualquer outro lugar, não seria diferente – acho que estou sem vontade de existir.

Estou me desinteressando das pessoas. Eu percebia que era recíproco, achava que a culpa era minha – e É, de certa forma. Na verdade, o meu desinteresse por elas é tanto que elas o lêem na minha testa e se afastam. E eu desisti de fingir, de abusar minha vontade e deixar que um sorriso falso rasgue a minha cara como se aberto a navalha, para forjar uma simpatia que esconda minha total e absoluta falta de interesse.

Não é animosidade. Nem antipatia. Essas coisas são AÇÕES, e meu estado de inércia em relação à raça humana é tamanho que caí numa apatia sonolenta, sou incapaz de odiá-los porque isso iria me dar trabalho. Não movo um músculo. Uma palha. Um dedo. O esforço só me é possível para, a custo, acenar adeus.

It’s not the way you lead me by the hand into the bedroom…

Okay. Coloquei um piercing.
Caí na real de que pior do que fazer o que todo mundo faz é deixar de fazer algo que se quer só porque todo mundo faz. São duas escravidões, sendo que a segunda é ainda mais estúpida – porque é também hipócrita.

Coisa pequena. Aquele de sobrancelha, bonitinho que só ele. Fica lá, eu fico na minha, não vou virar freak, só que ele combina comigo e o espelho gostou do resultado.

Adoro banheiros. Adoro banhos, cheiros, perfumes e cremes. E como ficar olhando pro meu salário na gaveta não estava me fazendo bem, fui ao shopping comprar coisinhas de farmácia.

Voltei pra casa e quis sair. Passei a mão no telefone e descobri que vida de semi solteira é uma merda. Suas amigas com namorado não têm tempo pra você. O mais legal disso tudo é que elas não terão namorado pra sempre. Um dia será a vez delas passar as mãos ansiosas no telefone e dar de cara com a secretária eletrônica. Ou pior: ouvir coisas como “sorry, sábado é dia de ficar com o meu amor” OU “sorry, darling, mas vou sair com a turma… Ah, você está sem namorado? Arruma outro, oras!”.

Semi solteira, yeah. Eu não vou ligar pra ele. Eu não quero nem saber. Acabei passando a noite aqui, com o pessoal da Vila São Luís e logo mais vou estar no Maracanã pra ver o jogo do meu time contra o Inimigo.

Torçam por mim. E, se eu não morrer, daqui a pouco eu volto.
E se eu morrer, também. Boo.

The freaking life.

O telefone toca no meio do pouco que me resta do meu dia. Era a Letícia querendo saber de mim. E, como sempre fazem, sem exceção, todos os meus “amigos” distantes, ela ME pergunta as novidades. Bem, meu senso prático avisa que quem se dá ao trabalho de pegar o telefone e discar para alguém é quem precisa ter as novidades – ou no mínimo algo relevante a dizer. Mas a realidade mostra outra coisa: que ainda existe no mundo gente que se propõe a perder tempo e torrar pulsos telefônicos a fim de saber “como vai você”.

Me sinto forçada a contar a única novidade do “mural de recados”: a de que me juntei à estatística de desgraçados que voluntariamente sacrificam sua felicidade em troca de (pouco) dinheiro. Resumindo, estou trabalhando, Letícia. Daí chovem perguntas querendo desdobrar um assunto que não me agrada e sobre o qual não estou a fim de falar: “trabalha onde?”, “faz o quê?”, “quantas horas?”, “ganha bem?”. Enfim, todas as respostas que dou me deprimem, e ela ri. Sim pessoas, ela RI.

A coincidência é que ela ligou minutos depois de eu ter recebido o primeiro salário (minha mãe sacou para mim no banco, durante o dia). Descontados os roubos regulamentados de praxe, o saldo final não me pareceu tão bom quanto o que eu imaginava. Não que seja tão pouco, mas a minha felicidade de outrora valia BEM mais. Resumindo: saí perdendo na troca, e isso não me fez bem. No outro emprego eu trabalhava seis horas, podia dormir até meio dia, não fazia na-da e chegava em casa em dois minutos – A PÉ. A empresa ficava literalmente na minha esquina. Agora eu acordo às seis e quinze, viajo sentada na escada do coletivo, me aborreço o dia inteiro e o salário no fim do mês não me fez ter um orgasmo.

Lembrei-me da Letícia no colégio, de como todos os professores puxavam o saco dela. Lembro-me de achá-la meio borocoxenta, mas de desde sempre ter a certeza de que ela se daria bem na vida – e eu não. Se os donos da grana nesse planeta são os mais idiotas (os livros de história me contam que os gênios morreram na miséria) meu inner self grita: “mas você É idiota, então porque consta da sua biografia episódios desglamourizados feito rachar um saquinho de pipoca de praça com seu namorado??”, e a minha resposta é um avexado “não sei”.

Só sei que fui dormir e chorei muito. E chorei preocupada, porque não ia poder chorar a noite toda: precisava acordar cedo e por isso teria que ficar pelo menos 20 minutos de olhos abertos DEPOIS de chorar, para que eles não amanhecessem inchados no dia seguinte. E isso me deprimiu ainda mais e me fez chorar mais ainda. E, hoje pela manhã, meus olhos inchados no espelho riam de si próprios e ambos me chamavam de fracassada. Concordei com eles fazendo um sinal de joinha e me encaminhei mais uma vez para o ponto de ônibus, cortando a neblina com a minha triste figura e prometendo a mim mesma renascer sob a singela forma de um pé de chuchu na próxima vida.

Now and forever.

Pois é. Fiz aniversário de namoro há menos de um mês, e a crise já caiu matando.

Ele estréia comportamentos/atitudes das quais não gosto. Não que máscaras estejam caindo; nada de novo no front. Acho que fez mal aquela proximidade excessiva depois da morte do meu padrasto, o fato de ele ter passado a frequentar minha casa e eu ter deixado de frequentar a dele. A casa dele tinha menos recursos do que a minha, não tínhamos dinheiro e acabávamos tendo que passar o dia vendo TV e comendo pipoca. A diferença é que isso era LEGAL, e agora já não sei se seria bastante. E acho que não é de hoje que venho me sentindo propensa a deixar tudo virar pó.

Não sei se posso diagnosticar as causas. Eu o sinto distante, eu me distancio. Não vamos terminar isso nunca, é verdade. Comodismo, preguiça e a certeza de que, apesar do tédio eventual, somos a melhor coisa que podemos ter. Eu buscava um cara relativamente inteligente (ele é), com algum grau de charme (ele tem) e que fosse meio irreverente/misantropo como eu (ele é/é). Ou seja, eu deveria estar no paraíso. E estive. E de certa forma ainda estou. Quando olho para os namorados estúpidos/sujos/violentos das minhas “amigas” me sinto uma das 144 mil ungidas de jeová, a escolhida para ter alguém mais ou menos especial. Só que, por favor – não desça do pedestal, não vire mais um. E não se supervalorize tanto – fica chato, bobo, e eu começo a te ver como mais um babaca, coisa que você não é. (ou não era)

Não estou te pedindo pra não quebrar o encanto. Esse encanto tinha mesmo que se quebrar, pois nenhum relacionamento adulto sobrevive à base de encantamento. Só quero que você mantenha o padrão. Quero que você não banque o idiota com tanta frequência, quero me enervar menos com a sua tendência de se atirar de cabeça em idéias estúpidas e de depender delas – ferrando a sua vida e a minha, por tabela, quando dão em nada.

A gente estava feliz. A gente saía pra beber, pra comer coisinhas gostosas, ríamos dos lugares, das pessoas e até da nossa situação. É pouco a se almejar, eu sei. Mas isso não quer dizer que o mundo deva nos estender tapetes. O mundo PUXA tapetes. Se pudermos seguir adiante sem eles, ótimo. Mas se não, a gente pode simplesmente sentar no chão e comer uma pipoca. Eu topo todas, estou na vida a passeio mesmo, e que se danem as “grandes realizações” que eu não vou realizar. Não nasci pra escrever meu nome na história. Nasci para ter uma história. E isso basta.

São alguns anos já. Um caminhão de lembranças, algumas até materiais, que serão atiradas no lixão comunitário da cidade, se tudo morrer. Antes eu achava que era um pecado a gente se perder. Hoje, acho que pecado maior é não se perder já estando perdidos.

Se você estender a mão, mesmo no escuro, eu prometo que a encontro e não solto mais.