Rainy days are beautiful…

…mas nem tão belos quando se quer voltar pra casa numa quarta feira calorenta, desaba aquele aguaceiro e você lá, sem guarda chuva, vestindo roupas pesadas que pesam ainda mais depois de molhadas.

Mas não foi o que aconteceu hoje. Podia ter sido, mas eu tive alguma sorte, e quando a chuva desabou eu estava dentro do ônibus – e antes que eu descesse ela serenou. Obrigada, chuva, por me proteger e por me deixar assistir de camarote (voltei pra casa sentada, e na janela) o espetáculo do “céu noturno” às quatro e meia da tarde, das nuvens cinza chumbo se espalhando num céu que lutou enquanto pôde para se manter claro, do estrondo (para mim encantador) dos trovões se aproximando, e é claro, os relâmpagos. Eu adoro relâmpagos. Grossos e fartos, atraídos pelos pára-raios, transformando o céu num enorme letreiro de neon. Tem gente que bate palmas pra pôr-do-sol na praia. Eu queria aplaudir tempestades de pé.

E nós, as pessoas correndo pra se proteger da chuva? Acho engraçado. Devíamos relaxar. O que se perde, enfim, chegando-se em casa ensopado? Nada. Água não mata. O problema é que a obsessão por fazer as coisas do modo certo mata as vontades. E então preferimos não estragar o penteado ou não molhar a camisa nova do que nos permitir sentir o carinho meio sem jeito que os pingos duros de uma chuva forte fazem na pele. Senti saudade de um bom “rain shower” hoje, ao ver pessoas buscando marquises enquanto um mendigo parava sereno dentro de uma poça d´água. Só os mendigos são felizes.

É bastante sintomático que a maioria das pessoas que foram (ou são) significativas na minha vida, tenham dividido um banho de chuva comigo. Deve ser uma espécie de batismo. Saudade de me enfiar debaixo de um chuvaréu. Mas será que ainda consigo ligar o dane-se e não me preocupar com a roupa, com os livros dentro da bolsa, com o tênis que pode descolar a sola na água?

Tomara que sim.

Quando eu era criança, só tinha medo dos raios nessa hora. Sim, todo mundo já ouviu histórias horríveis de raios matando gente… E as avós: “não pegue o telefone enquanto estiver chovendo”, “não fique perto de espelhos, nem debaixo de árvores”, “não segure nada de metal”… Um medo bom, um risco calculado, que fazia o meu coração acelerar de susto-prazer-suspense quando o céu se iluminava. Eu vou saber, depois do próximo banho de chuva, se eu finalmente virei adulta.

Tomara que não.

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